
Trabalho & Educação | v.29 | n.2 | p.197-215 | maio-ago. | 2020
educação
, mas “[...] cuja concretização, ao menos na esfera da formação escolar das
classes trabalhadoras, se tornou mera especulação” (JONES, 1989, p. 116).
Reafirma-se, então, que se os conceitos não são universais, numa breve análise histórica
nos permite compreender que a ênfase dada à formação integral do homem está na
origem do conceito grego de Paidéia, de difícil definição, e que expressou o ideal de
formação dos gregos a partir do século V a.C. e influenciou o que os romanos chamaram
de humanistas; sendo retomado, no século XVIII, pelos Iluministas.
Neste sentido, a preocupação com uma Educação Integral tem origem nas chamadas
“civilizações clássicas”, Grécia e Roma, ambas escravistas, onde alguns filósofos
defendiam uma formação que desenvolvesse o processo de construção pessoal
consciente, permitindo ao indivíduo ser “constituído de modo correto e sem falha, nas
mãos, nos pés e no espírito”. A Educação Grega, reservada somente para a Aristocracia,
centrava-se na formação integral, “corpo e espírito”, com ênfase para o preparo militar
ou esportivo ou para o debate intelectual, conforme a época ou o lugar (ARANHA, 2006,
p. 61-63).
Aristóteles (384-322 a.C.), por exemplo, reconhecia a importância de uma Educação
Integral, que exigiria o cultivo de todas as disposições humanas. Sobre a educação
afirmava que “Cosas que deben ser objeto de ella: las letras, lagimnástica, la música y el
dibujo” (ARISTÓTELES, 2008, p. 06). Afirmava, nesse sentido, que a educação não
deveria voltar-se somente para o necessário, mas também para o belo: “Se debe, pues,
reconocer que hay ciertas cosas que es preciso enseñar a los jóvenes, no como cosas
útiles o necesarias, sino como cosas dignas de ocupar a um hombre libre, como cosas
que son bellas.” (ARISTÓTELES, 2008, p. 74). Destaque para a preocupação do filósofo
com a educação do homem livre ou cidadão, aquele que participa da política do Estado,
excluindo escravos, estrangeiros e mulheres. Os conhecimentos úteis e necessários
para tornar-se cidadão, excluem, por exemplo, a dimensão do trabalho, manual ou
artesanal, que poderiam prejudicar o desenvolvimento integral do sujeito:
[…] la juventud sólo aprenderá, entre las cosas útiles, aquellas que no tiendan a convertir en
artesanos a los que las practiquen. Se llaman ocupaciones propias de artesanos todas
aquellas, pertenezcan al arte o a la ciencia, que son completamente inútiles para preparar el
cuerpo, el alma o el espíritu de un hombre libre para los actos y la práctica de la virtud.
También se da el mismo nombre a todos los oficios que pueden desfigurar el cuerpo y a
todos los trabajos cuya recompensa consiste en un salario, porque unos y otros quitan al
pensamiento toda actividad y toda elevación (ARISTÓTELES, 2008, p. 73).
Considerando a particularidade acima, a Educação Integral, em Aristóteles, achava-se
em íntima relação com um desenvolvimento progressivo: as funções físicas, vegetativas,
instintivas e racionais do homem desenvolvem-se passo a passo, de modo pausado.
Seria preciso desenvolver as disposições corporais e instintivas antes de ocupar-se
intensamente da razão e do caráter. A educação, em outras palavras, deveria
aperfeiçoar a natureza humana, de maneira gradual (LARROYO, 1982, p. 183-184).
Souza e Martineli (2009) apontam dois períodos de influência do pensamento deweyano no Brasill: de 1930 a 1950; e depois em 1990.
Os dois períodos são marcados por reformas importantes na educação, mas é o primeiro período que teve maior impacto. Neste, destaca-
se o pensamento pedagógico de Anísio Teixeira (1900-1971), “O primeiro e mais destacado autor a mencionar John Dewey nos periódicos
brasileiros” (CUNHA, 2001, p. 89). Teixeira, que foi aluno de John Dewey nos EUA, e teve um protagonismo nas reformas educacionais da
década de 1930. Ao analisar as matrizes do pensamento de Teixeira, Sabina Silva (2010) afirma que “Anísio Teixeira assume integralmente
o corpus intelectual de Dewey” (SILVA, 2010, p. 195).