Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|7|
DOI: https://doi.org/10.17648/2238-037X-trabedu-v29n1-20987
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
EDITORIAL
TRABALHO & EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PANDEMIA E CRISE DO
CAPITAL
A presente edição da revista Trabalho & Educação, v. 29, n. 1 (2020), chega em um
trágico momento da história contemporânea e, particularmente, do nosso país. Ainda
não é possível estimar o número de óbitos que decorrerão da pandemia do novo
coronavírus (Covid-19), mas já se percebe brutalmente como ela agrava outras crises
que já estavam em curso, a exemplo das crises ecomica e social. O caráter
eminentemente global destas evidencia a complexidade do sistema capitalista e sua
dependência da explorão da força de trabalho e gerão de mais valia para sustentar
o ritmo da acumulação de capital. Diante da maior calamidade sanitária e da mais grave
crise econômica de nossa época, a previsão é de recessão e queda na prodão
mundial em torno de 3% neste ano (FMI, 2020) e fechamento de milhões de postos de
trabalho. No caso do nosso país, a previsão do Relatório de Mercado, publicado pelo
Banco Central em 22 de maio de 2020, é de uma queda de 5,89% do PIB brasileiro, a
maior já registrada na história do Brasil (BC, 2020).
No Brasil, em um momento de urgência histórica da ação efetiva do Estado para
enfrentamento da epidemia por meio de investimentos em saúde pública, incentivo ao
isolamento social e provisão de garantias de condições mínimas para sobrevivência da
grande massa vulnerabilizada, a política econômica dos Chicago Oldies
1
, a passos
lentos, concede o coronavoucher
2
à parte da população até o momento não alcançada
pelas ões governamentais. As insuficientes e desorientadas políticas governamentais
atuam no sentido de favorecer o setor privado e o financeiro
3
, enquanto assistimos a
agudizão da pobreza e o alargamento do fosso social.
As ações políticas conduzidas pelo governo federal brasileiro e pelo governo estadual de
Minas Gerais esgarçam ainda mais nosso frágil tecido social, fomentando a expansão
de desigualdades econômicas, exclusões sociais e crimes ambientais. Em um contexto
de pandemia, as desigualdades se tornam mais evidentes e expõem o fato de que
1
Termo empregado para fazer referência aos integrantes da equipe econômica do governo Bolsonaro (a
exemplo do próprio Ministro da Economia Paulo Guedes) que se formaram há algumas décadas na
Universidade de Chicago (EUA), escola fortemente alinhada ao pensamento econômico liberal. Tal alcunha
também lembra a expressão utilizada para se fazer menção a um grupo de economistas chilenos que
também tiveram formação acadêmica na mesma Escola e formularam as políticas econômicas da ditadura
do general Pinochet no Chile.
2
Coronavoucher ou aulio emergencial é o benefício instituído pela Lei 13.982/2020 aos trabalhadores
informais e de baixa renda tendo em vista a mitigação dos impactos sociais e econômicos decorrentes das
condições impostas pela pandemia do Covid-19.
3
A exemplo da Medida Provisória nº 936/2020 (permite a redução de carga horária atrelada à redução de
salários dos trabalhadores - públicos e privados - sem a participação dos sindicatos nas negociações) e da
Emenda Constitucional nº 106 de 07 de maio de 2020 (institui regime extraordinário fiscal, financeiro e de
contratações para enfrentamento da calamidade pública decorrente de pandemia).
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|8|
grande parte da população brasileira não tem acesso às condições mínimas de higiene
e possibilidades de se isolar em casa. Esta é a realidade de muitos que vivem em vilas
e favelas, daqueles que estão em situação de rua, da população carcerária brasileira,
bem como dos que seguem em trabalhos precários, sejam eles essenciais ou não. Neste
sentido, verifica-se que a pandemia carrega um recorte de classe, gênero e raça.
Não bastasse essa dura realidade brasileira, a pandemia do novo coronavírus nos atinge
num momento em que, mundialmente, o irracionalismo, o neopragmatismo, o
negacionismo e o fundamentalismo dominam, cada vez mais, os espos da vida. Essa
preocupante constatação nos traz à mente os mais sinistros momentos já vivenciados
na hisria humana.
Nesse cerio, o conhecimento científico, que poderia apontar possíveis caminhos para
minorar nossas agruras, é renegado por necropolíticas (MBEMBE, 2018) responsáveis
por agravar os infortúnios que nos assolam, em meio a ondas de desinformões que
inundam a internet e as redes sociais online. As tecnologias de informação e
comunicação, que poderiam constituir instrumentos para atenuar nossas atuais
desventuras, são cada vez mais empregadas para estabelecer um poder informacional
(BRAMAN, 2006) que está a serviço de grupos que assumem abertamente identidades
fascistas e aliam-se a hostes de milicianos facínoras e corruptos.
Diante da suspensão temporária da educão presencial, imposta pela necessidade de
desacelerar a propagação do COVID-19, as instituições de ensino privadas vêm na
Educão a Distância (EaD) um instrumento para manter o mercado educacional em
operão, preservar taxas de retorno de investimento, índices de lucratividade e
payback. Para as classes menos favorecidas da sociedade, o resultado não poderia ser
pior. Grande parte da população brasileira não possui os instrumentos tecnológicos
mínimos e acesso à Internet com a qualidade necessária para participar efetivamente
das dinâmicas pedagógicas não presenciais. Além disso, boa parte das instituições de
ensino denominadas públicas, financiadas pelo Estado, não possuem recursos
financeiros, tecnológicos e humanos para migrar o ensino para o ambiente digital. Assim,
ampliam-se antigas desigualdades socioeducativas, num evidente favorecimento das
classes mais abastadas da sociedade brasileira.
Nesse angustiante cenário, a equipe editorial da revista Trabalho & Educação seguiu
suas atividades por meio do trabalho remoto e reuniões via internet. Privados dos nossos
saudáveis encontros presenciais, enfrentamos o desafio de manter a regularidade da
revista em meio a esse turbilhão que nos tragou. Para suplantar as dificuldades editoriais,
alguns elementos nos motivaram e alimentaram nosso desejo de superação. Em
primeiro lugar, o desejo de contribuir com a prodão e a difusão de conhecimentos
científicos que tenham como horizonte a perspectiva emancipatória. Em segundo lugar,
o compromisso com a própria revista, importante veículo a serviço da educação, da
prodão e divulgação de saberes. Ademais, o respeito com autores e autoras que nos
confiaram seus trabalhos acadêmicos e resultados de pesquisas. E finalmente, mas não
menos importante, o desejo de manter nossos leitores atualizados em relação às
prodões acadêmicas do campo Trabalho e Educação comprometidas com o
pensamento crítico. O resultado desse esforço coletivo é o que nossos leitores e leitoras
podem agora conhecer.
Em primeiro lugar, merece destaque nesta edição, a entrevista que o Professor Luís
ALCOFORADO concedeu para Carlos COSTA e José G. OLIVEIRA. Alcoforado é
professor da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|9|
Coimbra, onde coordena o Mestrado em Educação e Formação de Adultos e
Intervenção Comunitária. Os entrevistadores conduzem o entrevistado a discorrer sobre
instigantes temáticas que incluem, por exemplo, a educação continuada e o aprendizado
da vida; os primórdios do pensamento pedagógico contemporâneo; o surgimento e a
evolução das universidades europeias; os desafios futuros a serem enfrentados pelas
universidades; o trabalho na era s-industrial, também chamada de era da indústria 4.0;
as contribuições de Walter Benjamin, Luc Ferry e Paulo Freire para essas questões; as
relações entre universidade e mercado; dentre outros temas.
Abrindo a são de artigos, Leonardo Moura Lima Calmon de SIQUEIRA e Laura Neves
de SOUZA questionam a proposta, publicada em 2018 pelo Banco Mundial, de
investimento em capital humano como uma solução para o desemprego estrutural
decorrente da adão das novas tecnologias da robótica e da inteligência artificial. Para
atingir esse objetivo, os autores tomam por base: (1) a análise da inserção dos
trabalhadores brasileiros no mercado de trabalho do país, a partir da perspectiva das
credenciais educacionais destes trabalhadores, por meio dos dados do IBGE na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para o período de 2001 a 2015;
(2) os impactos sobre o trabalho que decorrem da adoção das novas tecnologias; (3) as
transformações atuais do mundo do trabalho e os desafios decorrentes das
metamorfoses vivenciadas pela classe-que-vive-do-trabalho. O artigo conclui ser
oportuna a reflexão sobre uma alternativa de política pública educacional que tenha por
propósito o desenvolvimento de uma compreensão crítica da sociedade brasileira,
levando em consideração não apenas a formação para o trabalho, mas, também para a
atuação social e política.
O artigo apresentado por Julierme Antônio dos SANTOS e Bruna Tarcília FERRAZ
ressalta o papel político do educador como sujeito que deve contribuir para a formação
crítica dos cidadãos e discute a importância do fortalecimento da identidade docente a
partir do acesso a uma educão de qualidade. O ponto central do artigo está em discutir
o papel da formão continuada de professores para o Ensino Médio, bem como avaliar,
por meio de pesquisa qualitativa junto aos professores orientadores de estudo, as
contribuições vivenciadas com o Programa Nacional de Fortalecimento do Ensino Médio
(PNEM). Os autores destacam a importância da continuidade nos processos de
formão docente como elemento que fomenta a reflexividade crítica e contribui para o
conjunto da categoria na luta por melhores condições para a educação.
Alexsandra Joelma Dal Pizzol COELHO e Nilson Marcos Dias GARCIA investigaram as
motivações que levaram a permanência ou abandono dos estudantes trabalhadores de
uma Instituição Federal com campi em Joinville e Jaraguá do Sul (Santa Catarina/ PR)
na Educação Profissional. Com base na concepção de trabalho como categoria central
e prinpio educativo, COELHO e GARCIA dialogaram com autores de diferentes
correntes tricas contribuindo para enriquecer a discussão em torno da questão em
tela. Desde a perspectiva de que a permanência e o abandono escolar envolvem muitos
fatores, a pesquisa, de caráter qualitativo, buscou contemplar os seguintes aspectos: (1)
Fatores internos - compreensão dos motivadores institucionais para permanência ou
abandono; (2) Fatores externos - questões sociais, econômicos e culturais para tais
motivadores; (3) Fatores pedagógicos - internos e externos na relação ensino
aprendizagem; e (4) Políticas públicas e ações de apoio à permanência - buscando
avaliar a compreensão dos estudantes sobre as mesmas.
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|10|
Elisabete CORCETTI e Maria das Dores Saraiva de LORETO apresentam o resultado
de pesquisa de doutorado que investigou as políticas públicas de validação e
reconhecimento de aprendizagens informais e não formais em Portugal e também no
Brasil. O artigo objetiva verificar as lógicas, os pressupostos e as crenças no contexto do
desenho das políticas blicas de educação e formação de adultos em Portugal, a partir
do ano de 2015. A pesquisa, qualitativa e transdisciplinar, estabelece um diálogo entre
os princípios epistemológicos dos estudos discursivos críticos com a pedagogia crítica.
Nos termos das autoras, os resultados da análise revelam que o discurso do Programa
Qualifica prioriza a continuidade dos estudos em setores e ambientes formais, em
detrimento da valorização de aprendizagens nos setores informais e não formais,
mantendo a finalidade de gestão de recursos humanos, em uma lógica de preparação
de mão de obra, direcionada para as demandas do mercado de trabalho.
A partir de resultados de tese de doutorado defendida junto à Faculdade de Educação
da Universidade Estadual de Campinas (FE/Unicamp), Dalvane ALTHAUS versa sobre
a experiência de uma pedagoga que entra em contato a abordagem teórico-
metodológica denominada Clínica da Atividade (CA), ligada a psicologia do trabalho.
Criada por Yves Clot (2010) e seus colaboradores, esta almeja, por meio de um
movimento psicológico-dialógico de auto-observação, promover mudaas nas
situações de trabalho, que têm o professor como protagonista de sua prática e o
pedagogo como organizador do processo. Levado a se observar em sua atividade e por
meio de um diálogo com outros e consigo mesmo, o professor passa a se perceber
naquela ação e a compreender de que maneira poderá se transformar. Ao longo do
texto, a autora exe a trajetória da pedagoga em questão, seu encontro com a nova
abordagem pedagógica da CA, bem como apresenta algumas especificidades desta
juntamente com uma amostra de interveão e sua breve análise, tecendo por fim, suas
considerações.
O artigo de Elvira Cristina Martins TASSONI e Bruna Aparecida Alves ALMEIDA traz
resultados de uma pesquisa que investigou a produção acadêmica dos grupos de
pesquisas certificados pelo CNPq que têm como foco a formão de professores. As
autoras inventariaram as prodões desses grupos entre os anos de 2012 a 2015, o que
permitiu mapear as tendências que têm impulsionado as pesquisas científicas no campo
da formação de professores, delineando o movimento da área. Essas tendências foram
organizadas em quatro núcleos teticos que evidenciam as interfaces da formação de
professores com os saberes docentes e práticas pedagógicas; com as políticas
educacionais; a formação de professores nas diferentes etapas e modalidades de
ensino; e a formação inicial e continuada.
Amanda Cristina Ferreira MARINHO, Suzi Maria Nunes CORDEIRO e Helaine Patrícia
FERREIRA nos apresentam suas reflexões acerca do conhecimento de educadores da
Teoria Histórico-Cultural elaborada por Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934),
verificando a aplicabilidade dessa teoria na prática docente. O artigo é resultante de uma
pesquisa de caráter qualitativo, realizada junto a sete professores da rede municipal de
ensino do Estado do Paraná, através de questionário semiestruturado e
sociodemográfico. A investigão teve como o objetivo principal identificar as
representações sociais de professoras que atuam nos anos iniciais do ensino
fundamental na rede municipal de ensino do Estado do Paraná sobre a teoria
vygotskyana, de modo a compreender como estas representações repercutem (ou não)
na ação pedagógica. Os dados analisados à luz da Teoria das Representações Sociais
levaram as autoras à hipótese de que há uma dicotomia entre a teoria e a prática na
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|11|
formão dos professores, fazendo com que o entendimento que possuem acerca da
Teoria Histórico-Cultural não seja aplicado à prática docente. O artigo retoma ainda a
importância de Vygotsky para a educação.
O trabalho de Álvaro Bubola POSSATO e Patrícia Ortiz MONTEIRO analisa o modo
como os docentes do ensino profissionalizante fazem uso de ferramentas de tecnologia
de informão e comunicação com vistas à entender como o uso destas tecnologias
podem impactar positivamente a atividade profissional desses docentes, melhorando
seu desempenho e fornecendo subsídios para sua prática. O artigo, fruto de pesquisa
descritiva e exploratória realizada com 16 professores do Vale da Paraíba/SP, aponta
desafios que os docentes de tecnologia da informação e comunicação enfrentam ao lidar
com a tecnologia, bem como a necessidade e importância das mesmas em suas
práticas.
A categoria política na obra do filósofo húngaro György Lukács é o eixo norteador das
reflexões que Daniel Handan TRIGINELLI e Sara Tatiane de JESUS nos apresentam
em seu artigo. Os autores colocam em relevo e discutem a categoria política em relação
ao desenvolvimento histórico humano. Daniel e Sara buscam atualizar a compreensão
e a influência que ela apresenta no desenvolvimento do ser social em seu processo
contínuo de reprodução. No mesmo sentido, os autores problematizam os efeitos dos
desdobramentos que a categoria política promove no momento histórico
contemporâneo, quando a humanidade se encontra diante da hegemonia da ordem do
capital. Nesse percurso, o artigo emprega não somente as lentes de Karl Marx e György
Lukács, mas tamm as contribuições de alguns de seus intérpretes, como Ester
Vaisman, Hormindo Pereira de Souza Junior e Ronaldo Vielmi Fortes.
Gênero e as relações sociais de sexo no bojo dos debates acerca da organizão e
divisão do trabalho são os temas tratados por Lucimara MOREIRA e Raquel QUIRINO.
O artigo traz um debate contemporâneo de grande relevância e necessidade para
compreensão da sociedade atual, levando em conta suas construções sociais e os
impactos destas na criação e manuteão de desigualdades, entre elas, a de gênero.
Partido principalmente dos estudos de Smith, Durkheim, Marx e Engels sobre a temática
da divisão do trabalho, e recorrendo às obras de Kergoat e Hirata sobre divisão sexual
do trabalho e relações sociais de sexo, as autoras demostram de forma crítica e
aprofundada, como a divisão sexual do trabalho contribui com a desvalorização social e
econômica das mulheres que, embora sejam um percentual significativo no mercado de
trabalho, ainda são socialmente e economicamente desvalorizadas e inferiorizadas em
relação aos homens. O artigo aborda a sobrecarga de trabalho comumente enfrentada
pelas e mulheres e ainda, a relevância dos estudos feministas no que tange à
importância de se reconhecer a dimensão sexual dos sujeitos situados no tempo e
espaço, para uma melhor compreensão acerca do trabalho e suas dinâmicas.
Iniciando a sessão de resumos de teses e dissertações, Flávia Assis ALVES apresenta
sua dissertação de mestrado profissional (FaE/UFMG), cuja pesquisa teve como
centralidade as narrativas das(os) trabalhadoras(es) nas experiências de trabalhos
coletivos, dentro dos princípios da economia solidária. A autora objetivou a compreensão
do processo de participação social das pessoas que vivem da proposta da economia
solidária para a constituição de sujeitos políticos, bem como propôs revelar o sentido do
trabalho associado para a vida destes sujeitos e como estes lidam com as contradições
impostas pelo modo de produção capitalista. Agradecemos a autora pela concessão da
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|12|
imagem, fruto de sua pesquisa, para a capa desta edição da revista Trabalho &
Educão.
O empreendedorismo, termo e prática que tem se tornado cada vez mais comum em
nosso cotidiano, apresentado e incentivado pela lógica neoliberal como uma ação
positiva do sujeito frente a períodos e situões de crise, é o tema do trabalho de Luana
Jéssica Oliveira CARMO, que analisa a história de vida e a trajetória de um
empreendedor à luz da ergologia. O trabalho de Carmo, fruto de sua dissertação de
mestrado, traz à tona o fato de que o discurso de valorização do empreendedorismo
camufla conflitos existentes entre capital e trabalho, assim como questões de
desemprego estrutural e o papel do mercado nesse processo, desmistificando o discurso
capitalista de sucesso individual. Ao tratar da atividade do empreendedor através da
história de vida, a autora nos possibilita verificar como essa metodologia permite ao
sujeito, refletir sobre sua prática e produzir conhecimentos sobre a atividade que exerce.
Por fim, Carmo aponta o empreendedorismo enquanto uma ideologia que distorce a
realidade.
Gleice Aparecida Santos SILVA apresenta os resultados encontrados em sua pesquisa
de mestrado a partir do pensamento do filósofo e médico Georges Canguilhem e os
conceitos elaborados por este acerca da saúde e da doea. Embasada na perspectiva
da ergologia, a autora investigou os desafios relacionados à readaptação funcional de
professores. A pesquisa, que teve como território o município de Belo Horizonte/MG,
utilizou como instrumento entrevistas semiestruturadas, realizadas com cinco
educadores em situação de readaptão. Para além dos desafios que a readaptação
traz para os professores, a pesquisa demonstra como esses reinventam suas vidas
frente à nova condição. O trabalho de SILVA torna-se ainda mais relevante quando
consideramos o crescentemero de adoecimento entre os professores, em especial,
os da rede pública de ensino.
Com um título que já nos convida à reflexão: Fim de jogo? A transição de carreira de ex-
atletas e o exercício da função gerencial, o texto de Amanda Fontes SILVA traz os
resultados de um estudo realizado pela autora, cuja temática ainda é incipiente no campo
da literatura da área. Amanda buscou compreender a influência da carreira esportiva no
desempenho da função gerencial a partir da perceão de ex-atletas. Elegendo carreira,
transição de carreira e função gerencial como categorias centrais, a autora analisa a
transição de carreira do atleta para a função gerencial e a as peculiaridades da profissão.
A pesquisa, de caráter qualitativo e descritivo, utilizou-se de entrevistas semiestruturadas
como instrumento e entrevistou seis ex-atletas profissionais que desempenharam a
função de gestor. A partir da metodologia de análise de conteúdo proposta por Bardin
(1977), foi possível constatar fatores-chave que atuaram como determinantes para a
construção da nova carreira.
Boa leitura!
Rodrigo Moreno Marques
4
4
Doutor em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Professor do Departamento de Teoria e Geso da Informação na Escola de Ciência da
Trabalho & Educação | v.29 | n.1 | p.7-13 | jan-abr | 2020
|13|
Neusa Pereira de Assis
5
Uyara de Salles Gomide
6
REFERÊNCIAS
BC (BANCO CENTRAL). Relatório de Mercado Focus, publicado em 22 de maio de
2020. Brasília: Banco Central, 2020.
BRAMAN, Sandra. Change of State Information, Policy and Power, London: MIT,
2006.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3. ed. São Paulo: N-1 edições, 2018.
FMI (FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL). World Economic Outlook Reports:
the great lockdown. Washington: FMI, 2020.
Informação da UFMG. Pós-doutor pela University of London (Reino Unido) e pela Faculdade de Educação
(FaE) da UFMG. E-mail: rodrigomorenomarques@yahoo.com.br.
5
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social pela
Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), Mestra em Educação pelo Centro de Educação
Tecnológica (CEFET/MG), Graduada em História pela Universidade de Sete Lagoas, Pesquisadora do
Grupo de Estudos e Pesquisa Marx, Trabalho e Educação (GEPMTE/UFMG), Professora da Rede Pública
de Ensino, Membro da Organização Social Luta Pelo Social e Militante do Movimento Negro. E-mail:
neusapassis@gmail.com.
6
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social pela
Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), Mestra em Economia pela Universidade Federal do
Ceará (CAEN/UFC), Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Viçosa (DEE/UFV).
Pesquisadora do Observatório Nacional do Sistema Prisional (ONASP/UFMG). E-mail:
uyara.salles@gmail.com.