Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|75|
DOI: https://doi.org/10.17648/2238-037X-trabedu-v29n1-20219
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
EMBATES E PERSPECTIVAS DO TRABALHO PEDAGÓGICO COM
DESENVOLVIMENTO DE PRÁTICAS DOCENTES
1
Conflict and perspectives of pedagogical work with development of teaching
practices
ALTHAUS, Dalvane
2
RESUMO
Este artigo traz alguns resultados de uma tese, que parte da experncia de uma pedagoga no Ensino
Superior envolvendo a Clínica da Atividade (CA). A CA é uma abordagem teórica-metodológica que
visa provocar transformões em situações de trabalho, tendo o professor como protagonista de sua
ptica e o pedagogo como organizador do processo. Contudo, para atuar em CA é preciso passar por
uma formação adequada, que se discutida neste trabalho. Além disso, neste texto, o leitor encontra
uma amostra de intervenção com CA e breves análises dos resultados para o professor e para o
interveniente. Considera-se que é uma ptica respeitosa para com o profissional docente, e
transformadora da prática do profissional da pedagogia.
Palavras-chaves: Trabalho pedagógico. Docência. Clínica da Atividade.
ABSTRACT
This text brings some results of a thesis, which starts from the experience of a pedagogue in Higher
Education involving the Clinic of Activity (CA). The CA is a theoretical-methodological approach that aims
to bring about changes in work situations, with the teacher as the protagonist of their practice and the
pedagogue as the organizer of the process. However, to act in AC it is necessary to go through a proper
training, which will be discussed in this work. In addition, in this text, the reader will find a sample of
intervention with AC and brief analysis of the results for the teacher and the intervener. It is considered
to be a respectable practice for the professional teacher, and transforming the practice of the pedagogical
professional.
Keywords: Pedagogical work. Teaching. Clinic of Activity.
1
O artigo parte de alguns resultados de uma pesquisa de doutorado, realizada na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de
Campinas (FE/Unicamp), sob a orientação da professora Drª Luci Banks-Leite, no período de 2015 a 2019. Contou com apoio da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001, por meio do Acordo
CAPES/FA 13/2014. Analisou material pré-existente no banco de dados do Grupo de Pesquisa Linguagem, Atividade e Desenvolvimento
Humano (LADHumano), por isso não houve a necessidade de passar pelo COEP, pois este avalia projetos antes da coleta de dados.
Contudo, o GP seguiu todos os procedimentos éticos necessários.
2
Doutora em Educação pela Unicamp. Pedagoga do Departamento de Educação da UTFPR, Campus Pato Branco. E-mail:
dalvanea@gmail.com.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|76|
INTRODUÇÃO
Este texto visa a apresentar alguns resultados de um trabalho pedagógico, com
desenvolvimento de práticas docentes no Ensino Superior. Mais especificamente, sobre
uma atuação junto aos professores de uma Universidade Federal por meio da Clínica da
Atividade (CA), com o dispositivo de autoconfrontação, que resultou em um estudo de
doutorado.
A docência no Ensino Superior tem despertado preocupação no âmbito acadêmico, uma
vez que nem sempre há uma formão inicial para essa finalidade (GATTI, 2004;
PIMENTA; ANASTASIOU, 2010; LIMA A; ALTHAUS, 2016; ALTHAUS, 2019). No
momento atual, encontra-se preconizado na LDB (1994) que a preparação para o
exercício do magistério superior cabe à Pós-graduação Stricto Sensu, contudo, a
tradição dessa modalidade é formar pesquisadores e não professores. Desse modo,
existe uma lacuna que vem sendo tratada com formação contínua em serviço proposta
de diferentes modos, em diversas instituições (por ex. LIMA A; ALTHAUS, 2016; LEITE;
BERNARDO; MOREIRA, 2017).
Nesse viés, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Pato Branco
(UTFPR-PB) foi criada uma Clínica da Atividade Docente (CAD) a fim de promover o
desenvolvimento de práticas docentes (LIMA A, 2016a). A Clínica da Atividade (CA) é
uma concepção teórica-metodológica ligada à psicologia do trabalho, que utiliza de
métodos indiretos para buscar mudanças nas situações de trabalho a partir de um
movimento psicológico-dialógico de auto-observação (CLOT, 2010; ALTHAUS, 2019).
Para tanto, um dos dispositivos clínicos é o de autoconfrontação. Nesse, de modo geral,
o agente da atividade em análise é levado a se observar em situão de trabalho e por
meio de um diálogo com outros
3
e consigo mesmo a perceber como atua e como pode
introduzir modificações em seu agir (CLOT, 2010). Portanto, a transformação da ação
parte do sujeito, não é imposta a ele por alguém de fora do seu agir. Para isso, os
procedimentos são conduzidos por um interveniente
4
embasado nos preceitos teóricos-
metodológicos da CA (ALTHAUS, 2019).
Desse modo, a CA se distancia de outras abordagens em que um especialista na
atividade docente presta assessoria para dizer aos professores o que eles devem fazer.
Essa abordagem, de especialista externo, frequentemente, é rejeitada pelos docentes e
limitada no que concerne ao alcance das atividades no meio laboral (ALTHAUS, 2013).
Contudo, a CA é complexa e segue determinadas especificidades teóricas-
metodológicas. Assim, requer uma formação adequada. Nesse trabalho, será
apresentado um recorte de um estudo de caso sobre a formação e o papel do
3
Esses outros podem ser destinarios diretos, tal como um colega de trabalho e o interveniente, até um
diálogo indireto com o coletivo de trabalho mais amplo denominado de sobredestinátario, que serão
abordados nos fundamentos teóricos-metodológicos, bem como o subdestinátario que configura um contato
social consigo mesmo (CLOT, 2010).
4
Na CA francesa, onde essetodo tem sua origem, a pessoa que conduz a intervenção é denominada
intervenant, que, em português, frequentemente era traduzido por interventor, termo que evoca um sentido
de autoritarismo, o que não corresponde à perspectiva da CA, por isso opta-se por “interveniente
(ALTHAUS, 2019).
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|77|
interveniente em CA, vinculado à experiência de uma pedagoga a partir de uma ação no
Ensino Superior.
Para tanto, o texto está organizado em cinco tópicos. No primeiro, apresenta-se um breve
relato das primeiras experiências da pedagoga em questão, nos Colégios Estaduais do
Paraná. No segundo, a experiência com o ensino superior, a partir de uma posição de
especialista na atividade docente. No terceiro, expõem-se uma nova abordagem
pedagógica realizada a partir da CA. No quarto, apresenta-se algumas especificidades
da CA. No quinto, uma amostra de intervenção com uma breve análise. E, por fim,
algumas considerações.
PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS NO EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DE PEDAGOGA
No início da carreira, as primeiras experiências como pedagoga ocorreram em Colégios
Estaduais do Paraná, com a Educação Básica, no período de 2006 a 2007.
Posteriormente, ingressou-se em concurso público em uma Universidade.
Na Rede Estadual de Ensino do Paraná, o ingresso ocorreu por meio de concurso ao
cargo denominado deprofessor pedagogo, com perfil multifunções em:atividades de
coordenação, administrão escolar, planejamento, supervisão e orientação
educacional (PARANÁ, 2004). A caracterizão do trabalho pedagógico nesse meio
pode ser identificada pelas atribuições descritas no edital de concurso 037/2004, que
assinalava vinte e sete atribuições para as atividades do cargo; sendo possível notar três
linhas de atuação.
A primeira linha, com atividades de gestão escolar, tais como: coordenar a distribuição
de aula, a hora-atividade dos professores, o espaço da biblioteca, a aquisição de material
didático, o conselho de classe, a elaboração dos documentos pedagógicos, a interação
comunidade-escola, etc.
A segunda, com atividades de formação docente continuada para professores, por
exemplo: organizão de semanas pedagógicas no início de cada semestre letivo,
grupos de estudos, reuniões pedagógicas, promoção de momentos de reflexão-ação,
etc.
A terceira, com atuação em atividades de orientação educacional, dentre elas: o
planejamento de ensino dos professores, o aprimoramento teórico-metodológico, os
projetos de recuperação de estudos, além de acompanhar e avaliar o trabalho
pedagógico da escola, etc.
Após experienciar a atuação em Colégios Estaduais com amplo rol de tarefas
relacionadas a essas linhas, a pedagoga-pesquisadora ingressou, por meio de concurso
público, em uma Instituição de Ensino Superior (IES) para atuar junto a formação docente
continuada dos professores.
O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE DO PEDAGOGO NO ENSINO SUPERIOR COMO
ESPECIALISTA
A sequência da trajetória da pedagoga ocorreu com o Ensino Superior, em uma
Universidade Federal, oriunda do histórico de criação das Escolas de Aprendizes
Artífices, em 1909. Incialmente a instituição era voltada aos alunos desprovidos da
fortuna e passou por várias transformações até se tornar Universidade (LEITE, 2010, p.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|78|
13-14). Atualmente, essa instituição oferece desde cursos técnicos, graduão, até a
pós-graduação Stricto Sensu e está configurada com treze Campi.
O Campus, lócus deste trabalho, foi instituído em 1993. Iniciou as atividades com dois
cursos técnicos. No ano seguinte, ampliou o quadro de cursos para a graduação (LEITE,
2010, p. 143). E, a partir de 2007 passou a oferecer também cursos de s-Graduação
Stricto Sensu. Atualmente, encontra-se com aproximadamente trezentos docentes,
noventa técnicos administrativos em educação e quatro mil alunos
5
. As áreas de atuação
do Campus o treze: 1) Administrão; 2) Agrimensura; 3) Agronomia; 4) Ciências
Contábeis; 5) Engenharia Civil; 6) Engenharia Elétrica; 7) Física; 8) Humanas; 9)
Infortica; 10) Letras; 11) Matemática; 12) Engenharia Mecânica; e 13) Qmica.
Essa Instituição, assim como outras, enfrenta dificuldades nos processos de ensino-
aprendizagem, em grande parte pelo fato de que muitos docentes não são preparados
para o exercício da docência, embora tenham sido formados pesquisadores e/ou
profissionais das áreas de graduação. Diante disso, a gestão do Campus buscou apoio
na pedagogia, com abertura de concurso público em que a pedagoga-pesquisadora em
questão ingressou.
Ressalta-se que, a experiência que se trazia como pedagoga vinha da prática exercida
na educação básica. Porém, diferentemente da Rede Estadual de Educação, onde o
pedagogo é incumbido de diversas funções, nessa Universidade a fuão apontada no
termo de posse era de “supervisão educacional e as atividades solicitadas pela chefia
imediata eram de formação docente continuada, com cursos, palestras e outras
atividades que vislumbravam a prática docente (ALTHAUS, 2019).
Especialmente sobre essa função desupervisão educacional, embora no momento a
atividade pedagógica seja unitária, no final do Séc. XX e icio do Séc. XXI se vivenciava
perspectivas e tensões em relação às divisões de funções para o trabalho do pedagogo
na educação (SANTOS, 2018). Havia uma fragmentação do trabalho como herança da
configuração do Curso de Pedagogia por habilitações instituído em 1969
6
, sendo a
supervisão escolar uma das habilitações dentre outras, tais como: orientão
educacional, administração escolar, etc. Além disso, a função de supervisão
educacional era vista de maneira negativa e autoritária (SAVIANI, 2000; RANGEL, 2000;
2008; SILVA JUNIOR, 2000; 2008).
Ao exercer essa função no ensino superior, tinha-se como tarefa principal organizar
cursos e palestras para os professores, muitas vezes com especialistas externos,
especialmente em momentos de planejamento das atividades de ensino, definidos no
calendário da instituição para ocorrerem antes do início de cada semestre letivo (por ex.:
FERRI, 2007; NUNES, 2008; WERNEWCK, 2008; FERREIRA, 2009; ANASTASIOU,
2011).
5
Dados disponíveis em: http://portal.utfpr.edu.br/noticias/pato-branco/aniversario-utfpr. Acesso em 19 de abr.
2019.
6
O curso de Pedagogia foi regulamentado pelo Decreto-Lei n. 1.190/1939, que previa a formação de três
anos como bacharel e mais um ano para se tornar licenciado. Foi reformulado em 1969 pelo Conselho
Federal de Educação através do Parecer Nº. 252/1969 e da Resolução 02/1969, que previu a formação em
licenciatura com habilitações para as diferentes áreas de atuação escolar. Em 2006, foi alterado novamente
quando o Conselho Nacional de Educação instituiu Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de
Pedagogia, com uma formação única para a docência e a gestão educacional (CRUZ, 2011).
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|79|
No decorrer dos períodos letivos, havia a incumbência de atuar em situações de
dificuldades de ensino-aprendizagem. Essas ações, configuravam-se por leituras e
discussões visando a reflexão da prática de ensino em pequenos grupos de estudos, e,
geralmente, eram conduzidas pela própria pedagoga, embasada em especialistas da
área da educação, como, por exemplo: Cunha (1997), Zabalza (2004), Libâneo (2005),
Gasparin (2005), Gil (2005) e Pimenta e Anastasiou (2010).
Desse modo, as ideias, tanto de especialistas externos convidados para palestrarem,
quanto o discurso de especialistas que ressoava na atuação pedagógica, com a
condução de leituras e cursos, traziam mensagens avaliativas e prescritivas do fazer
(ALTHAUS, 2019, p. 26). Com isso, tais ações focavam na recomendação do que se
considera certo e errado na atividade docente, o que remete a ideia equivocada de que
alguém pode ser especialista na atividade desenvolvida por outro, por esse motivo eram
criticadas e pouca aceitas pelos docentes (ALTHAUS, 2013).
Os especialistas na atividade que o outro realiza, como nos afirma Clot (2007) são
especialistas em boas práticas
7
,
nesse caso, trata-se de especialistas na atividade do
professor (LIMA A, 2016b). Isto é, são pessoas que falam de uma atividade idealizada.
E frequentemente apontam o que consideram ser os erros dos professores, indicando
em seguida o que os docentes deveriam na verdade fazer para acertar (LIMA A,
2016b). Essa posição frequentemente é rejeitada pelos docentes, tal como ocorreu no
exercício das atividades da pedagoga (ALTHAUS, 2013; 2019).
Com o intuito de se distanciar dessa linhagem, mencionada acima, e de implementar
mudanças na atividade, a pedagoga buscou novos rumos e conhecimentos em uma
abordagem teórico-metodológica intitulada Clínica da Atividade (CA) (CLOT, 2010;
ALTHAUS, 2013; LIMA A, 2016a).
UMA POSSIBILIDADE DE RECRIAÇÃO DA ATIVIDADE DO PEDAGOGO POR MEIO DA
CLÍNICA DA ATIVIDADE
A CA foi criada por Yves Clot (2010) e seus colaboradores, principalmente Daniel Faïta
(1997), na França, no final do Séc. XX, ligada à Psicologia do Trabalho e com inspiração
na ergonomia francófona e na psicopatologia do trabalho
8
. E, especialmente, com forte
ancoragem nas questões psicológicas de Vigotski e seguidores e de estudos da
linguagem de Bakhtin e seu círculo (CLOT, 2017).
Na CA, visa-se a transformação da ão tendo os trabalhadores como protagonistas
(CLOT, 2006; 2010). Nessa perspectiva, distancia-se da formão docente continuada
tradicional e se toma outros rumos, investe-se no apoio ao desenvolvimento do agir dos
professores em suas práticas de ensino. Considera-se o docente como o especialista
em sua atividade e, portanto, capaz de mudar sua prática com o apoio de dispositivos
metodológicos que privilegiem aconsciência profissional, ou seja, de modo geral, que
desenvolvam a capacidade de perceber como realizam seu trabalho e como podem
7
Texto original: les experts en « bonnes pratiques » (CLOT, 2007, p. 85).
8
De modo geral, pode-se apontar que, da ergonomia francófona, a CA retém a análise da atividade de cada
caso no meio em que as situações de trabalho ocorrem e, especialmente, os conceitos de trabalho prescrito
e trabalho realizado”, que são abordados no item 4. Da psicopatologia do trabalho, a CA traz a preocupação
com a relação dos processos de doença-saúde dos trabalhadores como questão a ser potencializada
(CLOT, 2010).
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|80|
fazer diferente (CLOT, 2010; LIMA A, 2016c; ALTHAUS, 2019). Para tanto, parte-se do
meio laboral, a sala de aula, para efetuar ações junto aos docentes que possibilitem a
amplificação do seu poder de agir, a partir de suas tomadas de consciência (CLOT, 2010;
LIMA A, 2016a).
Com isso, vislumbra-se uma nova maneira de exercer o trabalho pedagógico por meio
da CA. A aproximação da pedagoga com a CA ocorreu com um trabalho de parceria
com o professor-pesquisador Anselmo P. Lima, da área de Letras, com formação no
Campo da CA, que ingressou na mesma Universidade em que a pedagoga trabalha, em
2009. Nessa ocasião foi convidado a implantar uma Clínica da Atividade Docente (CAD-
UTFPR) na Instituição (LIMA A; ALTHAUS; RODRIGUES, 2011; LIMA A, 2016a), com
a finalidade de contribuir nas ações de promoção de desenvolvimento de práticas
docentes. Logo em seguida, ele criou o Grupo de Pesquisa Linguagem, Atividade e
Desenvolvimento Humano (GP LADHumano), para também estudar as ações
desenvolvidas nesse quadro teórico-metodológico.
Com isso, constatou-se uma significativa diferença entre essa abordagem e a anterior,
com possibilidades para agir pedagogicamente junto aos professores diante das
dificuldades por eles enfrentadas em sala de aula (ALTHAUS, 2013; 2019). Ao invés, de
receberem avaliações e recomendações sobre seu trabalho do ponto de vista de outros,
nessa abordagem os professores se voluntariam para ter a oportunidade acessar a sua
atividade pelo excedente de visão (BAKHTIN, 2011), analisarem-na eles mesmos,
tomarem consciência e decidirem sobre o que é necessário e passível de mudanças.
Contudo, o pedagogo que se interessa por CA precisa passar por uma formação
adequada, dada a complexidade da CA e sua diferença em relação a abordagem de
especialista na atividade docente. Como, então, procedeu-se nessa formação?
Desenvolveu-se um dispositivo, no âmbito da CAD e do GP LADHumano, em que a
formação da pedagoga-interveniente ocorre com base nos preceitos da CA. Apesar de
que Clot e colaboradores não tratarem especificamente da formação do interveniente,
em várias passagens de sua ampla obra, é possível identificar indícios de como proceder
a essa formação e qual o papel deste sujeito nas intervenções (ALTHAUS; BANKS-
LEITE, 2017; ALTHAUS, 2019). Diante disso, uma orientação que guiou as atividades
para a formação de pedagoga-interveniente na CA é a seguinte:
Ele [o interveniente] deve trabalhar com instrumentos, entre os quais os conceitos sãoo
importantes quanto o coletivo de trabalho, no qual ele pode colocar em discussão suas
maneiras de fazer. Isso supõe experiência, métier (CLOT, 2008, p. 68, grifos nossos).
Dessa afirmação destaca-se dois pontos. Um, é que, para realização do trabalho em CA,
são indispenveis instrumentos, dentre eles os conceitos.
No quadro do grupo de pesquisa, em que os integrantes têm conhecimentos na perspectiva
histórico-cultural, busca-se aprofundar e discutir conceitos de autores como Bakhtin e
Vigotski, bem como os relacionados à CA (ALTHAUS, 2019, p. 16).
Outro ponto refere-se à “experiência. Assim sendo, no dispositivo de formação
desenvolvido pela CAD e pelo GP LADHumano, busca-se realizar os seguintes
procedimentos:
inicialmente procede-se à formação de novos intervenientes com a observação, seja através
de transcrições e análises de vídeos de autoconfrontações, seja por observação direta de
outros mais experientes que atuam na área; posteriormente, os intervenientes em formação
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|81|
passam a atuar em situações de autoconfrontações. Essa experiência se realiza sempre em
pares de intervenientes, de forma tal que o interveniente em formação (IF) realiza
autoconfrontações acompanhado de um interlocutor dessa área (ALTHAUS, 2019, p. 16).
Tal experiência em pares tem por inspiração o conceito de Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP) (VIGOTSKI, 2007). Para tanto, segue-se a ideia de que com o apoio de
um interveniente mais experiente o Interveniente em Formação (IF) poderá efetuar o que
não consegue ainda realizar sozinho e, no futuro, seja capaz de exercer as atividades
com autonomia. Desse modo, na experiência de pedagoga-interveniente foi realizada as
ações da CA em dupla, sendo o par mais experiente como Interveniente Principal (IP) e
o iniciante como Interveniente Auxiliar (IA). Nesse processo, a pedagoga-interveniente
vai pouco a pouco se tornando IP e formadora de outra.
É importante destacar que, com base em Vigotski (2007), tem-se a noção de que tal
processo não é automático, o pouco linear, mas é compreendido como um movimento
de aprendizagem em determinada área por via da interação entre um menos experiente
com outro mais experiente, e desse modo é possível desenvolver maneiras de efetuar
certas atividades.
No caso, o exercício da atividade pedagógica por intermédio da CA.
UMA BREVE APRESENTAÇÃO DA CLÍNICA DA ATIVIDADE: QUESTÕES
CONCEITUAIS E PROCEDIMENTAIS
A CA, de maneira geral, consiste em uma démarche clínica. Essa, constitui-se por uma
postura adotada a partir de um quadro epistemológico que permite elaborar e utilizar
dispositivos em situações de trabalho (CLOT, 2010; FAÏTA, 2017), tendo a atividade em
movimento como centro de alise e os trabalhadores como protagonistas (ALTHAUS,
2019, p. 34). Isto é, ter a atividade de ensinoaprendizagem como centro de análise
possibilita perceber novas formas de viver na docência através da experiência de
trabalho vivida, e ter o professor como protagonista é respeitar a subjetividade e creditar
sua capacidade de especialista no que faz (CLOT, 2010; ALTHAUS, 2019).
Para tanto, o pedagogo-interveniente trava um diálogo com os professores a fim de
apoiá-los na atividade de perceberem como agem e como podem agir diferente.
Portanto, a CA tem como primazia a transformação da ação. Desse modo, empenha-se
em provocar e estudar as transformações do poder de agir dos docentes, que se
encontram impedidas e/ou a serem desenvolvidas (CLOT, 2010).
Isso pode ser mais bem compreendido considerando os conceitos de real da atividade”
e de gênero de atividade, elaborados na CA.
O conceito dereal da atividade” foi desenvolvido com base nos conceitos detrabalho
prescrito e trabalho realizado” da ergonomia francesa. Sendo que, a prescrição” diz
respeito às regras e regulamentações e orealizado é o que de fato é efetuado e pode
ser registrado em vídeo. Além disso, a CA é fundamentada na afirmação de quecada
minuto do homem está cheio de possibilidades não realizadas (VIGOTSKI, 1996, p. 69),
por isso considera que entre a prescrição e o realizado existe uma distância, que se
refere às diferentes maneiras de se fazer algo (CLOT, 2010).
Ou seja, a experiência vivida e registrada no vídeo atividade realizada é apenas uma
possibilidade de ação, as outras o realizadas continuam agindo sobre o sujeito.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|82|
Inspirada nessa questão a CA criou um conceito fundamental para tratar das situações
de trabalho, o real da atividade”:
o que não se faz, o que se tenta fazer sem ser bem-sucedido o drama dos fracassos o
que se desejaria ou poderia ter feito e o que se pensa ser capaz de fazer noutro lugar. E
convém acrescentar paradoxo frequente o que se faz para evitar fazer o que deve ser
feito; o que deve ser refeito, assim como o que se tinha feito a contragosto (CLOT, 2010, p.
103-104).
Com isso, tudo o que não foi realizado apresenta, de algum modo, uma conexão ao
vivido, à atividade realizada” e registrada no vídeo. Compreende-se que o real da
atividade tem relação com as atividades impedidas, suspensas, contrariadas, que de
certa maneira podem afetar o professor e o levar ao adoecimento, se o seu poder de agir
não for restaurado (CLOT, 2010; LIMA M; BATISTA, 2016). Contudo, o real da
atividade pode também ser fonte de saúde, pois é uma via com potencial para a
recriação da atividade docente (CLOT, 2010).
Isso é possível a partir da tomada de consciência do sujeito por meios indiretos.
Esse processo é realizado por meio de dispositivo metodológico que leve os trabalhadores
a refazer a mesma atividade realizada do vídeo por palavras, atraindo o participante para o
trabalho, e não para a avalião/julgamento do trabalhador, por meio de certo e errado
(ALTHAUS, 2019, p. 44).
O docente ao se analisar em ação no vídeo, além de se voltar para atividade gravada,
dirige-se também para seus interlocutores diretos, o interveniente e o seu par na
intervenção, e indiretos, por exemplo o gênero do ocio (CLOT, 2010). Desse modo, o
professor vê sua atividade pelos olhos dos outros e se sente interpelado a responder de
acordo com o gênero de atividade (ALTHAUS, 2019, p. 45).
A partir do conceito de gêneros do discurso [como] tipos relativamente estáveis de
enunciados (BAKHTIN, 2011, p. 262), em CA, criou-se o conceito degêneros
profissional ou de atividade, que são tipos relativamente estáveis de atividades
socialmente organizadas por um meio profissional (CLOT, 2010, p. 124). Além disso,
Clot afirma que seria possível dizer que os gêneros do discurso e os gêneros de técnica
formam, conjuntamente, o que se pode designar por neros de atividade (2010, p. 123,
grifos do autor).
Portanto, pode-se concluir que o gênero cnico, propicia modos de agir e de pensar em
certo contexto com o mesmo alcance normativo que os gêneros do discurso ao dispor
tipos de enunciados. Assim, ambos, gênero do discurso e de atividade, apresentam dois
lados. O lado da estabilidade, que garante uma base de onde partir. E, o lado da
relatividade, que é a possibilidade recriação (CLOT, 2010; LIMA A, 2010a).
Os gêneros de atividade, composto por formas de agir, de pensar e de dizer no trabalho
são subentendidos e compartilhados pelo coletivo de trabalhadores, pois formam
maneiras de comportar-se, de dirigir a palavra, de encetar uma atividade e de levá-la a
termo, de conduzi-la eficazmente a seu objeto [...] formam um repertório de atos
convencionados (CLOT, 2010, p. 123). Ou seja, desenvolve-se uma memória de formas
de agir que ficam à disposição do coletivo para serem mobilizadas em atividade de
trabalho, como um reperrio que pode proteger o trabalhador ante os imprevistos do
real, bem como serem recriadas.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|83|
Além disso, destaca-se que, em CA, os gêneros de atividade são compreendidos em
quatro dimensões: transpessoal, impessoal, pessoal e interpessoal. As formas/tipos de
agir, de pensar e de dizer em comum entre os docentes dizem respeito à dimensão
transpessoal; configuram-se como uma senha de conhecimento apenas por quem
compõem do gênero (CLOT, 2010). A dimensão impessoal, caracteriza-se pelas
questões institucionais em suas prescrições; a dimensão pessoal, condiz com as
maneiras que cada professor desenvolve para se apropriar do gênero docente; e a
dimensão interpessoal corresponde as relações interlocutivas, uma vez que a atividade
tem destinatários, tais como: discentes, sociedade, mundo do trabalho, etc (CLOT, 2008;
2010; OSÓRIO; BARROS; LOUZADA, 2011; LIMA A, 2016a).
O gênero não é acabado, ele está sujeito à estilização, à recriação (CLOT, 2010).
Contudo, pode ocorrer nas situações de trabalho que o lado da relatividade fique
estagnado e se caia na repetição sem recrião, aí incide a contribuição da CA para
recolocar os gêneros em movimento. Essa contribuição se dá por intermédio de meios
indiretos, tal como a autoconfrontação
9
, em que:
Cada autoconfrontação faz reviver o gênero de maneira pessoal, oferecendo ao coletivo a
possibilidade de um aperfeiçoamento do gênero ou, em todo o caso, a possibilidade de um
questionamento capaz de levar à validação de novas variantes (CLOT, 2010, 127).
Desse modo, a CA, em sua démarche, tem como primazia a transformação da ação, isto
porque, em CA, assume-se a ideia vigotskiana de que,é somente em movimento que
um corpo mostra o que é (VIGOTSKI, 2007, p. 68). Esclarece-se que, considera-se,
nessa clínica, que o corpo é o fisiológico desenvolvido em psicológico” (CLOT, 2016, p.
89). Dessa maneira, para a CA:
é apenas através de uma experiência de transformação que a atividade psicológica pode
revelar seus segredos. Ora, a única possibilidade de atingir tal objetivo é pelos meios
deslocados de um desenvolvimentoprovocado. Portanto, o desenvolvimento pode ser
objeto da psicologia se ele é, também, seu todo: um método que, para os sujeitos, seja o
meio de descobrir suas capacidades ao se avaliarem diante do que eles fazem (CLOT,
2010, p. 63, grifos do autor).
De maneira geral, no quadro metodológico de autoconfrontação:
Trata-se de iniciar um diálogo entre profissionais, dois a dois, por binômio (que serão a seguir
multiplicados), em torno de um vídeo da atividade a fim de recuperar controvérsias sobre a
atividade em um coletivo e entre “conhecedores” dela. Essasdisputas têm por finalidade
renovar o poder de agir dos envolvidos com o ofício, dando mais autoridade ao fiador coletivo
da atividade individual (CLOT, 2011, p. 75).
O dispositivo de autoconfrontação apresenta várias fases, por sua vez, decompostas
em várias etapas (CLOT, 2010, p. 239). Assim, na CAD em questão, trabalha-se com
três fases em cada edição
10
, que são desdobradas em diversas etapas e procedimentos.
9
Em CA outros métodos, por exemplo a Instrução ao Sósia. Entretanto, nesse trabalho se
debruça sobre a autoconfrontação. O leitor que desejar conhecer melhor a instrução ao sósia
poderá consultar, por exemplo: Muniz-Oliveira (2009), Clot (20
1
0, p. 201-226) e Batista; Rabelo
(2013).
10
Edição se refere a todas as fases e etapas desenvolvidas com uma dupla de participantes da
autoconfrontação.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|84|
Na primeira fase, que antecede as Autoconfrontações, os intervenientes praticam as
seguintes ões: realizam uma reunião com o coletivo de professores, organizados por
departamentos acadêmicos, para discutir a demanda e constituir uma dupla de
profissionais docentes que irá participar de filmagens e Autoconfrontações; coletam
autorizações livres e esclarecidas também dos alunos da dupla; efetuam observações
da aula desses docentes; fazem uma devolutiva aos professores individualmente sobre
as anotações e iniciam o diálogo problematizador com os mesmos (CLOT, 2010, p. 239;
ALTHAUS, 2013; 2019; LIMA A; ALTHAUS, 2016).
Nessa primeira fase dois aspectos destacam-se: 1) o coletivo é o ponto de partida da
intervenção; e 2) a observação é instaurada como instrumento de desenvolvimento
(ALTHAUS, 2019, p. 48). Segundo Clot, a primeira fase, portanto, procura instruir o
ponto de vista individual e coletivo (CLOT, 2010, p. 239). Para tanto, os docentes
precisam assumir voluntariamente o instrumento, pois nessa primeira fase o profissional
já pode e deve iniciar o processo de se observar e pensar sobre o que seus colegas e o
interveniente podem pensar e dizer sobre seus atos, bem como o que ele poderá dizer
de si próprio em resposta (LIMA A; ALTHAUS; RODRIGUES, 2011). Ancorado em
Vigotski, Clot (2010) afirma que a observação é primeiramente interpsicológica, do
pedagogo-interveniente para com o professor e, na continuidade, passa a ser
intrapsicológica, do sujeito para consigo mesmo. É assim, e somente assim, que se
revela um desenvolvimento subjetivo da experiência vivida (CLOT, 2010, p. 247).
Na segunda fase, que consiste na realização das Autoconfrontações, os intervenientes
exercem as seguintes atividades: filmam uma situão de trabalho de cada docente da
dupla; escolhem junto com os professores um trecho para análise por eles mesmos e
tendo os intervenientes como coanalista; realizam as sessões de autoconfrontação
simples (ACS) com cada docente e de autoconfrontação cruzada (ACC) com trecho de
vídeo de cada professor para um analisar a ação do outro na presença desse e discutir
com ele (CLOT, 2010, p. 240; CLOT; FAÏTA, 2016; LIMA A; ALTHAUS, 2016).
Espera-se que com a filmagem o processo de auto-observação se amplie (LIMA A;
ALTHAUS, 2016). Na ACS, cria-seum contexto em que o sujeito se torna um
observador externo de sua própria atividade, em um espaço-tempo laboratorial na
presença dos intervenientes (ALTHAUS, 2019, p. 49-50). Nessa etapa, ocorrem,
tipicamente, um movimento psicológico-dialógico manifesto em três estágios: 1) refúgio
no coletivo: em geral ocorre no início, quando o docente explica pela primeira vez seus
atos registrados no vídeo, apoiando-se, por exemplo, em nós e a gente; 2)
estranhamento: frequentemente na sequência do diálogo, o professor se depara com
um difícil de dizer momento em que ele não encontra palavras para explicar o que
estava fazendo e, então, ampara-se ao individual, ao “eu; 3) reequilíbrio: situação em
que o docente busca e reencontra argumentos que justificam sua ação; nesse ponto a
ACS pode ser encerrada porque se torna necessário a introdão de outro interlocutor,
um colega do mesmo nível de expertise, portanto outro docente. Isso é possível
passando para a ACC (CLOT, 2010, p. 117-154; ALTHAUS, 2013; 2019; CLOT; FTA,
2016;).
Na ACC, cada professor, na presença de um par os dois tendo passado pela ACS e
do interveniente, visualiza ao registro de um trecho da ação de seu colega e é orientado
pelo interveniente a descrever detalhadamente o que o outro está efetuando na
sequência de imagens. Nessas circunstâncias, cada um observa, na atividade do outro,
a própria atividade, reencontrando-a sem a possibilidade de reconhecê-la
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|85|
completamente (CLOT, 2010, p. 241). A partir do que um docente analisa sobre a
atividade do outro, ambos são conduzidos pelo interveniente a um diálogo, com base na
fundamentação teórica-metodológica da CA e sua ancoragem (CLOT, 2010; CLOT;
FAÏTA, 2016).
Nesse momento, podem ocorrer dois estágios: 1) reinterrogação de si: quando cada um
dos docentes observa sua atividade na atividade do outro e pode a repensar acessando
o ponto de vista do outro; 2) controvérsia: os pontos de vistas geralmente são diferentes
e frequentemente se modificam no fluir da análise, passando para um outro ponto de
vista (CLOT, 2010, p. 117-154; ALTHAUS, 2013; CLOT; FAÏTA, 2016;). Ao se confrontar
com a opinião e os questionamentos de seu colega, quase sempre há controvérsia: o
trabalhador se obriga a buscar novas referências [...] Isto é, a ACC o coloca em uma
nova ZDP (ALTHAUS, 2019, p. 50-51).
Nesse processo, o diálogo é como uma mola que impulsiona para o desencadeamento
das transformações da atividade docente. Ancorado na afirmação de Bakhtin (2011), de
que a última palavra nunca é dita, Clot (2011) assinala que a atividade também não é
acabada. Assim sendo, o real da atividade é colocado em discussão a partir da
atividade realizada e gravada no vídeo, de modo que as controvérsias e análises
possam levar a outra maneira de pensar e agir.
Isto ocorre por via de um movimento psicológico-dialógico tríade que convoca diferentes
destinatários: os imediatos, tais como o interveniente e o colega de trabalho com quem
forma dupla; o sobredestinatário, o ofício de maneira mais ampla; e, subdestinatário, que
corresponde a um contato consigo mesmo (CLOT, 2010). Nesse diálogo, ocorrem
discordâncias consigo mesmo e com os outros, que possibilitam mudanças.
Na terceira fase, após as Autoconfrontações, é o momento de retorno ao coletivo para
compartilhar com eles as novas proposições de modos de agir no trabalho e tomada de
decisões. Para isso, é: elaborado um videodocumentário pelo interveniente em conjunto
com os professores autoconfrontados; realizada uma reunião com o coletivo de docentes
para apresentação e análise em conjunto do material resultante das Autoconfrontações,
com a finalidade de que as alterações necessárias para implementar melhorias no
trabalho sejam assumidas pelo grupo se assim decidirem (CLOT, 2010, p. 241;
ALTHAUS, 2013; 2019; CLOT; FAÏTA, 2016; LIMA A, ALTHAUS, 2016).
Dessa maneira, busca-se também contribuir para a (re)organização dos coletivos de
trabalho, pois existe, entre a organização do trabalho e o próprio sujeito, um trabalho de
reorganização da tarefa pelos coletivos profissionais, uma recrião (CLOT, 2010, p.
119), com a clareza de que a última palavra nunca é dita (BAKHTIN, 2011).
UMA AMOSTRA DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA COM CLÍNICA DA ATIVIDADE E DE
ANÁLISE
Segue abaixo uma amostra de intervenção pedagógica em CA. Trata-se de uma ACS,
realizada com o Professor Cândido (PC) de Ciências Conbeis, aqui denominado
ficticiamente. A pedagoga-interveniente atua como IP e na formação de outra, a IA. A
sequência apresentada abaixo ocorre após o PC se visualizar em ação docente e revelar
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|86|
um problema de ter cinco aulas seguidas de Auditoria Contábil, que leva os alunos de
graduação a diminuir a atenção e a participação
11
.
Quadro 1: Sequência da segunda participação da IF como IA
12
01 PC: o Coordenador fez o horário o ano passado para conseguir me colocar na segunda e terça que
é o: os dias que eu:: podia vim... ele colocou cinco aulas na ((riso)) na segunda
02 IP: e está dando certo isso?
03 PC:o:: eu não vejo como positivo... acho melhor pôr em dois dias... s:olicitei ao Coordenador
para ano que vem
04 IP: aí ano que vem vocês já:: estão se PLANEJANDO para trabalhar:: cinco aulas dividido em dois
dias e não em
05 PC: [
sim
06 IP: [
em uma noite só... é da mesma disciplina essas aulas?
07 PC: sim
08 IP: hum::
09 IA: é:: tem alguma estratégia que você utiliza para MANTER a atenção dos alunos CINCO aulas
seguidas? por que realmente é MUITO cansativo né? independente da matéria
10 PC: [
é a questão do
tempo né?
11 IA: [
então tem alguma estratégia? algum::
12 PC: [
ah estratégia EXTRA não... por ser cinco aulas
ou três não tem uma estratégia assim... a estratégia é a mesma:: né? a estratégia é a mesma::
a estratégia é a mesma como se fosse três ou cinco:: enfim
13 IP: será que não ajudaria: ter uma estratégia? pensando quando é um período LONGO assim que
você falou que não deu certo... né? já viu que:: não dá para continuar assim... talvez se tiver se
14 PC: [
é eu
vejo que assim que não está preju/
15 IP: [
INTRODUZIR alguma estratégia diferente isso ajudaria a a a::
não ser tão pesa:do:: a dar ce:rto::
16 PC: não a gente procura:: tal alguma coisa assim dar algu::ns exercício::s
17 IP: [
uhum e além dos exercícios?
18 PC: [
(bota no
meio alguns) exercícios e tal... né? aí claro entre a:: -- não é conteúdo né? -- eu procuro sempre...
11
Dados eram pré-existentes à realização da pesquisa.
12
No quadro há três colunas. Na primeira está identificado o número do turno de fala analisado, e serão
marcados em sequência. A segunda coluna corresponde ao falante que está se pronunciando. E na terceira
encontram-se os enunciados proferidos e transcritos. As transcrições foram realizadas por Alana Destri e
revisadas por Dalvane Althaus. O material completo se encontra com a pedagoga-pesquisadora e com o
GP LADHumano. A transcrição segue as normas do projeto NURC, com os seguintes símbolos e
significados: ( )”, palavras não compreendidas; (x), hipótese do que se ouve; /, truncamentos na fala;
XXX, entonação na fala; :, prolongamento; , silabação; ...”, pausa; ((x)), comentários do transcritor; -
- x --, digressão na sequência temática; [”, sobreposição de vozes; , citações literais (PRETI, 2001).
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|87|
é:: ou conto uma piadinha no meio ou traz um vídeo meio engraçado:: né? eu tenho sempre
uns videozinhos engraçados aí
Fonte: Banco de dados do GP LADHumano, produzidos em 2013 e disponíveis em Althaus (2019, p. 75).
Nesse excerto, PC destaca a situação de ter cinco aulas seguidas e, apesar de ser um
pedido seu atendido pelo Coordenador, solta um riso que parece nervoso (Turno T.
01). Isso revela que pode haver algum problema com esse horário. A IP pergunta se está
dando certo e PC responde que não vê como positivo, e por isso já solicitou uma
alteração para as próximas turmas.
Diante dessa dificuldade revelada por PC, IA, interveniente em formação, lança-se por
alternância de turno com IP para questionar se o professor teria alguma estratégia para
manter a atenção dos alunos (T. 09). Esse questionamento traz a ideia de que é
necessário ter estratégias em sala de aula, a fim de evitar a monotonia. As palavras em
caixa alta,MANTER,CINCO eMUITO, marcam um discurso mais impulsivo, com
entonações fortes. Embora, possa ser uma concordância com o posicionamento do PC
no turno 3, quando diz que não vê como positivo a situação, pode ser entendida
também como umaescorregada para a posição de especialista na atividade docente,
que sugere algo. Entretanto, a interveniente logo modera seu posicionamento fazendo
uma correção em seu discurso, dizendo que é cansativo independente da matéria.
Além disso, tal complemento, invoca o sobredestinatário (BAKHTIN, 2011;
VOLÓCHINOV, 2017), pois para qualquer professor poderia ser cansativo trabalhar
cinco aulas seguidas de auditoria contábil, com a mesma turma.
PC demonstra se sentir afetado com a pergunta de IA, pois ele se sobrepõe a voz dela
para justificar que é a questão do tempo e não de estratégia de aula. Porém, a IA retoma
a palavra e questiona novamente de modo mais direto e diz então tem alguma
estratégia? (T. 11). Outra vez, o professor interrompe a fala da interveniente e responde
de maneira titubeante que não tem, ou não lembra de ter formas diferentes para
trabalhar.
Nesse ponto, a interveniente em formação não dá continuidade ao desenvolvimento da
questão e coube a IP prosseguir, que, então, retoma a questão sobre estratégias
relacionando com a ideia trazida anteriormente pelo próprio professor de que não estava
sendo positivo do modo como vinha sendo feito: será que não ajudaria: ter uma
estratégia? pensando quando é um período LONGO assim que você falou que o deu
certo... ? já viu que:: não dá para continuar assim (T. 13). Essa pergunta, comparada
com as outras realizadas pela IP, mostra um juízo de valor maior ao questionar na
condicional. Isto é, nessa relação interlocutiva, com a intervenção de IA, IP passa de um
tom menos valorativo para mais. O PC ensaia a resposta com a ideia de que não haveria
prejuízo”, mas o concluiu a palavra (T. 14). Isso indica que possivelmente ele está
reformulando” (ARIATI, 2018) seu pensamento.
Diante da dificuldade de o professor concluir que não haveria prejuízo, a IP insiste na
questão sobre a possibilidade de estratégias extras. PC, então, efetua uma reformulação
respaldado no coletivo dizendo quea gente procura colocar alguns exercícios (T. 16).
Assim, diante de novos questionamentos o professor pode repensar sobre o modo como
vinha realizando sua atividade e se recorda que lança mão, também, de piadinhas e
vídeozinhos engraçados, mas que estes não são conteúdos (T. 18).
A mudança de posicionamento do professor, que, inicialmente, afirma não ter estratégias
extras, e, na sequência, consegue as identificar no seu trabalho realizado e explicar
algumas possibilidades, ocorre por meio do diálogo com as intervenientes. Isso pode ser
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|88|
mais bem compreendido a partir de Vigotski (1998), que afirma que é através do
pensamento que as palavras passam a existir. Portanto, ao dialogar sobre sua atividade
com as intervenientes o professor elucida para ele mesmo sobre o seu modo de agir e o
valor que isso tem do seu ponto de vista. As suas estratégias verbalizadas no diminutivo
indicam que o professor as considera de pouco valor, possivelmente não se sente
realizado no trabalho.
Em suma, esse excerto inicia com o professor apresentando uma dificuldade, que
considera encargo de o coordenador de curso resolver e com a IP fazendo perguntas de
modo mais imparcial. Porém, a entrada da interveniente em formação, IA, de uma
maneira mais impulsiva dando a entender que é atribuição do professor ter estratégias
extras em aula leva ele a demonstrar um afetamento, marcado pela dinâmica do diálogo
com interrupções, pausas, alongamento das vogais, truncamento e repetição de
palavras. Isto é, desloca-o da zona de conforto. A continuidade da interação com a IP,
que adere ao tom mais valorativo, conduziu-o a perceber mais claramente como tem
desenvolvido sua atividade e a revelar um descontentamento com suas estratégias
descritas no diminutivo.
Poder-se-ia analisar se, em relação à docência, PC estaria desviando do gênero
profissional pelo fato de os videozinho e as piadinhas não terem relação com o
conteúdo, ou se estaria buscando manter a atenção dos alunos, e sua própria, ou se
seria uma estratégia utilizada já por outros professores em outros contextos. Entretanto,
não é o foco deste texto.
Ressalta-se que, o juízo de valor colocado nas questões direcionados ao professor é
embasado em sua fala anterior. E, apesar, de o professor ter conseguido perceber o que
faz em sala e o valor que sua ação tem para ele mesmo, não houve incios de que na
sequência tenha introduzido mudanças na atividade. Porém, desligou-se da carreira
docente. Muito embora, não seja possível afirmar com certeza que tenha sido um
resultado clínico, um estudo que analisou o material dialógico produzido com PC, aponta
que: pode-se considerar que ela [a intervenção] tenha contribuído para que ele refletisse
mais sobre sua atividade profissional, que olhasse para sua saúde e conseguisse
encontrar uma nova forma de agir, de buscar saúde (SARTORI, 2017, p. 90). Utilizar
estratégias de ensino de pouco valor é motivo de desrealização na docência, por
conseguinte pode afetar a saúde do professor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este texto, tratou do trabalho do pedagogo pela via da CA, para tanto apresentou-se uma
experiência estudada mais amplamente em uma tese sobre os aspectos da formação e
do papel do interveniente (ALTHAUS, 2019). O interesse pelo tema teve origem a partir
da experiência de uma pedagoga-pesquisadora que se tornou pedagoga-interveniente
em CA.
Desse modo, desenvolveu-se cinco tópicos. No primeiro, resgatou-se brevemente as
primeiras experiências como pedagoga em colégios estaduais, na modalidade de
educação básica, evidenciando-se a sobrecarga de tarefas na atividade de coordenador
pedagógico. No segundo, relatou-se sobre o ingresso da pedagoga no ensino superior
e a posição de especialista na atividade dos professores, bem como a dificuldade para
atuar na formação docente continuada. No terceiro, apresentou-se uma possibilidade de
recriação da atividade do pedagogo por meio da CA, que desloca o trabalho do
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|89|
pedagogo de especialista na atividade docente para o organizador do ambiente em que
o professor é o protagonista do desenvolvimento de suas práticas, e os procedimentos
de formação para se tornar interveniente. No quarto, descreve-se a CA e alguns
conceitos imprescindíveis nesse meio, tais como:real da atividade”, gênero de
atividade e autoconfrontação. No quinto, mostrou-se um excerto de uma transcrição
de autoconfrontação simples com um professor de Ciências Conbeis, e uma análise
sucinta da relação interlocutiva e os desdobramentos para o professor e para as
intervenientes.
Ressalta-se que, o exercício do trabalho de coordenação pedagógica na posição de
especialista na atividade docente é dominante nesse gênero. Foi aprendido por esta
pesquisadora na formação inicial no curso de Pedagogia e na prática desta atividade,
inicialmente, na educação básica e, na sequência, no ensino superior. Contudo, foram
muitas as dificuldades e tensões para exercer o trabalho nessa posição de expert, que
julga e faz recomendações de boas práticas ao trabalho do outro (ALTHAUS, 2013;
2019).
No percurso profissional a pedagoga-pesquisadora teve a possibilidade de se aproximar
da CA e com isso a oportunidade de efetuar mudanças em sua atuação pedagógica
(ALTHAUS, 2013). Pois, diferentemente da posição de especialista na atividade do outro
a CA visa a provocar transformações em situações de trabalho tendo o profissional como
protagonista (CLOT, 2010). Isso porque, de modo geral, o gênero é como uma senha
conhecida apenas pelos agentes da atividade e formam repertórios de modos de agir,
que servem para os trabalhadores saberem o que devem/podem ou não fazer ou como
agir diante de imprevistos e impedimentos (ALTHAUS, 2019, p. 121).
Desse modo, a CA contribui para que os docentes (re)descubram outras possibilidades
de agir diferentes das efetuadas no momento da ação por meio de métodos indiretos, tal
como a autoconfrontão. Nesta, os professores são levados a se observarem e se
veem conduzindo a aula para que então eles mesmos possam perceber como fazem e
como podem fazer diferente, isto é, eles têm a oportunidade de ampliar sua consciência
profissional (LIMA A, 2016c). Na amostra apresentada e discutida, observou-se
resultados clínicos de afetamento do professor, que o levou a pensar e a repensar sua
prática.
Para tanto, o pedagogo que deseja atuar em CA precisa passar por um processo de
formação, assim como a referida pedagoga o fez. Tal formação envolve estudar e
praticar CA, com o apoio de grupo de pesquisa e de um par mais experiente (VIGOTSKI,
2007; ALTHAUS, 2019).
Desse modo, nas sessões de autoconfrontação se tem uma interveniente mais
experiente, denominada de interveniente principal (IP), e uma interveniente em formação
auxiliando (interveniente auxiliar IA) na intervenção enquanto acompanha e aprende a
atuar em CA. Constatou-se no estudo da tese, e na amostra aqui apresentada, que a
interveniente em formação se lança para intervir apoiada em seu par mais experiente,
nesse caso, por alternância de turno e deixando o desenvolvimento do assunto para a
IP continuar.
Embora, a CA tenha uma orientação clara para o se colocar como especialista na
atividade do outro, na prática isso é difícil de ser implementado. O excerto analisado
mostra as intervenientes oscilando no juízo de valor ora para menos, ora para mais
das questões lançadas ao professor. Isso pode ser compreendido tendo em vista o
conceito de atividade reguladora que: corresponde a um processo de oscilação do
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|90|
sujeito falante entre opostos contraditórios implicados em sua ação/atividade (LIMA A,
2017, p. 127). Segundo o autor, essa regulação é identificada com maior grau nas
situações de comunicação em que o sujeito não domina completamente o gênero em
uso, fenômeno esse observável na IF, porém mesmo em sujeitos que com mais
experiência em determinado gênero a oscilação não cessa totalmente porque a língua é
viva e a atividade também. Nesse caso, percebeu-se, que a IA inicia com uma entonação
mais valorativa e vai buscandoregular (LIMA A, 2010b) seus enunciados. Contudo, a
IP, que mesmo sendo mais experiente, também, regula sua posição de menos
valorativa para mais. Isso remete a ideia de que o interveniente ter um par interlocutor,
isto é outro interveniente durante a sessão, ajuda-o a organizar seu pensamento e a
ajustar seu posicionamento de interveniente durante a autoconfrontação (VIGOTSKI,
2007; BAKHTIN, 2011).
Diante disso, considera-se que a CA, além de contribuir para o desenvolvimento das
práticas docentes, contribui também para a recriação da atividade do pedagogo, tal qual
desta autora e de outros
13
,
que buscam na CA ou apoio para realização do trabalho, ou
para pesquisa, ou mesmo inspiração.
REFERÊNCIAS
ALTHAUS, Dalvane. Complexidade e Relencia de um Gesto Profissional Docente Aparentemente
Simples. 2013. 200 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco,
2013. Disponível em
http://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/755/1/PB_PPGDR_M_Althaus%2c%20Dalvane_2013.pdf
ALTHAUS, Dalvane. Aspectos da formação e do papel do interveniente na Clínica da Atividade: um estudo
de caso em situação de autoconfrontação. 1 recurso online (163 p.). Tese (doutorado) - Universidade
Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP, 2019. Disponível em <
http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/335042/1/Althaus_Dalvane_D.pdf> Acesso em 31 de
jan de 2020.
ALTHAUS, Dalvane; BANKS-LEITE, Luci. O interveniente em clínica da atividade: considerações sobre seu
papel e sua formação. Horizontes, V. 35, n. 3, 2017, p. 121-132.ANASTASIOU, Léa. Estratégias e técnicas
de ensino. In: Semana de Planejamento de Ensino do 1º Semestre de 2011. Palestra. Pato Branco, UTFPR,
2011.
ANJOS, Daniela Dias dos. A profissão docente em questão: nero de atividade, gênero de discurso e
habitus. 2013. 225 p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação,
Campinas, SP, 2013.
ARIATI, Solange. Autoparáfrase em situação de autoconfrontação: pensando e (re)pensando o ensino de
matemática no ensino superior. 2018. Dissertação (Mestrado em Letras) - Programa de Pós-Graduação
em Letras na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2018.
BAKHTIN, Mikhail (Volochínov). Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 4.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2011.
BARRICELLI, Ermelinda. Transformações e conflitos no processo de elaboração, de difuo e de utilização
de instruções oficiais de educação infantil: um estudo genealógico. 2012. 222 f. Tese (Doutorado em
Linguística) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2012.
13
Pode-se citar outros pedagogos, como Barricelli (2012), Anjos (2013), Brito (2017), Guimarães (2017),
Mariutti (2017), Ramos (2017), Rodrigues (2017), Santos (2018), que têm buscado na CA pressupostos para
atuação prática e/ou de pesquisa.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|91|
BATISTA, MATILDE A.; RABELO, LAÍS. Imagine que eu sou seu sósia. Aspectos técnicos de um todo
em clínica da atividade. Cadernos De Psicologia Social Do Trabalho, 16(1), 1-8, 2013.
BRITO, Ana Paula Souza. Orientador/a pedagógico/a: o que você faz na escola?: uma análise dos diferentes
estilos e do gênero de atividade. 2017. 1 recurso online (202 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual
de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP, 2017.
CLOT, Yves. A função psicológica do trabalho. Trad. Adail Sobral. Petpolis: Vozes, 2006.
CLOT, Yves. De l'analyse des pratiques au développement des tiers, Éducation et didactique [En ligne],
vol 1 - n°1, avril 2007. Disponível em: http://journals.openedition.org/educationdidactique/106. Acesso em 08
mai 2018.
CLOT, Yves. La recherche fondamentale de terrain: une troisième voie. Education Permanente, vol 4, n.
177, 2008, p. 67-79.
CLOT, Yves. Trabalho e poder de agir. Trad. Guilherme João de Freitas Teixeira e Marlene Machado Zica
Vianna. Belo Horizonte: Fabrefactum, 2010.
CLOT, Yves Clínica do Trabalho e clínica da atividade. In: BENDASSOLLI, Pedro F.; SOBOLL, Lis A. (orgs.).
Clínicas do Trabalho: novas perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade. São Paulo: Atlas,
2011, p. 71-83.
CLOT, Yves. A interfuncionalidade dos afetos, das emoções e dos sentimentos: o poder de ser afetado e o
poder de agir. Trad. Luci Banks-Leite. In: BANKS-LEITE, Luci; SMOLKA, Ana L. e ANJOS, Daniela D. (org.)
Diálogos na perspectiva histórico-cultural: interlocuções com a clínica da atividade. Campinas: Mercado
das Letras, 2016, p. 87-95.
CLOT, Yves. Clínica da Atividade. Tradução Suélen Maria Rocha e Emily Carolina da Silva. Horizontes. v.
35, n. 3, p. 18-22, set./dez. 2017. Disponível em http://revistahorizontes.usf.edu.br/horizontes-
/article/view/526/239. Acesso em 16 ago. 2018.
CLOT, Yves; FAÏTA, Daniel. neros e estilos em análise do trabalho: conceitos e todos. Trad. Rozânia
Moraes; Aline L. G. Farias. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v.25, n.2, p. 33-60, mai-ago de 2016.
CUNHA, Maria Isabel da. O bom professor e sua prática. Campinas: Papirus, 6ª reimpr., 1997.
CRUZ, Giseli B. da. Curso de pedagogia no Brasil: história e formação com pedagogos primordiais. Rio
de Janeiro: Wak editora, 2011.
FAÏTA, Daniel. La conduite du TGV: exercices de style. Cahier Langage & Travail, França, N. 8, 1997.
FAÏTA, Daniel. Entrevista: De lenseignement de la linguistique générale à l’analyse du travail enseignant.
Entrevistadoras: Daniela Anjos e Ermelinda Barricelli. Horizontes, V. 35, n. 3, 2017, p. 8-17.
FERREIRA, Naura S. C. Os impactos da contemporaneidade na formação humana e profissional. In:
Semana de Planejamento de Ensino do 1º Semestre de 2009. Palestra. Pato Branco, UTFPR, 2009.
FERRI, Alceno A. Compromisso Social do professor universitário. In: Semana de Planejamento de Ensino
do 1º Semestre de. Palestra. Pato Branco, UTFPR, 2007.
GASPARIN, João L. Uma didática para pedagogia histórico-crítica. 3. ed. rev. Campinas: Autores
Associados, 2005.
GATTI, Bernardete A. Formação do professor pesquisador para o ensino superior: desafios. In. BARBOSA,
Raquel Lazzari Leite (Org.) Trajetórias e perspectivas da formação de educadores. São Paulo: Editora
UNESP, 2004, v. 01, p. 433-442.
GIL, Antônio C. Metodologia do ensino superior. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2005.
GUIMARÃES, Núbia Silvia. O trabalho com literatura e o desenvolvimento cultural de adultos e crianças na
educação infantil. 2017. 1 recurso online (260 p.). Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Educação, Campinas, SP, 2017.
LEITE, José Carlos C. (org.). UTFPR: uma história de 100 anos. Curitiba: Ed. UTFPR, 2010.
LEITE, Sérgio. A. S.; BERNARDO, F. O.; MOREIRA, A. L. A. Espaço de formação pedagógica para o
docente no ensino superior: entrevista com Sérgio Leite. Revista Docência do Ensino Superior, v. 7, 2017,
p. 211-221.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|92|
LIBANEO, Jo C. Didática. 24. reimpr. São Paulo: Cortez, 2005.
LIMA, Anselmo. P. (Re)pensando o Problema dos Gêneros do Discurso por meio de uma relação entre
Bakhtin e Vigotsky. Bakhtiniana. São Paulo, V. 1, N. 3, p. 113-126, 1º sem., 2010a.
LIMA, Anselmo. P. Visitas Técnicas: interação escola-empresa. Curitiba: CRV, 2010b.
LIMA, Anselmo. P. Clínica da Atividade Docente. Blog. 2016a. Disponível em:
http://formacaoesaudedoprofessor.com/2016/03/28/clinica-da-atividade-docente-uma-proposta-de-
formacao-continuada-e-de-promocao-da-saude-do-professor-no-trabalho Acesso em 07 de fev de 2017.
LIMA, Anselmo. P. Como ocorrem nas escolas as tradicionais iniciativas de formação docente continuada e
qual é o resultado. Blog. 2016b. Disponível em: https://formacaoesaudedoprofessor.com/2016/02/01/como-
ocorrem-nas-instituicoes-de-ensino-as-tradicionais-iniciativas-de-formacao-docente-continuada-e-qual-e-o-
resultado/. Acesso em 25 de jun de 2018.
LIMA, Anselmo. P. Consciência Profissional: o professor diante do espelho. Blog. 2016c. Disponível em:
http://formacaoesaudedoprofessor.com/2016/03/07/consciencia-profissional-no-trabalho-docente-em-sala-
de-aula-implicacoes-para-a-saude-do-professor/ Acesso em 17 de jan de 2020.
LIMA, Anselmo. P. Discurso e atividade reguladora. In: Maria da Glória di Fanti; Helena Nagamine Brandão.
(Org.). Discurso: tessituras de linguagem e trabalho. São Paulo: Cortez, 2017, p. 127-146.
LIMA, Anselmo. P; ALTHAUS, Dalvane. Formação docente continuada, desenvolvimento de práticas
pedagógicas em sala de aula e promoção da saúde do professor: relações necessárias. Revista Brasileira
de Estudos Pedagógicos. V. 97, n. 245, jan./abr. 2016.
LIMA, Anselmo. P; ALTHAUS, Dalvane; RODRIGUES, Claudinéia L. S. (). Formação Docente Continuada
e Desenvolvimento do Protagonismo Discente na Universidade: faces de uma mesma moeda. Revista
Synergismus Scyentifica, Pato Branco V6 (1), 2011.
LIMA, Maria Elizabeth A.; BATISTA, Matilde Agero. O papel do expert/especialista versus Clínico/intervenant
em clínica da atividade afinal quem analisa a atividade de trabalho? In: BANKS-LEITE, Luci; SMOLKA,
Ana L. e ANJOS, Daniela D. (org.) Diálogos na perspectiva histórico-cultural: interlocuções com a clínica
da atividade. Campinas: Mercado das Letras, 2016, p. 113-129.
MARIUTTI, Mariana Martins Volpato. A dimeno pedagógica no métier da diretora. 2017. 1 recurso online
(190 p.). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação,
Campinas, SP, 2017.
MUNIZ-OLIVEIRA, Siderlene. A instrução ao sósia e a formação docente. In: 17º Congresso de Leitura do
Brasil, 2009, Campinas. 17º Congresso de Leitura do Brasil, 2009.
NUNES, Cesar. A educação e os desafios contemporâneos. In: Semana de Planejamento de Ensino do 1º
Semestre de 2008. Palestra. Pato Branco, UTFPR, 2008.
OSÓRIO, Claudia; BARROS, Maria E. de B.; LOUZADA, Ana P. F. Clínica da Atividade: dos conceitos às
apropriações no Brasil. In: BENDASSOLLI, Pedro F.; SOBOLL, Lis A. (orgs.). Clínicas do Trabalho: novas
perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade. São Paulo: Atlas, 2011, p. 188-207.
PARA. Lei complementar nº.103/2004. 2004. Disponível em https://www.legislacao.pr.gov.br-
/legislacao/pesquisarAto.do?action=exibir&codAto=7470&codItemAto=63745. Acesso em 1 de jun. de 2019.
PIMENTA, Selma. G.; ANASTASIOU, Lea. G. C. Docência no ensino superior. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
PRETI, Dino. (org.). Análise de textos orais. 5.ed. São Paulo: Humanitas, 2001.
RAMOS, Elizangela K. Desenvolvimento de práticas pedagógicas por meio da implementação de uma
clínica da atividade docente no Colégio Estadual Carlos Gomes. 2017. 99 f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Regional) Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.
RAMOS, Elizangela K. Desenvolvimento de práticas pedagógicas por meio da implementação de uma
clínica da atividade docente no Colégio Estadual Carlos Gomes. 2017. 99 f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Regional) Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.75-93 | jan-abr | 2020
|93|
RANGEL, Mary. Supervisão: do sonho à ação: uma prática em transformação. In: FERREIRA, Naura S. C.
(org.) Supervisão Educacional: para uma escola de qualidade da formação à ação. 2. Ed. São Paulo:
Cortez, 2000, p. 69-96.
RANGEL, Mary. Considerações sobre o papel do supervisor, como especialista em educação, na América
Latina. In: SILVA JUNIOR, Celestino A. da; RANGEL, Mary (orgs.). Nove olhares sobre a supervisão. 14.
Ed. Campinas: Papirus, 2008, p. 147-161.
RODRIGUES, Sirlei. A semana pedagica como formação continuada de professores: um olhar a partir do
método de instrução ao sósia. 2017. 126 f. Dissertação (Mestrado em Letras) Programa de Pós-
Graduação em Letras, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.
SANTOS, Clarice D. da S. Práticas pedagógicas: um olhar a partir da clínica da atividade. 2018. Dissertação
(Mestrado em Desenvolvimento Regional) Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2018.
SARTORI, Danieli G. Construção de sentidos da sobrecarga no trabalho de professores do magistério
superior: saúde via atividade liguageira. 2017. Dissertação (Mestrado em Letras) Programa de
PósGraduação em Letras, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Pato Branco, 2017.
SAVIANI, Dermeval. A supervisão Educacional em perspectiva histórica: da função à profissão pela
mediação da ideia. In: FERREIRA, Naura S. C. (org.) Supervisão Educacional: para uma escola de
qualidade da formação à ação. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2000, p. 13-38.
SILVA JUNIOR, Celestino A. Supervio, currículo e Avaliação. In: FERREIRA, Naura S. C. (org.)
Supervisão Educacional: para uma escola de qualidade da formação à ação. 2. Ed. São Paulo: Cortez,
2000, p. 223-233.
SILVA JUNIOR, Celestino A.. Organização do trabalho na escola pública: o pedagógico e o administrativo
na ação supervisora. In: _______.; RANGEL, Mary (orgs.). Nove olhares sobre a supervisão. 14. Ed.
Campinas: Papirus, 2008, p. 91-109.
VIGOTSKI, Lev. S. Teoria e método em psicologia. Trad. Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes,
1996.
VIGOTSKI, Lev. S. Pensamento e linguagem. Trad. Jefferson Luiz Camargo. 2.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
VIGOTSKI, Lev. S. A formação social da mente. Trad. Jo Cipolla Neto et al. 7.ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2007.
VOLOCHINOV, Valentin. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do todo
sociológico na ciência da linguagem. Trad. Sheila Grillo e Ekaterina V. Arico. São Paulo: Editora 34, 2017.
WERNECK, Hamilton. Avaliação. In: Semana de Planejamento de Ensino do 2º Semestre de 2008.
Palestra. Pato Branco, UTFPR, 2008.
ZABALZA, Miguel A. O Ensino Universitário: seu cenário e seus protagonistas. Trad. Ernani Rosa. Porto
Alegre: Artmed, 2004.
Data da submissão: 20/04/2020
Data da aprovação: 18/05/2020