Trabalho & Educação | v.28 | n.3 | p.13-34 | set-dez | 2019
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DOI: https://doi.org/10.17648/2238-037X-trabedu-v28n3-15797
ξ€€ξ€―ξ₯ξ€ͺξΆ†ξ€₯
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1
Beyond mutual intelligibility: collective activity as a transaction. A contribution
of pragmatism illustrated by three cases
2
BIDET, Alexandra
3
BOUTET, Manuel
4
CHAVE, FrΓ©dΓ©rique
5
β€œO que compartilhamos nΓ£o Γ© tΓ£o interessante quanto o que nΓ£o compartilhamos”
(C. Bender Γ  propΓ³sito de M. Bakhtine, citado por BΓ©guin, & Clot, 2004).
RESUMO
As interaçáes estão no centro das principais abordagens sociológicas do trabalho. Algumas linhas de
pesquisa foram responsÑveis por interaçáes cooperativas que incluem perspectivas incomensurÑveis.
Mas neste artigo argumentamos que a noção de interação precisa ser estendida à noção de
transação, profundamente enraizada na tradição pragmÑtica americana. A mudança de interação
para transação permite o estudo de uma ampla gama de situaçáes sem inteligibilidade mútua. A
principal caracterΓ­stica Γ© a coexistΓͺncia de cooperação e perspectivas inteiramente assimΓ©tricas, nΓ£o
apenas por um momento transitΓ³rio no processo de troca de perspectivas, mas como uma
configuração estabilizada. Tais contextos significam chegar a um acordo com componentes de
ambientes de trabalho longos, despercebidos, mas cada vez mais atuais. Para entender essas formas
singulares de coordenação com interaçáes mínimas, precisamos levar em conta o papel dos artefatos
digitais, dos participantes de terceiros e dos ritmos pessoais. Este trabalho baseia-se em trΓͺs estudos
realizados em diferentes configuraçáes organizacionais: um centro de controle de trÑfego de telefone,
um pronto-socorro pediΓ‘trico e jogos on-line no local de trabalho. Onde a atividade coletiva nΓ£o
significa inteligibilidade mΓΊtua, a anΓ‘lise se volta para as vΓ‘rias formas de vida desenvolvidas no
processo de trabalho, os encontros intermitentes entre compromissos inconscientes uns dos outros e
os trabalhadores confrontados com seus múltiplos espaços de atividade.
Palavras-chave: Atividade coletiva. Trabalho. ExperiΓͺncia. Pragmatismo.
1
Publicação original: Alexandra Bidet, Manuel Boutet et FrΓ©dΓ©rique Chave, Β« Au-delΓ  de l’intelligibilitΓ© mutuelle : l’activitΓ© collective comme
transaction. Un apport du pragmatisme illustrΓ© par trois cas Β», ActivitΓ©s [Enligne], 10-1 | Avril 2013, mis en ligne le 15 avril 2013, consultΓ© le
16 novembre 2019. URL: http://journals.openedition.org/activites/632; DOI: 10.4000/activites.632.
Traduzido por Neusa Maria Silva: Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Conhecimento e Inclusão Social em Educação
(FaE/UFMG). Mestre em Educação Tecnológica pelo CEFET- MG, graduada em Filosofia pelo Centro UniversitÑrio Newton Paiva. E-
mail: neusafilos@gmail.com.
Revisado por Daisy Moreira Cunha: Doutora em Filosofa pela Aix-Marseille Université, Mestre em Educação pela FAE/UFMG,
Graduada em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Minas Gerais. Professora Associada da FAE/UFMG. E-mail:
daisycunhaufmg@gmail.com.
2
Esse trabalho esta inscrito no projeto Comunicação e multi atividade no trabalho (ANR-08-COMM-039) coordenado por Alexandra Bidet.
3
Professora, Doutora do Centre Maurice Halbwachs, CNRS-EHESS-ENS – Paris. E-mail: alexandra.bidet@ens.fr
4
Professor, Doutor do IDHE, CNRS-UniversitΓ© Paris Ouest-La DΓ©fense – Paris. E-mail: manuel.boutet@free.fr
5
Professor, Doutor Centre Maurice Halbwachs, CNRS-EHESS-ENS – Paris. E-mail: fr.chave@gmail.com
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ABSTRACT
Interactions are at the center of the main sociological approaches to work. Some lines of research
have been responsible for cooperative interactions that include immeasurable perspectives. But in this
paper we argue that the notion of interaction needs to be extended to the notion of transaction, deeply
rooted in the American pragmatic tradition. Switching from interaction to transaction allows the study of
a wide range of situations without mutual intelligibility. The main feature is the coexistence of
cooperation and entirely asymmetrical perspectives, not just for a transitional moment in the process of
exchanging perspectives, but as a stabilized configuration. Such contexts mean coming to terms with
components of long, unnoticed but increasingly current work environments. To understand these
unique forms of coordination with minimal interaction, we need to consider the role of digital artifacts,
third party participants, and personal rhythms. This work is based on three studies conducted in
different organizational settings: a telephone traffic control center, a pediatric emergency room, and
online workplace games. Where collective activity does not mean mutual intelligibility, analysis turns to
the various forms of life developed in the work process, the intermittent encounters between each
other's unconscious commitments and the workers confronted with their multiple spaces of activity.
Keywords: Collective activity. Work. Experience. Pragmatism.
1 INTRODUÇÃO
Qual é a contribuição da tradição pragmÑtica para o estudo das atividades coletivas?
Para essa tradição, comumente associamos os escritos, nos Estados Unidos, entre o
final do sΓ©culo XIX e a metade do sΓ©culo XX, por C. S. Peirce, W. James, J. Dewey e
G. H. Mead. Sua posteridade tem sido parcialmente documentada na sociologia geral,
onde Γ© identificado com a Escola de Chicago
6
e mais especificamente ao
interacionismo simbΓ³lico, mas tambΓ©m na sociologia urbana, atravΓ©s da figura do
estrangeiro e da ecologia urbana clΓ‘ssica de Chicago, e na sociologia ciΓͺncia polΓ­tica,
quando eles estão interessados nas mobilizaçáes e na construção de problemas
pΓΊblicos. Γ‰ explΓ­cito tambΓ©m dentro dos communication studies Bergman (2007), Craig
(2007).
No campo do trabalho ou das atividades ordinÑrias a situação é mais confusa. De um
lado, a posteridade dos pragmΓ‘ticos americanos do inΓ­cio do sΓ©culo Γ© manifesta. A
segunda escola de Chicago, atravΓ©s de E.C. Hughes, A. Strauss, H. S. Becker e E.
Goffman, produziram o primeiro corpus de estudos etnogrΓ‘ficos do trabalho; a ecologia
das atividades e dos workplace studies, via E. Goffman e H. Garfinkel, tambΓ©m tΓͺm
fortes ligaçáes com a tradição pragmÑtica; e o estudo das organizaçáes foi marcado
pela revisΓ£o realizada por D. A. SchΓΆn da teoria da enquete de J. Dewey. Por outro
lado, a contribuição dos pragmÑticos não é identificada por si só. Nós falamos mais
sobre interacionismo simbólico, isto é, reformulação de desenvolvimentos de H. Blumer
associada a G. H. Mead. E quando se trata de fazer uma referΓͺncia especΓ­fica, nΓ³s
chamamos a corrente de β€œação situada” QuΓ©rΓ©,(1997) e seu β€œsituacionismo
metodolΓ³gico” Joseph, (1998).
Neste artigo, pelo contrÑrio, sugerimos o interesse de caracterizar a contribuição dos
pragmΓ‘ticos. Γ‰ uma questΓ£o de aprofundamento da Pratice Turn, que tende a renovar
o estudo das organizaçáes e outros objetos das ciΓͺncias sociais. Este aprofundamento
Γ© particularmente necessΓ‘rio para abordar o trabalho em um mundo tecnicizado e
6
Β« The Dewey-Mead theory translates silently into their sociology Β», rΓ©sume A. Strauss (1992, p. 10).
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cosmopolita onde, do ponto de vista organizacional, uma parte maior Γ© deixada as
improvisaçáes do momento e as expertises locais, e onde, do ponto de vista dos
atores, as cooperaçáes se tecem mais e mais frequentemente com pessoas e
dispositivos tΓ©cnicos que lhes sΓ£o e lhes e permanecem estrangeiros. Os PragmΓ‘ticos
em particular G. H. Mead e J. Dewey oferecem ferramentas que permitem pensar a
realização da prÑtica coletiva, ampliando o horizonte da intersubjetividade e da
reciprocidade das perspectivas, que orienta a maioria das pesquisas
7
. Passando da
noção de interação para aquela de transação de ampliada, além das configuraçáes
habitualmente associadas para à noção de interação, às situaçáes de cooperação que
nós podemos considerar. Pois veremos que ele é uma parte da ação conjunta ou da
atividade coletiva que a noção de interação descreve mal e que convoca um
vocabulΓ‘rio mais amplo.
Ao comparar trΓͺs Γ‘reas de investigação marcadas por uma forma duradoura de nΓ£o-
reciprocidade de perspectivas entre os protagonistas, nΓ³s ilustraremos algumas
contribuiçáes desse vocabulÑrio e especificaremos as ferramentas de anÑlise que o
patrimônio pragmÑtico convida assim, à elaborar. Mas, nós começamos por lembrar
que, através das noçáes de interação e de cooperação, o estudo das atividades
coletivas Γ©, hΓ‘ muito tempo focalizado sobre a questΓ£o da inteligibilidade mΓΊtua.
2 DA INTELIGIBILIDADE MÚTUA Γ€ EXPERIÊNCIA: REVISITAR A HERANΓ‡A
PRAGMÁTICA
A inteligΓͺncia da situação nΓ£o Γ© nem individual nem coletiva, nem sempre passa por regras
'mutuamente admissΓ­veis': a inteligΓͺncia da situação de trabalho, para quem participa,
prolonga assim, nΓ£o pela convergΓͺncia sobre um contrato, mas em redes mais ou menos
conectadas e mais ou menos densas, em β€œcadeias de cooperação” que sΓ£o a consistΓͺncia
do espaço-tempos de trabalho (JOSEPH, 1994).
O que a literatura sociolΓ³gica reteve dos escritos dos pragmΓ‘ticos do inΓ­cio do sΓ©culo,
atravΓ©s das correntes ou abordagens mencionadas acima, parece ser classicamente
ordenado em torno de uma questΓ£o - como interagir, como cooperar - e uma maneira
de responder, consiste em se interessar pelas operaçáes que produzem uma
inteligibilidade mutua entre os participantes. No domΓ­nio do trabalho, e mais largamente
das atividades cooperativas finalizadas, nenhuma temΓ‘tica despertou mais interesse e
pesquisas: como os participantes conseguem se coordenar, para superar a
heterogeneidade de suas perspectivas? (BECHKY, 2003; FLIGSTEIN & MCADAM,
2012; KATZ, 2002; STRAUSS, 1993).
Essa atenção à heterogeneidade de perspectivas marcaria uma ruptura com
concepçáes cognitivas e psicológicas tradicionais, que usariam as noçáes de
representação compartilhada e propósito comum para dar conta do trabalho coletivo
Grosjean, (2005). Seguir a intuição pragmÑtica consiste, então, em estudar o trabalho
coletivo β€œem desenvolvimento” e, por isso, transformar os vΓ‘rios processos interacionais
e comunicacionais variados que constituem e pelos quais a colaboração entre os
participantes se realiza. A inteligibilidade mΓΊtua, em particular, se desdobra
progressivamente. Nessas aproximaçáes centradas sobre a noção de interação, como
com as noçáes de representaçáes compartilhadas ou interesse comum, a
7
Até no estudo de situaçáes sem diÑlogos verbalizados face à face.
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inteligibilidade mútua continua sendo a pedra de toque da cooperação: perguntamo-
nos em que medida as perspectivas dos participantes aproximam uma da outra.
Descrevendo uma sala de controle de trΓ‘fego aΓ©reo, Goodwin e Gookwin observam
que β€œo que cada um vΓͺ neste panΓ³tico, nΓ£o Γ© uma imagem de conjunto, mas uma
diversidade polimorfa de perspectivas localizadas” (1996). Da mesma forma Joseph,
tomando apoio na teoria dos quadros de E. Goffman, argumenta que todo contexto de
trabalho β€œdeve ser concebido como uma montagem de quadros participativos
diferentes onde os agentes se engajam, segundo as modalidades diversas, diante das
audiΓͺncias e para destinatΓ‘rios diferentes” (1994). Trata-se, entΓ£o, de estudar como os
β€œprotocolos da cooperação” sΓ£o constantemente reelaborados no curso das atividades
- sendo entendido que β€œnΓ£o hΓ‘ pertinΓͺncia por convenção” e que ela deve, portanto,
ser mantida em situação (Joseph; Quéré, 2003). A gestão de ordem interacional,
aparenta assim, um labor indefinido, sem o qual o trabalho ele mesmo nΓ£o pode se
realizar: trata-se de tornar a cooperação possível. Que nos interessemos pelas equipes
de trabalho ou pela dupla par agente/usuÑrio, a co-produção de bens ou de serviços é,
entΓ£o, sempre, nesse contexto, aquelas de perspectivas mais ou menos comuns: uma
β€œvisibilidade mΓΊtua das situaçáes, dos gestos, das operaçáes no espaΓ§o de trabalho”
(QUΓ‰RΓ‰, 1997, p. 167), as β€œaparΓͺncias concertadas” (Joseph, 1998), um β€œcontexto
comum”
8
(GROSJEANG, 2005; SALEMBIER; ZOUINAR, 2004) etc.
Para esses autores, a noção de perspectiva apresenta o grande interesse de mudar o
foco do que é conhecido em direção ao que é compartilhado. Eles seguem, assim o
projeto, comum para C. S. Peirce e para L. Wittgenstein, para eliminar a β€œmentalidade
tardia” da teoria social (DESCOMBES, 1995). Trata-se de pensar o conhecimento em
termos de procedimentos mais do que como estoque, favorecendo abordagens nΓ£o
mais dedutivas, mas naturalistas. Se a linguagem continua a ser importante, o
ambiente torna-se, entretanto, o principal terreno de investigação: interessa-nos o que é
visΓ­vel e mais precisamente β€œmanifesto” - nΓ£o somente perceptΓ­vel, mas que pode ser
inferido (SALEMBIER; ZOUINAR, 2004).
β€œContinuamente confrontados Γ  tarefa de justapor perspectivas sobre o objeto, seja ele
qual for, com o qual ou sobre o qual eles trabalham de maneira Γ  situΓ‘-lo em uma rede
pertinente de significaçáes”, os controladores no solo estudados atravΓ©s de Goodwin
conseguem acordar ou articular seus pontos de vista (1996, p. 89). Diferentemente, por
exemplo, no caso do binΓ΄mio formado pelos passageiros e agentes de supervisΓ£o da
linha A du RER estudada por I. Joseph. O que falta neste caso Γ© a possibilidade de
interação direta com os usuΓ‘rios: β€œse o informante tivesse somente a possibilidade de
ver como os viajantes aglutinados sobre uma plataforma reagissem a um anΓΊncio, ele
seria capaz de para realmente abordar um destinatΓ‘rio, observar como ele orienta seus
movimentos. Ele poderia considerar o evento (o incidente) como β€œmutuamente
inteligΓ­vel”, avaliar a pertinΓͺncia da ação (a iniciativa em matΓ©ria de informação)”
(JOSEPH, 1994, p. 583).
A interação social aparece assim como uma condição frequentemente necessÑria,
embora nΓ£o suficiente, para que possam se justapor ou se articular as perspectivas dos
8
Os dois autores definem um contexto partilhado como β€œum conjunto de informaçáes ou eventos contextuais mutuamente manifestos
para um conjunto de atores, em um dado momento tem uma dada situação, dadas suas habilidades cognitivas e perceptivas, as tarefas
que devem realizar e sua atividade em andamento” (SALEMBIR, & ZOUINAR, 2004, 79). Eventos contextuais sΓ£o aqueles β€œque ocorrem
durante uma atividade e que são ou podem ser pertinentes relativamente para a realização desta atividade e isto do ponto de vista dos
atores” (ibid., Os autores apontam).
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participantes. Aqui o quadro organizacional nΓ£o Γ© suficiente, embora tenha o seu lugar.
O alinhamento das convicçáes demandam, assim o compartilhamento dos β€œfragmentos
de cultura”, segundo uma expressΓ£o de Gumperz (1989); e este compartilhamento
pode exigir dos protagonistas um movimento de investigação, especialmente quando o
β€œtrabalho de publicação e disponibilização” das intençáes recΓ­procas Γ© falho, como
pode ser suficiente recursos de co-presenΓ§a, ou da β€œconversação por gestos”
tematizada por G.H. Mead. Quando M. Breviglieri estuda as cenas pΓΊblicas da entrada
dos usuΓ‘rios dos autΓ΄matos da SNCF, ele descreve assim um gesto β€œajustado sobre
as formas mΓ­nimas de intercompreensΓ£o”, que implica a produção de uma leitura
partilhada de eventos, de uma β€œproximidade circunstancial” entre parceiros
(BREVIGLIERI,1997, p. 144). Ele mostra que ela requer a interface do aparelho como
β€œterreno em comum”, e que ele passa β€œpelo compartilhamento de atenção,
compreensão recíproca dos elementos contextuais, a solicitação e a sensibilização de
uma intervenção, a intervenção cuja natureza furtiva e espontÒnea que parecerÑ
decisiva” (ibid., p. 124, 127). Em particular, as relaçáes de civilidade operam, nessas
cenas de ajuda mΓΊtua em pΓΊblico (mostrar a tolerΓ’ncia, convidar Γ  ação...), β€œfacilitando
a inteligibilidade mútua de elementos circunstanciais e apoiando a correção em público
no caso de fracasso operacional” (ibid., p. 144, 124). Se o uso da linguagem Γ© raro, a
construção de uma proximidade é, sobretudo, uma questão de ritmo: a felicidade do
gesto de ajuda mΓΊtua, sua prΓ³pria existΓͺncia, depende de sua capacidade para se
deslizar no ritmo hesitante que sucede a uma decepção na manipulação da interface.
Outros momentos de indagaçáes sobre as intençáes dos usuÑrios, e sobre os dados
da situação, a fim de recuperar a origem da decepção com o aparelho, o mais decisivo
para que a assistΓͺncia mΓΊtua aconteΓ§a releva de um tato que Γ© β€œno essencial um
ajustamento da intervenção no ritmo ao qual o operador conduz seu β€œcomando” (ibid.,
p. 143)
A ausΓͺncia desse ajustamento mΓΊtuo, e o gesto de ajuda mΓΊtua, corre o risco de
aparecer como uma interferΓͺncia duplamente descortΓͺs, fazendo recair uma suspeita
de incompetΓͺncia sobre o usuΓ‘rio, e deixando supor uma ação motivacional,
estritamente pessoal da parte que vem ajudar. Quando M. Breviglieri examina o β€œtato
profissional” dos agentes de Samusocial, que vΓ£o cotidianamente encontrar um
morador de rua no espaço público (2010), ele identifica também, uma forma mínima de
inteligibilidade mΓΊtua na sua forma de ajustar o ritmo temporal do usuΓ‘rio: de um lado,
os participantes β€œganham seu ritmo”, de outro, eles o conduzem insensivelmente ao
caminhΓ£o Samusocial, depois de terem β€œpercebido sua falta de resistΓͺncia para ser
acompanhada de uma inclinação para consentir em ir para o centro de alojamento.” Se
o participante β€œevita abraçÑ-lo para levΓ‘-lo, mas dispensa a proporção de seu esforΓ§o,
gestos discretos de apoio, como dos pequenos empurrΓ΅es para facilitar sua
recuperação”, Γ© que o ajuste rΓ­tmico aparece como um prΓ©-requisito para uma
interação que ultrapassa o corpo-a-corpo para e se desdobrar sobre um plano
simbólico. Em uma tradição goffmanniana de início do comportamentalismo, A. Kendon
faz, no sentido de um ritmo compartilhado, o elemento atestando por excelΓͺncia a
felicidade de interação: por sua β€œcoordenação rΓ­tmica” ou β€œsincronia interacional”, os
β€œparticipantes manifestam que eles compartilham a mesma perspectiva sobre a
interação” (1990, p. 256). ApΓ³s uma leitura mais fenomenolΓ³gica de E. Goffman, J.
Katz concordam tambΓ©m, com nosso meio ambiente se reinventa pelo intermΓ©dio de
movimentos corporais tão tensos quanto a modulação dos choros, de uma lamentação
ou entonação de um riso (1999).
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Os exemplos precedentes manifestam duas grandes orientaçáes. De uma parte, uma
exploração renovada de saberes em ato, insistindo sobre a heterogeneidade dos
pontos de vista presente. De outra parte, uma focalização sobre a questão da
inteligibilidade mútua, colocada no coração dos estudos das atividades cooperativas.
Esses gestos ressoam com a tradição pragmÑtica. Sabemos em particular, a
importΓ’ncia acordada Γ  questΓ£o da inteligibilidade mΓΊtua para o interacionismo
simbólico, que é parcial. Mas, pela tradição pragmÑtica, a produção de uma
inteligibilidade mΓΊtua, de uma reconciliação com as perspectivas ou os β€œarranjos”
articulam vÑrias linhas de trabalho via um esforço de negociação e de persuasão
(STRAUS, 1993, p. 87-93), nΓ£o Γ© nem primeiro nem central. O interesse Γ© mais em
compreender a gΓͺnese simultΓ’nea das diferentes perspectivas e seu entrecruzamento.
Ora, essa questΓ£o Γ© das mais atuais dentro de um contexto onde, com o aumento da
divisão social do trabalho e a globalização das economias, a estabilidade
organizacional faz hoje frequentemente figura de exceção (BECK, 2001;
ENGESTRΓ–M, 2008; SCHMIDT, 2012, p. 202).
Para W. James, G.H. Mead e A. SchΓΌtz, lembremos que a inteligibilidade mΓΊtua Γ© rara,
difícil de alcançar, e aos meios transitórios. Como releva C. Russill, o empirismo radical
de W. James considera o caminho cujas nossas interaçáes com o mundo estimulam
encontros temporΓ‘rios, no fluxo da experiΓͺncia, entre perspectivas incomensurΓ‘veis:
β€œComo duas mentes podem conhecer a mesma coisa? Para James, dizer que dois
pensamentos ou duas coisas sΓ£o exatamente iguais Γ© idiota, dizer que um
pensamento ou uma coisa Γ© idΓͺntica a si mesmo nΓ£o significa nada. A questΓ£o
aparece como um sério problema filosófico sério se aprendemos a distinção funcional
entre sujeito e objeto, para uma distinção ontológica que se trataria de ultrapassar uma
vez por todas. Contudo quando essas questΓ΅es surgem, elas correspondem mais aos
problemas prÑticos de coordenação de nossas atividades no mundo que a identificação
de uma base racional para elaborar essas atividades" (RUSSILL, 2008, p. 289-290,
tradução nossa)! A tradição interacionista inverteu bem a prioridade, em tratando a
heterogeneidade das perspectivas como uma fase transitória em direção de um mundo
comum, lΓ‘ onde hipΓ³tese pragmΓ‘tica considerada ao contrario, a atividade sobre uma
base expandida, onde o ordinΓ‘rio Γ© heterogeneidade das perspectivas.
Nesse contexto mais amplo Γ© apropriado, entΓ£o, situar-se? Ele nΓ£o foi ignorado pelos
trabalhos apresentados acima, que contribuΓ­ram para desenvolver, mas sem tirar
sempre todas as consequΓͺncias. Esse contexto corresponde a uma abordagem
denominada ecolΓ³gica, que nΓ£o parte de indivΓ­duos constituΓ­dos e nem de meios jΓ‘
dados, mas do acoplamento estrutural entre o indivΓ­duo e o meio, pelo qual eles nΓ£o
cessam de produzir e de transformar. Da ecologia urbana da Escola de Chicago
(GRAFMEYER; JOSEPH, 2004; MCKENZIE, 1924) para Ecologia das atividades
(CICOUREL, 1987) ou da mobilidade (JOSEPH, 2007b, p. 12), ela faz frutificar a
herança pragmÑtica (JOSEPH, 1998, 2002, 2007a, 2007b; TRACÉ, 2008, 2012)
alimentando os desenvolvimentos em torno da vigilΓ’ncia e da tomada
(CHATEAURAYNAUD, 1997), anexos (BREVIGLIERI, 2004; HENNION, 2009), da
multi-atividade (DATCHARY LICOPPE, 2007; LICOPPE, 2008), das maneiras de se
orientar (BIDΓ‰, 2008, 2011; BOUTET, 2006, 2008), as competΓͺncias a seguir
(BERGER, 2008) notadamente. Ele conduziu Γ  inclinar sobre as ecologias informais
(NARDI,&O’DAY,1999) e grΓ‘ficas (DENIS; PONTILLE, 2010) sobre o papel dos
detalhes (PIETTEI, 2009a, b) e nutriu, por exemplo, tambΓ©m a proposta de um β€œCore-
Task Analysis” em ergonomia (NORROS, 2004). As abordagens que desenvolveram
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colocam em termos renovados as questΓ΅es de agΓͺncia e temporalidade: elas nΓ£o
atribuem o poder de agir propriamente, nem ao indivΓ­duo, nem o meio; e remetem todo
momento à uma situação em desenvolvimento (BIDET, 2012; SIMPSON, 2009). Mas é
precisamente nesse sentido que J. Dewey propôs substituir o conceito de interação
pelo de transação. LΓ‘ onde β€œa fase subjetivista da filosofia europeia” (DEWEY, 1993, p.
92) promoveu um indivΓ­duo isolado e desengajado - e como separado das estruturas
organizacionais e estatais, então pensadas como de outro nível, a noção de transação
afirma o contrΓ‘rio, a primazia do acoplamento do organismo e do ambiente, um
verdadeiro β€œparceiro” (QUΓ‰RΓ‰, 2006). Argumentar que β€œo organismo existe como tal
somente nas conexΓ΅es ativas com seu ambiente” (ibid.), Γ©, entΓ£o lembrar que nΓ³s nΓ£o
vivemos somente dentro de um ambiente, mas por ele (JOAS, 1999).
A atenção aos β€œestados de coisas” (β€œstates of affairs”) do meio ambiente nΓ£o atribui
uma agentividade Γ  uma entidade distinta e constituΓ­da: β€œagentividade nΓ£o designa um
atributo, mas o movimento das reconfiguraçáes do mundo”. (BARAD, 2003, p. 818);
β€œEla nΓ£o reside em nΓ³s, nem nos artefatos, mas em nossas intra-açáes”, afirma (L.
SUCHMAN, 2007, p. 285, tradução da autora). A atenção para esta dinÒmica permite,
entΓ£o mostrar que os atores nΓ£o sΓ£o Γ‘tomos individuais. O ambiente aparece bem
como uma entidade indissociΓ‘vel de nossa intencionalidade encarnada. (Dreyfus,
1991). Se a ecologia da percepção associada ao nome de J.J. Gibson é
β€œimplicitamente pragmatista”, como escreve I. Joseph, Γ© mesmo β€œuma propriedade que
não saberia ser atribuída nem ao ambiente, nem ao agente, mas à relação que eles
mantΓͺm” (citado em BREVIGLIERI; STAVO-DEBAUGE, 2007). Assim uma
aproximação ecolΓ³gica, β€œtrata organismo-dentro-seu ambiente, como uma totalidade
indivisΓ­vel, nΓ£o como a composição de fatores externos e internos” (INGOLD, 2001,
tradução da autora). Ela seiva as interrogaçáes aporéticas (ainda crônicas: por exemplo
KAPTEININ; NARDIA, 2006, p. 226) sobre a parte do sujeito e do ambiente no controle
da ação, em benefício da dimensão criativa de agir muito tempo marginalizada pelos
modelos de agir visando a normativa e de agir instrumental (JOAS,1999;
ENIRBAYER, 1997).
A consequΓͺncia direta Γ© tambΓ©m pensar a organização de um modo mais imanente. A
noção de transação convida, assim, para analisar a atividade coletiva mais largamente,
a partir da experiΓͺncia – e nΓ£o somente de uma intelegilibilidade mΓΊtua, a ser
construΓ­da. Para J. Dewey, a experiΓͺncia corresponde ao estabelecimento de uma
β€œrelação sentida entre fazer e sofrer, quando o organismo e o ambiente interagem”
(2005, p. 253). As significaçáes não se reduzem, então, aos símbolos compartilhados:
o sentido da β€œcontribuição cumulativa e recΓ­proca entre o que faz e o que Γ©
experimentado”, escreve J. Dewey, β€œΓ© Γ  extensΓ£o e ao conteΓΊdo dessas relaçáes que
medimos o conteΓΊdo significativo de uma experiΓͺncia" (ibid., p. 76, 69). A construção
de uma perspectiva comum, que observou a maior parte das obras, surge entΓ£o como
um caso especial do fenΓ΄meno mais geral da criatividade do agir, que se manifesta na
produção de hÑbitos, de interesses e maneiras de se orientar, às quais são claramente
susceptΓ­veis de serem transpostas de um contexto para outro.
Passar da interação para a transação ligando a questão da cooperação àquela da
experiΓͺncia permite documentar os fenΓ΄menos ainda pouco investigados. NΓ³s
ilustraremos a partir de trΓͺs pesquisas de campo conduzidas, respectivamente, em
telefonia, nos serviΓ§os de urgΓͺncia hospitalar e na prΓ‘tica de jogos on-line no trabalho.
Estes trΓͺs casos tΓͺm em comum nos confrontar com atividades coletivas e
organizadas, mas que sΓ£o estabilizadas fora de um horizonte de inteligibilidade mΓΊtua,
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sem o trabalho de articulação bem descrito por A. Strauss (1993). Estudar as
transaçáes em funcionamento oferece, ao contrÑrio, um espaço aos aspectos ainda
pouco conhecidos, mas o papel crescente nos contextos contemporΓ’neos: a
autonomia dos dispositivos numéricos, como variÑveis de objetos-em-ação, a atividade
de terceiros e, finalmente, o desenvolvimento de ritmos pessoais. Abordamos essas
trΓͺs dimensΓ΅es sucessivamente, enfatizando as formas originais de atividade coletiva
das quais elas participam.
3 CONSIDERANDO OS OBJETOS- EM ξ‚± AÇÃO Γ€S FORMAS DE VIDAS
DESENVOLVIDAS NO TRABALHO
A ecologia das atividades analisa primeiramente as trocas explΓ­citas ou furtivas, verbais ou
posturais, entre pessoas presentes em um campo de visibilidade. Ela deve, hoje,
considerar formas de acessibilidade associadas às tecnologias da tele ação e do tele
trabalho que tentem reconstituir as condiçáes de conversação face a face e a conversação
ordinÑria. Ela considera igualmente o ambiente físico e sensível graças ao qual se
desenrolam essas trocas. Enfim, ela, considera os objetos, aos quais, os participantes que
desempenham um papel, lhes solicitando para agir, controlar ou antecipar sua ação
(JOSEPH, 1998).
Sobre o primeiro terreno considerado, um centro de supervisΓ£o do trΓ‘fego telefΓ΄nico, a
noção de transação opera um deslocamento do olhar em comparação com as
abordagens clΓ‘ssicas em termos de expertise tΓ©cnica - nΓ£o hΓ‘ apenas uma ΓΊnica (boa)
maneira para entender e manipular uma tΓ©cnica. Esse deslocamento ajuda a entender
a atividade, integrando o papel dos autΓ΄matos e as diferentes maneiras pelas quais os
trabalhadores lidam com eles. De fato, a divisΓ£o do trabalho em funcionamento no
centro de supervisΓ£o estudado entre dois grupos de agentes ocupando formalmente o
mesmo cargo não consiste em adicionar e articular contribuiçáes diferentes e
complementares. Γ‰ que, tal contexto de trabalho, onde o agir distribuΓ­do, nΓ£o permite
mais ignorar as transaçáes com o meio: esses agentes não estão em situação de usar
ferramentas, que eles poderiam manipular Γ  vontade, nem agir com outras partes
interessadas, com quem se coordenar e elaborar um β€œcontexto compartilhado”; eles
sΓ£o confrontados com Γ  necessidade de se associar, de se integrar Γ  um conjunto de
entidades interdependentes, que formam uma verdadeira mundo-tela
9
de sinais, de
mediçáes, de alarmes e de comandos informatizados.
De fato, onde o trabalho se assenta primeiramente na dinΓ’mica sistΓͺmica e
acumulativa de automatismos, interagindo continuamente uns com os outros e se auto
regulando amplamente, o trabalho humano se torna atividade de supervisΓ£o ou
regulação. Γ‰ assim, hoje em um nΓΊmero crescente de setores industriais e terciΓ‘rios –
tais como (pilotagem aΓ©rea), a conduta de processo na energia nuclear, a quΓ­mica –
onde as infraestruturas produtivas estΓ£o mais e mais automatizadas e informatizadas.
Suprir momentaneamente os automatismos, contrariar sua deriva estrutural, Γ© entΓ£o
co-agir com eles. A continuidade dos processos repousa in fine - ou em ΓΊltimo recurso
– sobre a intervenção ativa de operadores humanos nessa co-funcionamento.
Observando uma situação deste tipo na telefonia, nós mostramos que o principal
9
O conceito de mundo - tela designa, alΓ©m da interface informΓ‘tica, β€œum ambiente complexo composto de regiΓ΅es visitΓ‘veis e horizontes
que fundam as atividades”, portanto, um espaΓ§o dinΓ’mico, persistente, que pode ser explorado, onde novas janelas podem ser abertas.
Ele concentra, ao mesmo tempo em que "as atividades, temporalidades e situaçáes de agentes anteriormente espalhados", todas as
possibilidades de manipulação e informação disponíveis em tempo real. Veja: (KONORR-CETINA; BRUEGGERS, 2003, p. 122-129).
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interesse nΓ£o era para os trabalhadores em produzir entre eles um β€œcontexto
compartilhado”, mas conservar uma sociabilidade com os automatismos. Estes ΓΊltimos
nΓ£o sΓ£o objetos-na-ação, isto Γ©, β€œferramentas” e objetos de uso destinado a equipar a
ação humana. Eles são objetos-em-ação dotados de uma autonomia de movimento e
cujo funcionamento nΓ£o Γ© prΓ©-estabelecido. G. Simondon enfatiza que a parte da
indeterminação de um conjunto técnico se deve à sua abertura e sua sensibilidade com
seu ambiente (1989)
10
. Aos olhos dos tΓ©cnicos que estΓ£o no comando, os dispositivos
que produzem e regulam o trΓ‘fego telefΓ΄nico sΓ£o conjuntos complexos, que geram
questΓ΅es, β€œsΓ£o de processos e de projeçáes mais que coisas afirmativas” (KNORR-
CETINA,1988). Frente Γ s variados objetos epistΓͺmicos, as soluçáes devem ser
construΓ­das e nΓ£o sΓ£o necessariamente ΓΊnicas.
Mesmo na ausΓͺncia de incidentes, os operadores envidam esforΓ§os de vigilΓ’ncia e
exploração. Para compreender essa preocupação que eles vivenciam, é preciso deixar
a questΓ£o da cooperação por aquela da experiΓͺncia. NΓ£o Γ© desenvolvendo apoio que
eles conseguem agir, pontualmente, com este agregado sistΓͺmico e constantemente
mutante que Γ© o trΓ‘fego telefΓ΄nico, mas desenvolvendo uma forma de vida
caracterizada pelo que Knorr-Cetina chama de β€œsociabilidade com objetos”
[sociabilidade com objetos] (1997). O que se observa aqui é uma exploração contínua
do mundo-tela. Assim, a atividade desses agentes implica o risco de inatividade e de
tΓ©dio pela busca e conservação de uma ocupação interessante: β€œencontrar o que Γ©
interessante lΓ‘ dentro”, β€œo que se passa de interessante”, supΓ΅e um exploração
contínua. Somente uma circulação permanente na rede, multiplicando os pontos de
vista sobre β€œestas coisas que caminham por si mesmas”, iniciando tΓ­picas intrigas, torna
possível, quando um incidente ocorre, estar em posição de conceder seu movimento
com a dos automatismos. Como J. Dewey observa, β€œo que Γ© dado aqui e agora Γ©
enriquecido com significados e valores tirados do que de fato estΓ‘ ausente e somente Γ©
presente pela imaginação – em particular tira de experiΓͺncias anteriores, isto diz de
resultado consolidado de interaçáes anteriores com o ambiente” (2005, p. 317). Trata-
se aqui da possibilidade de uma experiΓͺncia: poder desenvolver, segundo a expressΓ£o
de Dewey, β€œlinhas de interesses ativos”. Knorr-Cetina e Bruegger apontam tambΓ©m
nesse sentido a necessidade de ampliar a ecologia das atividades para "realidades
eletrΓ΄nicas, jΓ‘ que elas se tornam um hΓ‘bitat para alguns de nΓ³s" (2003, p. 126).
Na era digital, essa distribuição β€œforte” do agir estΓ‘ no centro das ecologias
informacionais complexas em pleno desenvolvimento (NARDI; O'Day, 1999).
Aproveitar as formas de vida que acompanham essa multiplicação de β€œpΓ³s-social” ou
β€œobjeto-centrada nas relaçáes” (KNORR-CETINA, 1997) implica de usar tanto do
interesse sociológico em nossas maneiras de entrar em relaçáes com o nosso
ambiente para a coordenação entre as pessoas. No seio mesmo do Pratice Turn, o
sentimento de uma lacuna relacionada ao uso de tΓ©cnicas, para a tΓ©cnica como
experiΓͺncia, fez o seu caminho. Lucy Suchman propΓ΅e, assim, substituir o termo de
interface β€œhomem-mΓ‘quina” (β€œintercΓ’mbio homem-mΓ‘quina”) por aquele de transação,
a fim de repensar os circuitos pelos quais entramos em relação com nossas mÑquinas
(SUCHMAN, 2007, p. 285). Paul Dourish identifica a interação com β€œas coisas em si"
como o primeiro objeto para quem quer estudar β€œEmbodied Interaction”, definida como
"a criação, a manipulação e o compartilhamento do sentido através do engajamento
10
β€œUma mΓ‘quina puramente automΓ‘tica, completamente fechada em si mesma, em uma operação predeterminada, poderia fornecer
apenas resultados resumidos. A mΓ‘quina dotada de alta tecnicalidade Γ© uma mΓ‘quina aberta”, escreve neste sentido G. Simondon.
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em uma interação com artefatos" (DOURISH, 2001), tradução da autora. A medida que
se multiplicam os β€œobjetos tΓ©cnicos” mais autΓ΄nomos no seu funcionamento e articulado
entre eles, eles nos fazem explorar os novos laΓ§os e o horizontes da atividade β€œem
parte, liberadas das restriçáes do espaΓ§o ordinΓ‘rio”: β€œa rede [tΓ©cnica] tende a substituir o
territΓ³rio como base topogrΓ‘fica da solidariedade da sociedade” (DODIER,1995, p.15,
350). Sim, mas geralmente, a intelectualização das situaçáes de trabalho, por vezes
nossas relaçáes com as β€œcoisas fΓ­sicas” – β€œsociality with objects”- tomam uma nova
amplitude, capturamos toda atualidade, nΓ£o passe do lado (p. 179), ao qual convida a
concepção de β€œtransação” proposta por J. Dewey.
Como a unidade da experiΓͺncia, um engajamento coerente e acumulativo, sΓ£o
possΓ­veis em um tal contexto de trabalho? O mundo-tela do trΓ‘fego telefΓ΄nico, como
aquele do caminho financeiro estudado por Knorr-Cetina e Bruegger (2003) Γ© um
ambiente particularmente dispersivo que β€œaparece continuamente em fragmentos”:
parece β€œum tapete cujas pequenas sessΓ΅es sΓ£o desenroladas Γ  nossa frente (...)
podemos andar sobre ele, podemos mudar de posição sobre ele. Ao mesmo tempo,
precisamos imaginar o tapete se acumulando Γ  medida que Γ© desenrolado” (p.126-
127). No nosso caso, a identificação mesmo do trÑfego telefônico como objeto de
trabalho, supondo o esforço quotidiano dos agentes para articularem circulaçáes
mediatizadas como uma única e mesma transação com seu agregado sintético e a
probabilΓ­stico de chamadas telefΓ΄nicas. Eles tΓͺm que trabalhar para ligar
continuamente, para eles, as entidades heterogΓͺneas do mundo-tela. Todos nΓ£o se
obrigam, todavia, a este trabalho: alguns implantam sua atividade fora do mundo-tela.
Eles se esforçam para reconhecer regularmente os alarmes, em uma lógica de
verificação pontual, onde seus companheiros exploradores seguem as curvas de
trÑfego, numa lógica de antecipação contínua. Em ambos os casos, todos podem
esperar se envolver em um espaço dispersivo sem fragmentar sua atividade: o
engajamento de cada um para a continuidade, ou mais exatamente com o ritmo –
β€œalternΓ’ncia de concentração e relaxamento” (DEWEY, 2005), propΓ­cio para a unidade
de uma experiΓͺncia. As transaçáes seguem os ritmos opostos de uma parte e de outra,
uns oferecem sua vigilΓ’ncia para a redundΓ’ncia de alarmes comuns e seu tratamento
rotineiro, outros consagram um esforço contínuo para estar pronto para responder a
uma eventual β€œcrise de trΓ‘fego”, com suas reaçáes em cadeia.
Γ‰ porque os primeiros privilegiam as mensagens repetitivas que encobrem as janelas
de alarmes, que os ΓΊltimos podem imergir na circulação do trΓ‘fego: β€œempurre mais
longe a visΓ£o da rede” porque β€œquando vocΓͺ tenta resolver um problema, o tempo voa”.
Inversamente, Γ© porque os ΓΊltimos mergulham no mundo- tela para liberar o primeiro
da gestão de situaçáes de crise e a necessidade de manter a intimidade com
autΓ΄matos caprichosos, em um experimento indefinido. Ao fazΓͺ-lo, uns e outros
manejam também, mais largamente a continuidade de suas transaçáes com um
ambiente técnico - no tempo (entre suas atividades passadas e presentes) e no espaço
(entre trabalho e nΓ£o trabalho): as primeiras sΓ£o utilizadas globalmente para habitar as
tecnologias eletrΓ΄nicas, ditas tambΓ©m β€œda representação”, e as segundas, as
tecnologias mecΓ’nicas, ditas de β€œintervenção”. Dessas formas de vida (ou estilos)
opostas - que nΓ£o sΓ£o redutΓ­veis a clivagens geracionais - testemunham os
vocabulΓ‘rios de uns e de outros (BIDET, 2010), suas narrativas (BIDET, 2007), suas
representaçáes grÑficas da atividade (BIDET, 2008), mas também suas concepçáes da
β€œverdadeira tΓ©cnica” ou do β€œverdadeiro trabalho” (BIDET, 2011a). Essas valorizaçáes
contrastadas, afetando os detalhes da atividade, são o produto da acumulação das
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transaçáes. Essas valorizaçáes referem-se à seleção e ao desenvolvimento, permite os
gestos possΓ­veis, de certa maneira de agir e de apreender a tΓ©cnica, tanto do sujeito
quanto do objeto, tanto das pessoas quanto dos artefatos. Se os vocabulΓ‘rios engajam
cada vez mais uma relação pessoal com a técnica, isso deve muito pouco à psicologia
individual e muito Γ  gΓͺnese normativa pela qual esses tΓ©cnicos vivem em seu ambiente
de trabalho. O tempo contribui assim duplamente para manter a clivagem entre as duas
posturas: pelas histΓ³rias profissionais bem diferentes e, nas salas de supervisΓ£o, pelas
temporalidades distintas nas quais as atividades sΓ£o realizadas.
Entre estas duas formas de vida, não se observam uma relação de cooperação
(mesmo tΓ‘cita, que levaria a falarmos de trabalho em equipe), nem uma forma de
concorrΓͺncia ou rivalidade (o que implicaria uma orientação mΓΊtua forte, por falta da
produção de uma inteligibilidade mΓΊtua): nem a propensΓ£o para β€œcolocar-se no lugar do
outro”, inerente Γ  cooperação, nem a tendΓͺncia para depreciar a atividade do outro,
inerente às situaçáes de rivalidade. Se, como recorda D. Cefaï, a reciprocidade das
perspectivas Γ© β€œum processo de interconexΓ£o entre motivos e objetivos, de
intercompreensΓ£o entre reflexΓ΅es e projetos” (1998, 107), Γ© sobretudo aqui uma nΓ£o
reciprocidade das perspectivas que acompanham a distribuição do agir.
A delegação tÑcita dos gestos e de preocupaçáes que nós observamos é emergente:
ela não é o fato de uma coordenação, nem é mesmo verdadeiramente percebida como
tal; a β€œmutual awreness” Γ© mΓ­nima, Γ s vezes inexistente. Contra o risco da dispersΓ£o, da
fragmentação da experiΓͺncia, que permite manter o fio, nΓ£o se refere, assim, a nenhum
dos dois grandes modelos, que privilegia seja o operador, seja a distribuição de sua
atividade sobre seu ambiente e/ou equipe de trabalho. Na configuração estudada, a
assimetria das perspectivas vem contra introduzir a noção de terceiros, porque os dois
conjuntos de agentes detectados operam como terceiros, uns frente a frente dos
outros.
A atenção às transaçáes não convidam somente a tomar vantagem em relação aos
objetos-em-ação, portadores de autonomia, e as forma de vida que se elaboram com
eles, mas tambΓ©m a presenΓ§a de terceiros em situação. Γ‰ a partir de outro terreno da
enquete que nΓ³s vamos considerar mais precisamente seu papel dentro de tais
configuraçáes.
4 DA CONSIDERAÇÃO DOS TERCEIROS PARA A COINCIDÊNCIA MOMENTΓ‚NEA
DOS ENGAJAMENTOS
β€œPara um grande nΓΊmero de situaçáes profissionais e organizacionais nas quais os atores
estão engajados, são ação e a atividade de terceiros que fornecem a orientação principal
na produção prÑtica da conduta, e são as contribuiçáes desses terceiros que definem as
contingΓͺncias que os atores devem gerenciar” (HEATH; HINDMARSH; LUFF, 2000, p.
672), traduzido em (SALEMBIER; ZOUINAR, 2004, p. 69).
Sobre o segundo terreno investigado, aquele das emergΓͺncias hospitalares pediΓ‘tricas,
a noção de transação opera também um descentramento em relação às abordagens
clÑssicas em termos de interaçáes. Agem de fato em situaçáes onde a atividade
repousa de maneira constitutiva em vΓ‘rios tipos de participantes, mas fora de um
horizonte de reciprocidade de perspectivas. Esse deslocamento permite integrar na
anΓ‘lise do papel dos atores raramente considerados e as atividades organizadas Γ s
quais participam. As anÑlises de cooperação para o hospital (GOFFMAN, 1979;
GROSJEAN & LACOSTE, 1999; PENEFF, 2000; STRAUSS, 1992) tendem a
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privilegiar os momentos onde o mΓ©dico e paciente estΓ£o juntos e tentam se
compreenderem para estudar estratΓ©gias recΓ­procas, as falhas e os ajustamentos. Se
essas interaçáes são importantes, os canais de cooperação sobre os quais repousam
a tomada em cargo ultrapassa, porΓ©m, os ΓΊnicos momentos juntos entre paciente e
profissional. Em Primeiro lugar, a maioria das situaçáes não implica somente um
profissional e um paciente, mas tambΓ©m os β€œterceiros”, os pais (CHAVE, 2010). A sua
intervenção discreta e sustentada durante todo o cuidado Γ© um duplo β€œcuidado”,
cuidadoso e atencioso, indo Γ s vezes, atΓ© aos cuidados de enfermagem mais tΓ©cnicos
e de gestos médicos. Essa participação dos pais na atividade coletiva é pouco visível e
indispensΓ‘vel. Em torno do paciente infantil sΓ£o os dois compromissos heterogΓͺneos e
paralelos de pais e profissionais.
Certamente, parte da atividade dos pais Γ© controlada e coordenada pelos profissionais,
com toda a gama de maneiras de fixar cooperaçáes, reconhecΓͺ-las e colocΓ‘-las no
quadro regulatΓ³rio e prescritivo do serviΓ§o de urgΓͺncia. Mas uma grande parte de sua
atividade escapa largamente a atenção dos profissionais. Ela não se revela em um
cruzamento, em caso na ausΓͺncia (ou falha) do pai: quando isto que fazia barulho nΓ£o
faz mais e vem a ser para os cuidadores um β€œsuplemento do trabalho” podendo
desorganizar o serviço
11
. Essa β€œco-atividade” Γ© estrutural: as atividades de cada um sΓ£o
necessÑrias para o cuidado. Mas estas situaçáes, como formas de interaçáes
estabilizadas e nΓ£o transitΓ³rias, ficam aquΓ©m de um trabalho de equipe, que implicaria
em um ajustamento, momento por momento de procedimentos comuns, Γ s vezes
intercambialidade das atividades e sua realização à vÑrias mãos. Observamos, ao
contrÑrio, poucas interaçáes face a face e uma importante assimetria de perspectivas.
A noção de transação permite aqui, não se ater apenas às interaçáes. Mesmo se
acontecendo, muitas vezes, ajustes durante o curso do episΓ³dio passado na urgΓͺncia,
mal entendidos dΓ£o lugar para os ajustamentos, etc., nΓ³s queremos sublinhar a
existΓͺncia de formas hΓ­bridas e espontΓ’neas de cooperação nas quais as interaçáes
entre o pΓΊblico e os profissionais nΓ£o sΓ£o intermitentes, e passam frequentemente
esforços para se aproximarem as perspectivas dos participantes. Entre o público e os
mΓ©dicos observamos os mesmos ritmos opostos.
Nos dois serviços pediÑtricos estudados, os pacientes são examinados, primeiro por
uma enfermeira, uns apΓ³s outros, pois um mΓ©dico examina o paciente no lugar onde
fazem os exames, e ele prescreve aos cuidadores e pega outro prontuΓ‘rio pendente e
o retorno dos exames do primeiro paciente, e assim por seguinte. Ele pode tambΓ©m se
encontrar com trΓͺs, quatro, atΓ© mesmo cinco prontuΓ‘rios ao mesmo tempo – aqueles
correspondentes igualmente de pacientes para diferentes momentos de sua tomada de
cargo. Esta multi atividade conduz os mΓ©dicos a dividir em diferentes sequΓͺncias o
acompanhamento de cada paciente. Eles nΓ£o acompanham os pacientes de forma
linear, na sua chegada atΓ© a sua saΓ­da, mas sequencialmente circulam de um boxe a
outro, muitas vezes ignoram toda a atividade dos pais. Para o pΓΊblico, em
contrapartida, as urgΓͺncias sΓ£o tambΓ©m um lugar onde atendem, na sala de espera,
depois nos boxes. Esse atendimento não é somente parte de uma reduzida absorção
do fluxo das entradas. Ela Γ© igualmente constitutiva do tratamento: perΓ­odos de
observação, tempos de passagem de uma perfusão, retorno de exames, são
momentos incompreensΓ­veis. AlΓ©m do tempo prΓ³prio para exames, acrescenta o
11
Reciprocamente, o pai, vindo Γ s urgΓͺncias, passa temporariamente o cuidado da crianΓ§a ao mΓ©dico, o que tambΓ©m revela uma forma
de coordenação.
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tempo que o mΓ©dico consagra a outros pacientes e aos casos mais urgentes, o tempo
gasto pelo mΓ©dico em seus outros pacientes e os casos mais urgentes que ele
acompanha a todo momento em cima da hora. Nos casos de afluxo, enquanto o ritmo
da equipe se contrasta ao mΓ‘ximo, aquele pΓΊblico se dilata ao extremo. O aumento do
nΓΊmero de pacientes nΓ£o aumenta fundamentalmente o trabalho dos profissionais
(encadeiam os atos e as consultas), mas altera seu quadro de exercΓ­cios (o tempo que
ele pode consagrar a cada um, a precisão e a rapidez de sua avaliação do grau da
urgΓͺncia). Essa diferenΓ§a dos ritmos, pode se traduzir por tempos de muitas horas na
sala de espera, em seguida, nos boxes e constitui uma fonte de tensΓ΅es constante com
um pΓΊblico, cuja a espera aumenta a inquietude, o desconforto e a dor. A multiatividade
médica, centrada na evolução rÑpida e no tratamento multisenquencial de uma
multiplicidade de pacientes, segue um tempo rΓ‘pido e divide o contraste com a
participação invisível e contínua dos pais, seguindo um ritmo muito lento e centrado
sobre a manutenção das condiçáes de existΓͺncia da crianΓ§a. Essa diferenΓ§a dos ritmos
e das atividades, assinala também um espaço de perspectivas: os pais não vem o que
fazem os mΓ©dicos, nem porque, eles fazem esperar; o profissional nΓ£o recebe se nΓ£o
passar nos boxes, nem o detalhe dos cuidados que os pais podem prestar ou nΓ£o
para a criança paciente.
Ora, essa assimetria de perspectivas entre terceiros e profissionais que permite um
cuidado global da criança. Inicialmente, os pais asseguram um cuidado ao mesmo
tempo do lar e de enfermaria, o que diz respeito Γ  β€œenfermagem”, a supervisΓ£o com as
refeiçáes, o cuidado β€œatencioso”, que prepara a instalação no serviΓ§o por vΓ‘rias horas,
mas tambΓ©m a saΓ­da, e realizam um conjunto de cuidados de enfermagem que vΓ£o
desde a administração de aerossóis até a administração de medicamentos, até o
monitoramento da evolução da condição da criança. Essas intervençáes dos pais,
exceto falhas de sua parte, nΓ£o sΓ£o compartilhadas nem relatadas; contribuindo para o
cuidado do paciente, seguem um percurso paralelo às intervençáes dos profissionais.
Mais do que uma preocupação com a inteligibilidade mútua ou perspectivas recíprocas,
hΓ‘ um hiato entre os estados emocionais de parentes, pacientes e profissionais, e suas
avaliaçáes do que é urgente ou legítimo.
Os pais, ao cuidar dos filhos, organizam sua continuidade biogrΓ‘fica. Sua perspectiva
sendo aquela do longo prazo, eles podem sintetizar junto aos profissionais toda sorte
de informaçáes cronológicas e detalhadas, muitas vezes determinantes para
estabelecer um diagnΓ³stico ou um tratamento. Eles operam igualmente como alarmes
dos lembretes (DATCHARY; LICOPPE, 2007) Γ s vezes insistentes e mais ou menos
bem-vindos. Em particular, se o estado do filho agravar, eles podem sair do box e tentar
alertar alguΓ©m. E os mΓ©dicos se apoiam nessa possibilidade para ignorar o que passa
nos boxes em sua ausΓͺncia e se concentraram em outros pacientes. Da mesma forma,
são eles que alimentam o prontuÑrio e colocam as informaçáes em perspectiva, triam,
ordenam, eles lembram ao mΓ©dico, para quem o fato de tratar todo dia um grande
nΓΊmero de pessoas nΓ£o permite identificar individualmente cada paciente ou lembrar-
se de cada caso. Os terceiros, pela sua presença contínua, vigilante, permitem ao
mΓ©dico a prΓ‘tica da divisΓ£o como tΓ©cnica eficaz de tratamento de um grande nΓΊmero
de pacientes. Para além da presença pontilhada dos profissionais, a comitiva assegura
assim a continuidade do cuidado, mas tambΓ©m a do caso para os profissionais.
Esse entrelaçamento de ritmos e tarefas se passa em geral de uma explicação dos
direitos da outra parte para agir sobre o paciente. E frequentemente, nΓ£o hΓ‘
necessidade de se entender no plano dos valores, orientaçáes, crenças, para realizar
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um "acordo prÑtico" mínimo sobre o que fazer. A aspiração comum para cuidar da
criança estrutura as atividades cruzadas de pais e dos médicos. É o bem da criança
que convoca um e outro em caso de desacordo sobre a evolução e o caminho tomado.
E se o espaço também é emoldurado, com seus cartazes, seus corredores cujo piso é
sinalizado por flechas e de significado interditado, seus equipamentos estimulando a se
assentar, a esperar, se aproximar, toda uma parte disto que Γ© feito entre o paciente e o
entorno nΓ£o se deixa reduzir ao que estΓ‘ escrito, proscrito ou prescrito, nem ao que o
ambiente sugere fazer ou não fazer. À este respeito, hÑ alguma forma de indiferença
mΓΊtua entre mΓ©dicos e pais quanto a maneira pela qual cada um β€œdesempenha seu
papel”, nos longos momentos onde eles nΓ£o interagem diretamente. O que se passa
nos boxes entre as visitas dos profissionais Γ© cuidadosamente ignorado, nos dois
sentidos do termo. Esta indiferença estabelece de facto uma forma de repartição das
preocupaçáes que deixa na sombra o conteúdo mesmo disto que seria a
responsabilidade de cada um. Por esta economia da atenção, o médico, que deve
tratar dos numerosos pacientes, nΓ£o tem, portanto que se preocupar com a
permanΓͺncia de cada um deles: outros responsΓ‘veis se encarregam. Trata-se de uma
indiferença, não moral, mas prÑtica, que não demonstra um desinteresse, mas bem
mais, sobretudo de uma organização da atividade que integra implicitamente uma
economia distribuída de atenção implicando terceiros. Nossa abordagem revela assim
uma atividade coletiva caracterizada por uma delicadeza interacional, a
heterogeneidade dos atores, mas, sobretudo, e, Γ© o que torna a forma original, a
ausΓͺncia de integração a priori dentro de um sistema procedimental comum, toda a
contribuição dos terceiros.
Uma forma de coordenação, fundada sobre uma coincidΓͺncia de engajamentos, pode
se tornar visível através do conceito de transação. Este aqui permite de fato se
interessar tambΓ©m nesta parte das trocas por parte independente de sua espessura
relacional. A consideração como atividade acontece também fora dos momentos de
ajustamento entre cada um: na relação diferenciada de cada paciente, no seu ambiente
e nos seus próprios fins. Ela se realiza com base na sua ignorÒncia e na confiança
misturadas com o que os outros fazem, mas também graças ao que os outros fazem. E
isso, Γ© bem uma cooperação. Os serviΓ§os de urgΓͺncia pediΓ‘trica funcionam incluindo o
que fazem os pais que se ocupam de uma parte das tarefas que uma criança exige, e
os pais contam com mΓ©dicos e cuidadores para compreender e resolver a crise que os
traz, mas nenhum deles procuram se informar mutuamente do que estΓ£o fazendo. Γ‰,
portanto, uma forma de cooperação onde β€œa indiferenΓ§a prΓ‘tica” Γ© uma condição para o
exercício da atividade. Nestas situaçáes de interaçáes sucessivas, simultÒneas, curtas,
nΓ£o repetidas, numerosas, a dificuldade de reciprocidade das perspectivas se revela
uma condição de unidade da experiΓͺncia, tΓ£o bem pelos profissionais e pelos
terceiros
12
.
As interaçáes das transaçáes: esta ampliação parece particularmente ajustada às
transformaçáes estruturais que conhecem as organizaçáes contemporÒneas. Essa
contribuição da tradição pragmatista para o estudo da atividade coletiva torna, de fato,
mais atenta à agentividade dos objetos em ação e àquela dos terceiros. Nas pesquisas
de campo apresentadas acima, o lugar dos fenΓ΄menos de ritmos sugere que ele
oferece também ferramentas para uma melhor consideração da temporalidade
12
Por outro lado, o Sr. Grosjean destaca de maneira muito interessante a ligação entre o privilégio dado à inteligibilidade mútua pelas
abordagens etnometodológicas e sua sub-qualificação da atividade. (2005, p.85).
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associada Γ  noção de experiΓͺncia (Bidet, 2011b, QuΓ©rΓ©; Terzi, 2011: Rosa, 2010).
Nosso ΓΊltimo caso vai ilustrar.
5 DA CONSIDERAÇÃO DOS RITMOS PESSOAIS AO ENTRELAΓ‡AMENTO DAS
ATIVIDADES
Todas essas interaçáes que trazem ordem e estabilidade no fluxo de mudança são na
verdade, ritmos (DEWEY, 2005, p. 35).
Nos dois casos apresentados, a supervisΓ£o telefΓ΄nica e as urgΓͺncias hospitalares nΓ³s
jΓ‘ tΓ­nhamos constatados os ritmos opostos e as defasagens temporais entre os
participantes e mostrado o papel dos terceiros pela coerΓͺncia da experiΓͺncia do
trabalho. A gestão da multiatividade atividade em nível de um serviço passa então pela
manutenção de uma assimetria de perspectivas entre duas categorias de
participantes
13
. O terceiro terreno que consideramos, um jogo na internet praticado no
local de trabalho, vai nos permitir aprofundar a escala do trabalhador, anΓ‘lises de
fenΓ΄menos rΓ­tmicos e temporais. Esse jogo, apresentado em outro lugar (Boutet, 2008),
tem uma estrutura comum para numerosos jogos na web. Isso inclui o que nos
chamamos os β€œjogos de encontros” (Boutet, 2011) que nΓ£o reclamam uma
interatividade constante com uma interface do jogo, mas de momentos de conexΓ΅es.
Trata-se, nos casos presentes, de dispender cada dia seus β€œpontos de açáes” para
perseguir monstros em subterrΓ’neos se conectando alguns minutos por dia. A
presença do outro é um atributo desses jogos, contrariamente a outros jogos de
computadores os quais jogamos sozinhos: escolher jogar on-line, Γ© escolher jogar com
os outros e estar preparado para cooperar com quem estiver disponΓ­vel. E, para os que
jogam no local de trabalho, o carΓ‘ter regular e cotidiano do jogo Γ© essencial. Em suas
relaçáes com seus parceiros, a Γͺnfase estΓ‘ na disponibilidade comum que essa
atividade requer on-line, e no alto grau de integração e dependΓͺncia recΓ­proca que ela
demanda. Os jogadores devem compartilhar ritmos compatíveis, em uma configuração
que difere do modelo de β€œsociabilidade por afinidade”: os parceiros sΓ£o companheiros
de equipe e pessoas que conhecemos pouco, com as quais nΓ£o compartilhamos muito
sobre o seu trabalho ou sua vida pessoal.
A noção de transação, ajuda aqui a operar um deslocamento em relação as
abordagens clΓ‘ssicas dos ambientes de trabalho, permitindo considerar, aquΓ©m da
distinção entre β€œtrabalho” e β€œhora de trabalho”, o emaranhado de atividades realizadas
na presença e à distÒncia. A entrada do jogo pela internet traz à tona as tensáes
ligadas à multiplicidade de atividades, e conduz a observar que a criação de formatos,
de rotinas ou dispositivos para tratar essas tensΓ΅es nΓ£o esgota nossas maneiras de
observar nossas atividades, de avaliΓ‘-las e tentar, assim, hierarquizΓ‘-las (LAHLOU,
2000, LICOPPE, 2008, 2009). A noção de transação permite de fato, explorar mais a
frente as formas pelas quais nos fazemos face a face Γ s ecologias (de trabalho, mas
nΓ£o apenas) mais e mais ricas em solicitaçáes heterogΓͺneas e concorrentes, portanto
de β€œtrabalho de si” (BIDET, 2011a, HUGHES,1996).
Como o jogo e o trabalho coexistem? Primeiro nos constatamos que o jogo Γ© praticado
diferentemente no trabalho e no fora de horΓ‘rio de trabalho: em trabalho, seu ritmo
13
Em situaçáes multi-atividade propriamente ditas, um "conjunto de atividades permanece relevante como um todo" (DATCHARY &
LICOPPE, 2007, p.21). As preocupaçáes de fundo, portanto, permanecem relevantes ao lado da atividade focal e provavelmente serão
revividas a qualquer momento (LICOPPE, 2008).
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baseia no ritmo de trabalho. Os dois cursos da ação coexistem em paralelo sem ser
simultΓ’neos nem sequencializados: no primeiro caso, o trabalhador deverΓ‘ jogar ou se
contorcionar; no segundo caso, o jogo serΓ‘ um simples affaire de β€œpausas.” Ora, as
atividades do jogo e de trabalho aparecem bastante dessincronizadas, e de uma forma
diferente segundo a caracterΓ­stica mais ou menos heterogΓͺnea do conteΓΊdo do
trabalho.
No contexto onde o trabalho Γ© muito heterogΓͺneo, se observa um estreitamento da
atividade em torno de um único meio de comunicação, que cria uma continuidade entre
as tarefas do jogo e aquelas do trabalho: todas as solicitaçáes vΓͺm da mesma maneira
e sΓ£o geradas com as mesmas ferramentas. Por exemplo, os jogos que recebem as
demandas dos clientes essencialmente por correio, se fazem de bom grado β€œnotificar” a
presenΓ§a distante do mundo do jogo e o jogo deve assim β€œum email dentre os outros”.
No outro caso, um jogador Γ© advertido na tela quando recebe uma mensagem
instantÒnea, que vem de um canal de comunicação que ele mantém com grupos de
experts no quadro de suas missΓ΅es profissionais, ou canal paralelo aberto sobre o
mesmo software para trocar com seus parceiros de jogos. O jogo nΓ£o designa,
portanto, uma nova ordem de solicitaçáes concorrentes, mas uma solicitação entre
outros. No caso de um trabalho com conteΓΊdo homogΓͺneo notamos primeiro uma
tendΓͺncia a criar uma separação entre jogo e trabalho, replicando, para o jogo, o
dispositivo existente para o trabalho – por exemplo uma segunda caixa de email. Da
mesma forma, os jogadores preferem ir na internet para jogar mais que recorrer Γ 
notificaçáes que os informe por email um evento ocorrido no jogo, ou uma mensagem
instantΓ’nea onde os participantes do jogo podem ser solicitados. O jogo Γ©, entΓ£o mais
jogado durante as pausas. Ele nΓ£o introduz uma heterogeneidade nas atividades de
trabalho, mas aparece, sobretudo neste contexto como um forma de se ocupar,
quando nos β€œdesligamos”, ou β€œsaturamos”.
Nos dois casos observamos um esforΓ§o para dessincronizar as ocupaçáes – jogo e
trabalho - que seriam, senão, concorrentes. Esse entrelaçamento toma uma forma
diferente, segundo o degrau de homogeneidade da atividade de trabalho, que se
averigua estruturante pela atividade do jogo. Mas Γ© cada vez mais inscrevendo jogo e
trabalho no mesmo ritmo – que seja de uma atividade homogΓͺnea ou heterogΓͺnea -
que ambos sΓ£o tornados comensurΓ‘veis. Assim, o jogo no trabalho Γ© um tempo de
jogo e esse tempo tem a forma de um ritmo. A noção de ritmo, contrariamente à aquela
de interatividade, permite descrever as relaçáes lentas e descontínuas, mas produzem
uma unidade de experiΓͺncia. Nesse padrΓ£o, o trabalho aparece como um conjunto de
atividades, mais ou menos encadeadas ou entrelaçadas, com momentos de tensão e
relaxamento, entrelaçamento no qual a prÑtica do jogar pode encontrar seu lugar de
maneira fluida. TambΓ©m, o problema dos trabalhadores Γ© menos sincronizar ou
articular tempos jΓ‘ dados, como o tempo organizacional e seu ritmo biolΓ³gico, do que
construir uma ritmicidade pessoal a partir das restriçáes sociais que pesam sobre suas
diferentes atividades, acomodando-as.
O estudo do jogo no trabalho possibilita assim ver os pequenos acordos pelos quais os
trabalhadores tecem suas preocupaçáes com as solicitaçáes resultantes do trabalho.
As atividades aparentemente as mais pessoais sΓ£o bem solicitadas – que seja no
casal, na famΓ­lia, nos amigos, no local de trabalho ou em outras comunidades de
prΓ‘tica. E os tempos pessoais sΓ£o os tempos organizados, no sentido em que eles
integram as restriçáes de outros participantes e de outros contextos. E se cada
atividade envolve tanto de um conjunto de restriçáes quanto de possΓ­veis ajustes, β€œjogar
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no local de trabalho” nΓ£o Γ© trazer o jogo para o trabalho, mas, ao contrΓ‘rio, Γ© elaborar
nos locais β€œuma nova maneira de fazer as coisas.” Ela passa incluir a escolha entre
β€œestar preocupada” e β€œser solicitada”: ter que pensar nisto ou receber uma notificação?
Para cada um, no contexto onde espaΓ§os – tempos do trabalho ficaram mais
desfocados (BIDET & SCHOENI, 2011; BORZEIX & COCHOY, 2008. CRAGUE,
2003; HOCHSCHILD, 1997), a procura de uma unidade de experiΓͺncia repousa, entΓ£o,
na pesquisa de uma ritmicidade pessoal que compΓ΅e com a diversidade de suas
atividades, suas restriçáes e suas plasticidades possΓ­veis. A β€œindiferenΓ§a prΓ‘tica”,
descrita nos dois casos precedentes, tornam-se na forma da atividade do jogo
examinada aqui, a regra e a coordenação dos trabalhadores baseia-se antes de tudo
nos ritmos que eles compartilham.
6 CONCLUSΓƒO: A ATIVIDADE NO PRISMA DAS TRANSAÇÕES
Este artigo contribui para a noção de transação introduzida por J. Dewey. Ele
demonstra que uma entrada pelas transaçáes permite estudar, além do domínio de
interaçáes, um conjunto de situaçáes onde a inteligibilidade mútua não é central para
um desdobramento de uma atividade coletiva.
AtravΓ©s de trΓͺs exemplos, de uma sala de controle da rede telefΓ΄nica, de um serviΓ§o de
urgΓͺncias pediΓ‘tricas e situaçáes de jogo no trabalho, nΓ³s identificamos as
configuraçáes estabilizadas, operantes, mas considerando o horizonte de reciprocidade
de perspectivas. Nos casos estudados, o dΓ©ficit de inteligibilidade mΓΊtua nΓ£o Γ©
prejudicial para a continuação da atividade coletiva, como seriam os β€œmal-entendidos”
(GROSJEAN, 2005). Nós vamos mais longe, mostrando que a cooperação requer,
pelo contrΓ‘rio, uma fraca inteligibilidade mΓΊtua.
Este modelo enriquece o estudo de contextos organizados, onde ambientes de
trabalho com um fraco grau de intersubjetividade estΓ£o longe de ser anedΓ³tico. Eles
tendem mesmo a se multiplicar com o aprofundamento da divisΓ£o social do trabalho,
que aumenta o nΓΊmero de mundos profissionais, cuja atividade nos Γ© estranha, mas
com a qual nos enfrentamos. A noção de transação, mais englobante do que de
interação, permite documentar este aspecto de "desencantamento do mundo"
apontado pelo M. Weber. Seguindo J. Dewey, K. Burke jΓ‘ sublinhava a dificuldade de
se tornar um β€œparticipante” no mundo "fragmentado" para uma β€œgrande diversidade
profissional”: nossas aprendizagens e saberes pontiagudos arriscam sempre de
"tornar-nos cegos" (1983, p. 7) e β€œas diferentes formas de viver e ganhar sua vida”
ameaΓ§am de transformar” as diferentes classes de indivΓ­duos em β€˜mistΓ©rios’ β€œuns pelos
outros” (p. 276, tradução da autora). Em um mundo feito de tantas "perspectivas
dΓ­spares", tornar-se um participante nΓ£o seria tanto para K. Burke um caso de
conhecimento do que de ação, de arte e esforço prÑtico, através, em particular, do
carΓ‘ter sintΓ©tico dos nossos atos, que sΓ£o cada vez mais β€œuma nova maneira de juntar
as coisas” (1983, p. 254). Documentar esta pesquisa Γ© uma continuidade da
experiΓͺncia leva, vimos, Γ  estudar a criação de hΓ‘bitos de formas de vida, de formas de
se orientar, etc.
Este modelo ampliado para além das interaçáes, possibilita colocar os dispositivos
numΓ©ricos, aos terceiros e aos ritmos pessoais. Os objetos jΓ‘ tratados como suporte
inscritos no ambiente de trabalho, aparecem para alguns animados de uma vida
prΓ³pria, em torno do qual elaboram verdadeiras formas de vida; os terceiros,
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tradicionalmente e praticamente por definição, excluídos da anÑlise do trabalho, se
revelam operadores indispensÑveis na cooperação produtiva; enfim, a temporalidade
da atividade, nΓ£o cessa de tecer diferentes ritmos uns com os outros, integra a anΓ‘lise
do trabalho os espaços-tempos fora do trabalho.
Formas de vida, coincidΓͺncia de engajamentos, entrelaΓ§amento temporal de
atividades: fenômenos colocados em primeiro plano pela noção de transação trazem
ao estudo da atividade coletiva para além da inteligibilidade mútua. A partir de situaçáes
de trabalho similares apresentadas aqui, M. Grosjean se interroga se os modelos
associados Γ  teoria da atividade nΓ£o forneceriam β€œum quadro mais satisfatΓ³rio [do que
aquele da ação situada] para repensar a questΓ£o da pertinΓͺncia e da intelegibilidade
mΓΊtua em termos dos sistemas da atividade [dos diferentes atores implicados em um
trabalho cooperativo] quando estes nΓ£o sΓ£o convergentes” (2005). Um retorno Γ 
tradição pragmÑtica, da qual a teoria da atividade é ela mesma herdeira (Garreta,
aparecer), parece-nos oferecer uma via mais fΓ©rtil nesse sentido. Colocando em
evidΓͺncia as formas de organização implΓ­cita e, contudo, operantes, senΓ£o
estruturantes, ela adentra mais na "parte de sombra da inteligΓͺncia coletiva em obra em
qualquer situação de cooperação” (JOSEPH, 2004, p. 23). Pois se cada um tem
sempre a necessidade de compreender o que faz, ele nΓ£o tem sempre lazer, nem
necessidade de perceber bem o que fazem os outros. Enfim, fazer direito em um
contexto onde uma moral da intercompreensΓ£o e do encontro β€œ enquanto pessoas” nΓ£o
parece mais central, onde a cooperação produtiva inscrita mais dentro de uma moral
de interação do que dentro de uma política de transação, junta-se à exploração
pragmΓ‘tica da dimensΓ£o democrΓ‘tica do trabalho (CRICK, 2010; SENNETT, 2010). A
β€œindiferenΓ§a prΓ‘tica” leva de fato, Γ  tolerar a diferenΓ§a, e mesmo a estranheza,
seguindo uma configuração política que a Escola de Chicago jÑ associava à grande
cidade moderna.
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Data da submissΓ£o: 09/10/2019
Data da aprovação: 11/12/2019