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DOI: https://doi.org/10.17648/2238-037X-trabedu-v28n3-15797
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Beyond mutual intelligibility: collective activity as a transaction. A contribution
of pragmatism illustrated by three cases
2
BIDET, Alexandra
3
BOUTET, Manuel
4
CHAVE, Frédérique
5
O que compartilhamos não é tão interessante quanto o que não compartilhamos
(C. Bender à propósito de M. Bakhtine, citado por Béguin, & Clot, 2004).
RESUMO
As interações estão no centro das principais abordagens sociológicas do trabalho. Algumas linhas de
pesquisa foram responsáveis por interações cooperativas que incluem perspectivas incomensuráveis.
Mas neste artigo argumentamos que a noção de interão precisa ser estendida à não de
transação, profundamente enraizada na tradição pragmática americana. A mudança de interação
para transação permite o estudo de uma ampla gama de situações sem inteligibilidade tua. A
principal caractestica é a coexisncia de cooperação e perspectivas inteiramente assitricas, não
apenas por um momento transirio no processo de troca de perspectivas, mas como uma
configurão estabilizada. Tais contextos significam chegar a um acordo com componentes de
ambientes de trabalho longos, despercebidos, mas cada vez mais atuais. Para entender essas formas
singulares de coordenão com interações nimas, precisamos levar em conta o papel dos artefatos
digitais, dos participantes de terceiros e dos ritmos pessoais. Este trabalho baseia-se em três estudos
realizados em diferentes configurações organizacionais: um centro de controle de tráfego de telefone,
um pronto-socorro pedtrico e jogos on-line no local de trabalho. Onde a atividade coletiva não
significa inteligibilidade tua, a análise se volta para as rias formas de vida desenvolvidas no
processo de trabalho, os encontros intermitentes entre compromissos inconscientes uns dos outros e
os trabalhadores confrontados com seus ltiplos espaços de atividade.
Palavras-chave: Atividade coletiva. Trabalho. Experiência. Pragmatismo.
1
Publicação original: Alexandra Bidet, Manuel Boutet et Frédérique Chave, « Au-delà de lintelligibili mutuelle : lactivité collective comme
transaction. Un apport du pragmatisme illustré par trois cas », Activités [Enligne], 10-1 | Avril 2013, mis en ligne le 15 avril 2013, consul le
16 novembre 2019. URL: http://journals.openedition.org/activites/632; DOI: 10.4000/activites.632.
Traduzido por Neusa Maria Silva: Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Conhecimento e Inclusão Social em Educação
(FaE/UFMG). Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET- MG, graduada em Filosofia pelo Centro Universitário Newton Paiva. E-
mail: neusafilos@gmail.com.
Revisado por Daisy Moreira Cunha: Doutora em Filosofa pela Aix-Marseille Université, Mestre em Educação pela FAE/UFMG,
Graduada em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Minas Gerais. Professora Associada da FAE/UFMG. E-mail:
daisycunhaufmg@gmail.com.
2
Esse trabalho esta inscrito no projeto Comunicação e multi atividade no trabalho (ANR-08-COMM-039) coordenado por Alexandra Bidet.
3
Professora, Doutora do Centre Maurice Halbwachs, CNRS-EHESS-ENS Paris. E-mail: alexandra.bidet@ens.fr
4
Professor, Doutor do IDHE, CNRS-Université Paris Ouest-La Défense Paris. E-mail: manuel.boutet@free.fr
5
Professor, Doutor Centre Maurice Halbwachs, CNRS-EHESS-ENS Paris. E-mail: fr.chave@gmail.com
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ABSTRACT
Interactions are at the center of the main sociological approaches to work. Some lines of research
have been responsible for cooperative interactions that include immeasurable perspectives. But in this
paper we argue that the notion of interaction needs to be extended to the notion of transaction, deeply
rooted in the American pragmatic tradition. Switching from interaction to transaction allows the study of
a wide range of situations without mutual intelligibility. The main feature is the coexistence of
cooperation and entirely asymmetrical perspectives, not just for a transitional moment in the process of
exchanging perspectives, but as a stabilized configuration. Such contexts mean coming to terms with
components of long, unnoticed but increasingly current work environments. To understand these
unique forms of coordination with minimal interaction, we need to consider the role of digital artifacts,
third party participants, and personal rhythms. This work is based on three studies conducted in
different organizational settings: a telephone traffic control center, a pediatric emergency room, and
online workplace games. Where collective activity does not mean mutual intelligibility, analysis turns to
the various forms of life developed in the work process, the intermittent encounters between each
other's unconscious commitments and the workers confronted with their multiple spaces of activity.
Keywords: Collective activity. Work. Experience. Pragmatism.
1 INTRODUÇÃO
Qual é a contribuição da tradição pragmática para o estudo das atividades coletivas?
Para essa tradição, comumente associamos os escritos, nos Estados Unidos, entre o
final do século XIX e a metade do século XX, por C. S. Peirce, W. James, J. Dewey e
G. H. Mead. Sua posteridade tem sido parcialmente documentada na sociologia geral,
onde é identificado com a Escola de Chicago
6
e mais especificamente ao
interacionismo simbólico, mas também na sociologia urbana, através da figura do
estrangeiro e da ecologia urbana clássica de Chicago, e na sociologia ciência política,
quando eles estão interessados nas mobilizações e na construção de problemas
públicos. É explícito também dentro dos communication studies Bergman (2007), Craig
(2007).
No campo do trabalho ou das atividades ordirias a situação é mais confusa. De um
lado, a posteridade dos pragmáticos americanos do icio do século é manifesta. A
segunda escola de Chicago, através de E.C. Hughes, A. Strauss, H. S. Becker e E.
Goffman, produziram o primeiro corpus de estudos etnográficos do trabalho; a ecologia
das atividades e dos workplace studies, via E. Goffman e H. Garfinkel, também têm
fortes ligações com a tradição pragmática; e o estudo das organizações foi marcado
pela revisão realizada por D. A. Schön da teoria da enquete de J. Dewey. Por outro
lado, a contribuição dos pragmáticos não é identificada por si só. Nós falamos mais
sobre interacionismo simbólico, isto é, reformulação de desenvolvimentos de H. Blumer
associada a G. H. Mead. E quando se trata de fazer uma referência específica, nós
chamamos a corrente de ação situada Quéré,(1997) e seu situacionismo
metodológico Joseph, (1998).
Neste artigo, pelo contrário, sugerimos o interesse de caracterizar a contribuição dos
pragmáticos. É uma questão de aprofundamento da Pratice Turn, que tende a renovar
o estudo das organizões e outros objetos das ciências sociais. Este aprofundamento
é particularmente necessário para abordar o trabalho em um mundo tecnicizado e
6
« The Dewey-Mead theory translates silently into their sociology », résume A. Strauss (1992, p. 10).
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cosmopolita onde, do ponto de vista organizacional, uma parte maior é deixada as
improvisões do momento e as expertises locais, e onde, do ponto de vista dos
atores, as cooperações se tecem mais e mais frequentemente com pessoas e
dispositivos técnicos que lhes são e lhes e permanecem estrangeiros. Os Pragticos
em particular G. H. Mead e J. Dewey oferecem ferramentas que permitem pensar a
realizão da prática coletiva, ampliando o horizonte da intersubjetividade e da
reciprocidade das perspectivas, que orienta a maioria das pesquisas
7
. Passando da
noção de interação para aquela de transão de ampliada, além das configurações
habitualmente associadas para à noção de interação, às situações de cooperação que
nós podemos considerar. Pois veremos que ele é uma parte da ação conjunta ou da
atividade coletiva que a noção de interação descreve mal e que convoca um
vocabulário mais amplo.
Ao comparar três áreas de investigação marcadas por uma forma duradoura de não-
reciprocidade de perspectivas entre os protagonistas, nós ilustraremos algumas
contribuições desse vocabulário e especificaremos as ferramentas de análise que o
patrimônio pragmático convida assim, à elaborar. Mas, s começamos por lembrar
que, através das noções de interão e de cooperação, o estudo das atividades
coletivas é, há muito tempo focalizado sobre a questão da inteligibilidade mútua.
2 DA INTELIGIBILIDADE MÚTUA À EXPERIÊNCIA: REVISITAR A HERANÇA
PRAGMÁTICA
A inteligência da situação não é nem individual nem coletiva, nem sempre passa por regras
'mutuamente admisveis': a inteligência da situação de trabalho, para quem participa,
prolonga assim, não pela convergência sobre um contrato, mas em redes mais ou menos
conectadas e mais ou menos densas, emcadeias de cooperação que são a consistência
do espaço-tempos de trabalho (JOSEPH, 1994).
O que a literatura sociológica reteve dos escritos dos pragmáticos do início do século,
através das correntes ou abordagens mencionadas acima, parece ser classicamente
ordenado em torno de uma questão - como interagir, como cooperar - e uma maneira
de responder, consiste em se interessar pelas operações que produzem uma
inteligibilidade mutua entre os participantes. No donio do trabalho, e mais largamente
das atividades cooperativas finalizadas, nenhuma tetica despertou mais interesse e
pesquisas: como os participantes conseguem se coordenar, para superar a
heterogeneidade de suas perspectivas? (BECHKY, 2003; FLIGSTEIN & MCADAM,
2012; KATZ, 2002; STRAUSS, 1993).
Essa ateão à heterogeneidade de perspectivas marcaria uma ruptura com
conceões cognitivas e psicológicas tradicionais, que usariam as noções de
representação compartilhada e propósito comum para dar conta do trabalho coletivo
Grosjean, (2005). Seguir a intuição pragtica consiste, então, em estudar o trabalho
coletivo em desenvolvimento e, por isso, transformar os vários processos interacionais
e comunicacionais variados que constituem e pelos quais a colaboração entre os
participantes se realiza. A inteligibilidade mútua, em particular, se desdobra
progressivamente. Nessas aproximações centradas sobre a noção de interação, como
com as noções de representões compartilhadas ou interesse comum, a
7
A no estudo de situações sem dlogos verbalizados face à face.
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inteligibilidade mútua continua sendo a pedra de toque da cooperação: perguntamo-
nos em que medida as perspectivas dos participantes aproximam uma da outra.
Descrevendo uma sala de controle de tráfego aéreo, Goodwin e Gookwin observam
que o que cada um vê neste panótico, não é uma imagem de conjunto, mas uma
diversidade polimorfa de perspectivas localizadas (1996). Da mesma forma Joseph,
tomando apoio na teoria dos quadros de E. Goffman, argumenta que todo contexto de
trabalho deve ser concebido como uma montagem de quadros participativos
diferentes onde os agentes se engajam, segundo as modalidades diversas, diante das
audiências e para destinatários diferentes (1994). Trata-se, então, de estudar como os
protocolos da cooperação são constantemente reelaborados no curso das atividades
- sendo entendido que não há pertinência por conveão e que ela deve, portanto,
ser mantida em situação (Joseph; Quéré, 2003). A gestão de ordem interacional,
aparenta assim, um labor indefinido, sem o qual o trabalho ele mesmo não pode se
realizar: trata-se de tornar a cooperação possível. Que nos interessemos pelas equipes
de trabalho ou pela dupla par agente/usuário, a co-produção de bens ou de serviços é,
então, sempre, nesse contexto, aquelas de perspectivas mais ou menos comuns: uma
visibilidade mútua das situações, dos gestos, das operações no espaço de trabalho
(QUÉRÉ, 1997, p. 167), as aparências concertadas (Joseph, 1998), um contexto
comum
8
(GROSJEANG, 2005; SALEMBIER; ZOUINAR, 2004) etc.
Para esses autores, a noção de perspectiva apresenta o grande interesse de mudar o
foco do que é conhecido em dirão ao que é compartilhado. Eles seguem, assim o
projeto, comum para C. S. Peirce e para L. Wittgenstein, para eliminar amentalidade
tardia da teoria social (DESCOMBES, 1995). Trata-se de pensar o conhecimento em
termos de procedimentos mais do que como estoque, favorecendo abordagens não
mais dedutivas, mas naturalistas. Se a linguagem continua a ser importante, o
ambiente torna-se, entretanto, o principal terreno de investigão: interessa-nos o que é
visível e mais precisamente “manifesto - o somente perceptível, mas que pode ser
inferido (SALEMBIER; ZOUINAR, 2004).
Continuamente confrontados à tarefa de justapor perspectivas sobre o objeto, seja ele
qual for, com o qual ou sobre o qual eles trabalham de maneira à situá-lo em uma rede
pertinente de significações, os controladores no solo estudados através de Goodwin
conseguem acordar ou articular seus pontos de vista (1996, p. 89). Diferentemente, por
exemplo, no caso do binômio formado pelos passageiros e agentes de supervisão da
linha A du RER estudada por I. Joseph. O que falta neste caso é a possibilidade de
interação direta com os usuários: se o informante tivesse somente a possibilidade de
ver como os viajantes aglutinados sobre uma plataforma reagissem a um anúncio, ele
seria capaz de para realmente abordar um destinatário, observar como ele orienta seus
movimentos. Ele poderia considerar o evento (o incidente) como mutuamente
inteligível, avaliar a pertinência da ão (a iniciativa em matéria de informação)
(JOSEPH, 1994, p. 583).
A interação social aparece assim como uma condição frequentemente necessária,
embora não suficiente, para que possam se justapor ou se articular as perspectivas dos
8
Os dois autores definem um contexto partilhado como um conjunto de informações ou eventos contextuais mutuamente manifestos
para um conjunto de atores, em um dado momento tem uma dada situação, dadas suas habilidades cognitivas e perceptivas, as tarefas
que devem realizar e sua atividade em andamento (SALEMBIR, & ZOUINAR, 2004, 79). Eventos contextuais são aquelesque ocorrem
durante uma atividade e que são ou podem ser pertinentes relativamente para a realização desta atividade e isto do ponto de vista dos
atores (ibid., Os autores apontam).
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participantes. Aqui o quadro organizacional não é suficiente, embora tenha o seu lugar.
O alinhamento das convicções demandam, assim o compartilhamento dos fragmentos
de cultura, segundo uma expressão de Gumperz (1989); e este compartilhamento
pode exigir dos protagonistas um movimento de investigação, especialmente quando o
trabalho de publicação e disponibilização das intenções recíprocas é falho, como
pode ser suficiente recursos de co-presença, ou da conversação por gestos
tematizada por G.H. Mead. Quando M. Breviglieri estuda as cenas públicas da entrada
dos usuários dos autômatos da SNCF, ele descreve assim um gesto ajustado sobre
as formas mínimas de intercompreensão, que implica a produção de uma leitura
partilhada de eventos, de uma proximidade circunstancial entre parceiros
(BREVIGLIERI,1997, p. 144). Ele mostra que ela requer a interface do aparelho como
terreno em comum”, e que ele passa pelo compartilhamento de atenção,
compreensão recíproca dos elementos contextuais, a solicitação e a sensibilizão de
uma intervenção, a intervenção cuja natureza furtiva e espontânea que parecerá
decisiva (ibid., p. 124, 127). Em particular, as relações de civilidade operam, nessas
cenas de ajuda mútua em público (mostrar a tolerância, convidar à ação...),facilitando
a inteligibilidade mútua de elementos circunstanciais e apoiando a correção em público
no caso de fracasso operacional (ibid., p. 144, 124). Se o uso da linguagem é raro, a
construção de uma proximidade é, sobretudo, uma questão de ritmo: a felicidade do
gesto de ajuda mútua, sua própria existência, depende de sua capacidade para se
deslizar no ritmo hesitante que sucede a uma decepção na manipulação da interface.
Outros momentos de indagões sobre as intenções dos usuários, e sobre os dados
da situação, a fim de recuperar a origem da decepção com o aparelho, o mais decisivo
para que a assistência mútua aconteça releva de um tato que é no essencial um
ajustamento da intervenção no ritmo ao qual o operador conduz seu comando (ibid.,
p. 143)
A ausência desse ajustamento mútuo, e o gesto de ajuda mútua, corre o risco de
aparecer como uma interferência duplamente descortês, fazendo recair uma suspeita
de incompetência sobre o usuário, e deixando supor uma ação motivacional,
estritamente pessoal da parte que vem ajudar. Quando M. Breviglieri examina o tato
profissional dos agentes de Samusocial, que vão cotidianamente encontrar um
morador de rua no espaço blico (2010), ele identifica também, uma forma nima de
inteligibilidade mútua na sua forma de ajustar o ritmo temporal do usuário: de um lado,
os participantes ganham seu ritmo”, de outro, eles o conduzem insensivelmente ao
caminhão Samusocial, depois de terem percebido sua falta de resistência para ser
acompanhada de uma inclinação para consentir em ir para o centro de alojamento. Se
o participante “evita abraçá-lo para levá-lo, mas dispensa a proporção de seu esforço,
gestos discretos de apoio, como dos pequenos empurrões para facilitar sua
recuperão, é que o ajuste rítmico aparece como um pré-requisito para uma
interação que ultrapassa o corpo-a-corpo para e se desdobrar sobre um plano
simbólico. Em uma tradição goffmanniana de início do comportamentalismo, A. Kendon
faz, no sentido de um ritmo compartilhado, o elemento atestando por excelência a
felicidade de interação: por sua coordenação rítmica ou sincronia interacional, os
participantes manifestam que eles compartilham a mesma perspectiva sobre a
interação (1990, p. 256). Após uma leitura mais fenomenológica de E. Goffman, J.
Katz concordam também, com nosso meio ambiente se reinventa pelo intermédio de
movimentos corporais tão tensos quanto a modulação dos choros, de uma lamentação
ou entonação de um riso (1999).
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Os exemplos precedentes manifestam duas grandes orientações. De uma parte, uma
exploração renovada de saberes em ato, insistindo sobre a heterogeneidade dos
pontos de vista presente. De outra parte, uma focalizão sobre a questão da
inteligibilidade mútua, colocada no coração dos estudos das atividades cooperativas.
Esses gestos ressoam com a tradição pragmática. Sabemos em particular, a
importância acordada à questão da inteligibilidade mútua para o interacionismo
simbólico, que é parcial. Mas, pela tradição pragtica, a produção de uma
inteligibilidade mútua, de uma reconcilião com as perspectivas ou os arranjos
articulam várias linhas de trabalho via um esforço de negociação e de persuasão
(STRAUS, 1993, p. 87-93), não é nem primeiro nem central. O interesse é mais em
compreender a gênese simultânea das diferentes perspectivas e seu entrecruzamento.
Ora, essa questão é das mais atuais dentro de um contexto onde, com o aumento da
divisão social do trabalho e a globalização das economias, a estabilidade
organizacional faz hoje frequentemente figura de exceção (BECK, 2001;
ENGESTRÖM, 2008; SCHMIDT, 2012, p. 202).
Para W. James, G.H. Mead e A. Schütz, lembremos que a inteligibilidade mútua é rara,
dicil de alcançar, e aos meios transitórios. Como releva C. Russill, o empirismo radical
de W. James considera o caminho cujas nossas interações com o mundo estimulam
encontros temporários, no fluxo da experiência, entre perspectivas incomensuráveis:
Como duas mentes podem conhecer a mesma coisa? Para James, dizer que dois
pensamentos ou duas coisas são exatamente iguais é idiota, dizer que um
pensamento ou uma coisa é intica a si mesmo não significa nada. A questão
aparece como um sério problema filosófico sério se aprendemos a distinção funcional
entre sujeito e objeto, para uma distião ontológica que se trataria de ultrapassar uma
vez por todas. Contudo quando essas questões surgem, elas correspondem mais aos
problemas práticos de coordenação de nossas atividades no mundo que a identificação
de uma base racional para elaborar essas atividades" (RUSSILL, 2008, p. 289-290,
tradução nossa)! A tradição interacionista inverteu bem a prioridade, em tratando a
heterogeneidade das perspectivas como uma fase transitória em direção de um mundo
comum, lá onde hipótese pragmática considerada ao contrario, a atividade sobre uma
base expandida, onde o ordinário é heterogeneidade das perspectivas.
Nesse contexto mais amplo é apropriado, então, situar-se? Ele não foi ignorado pelos
trabalhos apresentados acima, que contribuíram para desenvolver, mas sem tirar
sempre todas as consequências. Esse contexto corresponde a uma abordagem
denominada ecológica, que não parte de indivíduos constituídos e nem de meios já
dados, mas do acoplamento estrutural entre o indivíduo e o meio, pelo qual eles não
cessam de produzir e de transformar. Da ecologia urbana da Escola de Chicago
(GRAFMEYER; JOSEPH, 2004; MCKENZIE, 1924) para Ecologia das atividades
(CICOUREL, 1987) ou da mobilidade (JOSEPH, 2007b, p. 12), ela faz frutificar a
herança pragmática (JOSEPH, 1998, 2002, 2007a, 2007b; TRACÉ, 2008, 2012)
alimentando os desenvolvimentos em torno da vigilância e da tomada
(CHATEAURAYNAUD, 1997), anexos (BREVIGLIERI, 2004; HENNION, 2009), da
multi-atividade (DATCHARY LICOPPE, 2007; LICOPPE, 2008), das maneiras de se
orientar (BIDÉ, 2008, 2011; BOUTET, 2006, 2008), as competências a seguir
(BERGER, 2008) notadamente. Ele conduziu à inclinar sobre as ecologias informais
(NARDI,&O’DAY,1999) e gráficas (DENIS; PONTILLE, 2010) sobre o papel dos
detalhes (PIETTEI, 2009a, b) e nutriu, por exemplo, também a proposta de um Core-
Task Analysis em ergonomia (NORROS, 2004). As abordagens que desenvolveram
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colocam em termos renovados as questões de agência e temporalidade: elas não
atribuem o poder de agir propriamente, nem ao indivíduo, nem o meio; e remetem todo
momento à uma situação em desenvolvimento (BIDET, 2012; SIMPSON, 2009). Mas é
precisamente nesse sentido que J. Dewey propôs substituir o conceito de interação
pelo de transação. Lá onde a fase subjetivista da filosofia europeia (DEWEY, 1993, p.
92) promoveu um indivíduo isolado e desengajado - e como separado das estruturas
organizacionais e estatais, então pensadas como de outro nível, a noção de transação
afirma o contrário, a primazia do acoplamento do organismo e do ambiente, um
verdadeiro parceiro (QUÉRÉ, 2006). Argumentar que o organismo existe como tal
somente nas conexões ativas com seu ambiente (ibid.), é, então lembrar que nós não
vivemos somente dentro de um ambiente, mas por ele (JOAS, 1999).
A atenção aos estados de coisas (states of affairs) do meio ambiente não atribui
uma agentividade à uma entidade distinta e constituída:agentividade não designa um
atributo, mas o movimento das reconfigurações do mundo. (BARAD, 2003, p. 818);
Ela não reside em nós, nem nos artefatos, mas em nossas intra-ações, afirma (L.
SUCHMAN, 2007, p. 285, tradução da autora). A atenção para esta dinâmica permite,
então mostrar que os atores não são átomos individuais. O ambiente aparece bem
como uma entidade indissociável de nossa intencionalidade encarnada. (Dreyfus,
1991). Se a ecologia da percepção associada ao nome de J.J. Gibson é
implicitamente pragmatista, como escreve I. Joseph, é mesmouma propriedade que
não saberia ser atribuída nem ao ambiente, nem ao agente, mas à relação que eles
mantêm” (citado em BREVIGLIERI; STAVO-DEBAUGE, 2007). Assim uma
aproximação ecológica, trata organismo-dentro-seu ambiente, como uma totalidade
indivisível, não como a composição de fatores externos e internos (INGOLD, 2001,
tradução da autora). Ela seiva as interrogações aporéticas (ainda crônicas: por exemplo
KAPTEININ; NARDIA, 2006, p. 226) sobre a parte do sujeito e do ambiente no controle
da ão, em benecio da dimensão criativa de agir muito tempo marginalizada pelos
modelos de agir visando a normativa e de agir instrumental (JOAS,1999;
ENIRBAYER, 1997).
A consequência direta é também pensar a organização de um modo mais imanente. A
noção de transação convida, assim, para analisar a atividade coletiva mais largamente,
a partir da experiência e o somente de uma intelegilibilidade mútua, a ser
construída. Para J. Dewey, a experiência corresponde ao estabelecimento de uma
relação sentida entre fazer e sofrer, quando o organismo e o ambiente interagem”
(2005, p. 253). As significações não se reduzem, então, aos símbolos compartilhados:
o sentido da contribuição cumulativa e recíproca entre o que faz e o que é
experimentado, escreve J. Dewey, “é à extensão e ao conteúdo dessas relações que
medimos o conteúdo significativo de uma experiência" (ibid., p. 76, 69). A constrão
de uma perspectiva comum, que observou a maior parte das obras, surge então como
um caso especial do fenômeno mais geral da criatividade do agir, que se manifesta na
produção de hábitos, de interesses e maneiras de se orientar, às quais são claramente
susceptíveis de serem transpostas de um contexto para outro.
Passar da interão para a transação ligando a questão da cooperação àquela da
experiência permite documentar os fenômenos ainda pouco investigados. Nós
ilustraremos a partir de três pesquisas de campo conduzidas, respectivamente, em
telefonia, nos serviços de urgência hospitalar e na prática de jogos on-line no trabalho.
Estes três casos têm em comum nos confrontar com atividades coletivas e
organizadas, mas que são estabilizadas fora de um horizonte de inteligibilidade tua,
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sem o trabalho de articulação bem descrito por A. Strauss (1993). Estudar as
transações em funcionamento oferece, ao contrário, um espaço aos aspectos ainda
pouco conhecidos, mas o papel crescente nos contextos contemporâneos: a
autonomia dos dispositivos numéricos, como variáveis de objetos-em-ação, a atividade
de terceiros e, finalmente, o desenvolvimento de ritmos pessoais. Abordamos essas
três dimensões sucessivamente, enfatizando as formas originais de atividade coletiva
das quais elas participam.
3 CONSIDERANDO OS OBJETOS- EM ÃO ÀS FORMAS DE VIDAS
DESENVOLVIDAS NO TRABALHO
A ecologia das atividades analisa primeiramente as trocas explícitas ou furtivas, verbais ou
posturais, entre pessoas presentes em um campo de visibilidade. Ela deve, hoje,
considerar formas de acessibilidade associadas às tecnologias da tele ação e do tele
trabalho que tentem reconstituir as condições de conversação face a face e a conversação
ordinária. Ela considera igualmente o ambiente físico e sensível graças ao qual se
desenrolam essas trocas. Enfim, ela, considera os objetos, aos quais, os participantes que
desempenham um papel, lhes solicitando para agir, controlar ou antecipar sua ação
(JOSEPH, 1998).
Sobre o primeiro terreno considerado, um centro de supervisão do tráfego telefônico, a
noção de transação opera um deslocamento do olhar em comparação com as
abordagens clássicas em termos de expertise técnica - não há apenas uma única (boa)
maneira para entender e manipular uma técnica. Esse deslocamento ajuda a entender
a atividade, integrando o papel dos autômatos e as diferentes maneiras pelas quais os
trabalhadores lidam com eles. De fato, a divisão do trabalho em funcionamento no
centro de supervisão estudado entre dois grupos de agentes ocupando formalmente o
mesmo cargo não consiste em adicionar e articular contribuições diferentes e
complementares. É que, tal contexto de trabalho, onde o agir distribuído, não permite
mais ignorar as transações com o meio: esses agentes não estão em situação de usar
ferramentas, que eles poderiam manipular à vontade, nem agir com outras partes
interessadas, com quem se coordenar e elaborar um contexto compartilhado; eles
são confrontados com à necessidade de se associar, de se integrar à um conjunto de
entidades interdependentes, que formam uma verdadeira mundo-tela
9
de sinais, de
medições, de alarmes e de comandos informatizados.
De fato, onde o trabalho se assenta primeiramente na dimica sistêmica e
acumulativa de automatismos, interagindo continuamente uns com os outros e se auto
regulando amplamente, o trabalho humano se torna atividade de supervisão ou
regulação. É assim, hoje em um número crescente de setores industriais e terciários
tais como (pilotagem aérea), a conduta de processo na energia nuclear, a qmica
onde as infraestruturas produtivas estão mais e mais automatizadas e informatizadas.
Suprir momentaneamente os automatismos, contrariar sua deriva estrutural, é então
co-agir com eles. A continuidade dos processos repousa in fine - ou em último recurso
sobre a intervenção ativa de operadores humanos nessa co-funcionamento.
Observando uma situação deste tipo na telefonia, nós mostramos que o principal
9
O conceito de mundo - tela designa, além da interface informática,um ambiente complexo composto de regiões visitáveis e horizontes
que fundam as atividades, portanto, um espaço dinâmico, persistente, que pode ser explorado, onde novas janelas podem ser abertas.
Ele concentra, ao mesmo tempo em que "as atividades, temporalidades e situações de agentes anteriormente espalhados", todas as
possibilidades de manipulação e informação disponíveis em tempo real. Veja: (KONORR-CETINA; BRUEGGERS, 2003, p. 122-129).
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interesse não era para os trabalhadores em produzir entre eles um contexto
compartilhado, mas conservar uma sociabilidade com os automatismos. Estes últimos
não são objetos-na-ação, isto é, ferramentas e objetos de uso destinado a equipar a
ação humana. Eles são objetos-em-ação dotados de uma autonomia de movimento e
cujo funcionamento não é pré-estabelecido. G. Simondon enfatiza que a parte da
indeterminação de um conjunto técnico se deve à sua abertura e sua sensibilidade com
seu ambiente (1989)
10
. Aos olhos dos técnicos que estão no comando, os dispositivos
que produzem e regulam o tráfego telefônico são conjuntos complexos, que geram
questões, são de processos e de projeções mais que coisas afirmativas (KNORR-
CETINA,1988). Frente às variados objetos epistêmicos, as soluções devem ser
construídas e não são necessariamente únicas.
Mesmo na ausência de incidentes, os operadores envidam esforços de vigilância e
exploração. Para compreender essa preocupação que eles vivenciam, é preciso deixar
a questão da cooperação por aquela da experiência. Não é desenvolvendo apoio que
eles conseguem agir, pontualmente, com este agregado sismico e constantemente
mutante que é o tráfego telefônico, mas desenvolvendo uma forma de vida
caracterizada pelo que Knorr-Cetina chama de sociabilidade com objetos
[sociabilidade com objetos] (1997). O que se observa aqui é uma exploração contínua
do mundo-tela. Assim, a atividade desses agentes implica o risco de inatividade e de
tédio pela busca e conservação de uma ocupação interessante: encontrar o que é
interessante lá dentro, o que se passa de interessante, supõe um exploração
contínua. Somente uma circulação permanente na rede, multiplicando os pontos de
vista sobre estas coisas que caminham por si mesmas, iniciando típicas intrigas, torna
possível, quando um incidente ocorre, estar em posição de conceder seu movimento
com a dos automatismos. Como J. Dewey observa, o que é dado aqui e agora é
enriquecido com significados e valores tirados do que de fato está ausente e somente é
presente pela imaginação em particular tira de experiências anteriores, isto diz de
resultado consolidado de interações anteriores com o ambiente (2005, p. 317). Trata-
se aqui da possibilidade de uma experiência: poder desenvolver, segundo a expressão
de Dewey, linhas de interesses ativos. Knorr-Cetina e Bruegger apontam também
nesse sentido a necessidade de ampliar a ecologia das atividades para "realidades
eletrônicas, já que elas se tornam um hábitat para alguns de nós" (2003, p. 126).
Na era digital, essa distribuição forte do agir está no centro das ecologias
informacionais complexas em pleno desenvolvimento (NARDI; O'Day, 1999).
Aproveitar as formas de vida que acompanham essa multiplicação de pós-social ou
objeto-centrada nas relações (KNORR-CETINA, 1997) implica de usar tanto do
interesse sociológico em nossas maneiras de entrar em relações com o nosso
ambiente para a coordenação entre as pessoas. No seio mesmo do Pratice Turn, o
sentimento de uma lacuna relacionada ao uso de cnicas, para a técnica como
experiência, fez o seu caminho. Lucy Suchman propõe, assim, substituir o termo de
interface homem-máquina (intercâmbio homem-máquina) por aquele de transação,
a fim de repensar os circuitos pelos quais entramos em relação com nossas máquinas
(SUCHMAN, 2007, p. 285). Paul Dourish identifica a interação com as coisas em si"
como o primeiro objeto para quem quer estudar Embodied Interaction”, definida como
"a criação, a manipulação e o compartilhamento do sentido através do engajamento
10
Umaquina puramente automática, completamente fechada em si mesma, em uma operação predeterminada, poderia fornecer
apenas resultados resumidos. A máquina dotada de alta tecnicalidade é uma máquina aberta, escreve neste sentido G. Simondon.
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em uma interação com artefatos" (DOURISH, 2001), tradução da autora. A medida que
se multiplicam os objetos técnicos mais autônomos no seu funcionamento e articulado
entre eles, eles nos fazem explorar os novos laços e o horizontes da atividade em
parte, liberadas das restrições do espaço ordinário: a rede [técnica] tende a substituir o
território como base topográfica da solidariedade da sociedade (DODIER,1995, p.15,
350). Sim, mas geralmente, a intelectualização das situações de trabalho, por vezes
nossas relações com as coisas sicas sociality with objects- tomam uma nova
amplitude, capturamos toda atualidade, não passe do lado (p. 179), ao qual convida a
conceão de transão proposta por J. Dewey.
Como a unidade da experiência, um engajamento coerente e acumulativo, são
possíveis em um tal contexto de trabalho? O mundo-tela do tráfego telefônico, como
aquele do caminho financeiro estudado por Knorr-Cetina e Bruegger (2003) é um
ambiente particularmente dispersivo queaparece continuamente em fragmentos:
parece um tapete cujas pequenas sessões são desenroladas à nossa frente (...)
podemos andar sobre ele, podemos mudar de posição sobre ele. Ao mesmo tempo,
precisamos imaginar o tapete se acumulando à medida que é desenrolado (p.126-
127). No nosso caso, a identificação mesmo do tráfego telenico como objeto de
trabalho, supondo o esforço quotidiano dos agentes para articularem circulações
mediatizadas como uma única e mesma transação com seu agregado sintético e a
probabilístico de chamadas telefônicas. Eles m que trabalhar para ligar
continuamente, para eles, as entidades heterogêneas do mundo-tela. Todos não se
obrigam, todavia, a este trabalho: alguns implantam sua atividade fora do mundo-tela.
Eles se esforçam para reconhecer regularmente os alarmes, em uma lógica de
verificação pontual, onde seus companheiros exploradores seguem as curvas de
tráfego, numa lógica de antecipação contínua. Em ambos os casos, todos podem
esperar se envolver em um espaço dispersivo sem fragmentar sua atividade: o
engajamento de cada um para a continuidade, ou mais exatamente com o ritmo
alternância de concentração e relaxamento (DEWEY, 2005), propício para a unidade
de uma experiência. As transações seguem os ritmos opostos de uma parte e de outra,
uns oferecem sua vigilância para a redundância de alarmes comuns e seu tratamento
rotineiro, outros consagram um esforço contínuo para estar pronto para responder a
uma eventual crise de tráfego, com suas reações em cadeia.
É porque os primeiros privilegiam as mensagens repetitivas que encobrem as janelas
de alarmes, que os últimos podem imergir na circulação do tráfego: empurre mais
longe a visão da rede porque quando você tenta resolver um problema, o tempo voa.
Inversamente, é porque os últimos mergulham no mundo- tela para liberar o primeiro
da gestão de situações de crise e a necessidade de manter a intimidade com
autômatos caprichosos, em um experimento indefinido. Ao fazê-lo, uns e outros
manejam também, mais largamente a continuidade de suas transações com um
ambiente técnico - no tempo (entre suas atividades passadas e presentes) e no espaço
(entre trabalho e não trabalho): as primeiras são utilizadas globalmente para habitar as
tecnologias eletrônicas, ditas também da representão, e as segundas, as
tecnologias mecânicas, ditas de intervenção. Dessas formas de vida (ou estilos)
opostas - que o são redutíveis a clivagens geracionais - testemunham os
vocabulários de uns e de outros (BIDET, 2010), suas narrativas (BIDET, 2007), suas
representações gráficas da atividade (BIDET, 2008), mas também suas concepções da
verdadeira cnica ou do verdadeiro trabalho (BIDET, 2011a). Essas valorizões
contrastadas, afetando os detalhes da atividade, são o produto da acumulação das
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transações. Essas valorizações referem-se à seleção e ao desenvolvimento, permite os
gestos possíveis, de certa maneira de agir e de apreender a técnica, tanto do sujeito
quanto do objeto, tanto das pessoas quanto dos artefatos. Se os vocabulários engajam
cada vez mais uma relação pessoal com a técnica, isso deve muito pouco à psicologia
individual e muito à gênese normativa pela qual esses cnicos vivem em seu ambiente
de trabalho. O tempo contribui assim duplamente para manter a clivagem entre as duas
posturas: pelas histórias profissionais bem diferentes e, nas salas de supervisão, pelas
temporalidades distintas nas quais as atividades são realizadas.
Entre estas duas formas de vida, não se observam uma relação de cooperação
(mesmo tácita, que levaria a falarmos de trabalho em equipe), nem uma forma de
concorrência ou rivalidade (o que implicaria uma orientação mútua forte, por falta da
produção de uma inteligibilidade mútua): nem a propensão paracolocar-se no lugar do
outro, inerente à cooperação, nem a tendência para depreciar a atividade do outro,
inerente às situações de rivalidade. Se, como recorda D. Cefaï, a reciprocidade das
perspectivas é um processo de interconexão entre motivos e objetivos, de
intercompreensão entre reflexões e projetos (1998, 107), é sobretudo aqui uma não
reciprocidade das perspectivas que acompanham a distribuição do agir.
A delegação tácita dos gestos e de preocupações que nós observamos é emergente:
ela não é o fato de uma coordenação, nem é mesmo verdadeiramente percebida como
tal; a mutual awreness é nima, às vezes inexistente. Contra o risco da dispersão, da
fragmentação da experiência, que permite manter o fio, não se refere, assim, a nenhum
dos dois grandes modelos, que privilegia seja o operador, seja a distribuição de sua
atividade sobre seu ambiente e/ou equipe de trabalho. Na configuração estudada, a
assimetria das perspectivas vem contra introduzir a noção de terceiros, porque os dois
conjuntos de agentes detectados operam como terceiros, uns frente a frente dos
outros.
A atenção às transões o convidam somente a tomar vantagem em relação aos
objetos-em-ação, portadores de autonomia, e as forma de vida que se elaboram com
eles, mas também a presença de terceiros em situação. É a partir de outro terreno da
enquete que nós vamos considerar mais precisamente seu papel dentro de tais
configurações.
4 DA CONSIDERAÇÃO DOS TERCEIROS PARA A COINCIDÊNCIA MOMENTÂNEA
DOS ENGAJAMENTOS
Para um grande número de situações profissionais e organizacionais nas quais os atores
estão engajados, são ação e a atividade de terceiros que fornecem a orientação principal
na produção ptica da conduta, e são as contribuições desses terceiros que definem as
contingências que os atores devem gerenciar (HEATH; HINDMARSH; LUFF, 2000, p.
672), traduzido em (SALEMBIER; ZOUINAR, 2004, p. 69).
Sobre o segundo terreno investigado, aquele das emergências hospitalares pediátricas,
a não de transação opera também um descentramento em relação às abordagens
clássicas em termos de interões. Agem de fato em situões onde a atividade
repousa de maneira constitutiva em vários tipos de participantes, mas fora de um
horizonte de reciprocidade de perspectivas. Esse deslocamento permite integrar na
análise do papel dos atores raramente considerados e as atividades organizadas às
quais participam. As análises de cooperação para o hospital (GOFFMAN, 1979;
GROSJEAN & LACOSTE, 1999; PENEFF, 2000; STRAUSS, 1992) tendem a
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privilegiar os momentos onde o dico e paciente estão juntos e tentam se
compreenderem para estudar estratégias recíprocas, as falhas e os ajustamentos. Se
essas interações são importantes, os canais de cooperação sobre os quais repousam
a tomada em cargo ultrapassa, porém, os únicos momentos juntos entre paciente e
profissional. Em Primeiro lugar, a maioria das situações não implica somente um
profissional e um paciente, mas também os terceiros, os pais (CHAVE, 2010). A sua
interveão discreta e sustentada durante todo o cuidado é um duplocuidado,
cuidadoso e atencioso, indo às vezes, até aos cuidados de enfermagem mais técnicos
e de gestos médicos. Essa participação dos pais na atividade coletiva é pouco visível e
indispensável. Em torno do paciente infantil são os dois compromissos heterogêneos e
paralelos de pais e profissionais.
Certamente, parte da atividade dos pais é controlada e coordenada pelos profissionais,
com toda a gama de maneiras de fixar cooperações, reconhecê-las e colocá-las no
quadro regulatório e prescritivo do serviço de urgência. Mas uma grande parte de sua
atividade escapa largamente a ateão dos profissionais. Ela não se revela em um
cruzamento, em caso na ausência (ou falha) do pai: quando isto que fazia barulho não
faz mais e vem a ser para os cuidadores um suplemento do trabalho podendo
desorganizar o serviço
11
. Essaco-atividade é estrutural: as atividades de cada um são
necessárias para o cuidado. Mas estas situações, como formas de interações
estabilizadas e não transitórias, ficam aquém de um trabalho de equipe, que implicaria
em um ajustamento, momento por momento de procedimentos comuns, às vezes
intercambialidade das atividades e sua realizão à várias mãos. Observamos, ao
contrário, poucas interações face a face e uma importante assimetria de perspectivas.
A noção de transação permite aqui, não se ater apenas às interações. Mesmo se
acontecendo, muitas vezes, ajustes durante o curso do episódio passado na urgência,
mal entendidos dão lugar para os ajustamentos, etc., nós queremos sublinhar a
existência de formas bridas e espontâneas de cooperação nas quais as interações
entre o público e os profissionais não são intermitentes, e passam frequentemente
esforços para se aproximarem as perspectivas dos participantes. Entre o público e os
médicos observamos os mesmos ritmos opostos.
Nos dois serviços pediátricos estudados, os pacientes são examinados, primeiro por
uma enfermeira, uns após outros, pois um médico examina o paciente no lugar onde
fazem os exames, e ele prescreve aos cuidadores e pega outro prontuário pendente e
o retorno dos exames do primeiro paciente, e assim por seguinte. Ele pode também se
encontrar com três, quatro, até mesmo cinco prontuários ao mesmo tempo aqueles
correspondentes igualmente de pacientes para diferentes momentos de sua tomada de
cargo. Esta multi atividade conduz os médicos a dividir em diferentes sequências o
acompanhamento de cada paciente. Eles não acompanham os pacientes de forma
linear, na sua chegada até a sua saída, mas sequencialmente circulam de um boxe a
outro, muitas vezes ignoram toda a atividade dos pais. Para o público, em
contrapartida, as urgências são também um lugar onde atendem, na sala de espera,
depois nos boxes. Esse atendimentoo é somente parte de uma reduzida absorção
do fluxo das entradas. Ela é igualmente constitutiva do tratamento: períodos de
observão, tempos de passagem de uma perfusão, retorno de exames, o
momentos incompreensíveis. Além do tempo próprio para exames, acrescenta o
11
Reciprocamente, o pai, vindo às urgências, passa temporariamente o cuidado da criança ao médico, o que também revela uma forma
de coordenação.
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tempo que o médico consagra a outros pacientes e aos casos mais urgentes, o tempo
gasto pelo médico em seus outros pacientes e os casos mais urgentes que ele
acompanha a todo momento em cima da hora. Nos casos de afluxo, enquanto o ritmo
da equipe se contrasta ao máximo, aquele público se dilata ao extremo. O aumento do
número de pacientes não aumenta fundamentalmente o trabalho dos profissionais
(encadeiam os atos e as consultas), mas altera seu quadro de exercícios (o tempo que
ele pode consagrar a cada um, a precisão e a rapidez de sua avaliação do grau da
urgência). Essa diferença dos ritmos, pode se traduzir por tempos de muitas horas na
sala de espera, em seguida, nos boxes e constitui uma fonte de tensões constante com
um público, cuja a espera aumenta a inquietude, o desconforto e a dor. A multiatividade
médica, centrada na evolução rápida e no tratamento multisenquencial de uma
multiplicidade de pacientes, segue um tempo rápido e divide o contraste com a
participação invisível e contínua dos pais, seguindo um ritmo muito lento e centrado
sobre a manutenção das condições de existência da criança. Essa diferea dos ritmos
e das atividades, assinala também um espaço de perspectivas: os pais não vem o que
fazem os médicos, nem porque, eles fazem esperar; o profissional não recebe se não
passar nos boxes, nem o detalhe dos cuidados que os pais podem prestar ou não
para a criaa paciente.
Ora, essa assimetria de perspectivas entre terceiros e profissionais que permite um
cuidado global da criança. Inicialmente, os pais asseguram um cuidado ao mesmo
tempo do lar e de enfermaria, o que diz respeito àenfermagem, a supervisão com as
refeições, o cuidado atencioso, que prepara a instalação no serviço por várias horas,
mas também a sda, e realizam um conjunto de cuidados de enfermagem que vão
desde a administração de aerossóis a a administração de medicamentos, até o
monitoramento da evolução da condição da criança. Essas intervenções dos pais,
exceto falhas de sua parte, não são compartilhadas nem relatadas; contribuindo para o
cuidado do paciente, seguem um percurso paralelo às intervenções dos profissionais.
Mais do que uma preocupação com a inteligibilidade mútua ou perspectivas recíprocas,
há um hiato entre os estados emocionais de parentes, pacientes e profissionais, e suas
avaliações do que é urgente ou legítimo.
Os pais, ao cuidar dos filhos, organizam sua continuidade biográfica. Sua perspectiva
sendo aquela do longo prazo, eles podem sintetizar junto aos profissionais toda sorte
de informões cronológicas e detalhadas, muitas vezes determinantes para
estabelecer um diagnóstico ou um tratamento. Eles operam igualmente como alarmes
dos lembretes (DATCHARY; LICOPPE, 2007) às vezes insistentes e mais ou menos
bem-vindos. Em particular, se o estado do filho agravar, eles podem sair do box e tentar
alertar alguém. E os médicos se apoiam nessa possibilidade para ignorar o que passa
nos boxes em sua ausência e se concentraram em outros pacientes. Da mesma forma,
são eles que alimentam o prontuário e colocam as informações em perspectiva, triam,
ordenam, eles lembram ao médico, para quem o fato de tratar todo dia um grande
número de pessoas não permite identificar individualmente cada paciente ou lembrar-
se de cada caso. Os terceiros, pela sua presença contínua, vigilante, permitem ao
médico a prática da divisão como técnica eficaz de tratamento de um grande número
de pacientes. Para além da presença pontilhada dos profissionais, a comitiva assegura
assim a continuidade do cuidado, mas tamm a do caso para os profissionais.
Esse entrelaçamento de ritmos e tarefas se passa em geral de uma explicão dos
direitos da outra parte para agir sobre o paciente. E frequentemente, não há
necessidade de se entender no plano dos valores, orientações, crenças, para realizar
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um "acordo prático" mínimo sobre o que fazer. A aspirão comum para cuidar da
criança estrutura as atividades cruzadas de pais e dos médicos. É o bem da criança
que convoca um e outro em caso de desacordo sobre a evolução e o caminho tomado.
E se o espaço tamm é emoldurado, com seus cartazes, seus corredores cujo piso é
sinalizado por flechas e de significado interditado, seus equipamentos estimulando a se
assentar, a esperar, se aproximar, toda uma parte disto que é feito entre o paciente e o
entorno não se deixa reduzir ao que está escrito, proscrito ou prescrito, nem ao que o
ambiente sugere fazer ou não fazer. À este respeito, há alguma forma de indiferença
mútua entre médicos e pais quanto a maneira pela qual cada um desempenha seu
papel, nos longos momentos onde eles não interagem diretamente. O que se passa
nos boxes entre as visitas dos profissionais é cuidadosamente ignorado, nos dois
sentidos do termo. Esta indiferença estabelece de facto uma forma de repartição das
preocupações que deixa na sombra o conteúdo mesmo disto que seria a
responsabilidade de cada um. Por esta economia da atenção, o dico, que deve
tratar dos numerosos pacientes, não tem, portanto que se preocupar com a
permanência de cada um deles: outros responsáveis se encarregam. Trata-se de uma
indiferença, o moral, mas prática, que não demonstra um desinteresse, mas bem
mais, sobretudo de uma organizão da atividade que integra implicitamente uma
economia distribuída de atenção implicando terceiros. Nossa abordagem revela assim
uma atividade coletiva caracterizada por uma delicadeza interacional, a
heterogeneidade dos atores, mas, sobretudo, e, é o que torna a forma original, a
ausência de integração a priori dentro de um sistema procedimental comum, toda a
contribuição dos terceiros.
Uma forma de coordenação, fundada sobre uma coincidência de engajamentos, pode
se tornar visível através do conceito de transação. Este aqui permite de fato se
interessar também nesta parte das trocas por parte independente de sua espessura
relacional. A consideração como atividade acontece também fora dos momentos de
ajustamento entre cada um: na relação diferenciada de cada paciente, no seu ambiente
e nos seus próprios fins. Ela se realiza com base na sua ignorância e na confiança
misturadas com o que os outros fazem, mas também graças ao que os outros fazem. E
isso, é bem uma cooperação. Os serviços de urgência pediátrica funcionam incluindo o
que fazem os pais que se ocupam de uma parte das tarefas que uma criança exige, e
os pais contam com médicos e cuidadores para compreender e resolver a crise que os
traz, mas nenhum deles procuram se informar mutuamente do que estão fazendo. É,
portanto, uma forma de cooperação ondea indiferença prática é uma condição para o
exercício da atividade. Nestas situações de interações sucessivas, simultâneas, curtas,
não repetidas, numerosas, a dificuldade de reciprocidade das perspectivas se revela
uma condição de unidade da experiência, tão bem pelos profissionais e pelos
terceiros
12
.
As interações das transações: esta ampliação parece particularmente ajustada às
transformações estruturais que conhecem as organizações contemporâneas. Essa
contribuição da tradição pragmatista para o estudo da atividade coletiva torna, de fato,
mais atenta à agentividade dos objetos em ação e àquela dos terceiros. Nas pesquisas
de campo apresentadas acima, o lugar dos fenômenos de ritmos sugere que ele
oferece também ferramentas para uma melhor consideração da temporalidade
12
Por outro lado, o Sr. Grosjean destaca de maneira muito interessante a ligação entre o privilégio dado à inteligibilidade mútua pelas
abordagens etnometodológicas e sua sub-qualificação da atividade. (2005, p.85).
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associada à noção de experiência (Bidet, 2011b, Quéré; Terzi, 2011: Rosa, 2010).
Nosso último caso vai ilustrar.
5 DA CONSIDERAÇÃO DOS RITMOS PESSOAIS AO ENTRELAMENTO DAS
ATIVIDADES
Todas essas interações que trazem ordem e estabilidade no fluxo de mudança são na
verdade, ritmos (DEWEY, 2005, p. 35).
Nos dois casos apresentados, a supervisão telefônica e as urgências hospitalares nós
já tínhamos constatados os ritmos opostos e as defasagens temporais entre os
participantes e mostrado o papel dos terceiros pela coerência da experiência do
trabalho. A gestão da multiatividade atividade em nível de um serviço passa eno pela
manutenção de uma assimetria de perspectivas entre duas categorias de
participantes
13
. O terceiro terreno que consideramos, um jogo na internet praticado no
local de trabalho, vai nos permitir aprofundar a escala do trabalhador, análises de
fenômenos rítmicos e temporais. Esse jogo, apresentado em outro lugar (Boutet, 2008),
tem uma estrutura comum para numerosos jogos na web. Isso inclui o que nos
chamamos os jogos de encontros (Boutet, 2011) que não reclamam uma
interatividade constante com uma interface do jogo, mas de momentos de conexões.
Trata-se, nos casos presentes, de dispender cada dia seus pontos de ações para
perseguir monstros em subterrâneos se conectando alguns minutos por dia. A
presença do outro é um atributo desses jogos, contrariamente a outros jogos de
computadores os quais jogamos sozinhos: escolher jogar on-line, é escolher jogar com
os outros e estar preparado para cooperar com quem estiver disponível. E, para os que
jogam no local de trabalho, o caráter regular e cotidiano do jogo é essencial. Em suas
relações com seus parceiros, a ênfase está na disponibilidade comum que essa
atividade requer on-line, e no alto grau de integração e dependência recíproca que ela
demanda. Os jogadores devem compartilhar ritmos compatíveis, em uma configuração
que difere do modelo de sociabilidade por afinidade: os parceiros são companheiros
de equipe e pessoas que conhecemos pouco, com as quais não compartilhamos muito
sobre o seu trabalho ou sua vida pessoal.
A não de transação, ajuda aqui a operar um deslocamento em relação as
abordagens clássicas dos ambientes de trabalho, permitindo considerar, aquém da
distião entre trabalho e hora de trabalho”, o emaranhado de atividades realizadas
na presença e à distância. A entrada do jogo pela internet traz à tona as tensões
ligadas à multiplicidade de atividades, e conduz a observar que a criação de formatos,
de rotinas ou dispositivos para tratar essas tensões não esgota nossas maneiras de
observar nossas atividades, de avaliá-las e tentar, assim, hierarquizá-las (LAHLOU,
2000, LICOPPE, 2008, 2009). A não de transação permite de fato, explorar mais a
frente as formas pelas quais nos fazemos face a face às ecologias (de trabalho, mas
não apenas) mais e mais ricas em solicitões heterogêneas e concorrentes, portanto
de trabalho de si (BIDET, 2011a, HUGHES,1996).
Como o jogo e o trabalho coexistem? Primeiro nos constatamos que o jogo é praticado
diferentemente no trabalho e no fora de horário de trabalho: em trabalho, seu ritmo
13
Em situações multi-atividade propriamente ditas, um "conjunto de atividades permanece relevante como um todo" (DATCHARY &
LICOPPE, 2007, p.21). As preocupações de fundo, portanto, permanecem relevantes ao lado da atividade focal e provavelmente serão
revividas a qualquer momento (LICOPPE, 2008).
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baseia no ritmo de trabalho. Os dois cursos da ação coexistem em paralelo sem ser
simultâneos nem sequencializados: no primeiro caso, o trabalhador deverá jogar ou se
contorcionar; no segundo caso, o jogo será um simples affaire de pausas. Ora, as
atividades do jogo e de trabalho aparecem bastante dessincronizadas, e de uma forma
diferente segundo a característica mais ou menos heterogênea do conteúdo do
trabalho.
No contexto onde o trabalho é muito heterogêneo, se observa um estreitamento da
atividade em torno de um único meio de comunicação, que cria uma continuidade entre
as tarefas do jogo e aquelas do trabalho: todas as solicitões vêm da mesma maneira
e são geradas com as mesmas ferramentas. Por exemplo, os jogos que recebem as
demandas dos clientes essencialmente por correio, se fazem de bom grado notificar a
presença distante do mundo do jogo e o jogo deve assimum email dentre os outros.
No outro caso, um jogador é advertido na tela quando recebe uma mensagem
instantânea, que vem de um canal de comunicação que ele mantém com grupos de
experts no quadro de suas missões profissionais, ou canal paralelo aberto sobre o
mesmo software para trocar com seus parceiros de jogos. O jogo não designa,
portanto, uma nova ordem de solicitões concorrentes, mas uma solicitação entre
outros. No caso de um trabalho com conteúdo homogêneo notamos primeiro uma
tendência a criar uma separação entre jogo e trabalho, replicando, para o jogo, o
dispositivo existente para o trabalho por exemplo uma segunda caixa de email. Da
mesma forma, os jogadores preferem ir na internet para jogar mais que recorrer à
notificações que os informe por email um evento ocorrido no jogo, ou uma mensagem
instantânea onde os participantes do jogo podem ser solicitados. O jogo é, então mais
jogado durante as pausas. Ele não introduz uma heterogeneidade nas atividades de
trabalho, mas aparece, sobretudo neste contexto como um forma de se ocupar,
quando nos desligamos, ou saturamos.
Nos dois casos observamos um esforço para dessincronizar as ocupações jogo e
trabalho - que seriam, senão, concorrentes. Esse entrelamento toma uma forma
diferente, segundo o degrau de homogeneidade da atividade de trabalho, que se
averigua estruturante pela atividade do jogo. Mas é cada vez mais inscrevendo jogo e
trabalho no mesmo ritmo que seja de uma atividade homogênea ou heterogênea -
que ambos são tornados comensuráveis. Assim, o jogo no trabalho é um tempo de
jogo e esse tempo tem a forma de um ritmo. A noção de ritmo, contrariamente à aquela
de interatividade, permite descrever as relões lentas e descontínuas, mas produzem
uma unidade de experiência. Nesse padrão, o trabalho aparece como um conjunto de
atividades, mais ou menos encadeadas ou entrelaçadas, com momentos de tensão e
relaxamento, entrelamento no qual a prática do jogar pode encontrar seu lugar de
maneira fluida. Também, o problema dos trabalhadores é menos sincronizar ou
articular tempos já dados, como o tempo organizacional e seu ritmo biológico, do que
construir uma ritmicidade pessoal a partir das restrições sociais que pesam sobre suas
diferentes atividades, acomodando-as.
O estudo do jogo no trabalho possibilita assim ver os pequenos acordos pelos quais os
trabalhadores tecem suas preocupações com as solicitações resultantes do trabalho.
As atividades aparentemente as mais pessoais o bem solicitadas que seja no
casal, na falia, nos amigos, no local de trabalho ou em outras comunidades de
prática. E os tempos pessoais o os tempos organizados, no sentido em que eles
integram as restrições de outros participantes e de outros contextos. E se cada
atividade envolve tanto de um conjunto de restrições quanto de possíveis ajustes,jogar
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no local de trabalho não é trazer o jogo para o trabalho, mas, ao contrário, é elaborar
nos locais uma nova maneira de fazer as coisas. Ela passa incluir a escolha entre
estar preocupada e ser solicitada: ter que pensar nisto ou receber uma notificação?
Para cada um, no contexto onde espaços tempos do trabalho ficaram mais
desfocados (BIDET & SCHOENI, 2011; BORZEIX & COCHOY, 2008. CRAGUE,
2003; HOCHSCHILD, 1997), a procura de uma unidade de experiência repousa, então,
na pesquisa de uma ritmicidade pessoal que compõe com a diversidade de suas
atividades, suas restrições e suas plasticidades possíveis. Aindiferença prática,
descrita nos dois casos precedentes, tornam-se na forma da atividade do jogo
examinada aqui, a regra e a coordenação dos trabalhadores baseia-se antes de tudo
nos ritmos que eles compartilham.
6 CONCLUSÃO: A ATIVIDADE NO PRISMA DAS TRANSÕES
Este artigo contribui para a noção de transação introduzida por J. Dewey. Ele
demonstra que uma entrada pelas transações permite estudar, além do donio de
interações, um conjunto de situões onde a inteligibilidade mútua não é central para
um desdobramento de uma atividade coletiva.
Através de três exemplos, de uma sala de controle da rede telefônica, de um serviço de
urgências pediátricas e situações de jogo no trabalho, nós identificamos as
configurações estabilizadas, operantes, mas considerando o horizonte de reciprocidade
de perspectivas. Nos casos estudados, o déficit de inteligibilidadetua não é
prejudicial para a continuação da atividade coletiva, como seriam os mal-entendidos
(GROSJEAN, 2005). Nós vamos mais longe, mostrando que a cooperação requer,
pelo contrário, uma fraca inteligibilidade mútua.
Este modelo enriquece o estudo de contextos organizados, onde ambientes de
trabalho com um fraco grau de intersubjetividade estão longe de ser anedótico. Eles
tendem mesmo a se multiplicar com o aprofundamento da divisão social do trabalho,
que aumenta o número de mundos profissionais, cuja atividade nos é estranha, mas
com a qual nos enfrentamos. A não de transação, mais englobante do que de
interação, permite documentar este aspecto de "desencantamento do mundo"
apontado pelo M. Weber. Seguindo J. Dewey, K. Burke já sublinhava a dificuldade de
se tornar um participante” no mundo "fragmentado" para uma grande diversidade
profissional: nossas aprendizagens e saberes pontiagudos arriscam sempre de
"tornar-nos cegos" (1983, p. 7) e as diferentes formas de viver e ganhar sua vida
ameaçam de transformar as diferentes classes de indivíduos em mistériosuns pelos
outros (p. 276, tradução da autora). Em um mundo feito de tantas "perspectivas
díspares", tornar-se um participante não seria tanto para K. Burke um caso de
conhecimento do que de ação, de arte e esforço prático, através, em particular, do
caráter sintético dos nossos atos, que são cada vez maisuma nova maneira de juntar
as coisas (1983, p. 254). Documentar esta pesquisa é uma continuidade da
experiência leva, vimos, à estudar a crião de hábitos de formas de vida, de formas de
se orientar, etc.
Este modelo ampliado para além das interações, possibilita colocar os dispositivos
numéricos, aos terceiros e aos ritmos pessoais. Os objetos já tratados como suporte
inscritos no ambiente de trabalho, aparecem para alguns animados de uma vida
própria, em torno do qual elaboram verdadeiras formas de vida; os terceiros,
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tradicionalmente e praticamente por definição, excldos da análise do trabalho, se
revelam operadores indispensáveis na cooperação produtiva; enfim, a temporalidade
da atividade, não cessa de tecer diferentes ritmos uns com os outros, integra a análise
do trabalho os espos-tempos fora do trabalho.
Formas de vida, coincidência de engajamentos, entrelaçamento temporal de
atividades: fenômenos colocados em primeiro plano pela noção de transação trazem
ao estudo da atividade coletiva para além da inteligibilidade mútua. A partir de situações
de trabalho similares apresentadas aqui, M. Grosjean se interroga se os modelos
associados à teoria da atividade não forneceriam um quadro mais satisfatório [do que
aquele da ação situada] para repensar a questão da pertinência e da intelegibilidade
mútua em termos dos sistemas da atividade [dos diferentes atores implicados em um
trabalho cooperativo] quando estes não são convergentes (2005). Um retorno à
tradição pragmática, da qual a teoria da atividade é ela mesma herdeira (Garreta,
aparecer), parece-nos oferecer uma via mais fértil nesse sentido. Colocando em
evincia as formas de organização implícita e, contudo, operantes, senão
estruturantes, ela adentra mais na "parte de sombra da inteligência coletiva em obra em
qualquer situação de cooperação (JOSEPH, 2004, p. 23). Pois se cada um tem
sempre a necessidade de compreender o que faz, ele não tem sempre lazer, nem
necessidade de perceber bem o que fazem os outros. Enfim, fazer direito em um
contexto onde uma moral da intercompreensão e do encontro enquanto pessoas não
parece mais central, onde a cooperação produtiva inscrita mais dentro de uma moral
de interação do que dentro de uma política de transação, junta-se à exploração
pragmática da dimensão democrática do trabalho (CRICK, 2010; SENNETT, 2010). A
indiferença prática leva de fato, à tolerar a diferença, e mesmo a estranheza,
seguindo uma configuração política que a Escola de Chicago já associava à grande
cidade moderna.
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Data da submissão: 09/10/2019
Data da aprovação: 11/12/2019