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DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2021.24904
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
SONOLÊNCIA E FADIGA EM TRABALHADORES DIURNOS E
NOTURNOS
1
Sleepiness and fatigue among day and night workers
LUI REINHARDT, Érica
2
FISCHER, Frida Marina
3
RESUMO
A sonolência corresponde à maior propensão a adormecer e eleva-se com o trabalho noturno. A fadiga
é uma sensão de tensão ou exaustão induzida por esfoo e aumenta com turnos diurnos ou
noturnos. O objetivo foi avaliar duração do sono, sonolência, fadiga e outras variáveis entre
trabalhadores diurnos e noturnos. Os dados foram obtidos por questionários e actimetria. Os grupos
não diferiram quanto à duração do sono, mas os trabalhadores noturnos relataram pior qualidade e
aumento significativo da sonolência. Todos relataram aumento significativo da fadiga, mais pronunciado
entre trabalhadores noturnos. Esses resultados confirmam a associação do trabalho noturno com
prejuízos ao sono, sonolência e fadiga. s condições de trabalho associaram-se a veis mais
elevados de estresse, maior sonolência e fadiga. Avaliões em segurança e saúde no trabalho devem
também abranger a sonolência e a fadiga dos trabalhadores e fatores associados.
Palavras-chave: Sonolência. Fadiga. Jornada de trabalho em turnos.
ABSTRACT
Sleepiness means a heightened propensity to fall asleep that increases with night work. Fatigue is a
feeling of strain or exhaustion induced by effort that increases with day or night work shift. The aim of
this study was to evaluate sleep duration, perceived sleepiness and fatigue, and other variables among
permanent day and night workers. The data were obtained by questionnaires and actimetry. Workers
didn’t differ significantly regarding sleep duration, but night workers perceived worse sleep quality and a
significant increase in sleepiness. Increase of fatigue was significant for all workers, more pronounced
for night workers. These results confirm the association of night work with disturbed sleep, sleepiness
and fatigue. Poor working conditions were associated with greater perceived stress, sleepiness and
fatigue. Evaluations of occupational safety and health should also cover workers sleepiness and fatigue
and associated variables.
Keywords: Sleepiness. Fatigue. Shift work schedule.
1
Este texto descreve e analisa parte dos resultados obtidos durante pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Saúde Pública da
USP, previamente aprovada pelo respectivo Comitê de Ética em Pesquisa, processo CAAE 0105.0.207.000-09. A pesquisa recebeu
financiamento da Fundacentro, da FAPESP (processo 2011/10503-4) e da CAPES (auxílio 8755-11/6).
2
Doutora em Saúde blica, Mestre em Biotecnologia e Especialista em Saúde Pública pela USP. Graduação em Ciências Biológicas pela
USP. Pesquisadora da Fundacentro em São Paulo, SP. E-mail: erica.reinhardt@fundacentro.gov.br.
3
Pós-doutora pelo Arbeitsphysiologie Institut em Dortmund, Alemanha, Doutora e Mestre em Saúde Pública pela USP e Especialista em
Ergonomia pela USP. Professora titular da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. E-mail: fmfische@usp.br.
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INTRODUÇÃO
Sonolência e fadiga são femenos relacionados e por vezes tratados como
equivalentes, mas há boas razões para diferenciá-los (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009;
PHILLIPS, 2015; SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006).
A sonolência é extremamente comum, multidimensional e multicausal (SHEN;
BARBERA; SHAPIRO, 2006). Operacionalmente seria definida como a tendência ou
propensão para dormir (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009; SHEN; BARBERA; SHAPIRO,
2006) causada por alteração ou desequilíbrio nos mecanismos associados ao sono ou
à vigília (SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006). Estes derivam de atividades neuronais
intrínsecas no sistema nervoso central, sob influência dos ritmos biológicos, e de vários
fatores homeostáticos, ambientais e comportamentais (SHEN; BARBERA; SHAPIRO,
2006). É considerada excessiva se aumentada em circunstâncias indesejadas ou
inapropriadas (BERTOLAZI et al., 2009; SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006) e
frequentemente decorre de perturbações no sono ou dessincronização circadiana
ocasionadas pelo trabalho (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009).
No entanto, os mecanismos relacionados ao sono e à vilia não estão obrigatoriamente
implicados na fadiga, como ocorre com a sonolência (SHEN; BARBERA; SHAPIRO,
2006).
A fadiga pode ser definida como uma condição psicofisiológica subótima causada por
algum tipo de esforço (PHILLIPS, 2015) e que corresponde subjetivamente a uma
sensação de tensão ou de exaustão (SHAHID; SHEN; SHAPIRO, 2010). Ela pode ser
causada por um esforço exercido ou ainda em exercício e sob a interferência de ampla
gama de fatores, incluindo os rítmicos e circadianos, privação de sono, falta de períodos
de descanso, temperaturas extremas, má iluminação, pressão de tempo e sobrecarga
de trabalho e fatores externos ao trabalho (PHILLIPS, 2015).
A fadiga fisiológica ou aguda é uma função protetiva normal do organismo que
geralmente ocorre em indivíduos sauveis (SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006). Ela
tem um início rápido e curta duração, usualmente deve-se a uma única causa, pode ser
aliviada após um período de recuperação sem dormir (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009;
SHAHID; SHEN; SHAPIRO, 2010; SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006) e geralmente
exerce efeitos muito pequenos nas atividades diárias ou na qualidade de vida (SHEN;
BARBERA; SHAPIRO, 2006). Uma distinção prática útil entre a fadiga e a sonolência é
que esta última é exacerbada por um período de inatividade ou descanso, efeito contrário
ao relativo à fadiga (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009).
Por outro lado, situações de esforço continuado ou repetido levam à fadiga crônica, que
podem incluir estados de exaustão sem sonolência que se associam ao estresse e ao
burnout (PHILLIPS, 2015). Ela afeta principalmente populações com desordens clínicas
e é percebida como anormal ou excessiva (SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006).
Geralmente tem icio insidioso, é persistente e de etiologia multifatorial, não sendo
aliviada com as técnicas restauradoras usuais e afetando as atividades diárias e a
qualidade de vida de forma significativa (SHEN; BARBERA; SHAPIRO, 2006).
O impacto da sonolência e da fadiga no trabalho são semelhantes, acarretando
diminuição de produtividade, aumento de absenteísmo, maiores índices de acidentes e
uma maior probabilidade de incapacitação ocasionada por doença relacionada
(AKERSTEDT; WRIGHT, 2009; BERTOLAZI et al., 2009; SHEN; BARBERA;
SHAPIRO, 2006).
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Sonolência e fadiga estão associadas ao trabalho em turnos, o que inclui o trabalho
noturno. O trabalho em horários não usuais é obrigario apenas quando o processo
produtivo ou o serviço à população não podem ser interrompidos, sob pena de prejuízos
materiais ou sociais importantes. O ideal, portanto, seria que somente trabalhadores
dessas atividades estivessem submetidos a esse esquema de trabalho. Na realidade,
em muitos casos observa-se que a adoção do trabalho em turnos obedece
exclusivamente à lógica de mercado e visa atender sobretudo aos interesses e à
conveniência das empresas e do mercado consumidor, configurando-se em autêntica
precarização do trabalho (ANTUNES, 2009; FISCHER, 2004).
Por isso, considerando o potencial de sonolência e fadiga afetarem negativamente a
saúde e o bem-estar de trabalhadores, com efeitos negativos também para o trabalho,
foi desenvolvida esta pesquisa com trabalhadores diurnos e noturnos com o objetivo de
contribuir para a compreensão desses femenos e fatores associados.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta foi uma pesquisa de desenho transversal em empresa da cidade de São Paulo que
fabrica principalmente metais sanitários, comparando trabalhadores noturnos (turno das
21h às 6h) com diurnos (turno das 7h às 17h). O ciclo de turnos estendia-se por 7 dias,
compreendendo 5 turnos fixos, diurnos ou noturnos, iniciados às segundas-feiras, e 2
dias de folga, abrangendo o sábado e o domingo, quando então a empresa permanecia
fechada. Além disso, nem todos os setores operavam 24 horas por dia de segunda a
sexta-feira, incluindo alguns dos setores operacionais. Assim, a empresa adotava
esquema de turnos semicontínuos (FISCHER, 2004).
Participaram dezenove trabalhadores do sexo masculino do turno diurno e dezesseis do
turno noturno, com idades entre 20 e 45 anos e pelo menos 4 meses de trabalho nos
turnos selecionados. Os trabalhadores noturnos foram divididos em dois subgrupos,
conforme descrito adiante.
Todos os trabalhadores noturnos optaram por este turno devido ao adicional noturno.
Entre os trabalhadores diurnos a situação inverte-se: quatorze não optaram por este
turno diurno, sendo que cinco informaram ter iniciado neste turno de trabalho a partir de
demanda da empresa. No entanto, mesmo nestes casos, muitos deles afirmaram ter
preferência pelo turno diurno.
Foram excluídos trabalhadores que relataram diagstico de problema de saúde com
possível interferência sobre as variáveis do estudo, além daqueles que faziam uso de
medicamentos relacionados ou abuso de álcool ou drogas nos doze meses anteriores
ao estudo.
Dados sociodemográficos, de sde e de condições de vida e trabalho foram obtidos por
questionário adaptado de Borges (BORGES, 2006). A sonolência foi inicialmente
caracterizada com o uso da escala de sonolência de Epworth (BERTOLAZI et al., 2009;
PIRES et al., 2007), com o máximo de 24 pontos, e a fadiga por meio de questionário
relacionado ao trabalho (YOSHITAKE, 1971), de 0 a 120 pontos. Também foi avaliado o
estresse percebido (REIS; HINO; AÑEZ, 2010), com escore global máximo de 40 pontos.
Para avaliar o sono, os trabalhadores preencheram um protocolo de atividades diárias
(FISCHER, 1985) por dez dias consecutivos, iniciando numa sexta-feira, com o uso
concomitante de actímetros (AMBULATORY MONITORING INC., 2000), permitindo
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determinar variáveis relativas ao sono com maior exatidão. O sono do quinto dia de
trabalho tanto diurno quanto noturno (ou seja, o sono noturno de sexta-feira dos
trabalhadores diurnos e o sono diurno de sábado dos trabalhadores noturnos) foi
excluído das análises. Também foi excluído o sono do segundo dia de folga (sono de
domingo para segunda-feira para todos os trabalhadores). Os motivos dessas exclusões
é que esses períodos de sonos sofrem mudanças abruptas devido à transição entre dias
de trabalho e de folga, o que faz com que divirjam quali e quantitativamente tanto dos
sonos dos dias de trabalho quanto dos dias de folga.
Os trabalhadores também preencheram a Escala de Sonolência de Karolinska
(Karolinska Sleepiness Scale KSS), uma escala com nove pontos (AKERSTEDT;
GILLBERG, 1981), e uma escala visual analógica de 10 cm para avalião da fadiga em
três momentos do turno de trabalho: no início, aproximadamente no meio (entre 13h00
e 14h00 para os trabalhadores diurnos, e às 3h00 para os trabalhadores noturnos) e no
final do turno. Para as análises foram consideradas as médias dos resultados dos
primeiros quatro dias de trabalho, pois o último dia de trabalho do ciclo de turnos tem
características diferenciadas que poderiam interferir nessas variáveis subjetivas.
Todos os resultados foram submetidos a alises estasticas no software IBM SPSS 20
(IBM, Inc., Estados Unidos da América). A normalidade na distribuição das variáveis foi
analisada em histogramas e por testes de Shapiro-Wilk e determinou o uso dos testes
de hiteses paramétricos ou não-paratricos subsequentes. Foram considerados
como diferenças significativas valores de p inferiores a 0,05.
Este estudo atendeu ao requerido na Declaração de Helsinki e foi aprovado por Comitê
de Ética em Pesquisa formalmente constituído (processo CAAE 0105.0.207.000-09).
RESULTADOS
Caracterização da população e procedimentos iniciais
Trabalhadores diurnos e noturnos não exerciam as mesmas fuões e pertenciam a
diferentes setores da empresa. Os trabalhadores noturnos distribuíam-se entre os
setores de macharia, policorte e rebarbação de peças e fundição de metais, todos no
mesmo espaço físico da fundição, e o setor de afinação. Verificou-se uma grande
exigência física nas atividades de fundição de metais, incluindo cinco coquilheiros
avaliados neste estudo. A maior exigência deve-se ao manuseio dos moldes metálicos
(coquilhas) bastante pesados, com cerca de 5 kg, e à sua grande exposição ao calor,
oriundo dos fornos de fundição de metais, com temperaturas nas faixas entre 960 a
1050°C, e do próprio metal em estado líquido vazado no interior das coquilhas mantidas
unidas pelos coquilheiros. Estando no mesmo espaço físico da fundição, outros três
trabalhadores com as funções de rebarbador, macheiro e auxiliar de produção também
estavam expostos ao calor excessivo oriundo dos fornos e processos produtivos da
fundição de metais. Constatou-se também que esses oito trabalhadores, exceto um,
desenvolviam suas atividades em pé durante toda a noite e ainda estavam expostos aos
fumos melicos característicos da fundição de metais, aumentando seu risco de
intoxicão e contribuindo para um mau cheiro constante neste ambiente, tornando-o
mais perigoso e desagravel que o ambiente dos outros trabalhadores avaliados neste
estudo, diurnos ou noturnos.
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Dessa forma, esses oito trabalhadores, todos do turno noturno, puderam ser reunidos
em um subgrupo com maior desgaste ocupacional, com reflexo nas variáveis de
interesse deste estudo. Eles constituíram o subgrupo de trabalhadores noturnos da
fundição. Os oito trabalhadores noturnos restantes trabalhavam como afinadores no
setor de afinação, constituindo o subgrupo dos trabalhadores noturnos da afinação.
Embora as atividades da afinação não envolvessem manusear pesos e não fosse
produzido calor excessivo ou fumos metálicos, ainda assim esses afinadores passavam
todo o turno em pé, em uma única tarefa específica: segurando e girando a peça fundida
com as duas mãos e encostando toda sua superfície em uma lixa em movimento para
obter todo o primeiro acabamento. Nessa atividade havia risco constante de acidente no
contato da lixa com a mão, razão por que vários trabalhadores enrolavam fita crepe nos
dedos.
Já os trabalhadores diurnos distribuíam-se em dez setores diferentes, inviabilizando
subdivisões para alises estatísticas posteriores. Por isso, e considerando que as
atividades e condições de trabalho eram semelhantes, esses trabalhadores foram
tratados como um grupo único, sem nenhuma subdivisão.
No geral, nas fuões e tarefas desempenhadas em ambos os turnos observou-se o
predonio de tarefas relativamente simples, repetitivas e com baixa autonomia do
trabalhador. Além disso, as funções e tarefas nos dois turnos possuíam exincias
físicas e mentais semelhantes, à exceção daquelas do setor de fundição, com atividades
com maior exigência física e piores condições ambientais.
Os trabalhadores tinham 31,7 ± 6,7 anos de idade e uma mediana de 3,5 anos de
trabalho no turno específico. Os três grupos não diferiram significativamente em relação
a essas variáveis e às demais variáveis sociodemográficas, de saúde e condições de
vida. Tratava-se de uma população jovem e sem doenças crônicas ou outros problemas
de saúde, cuja escolaridade não ia além do ensino médio e trabalhando em ocupações
braçais, subalternas, desgastantes e de baixa remunerão.
Os grupos também não apresentaram diferenças estatisticamente significativas em
relação às escalas de sonolência de Epworth e de fadiga relacionada ao trabalho. A
mediana do escore da sonolência foi de 7 pontos, com intervalo interquartil (IQ) de 3 a
10 pontos, enquanto a fadiga média foi de 24,49 ± 15,35 pontos. Nos dois casos a
pontuação ficou bem abaixo da pontuação média de cada escala, sugerindo que esses
trabalhadores o estavam cronicamente sonolentos ou cansados.
Os grupos diferiram quanto ao estresse percebido, em que os trabalhadores noturnos da
afinação apresentaram resultados melhores quando comparados aos outros grupos,
que não diferiram entre si. O estresse percebido dos trabalhadores noturnos da afinação
(mediana = 3,5; IQ = 0 a 5,5) foi significativamente menor, pelo teste post hoc de Dunn,
àquele dos trabalhadores noturnos da fundição (mediana = 14; IQ = 8,75 a 19,50; p <
0,007, com correção de Bonferroni) e àquele dos trabalhadores diurnos (mediana = 13;
IQ = 9 a 17; p < 0,003, com correção de Bonferroni). Apenas três trabalhadores diurnos
e um trabalhador noturno da fundição registraram estresse percebido acima de 20
pontos, correspondente ao valor intermediário da escala.
Análise do sono
Os resultados da análise do sono dos três grupos de trabalhadores encontram-se na
Tabela 1.
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Em média, os trabalhadores noturnos passaram quase uma hora a mais na cama se
considerado o sono total em dias de trabalho. A duração do sono total também tendeu a
ser maior entre os trabalhadores noturnos. Mas essas diferenças resultaram não
significativas (Tabela 1).
No dia de folga todos os trabalhadores diurnos e noturnos tiveram o sono principal na
noite de sábado para domingo. Nesse dia, apenas um dos trabalhadores noturnos da
fundição teve mais de um episódio de sono, tendo dormido muito menos que os outros
trabalhadores noturnos da fundição. Por essas razões ele foi considerado um outlier e foi
excluído das análises relativas ao sono do dia de folga. O tempo passado na cama e a
duração do sono foram pelo menos duas horas mais longas entre os trabalhadores
noturnos que entre os diurnos (Tabela 1).
Após testes post hoc de Games-Howell, resultaram significativas as diferenças entre
trabalhadores diurnos e noturnos da afinação em relação ao tempo na cama (p < 0,013)
e à duração do sono (p < 0,046). Também foram significativas as diferenças de tempo
na cama e da duração de sono dos trabalhadores diurnos e dos noturnos da fundição (p
< 0,023 e p < 0,031, respectivamente). Não houve diferenças estatisticamente
significativas entre os trabalhadores noturnos da afinão e da fundição.
Tabela 1. Resultados relativos ao sono dos trabalhadores diurnos (N = 19), noturnos da afinação (N
=8) e noturnos da fundição (N = 8).
Variável
Grupo
Resultados da
variável
Resultados da
ANOVA de Welch
Tempo médio na cama
em dias de trabalho
sono principal
(1)
Diurno
6:03 ± 1:01
F(2; 32) = 0,456
Afinação
6:29 ± 1:02
Fundição
6:10 ± 1:15
Tempo médio na cama
em dias de trabalho
sono total
(2)
Diurno
6:03 ± 1:01
F(2; 32) = 2,925
Afinação
6:51 ± 0:52
Fundição
6:55 ± 1:04
Duração média em dias
de trabalho sono
principal
Diurno
4:44 ± 1:06
F(2; 32) = 0,386
Afinação
5:13 ± 1:29
Fundição
5:00 ± 1:29
Duração média em dias
de trabalho sono total
Diurno
4:44 ± 1:06
F(2; 32) = 1,393
Afinação
5:32 ± 1:29
Fundição
5:25 ± 1:20
Tempo na cama no dia
de folga
Diurno
7:24 ± 1:11
F(2; 31) = 10,167
Afinação
9:22 ± 1:24
Fundição
(3)
10:36 ± 2:17
Duração do sono no dia
de folga
Diurno
5:34 ± 1:53
F(2; 31) = 6,632
Afinação
7:33 ± 1:43
Fundição
(3)
8:59 ± 2:37
(1)
sono principal: maior episódio de sono em 24 horas;
(2)
sono total: todos epidios de sono registrados
em 24 horas, inclusive cochilos;
(3)
N = 7 após a exclusão do outlier
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Testes t pareados confirmaram que o sono do primeiro dia de folga (sábado para
domingo) foi significativamente mais longo para todos os trabalhadores comparado
àquele de dias de trabalho, correspondendo ao rebote de sono. Os trabalhadores
noturnos dormiram significativamente mais tempo nesse dia que os diurnos, sugerindo
que o turno noturno potencializou esse rebote no dia de folga.
Análise da sonolência e da fadiga
Inicialmente, os resultados de sonolência e fadiga foram comparados entre os três
grupos de trabalhadores pelo teste de Kruskal-Wallis. Conforme a Tabela 2, nenhuma
das comparações foi significativa.
Tabela 2. Sonolência e fadiga durante o turno de trabalho de trabalhadores diurnos (N = 19),
noturnos da afinação (N =8) e noturnos da fundição (N = 8).
Variável
Grupo
Resultados da variável
(1)
Signifincia
(bicaudal)
Sonolência média no
início do turno
Diurno
3,00; IQ = 2,00 3,50
p = 0,943
Afinação
3,39; IQ = 1,69 3,75
Fundição
3,00; IQ = 2,45 3,57
Sonolência média no
meio do turno
Diurno
3,50; IQ = 2,50 5,25
p = 0,741
Afinação
3,35; IQ = 2,31 4,45
Fundição
3,60; IQ = 3,31 4,75
Sonolência média no
final do turno
Diurno
3,75; IQ = 2,50 5,50
p = 0,268
Afinação
4,40; IQ = 3,55 5,00
Fundição
4,54; IQ = 4,13 5,94
Fadiga média no início
do turno
Diurno
1,05; IQ = 0,38 3,43
p = 0,547
Afinação
1,82; IQ = 0,39 3,64
Fundição
1,91; IQ = 1,35 3,29
Fadiga média no meio
do turno
Diurno
2,50; IQ = 1,00 5,00
p = 0,254
Afinação
1,78; IQ = 1,23 2,73
Fundição
2,99; IQ = 2,69 4,51
Fadiga média no final
do turno
Diurno
3,00; IQ = 1,33 5,73
p = 0,180
Afinação
3,51; IQ = 2,39 4,55
Fundição
4,19; IQ = 3,69 6,38
(1)
Os resultados da variável correspondem à mediana e ao intervalo interquartil (IQ) entre o primeiro e o
terceiro quartil, sendo que a sonolência foi medidas em pontos e a fadiga em centímetros de uma linha de
10 cm.
A maioria dos trabalhadores diurnos registrou sonolência de até 5 pontos em todos os
momentos, indicando que se sentiam alertas. Sete trabalhadores apontaram sonolência
superior a 5 pontos, normalmente no meio ou no final do turno, e somente um assinalou
pontuação superior a 7 ao final do turno (sonolência excessiva). Os trabalhadores
noturnos também relataram perceões semelhantes. Quatro deles, dois da afinação e
dois da fundição, relataram sonolência acima de 5 pontos no meio ou no final do turno
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de trabalho. Portanto, trabalhadores diurnos e noturnos não se percebiam como sendo
muito sonolentos durante o trabalho. Observou-se, porém, que a sonolência aumentou
com o transcorrer do turno em todos os grupos, sendo menor entre trabalhadores
diurnos, mais evidente entre os trabalhadores noturnos da afinação e mais pronunciada
entre os trabalhadores noturnos da fundição. As correlações de Spearman
demonstraram que esse aumento foi significativo somente para os trabalhadores
noturnos (Figura 1).
Figura 1. Aumento da sonolência ao longo do turno de trabalho
Significativo para os trabalhadores noturnos da afinação (rs = 0,432, p (monocaudal) < 0,019) e da fundição
(rs = 0,659, p (monocaudal) < 0,000), mas não para os trabalhadores diurnos (rs = 0,203, p (monocaudal) =
0,065).
Sobre a fadiga, os resultados novamente sugerem que a maioria dos trabalhadores
estudados não se percebe fatigada ao longo do turno, pois todas as medianas ficaram
aqm de 5 cm, ponto intermediário entre nada cansado e cansaço máximo. Sete
trabalhadores diurnos relataram fadiga média mais elevada no meio e no final do turno,
onde seis foram os mesmos que apontaram sonolências mais intensas. Os valores
máximos, de 7,2 e 7,9 cm, foram registrados por dois trabalhadores no final do turno.
Três dos quatro trabalhadores noturnos que relataram mais fadiga também apontaram
mais sonolência. Fadigas mais intensas também se concentraram no meio e no final do
turno, e o maior valor, de aproximadamente 7,7 cm, foi registrado por um trabalhador da
fundição no final da jornada.
Assim, os resultados para a fadiga assemelham-se àqueles obtidos para a sonolência,
mas com os valores máximos ao final do turno sendo mais elevados. Além disso, os
aumentos na fadiga foram significativos ao longo do turno para todos os trabalhadores,
praticamente triplicando entre trabalhadores diurnos e quase dobrando entre os
noturnos. Mesmo assim, a percepção de fadiga foi maior entre os trabalhadores
noturnos, principalmente os noturnos da fundição (Figura 2).
Sonolência
Início
Meio
Final
Início
Meio
Final
Início
Meio
Final
0
2
4
6
8
Diurnos
Noturnos da Afinação
Noturnos da Fundão
KSS
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Figura 2. Aumento da fadiga ao longo do turno de trabalho
Significativo para os trabalhadores diurnos (rs = 0,288, p (monocaudal) < 0,016), noturnos da afinação (rs =
0,354, p (monocaudal) < 0,046) e noturnos da fundição (rs = 0,723, p (monocaudal) < 0,000), sendo
claramente mais pronunciada neste último grupo.
DISCUSSÃO
Aspectos relacionados ao sono
O sono diurno dos trabalhadores noturnos deste estudo é compatível com o relatado na
literatura, com um tempo na cama de pouco mais de 6 horas e meia (PILCHER;
LAMBERT; HUFFCUTT, 2000). Como eles acordavam do sono diurno por volta de 15
horas, esse sono mais curto provavelmente deve-se a um despertar espontâneo
(AKERSTEDT, 2003)
associado a uma possível dessincronização circadiana crônica
típica de trabalhadores noturnos (AKERSTEDT, 2003; DIJK; VON SCHANTZ, 2005;
MORRIS; AESCHBACH; SCHEER, 2012).
Em dias de trabalho, as medianas para os horários de dormir e acordar dos
trabalhadores diurnos foram, respectivamente, 23h07m e 5h07m. Este horário de
despertar tão cedo é consequência direta do horário de icio do turno de trabalho, às 7h,
tornando-o semelhante a turnos matutinos (SALLINEN; KECKLUND, 2010) e para os
quais se observa comumente a necessidade de acordar muito cedo para ir trabalhar
(AKERSTEDT, 2003; SALLINEN; KECKLUND, 2010). Assim, o horário de acordar por
volta da 5h, o tempo passado na cama e a duração do sono dos trabalhadores diurnos,
em dias de trabalho, assemelham-se mais ao de trabalhadores de turnos matutinos, que
têm durão do sono estimada em 6 horas (AKERSTEDT, 2003). Provavelmente
também teria havido a interferência do tempo de transporte de casa até o trabalho e o
tempo de preparação para a ida ao trabalho. É interessante notar que a dificuldade em
acordar muito cedo muitas vezes torna turnos com esta característica bastante
impopulares entre os trabalhadores (AKERSTEDT, 2003).
Assim, observou-se que nesta amostra, em dias de trabalho, todos os trabalhadores
passavam na cama de 6 a 7 horas e efetivamente dormiam por volta de 5 horas, sendo
que o turno de trabalho, diurno ou noturno,o teve papel significativo na durão do
sono dos dois grupos.
Conforme as recomendações sobre a duração de sono, adultos na mesma faixa etária
dos trabalhadores deste estudo, deveriam dormir diariamente de 7 a 9 horas
(HIRSHKOWITZ et al., 2015), quantidade que não foi alcançada por eles em dias de
Fadiga
Início
Meio
Final
Início
Meio
Final
Início
Meio
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0
2
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Diurnos
Noturnos da Afinação
Noturnos da Fundão
VAS (cm)
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trabalho. Essa privão de sono crônica também é sugerida pelo rebote de sono no dia
de folga como foi observado. Os trabalhadores noturnos dormiram significativamente
mais no dia de folga que os trabalhadores diurnos, sugerindo que seu sono em dias de
trabalho é qualitativamente pior, levando-os a uma maior compensação nesse dia
(BOIVIN; BOUDREAU, 2014). Dessa forma, a organização do trabalho prejudicou o
sono dessa amostra de trabalhadores por motivos distintos: entre os diurnos, o icio do
turno muito cedo pela manhã acarretou menos tempo passado na cama e uma duração
menor do sono; entre os noturnos, a menor duração e uma possível pior qualidade do
sono devem-se às mudaas no ciclo vilia-sono decorrentes do trabalho noturno.
Relação entre o sono, a sonolência e a fadiga
Entre trabalhadores noturnos, o aumento na sonolência estava associado com o
transcorrer da jornada de trabalho e foi estatisticamente significativo. Este resultado
concorda com resultados anteriores, apesar de os níveis de sonolência relatados terem
sido inferiores aos de outros estudos (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009; BORGES;
FISCHER, 2003; GARDE; HANSEN; HANSEN, 2009).
Entre trabalhadores diurnos, o aumento da sonolência não foi significativo, embora sua
jornada diária fosse de 10h, mais longa que as 9h dos trabalhadores noturnos. Jornadas
de trabalho que se iniciam cedo pela manhã usualmente acarretam maior sonolência no
início do turno (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009; GARDE; HANSEN; HANSEN, 2009), o
que não foi observado neste estudo. No entanto, este aumento estaria mais associado
a turnos iniciados até as 6h da manhã (AKERSTEDT; WRIGHT, 2009), diferindo do turno
diurno estudado, e veis semelhantes aos aqui observados já foram anteriormente
relatados (VANGELOVA, 2008). Acrescenta-se que os níveis de sonolência relatados
nos outros momentos da jornada de trabalho e a falta de uma associação significativa do
aumento no transcorrer da jornada são compaveis com o relatado na literatura
(AKERSTEDT; WRIGHT, 2009; GARDE; HANSEN; HANSEN, 2009).
Logo, os resultados da sonolência de trabalhadores diurnos e noturnos deste estudo são
semelhantes àqueles de pesquisas anteriores. Este aumento foi significativo somente
para os trabalhadores noturnos, o que sugere que o principal fator contribuinte foi o
trabalho em desacordo com a ritmicidade circadiana, geralmente não observada entre
os trabalhadores diurnos (AKERSTEDT, 2003).
Comparando-se sonolência e fadiga, observou-se que a fadiga se elevou
significativamente para todos os trabalhadores ao longo do turno, enquanto o aumento
da sonolência foi significativo apenas para os trabalhadores noturnos. Isso sugere que
os trabalhadores as percebiam de forma diferente, confirmando que sonolência e fadiga
realmente não se equivalem (ÅHSBERG; GARNBERALE; KJELLBERG, 1997;
PHILLIPS, 2015) e em concordância com resultados anteriores (ÅHSBERG;
GARNBERALE; KJELLBERG, 1997).
Tendo em vista que a fadiga é causada por esforços físicos, mentais ou ambos
(PHILLIPS, 2015), traduzindo-se em percepção de tensão ou exaustão (SHAHID;
SHEN; SHAPIRO, 2010), e que os participantes deste estudo desempenhavam
principalmente atividades mecânicas, repetitivas e com possíveis graus variados de
desgaste, torna-se claro o motivo porque houve um aumento da fadiga ao longo do turno
para todos os trabalhadores. Em relação à intensidade, os trabalhadores noturnos
relataram mais fadiga ao final do turno que os trabalhadores diurnos, em acordo com
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resultados anteriores (NIU et al., 2011). Segundo Dawson e Fletcher (2001), a fadiga de
um turno provavelmente varia em função da duração e do horário desse turno, se diurno
ou noturno, sendo influenciada tamm pelo sistema circadiano. Assim, turnos mais
longos respondem por mais fadiga e ela acumula-se mais rapidamente em turnos
durante a noite subjetiva que durante o dia subjetivo (DAWSON; FLETCHER, 2001).
Logo, pode-se supor que as potenciais alterações circadianas nos trabalhadores
noturnos também influenciaram o aumento da fadiga durante a jornada, contribuindo
para as diferenças encontradas entre trabalhadores diurnos e noturnos. Mas, não
obstante tais resultados, os trabalhadores não relataram níveis excessivos de fadiga
diária e nem uma eventual fadiga crônica foi identificada, conforme anteriormente
descrito. Dessa forma, apesar de laborarem em atividades relativamente exaustivas, a
fadiga resultante aparentemente estaria sendo aliviada por períodos de recuperação
após a jornada diária e semanal.
Influência das atividades e condições de trabalho
Os trabalhadores laboravam em atividades subalternas mecânicas e repetitivas, de baixa
exigência cognitiva. As diferenças constatadas nos três grupos influenciaram algumas
das variáveis analisadas, como o estresse percebido, a sonolência e a fadiga.
O estresse percebido é influenciado por perceões dos trabalhadores acerca de seu
bem-estar e qualidade de vida. Os trabalhadores noturnos da afinação apresentaram os
melhores resultados, relatando significativamente menos estresse que os trabalhadores
diurnos e noturnos da fundição.
Durante o turno diurno normalmente há mais chefes, mais cobranças e pior
relacionamento interpessoal, trazendo prejuízos ao bem-estar de trabalhadores com
perfil semelhante aos deste estudo (OLIVEIRA et al., 2006). A empresa estudada
encaixava-se nesta descrição e pelo menos alguns trabalhadores estavam cientes
dessas diferenças. Assim, embora trabalhadores diurnos e noturnos da afinação
tivessem atividades laborais similares em termos de dificuldades e exincias físicas e
mentais, provavelmente a maior pressão dos chefes e o potencial pior relacionamento
durante o dia foram responveis pelos maiores níveis de estresse relatados pelos
trabalhadores diurnos.
Entretanto, mesmo com esses elementos menos pronunciados, os trabalhadores
noturnos da fundição também apresentaram maiores níveis de percepção de estresse
que os trabalhadores noturnos da afinação. Aqui, esse resultado pode ser atribuído às
maiores exigências físicas e às piores condições de trabalho a que estavam submetidos
os primeiros. Esses fatores também influenciaram, para pior, a percepção de sonolência
e fadiga desses trabalhadores.
As variáveis relativas ao sono, entretanto, não foram diferentes quando os trabalhadores
noturnos da fundição foram comparados aos da afinação, mas os primeiros
apresentaram piores avaliações de aspectos relacionados a seu bem-estar, sonolência
e fadiga que se devem provavelmente às piores condições de trabalho a que estavam
expostos.
Limitações deste estudo
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O desenho transversal deste estudo não permite estabelecer relões causais entre as
variáveis, apenas associações. Também seria recomenvel a obtenção de dados
durante um intervalo mais prolongado para uma melhor caracterização das associações
encontradas.
Outra limitação decorreu do pequeno número de trabalhadores participantes do estudo,
talvez contribuindo para que alguns testes estasticos não tenham mostrado
signifincia estatística. A ausência de sujeitos dos diferentes turnos nos mesmos
setores não impediu a obtenção de resultados, mas amostras maiores e mais
homogêneas teriam dado mais robustez e confiança às associões estabelecidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do observado neste estudo, demonstra-se que o trabalho noturno e variáveis
associadas à realidade de trabalho, como os fatores organizacionais e as próprias
condições de trabalho, podem ter efeitos negativos para o bem-estar, o sono, a
sonolência e a fadiga dos trabalhadores. Confirmamos que o trabalho noturno prejudica
o sono e leva a aumentos mais expressivos da sonolência e da fadiga ao longo do turno
de trabalho. Mas, para além do que é normalmente relatado na literatura, também
apontamos: a) que sonolência e fadiga são duas variáveis distintas, com causas e
consequências diferentes; e b) a contribuição das más condições de trabalho sobre os
resultados obtidos neste estudo, levando-nos a concluir que, ao lado dos fatores
relacionados à durão e horário da jornada de trabalho, também esses aspectos devem
ser considerados ao se realizar a análise de variáveis como sonolência e fadiga.
É interessante explorar um pouco mais esta última questão das condições de trabalho.
Há muito tempo é reconhecida a associação entre a extensão da jornada e os horários
de trabalho com a perturbação e os prejuízos à saúde e à vida dos trabalhadores, tanto
é que a primeira Convenção emitida pela Organização Internacional do Trabalho no ano
de sua criação, 1919, aborda justamente as horas de trabalho na indústria
(ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO, 2015). Esta Conveão não foi
ratificada pelo Brasil, mas o país ratificou a Convenção n
o
171, sobre o trabalho noturno
(BRASIL, 2019). Ela trata da proteção daqueles que trabalham ao menos durante parte
da noite, sem limitação de gênero ou atividade. Entre outras medidas, ela estabelece os
seguintes direitos para os trabalhadores: a) uma avaliação de sde específica,
considerando os efeitos do trabalho noturno, antes e após começar a trabalhar à noite;
b) acesso a instalações de primeiros-socorros no ambiente de trabalho; c) transferência,
sempre que posvel, para uma função similar no turno diurno se o trabalho noturno
estiver sendo muito prejudicial à saúde; d) atividades e funções alternativas em outros
turnos no caso de gestação; e) compensação financeira especial decorrente do trabalho
noturno; e f) oferta de serviços sociais apropriados (BRASIL, 2019).
Esta Convenção tamm dise que os representantes dos trabalhadores deveriam ser
consultados, antes da introdução do trabalho noturno e depois regularmente, sobre os
detalhes de horários e as formas de organizão do trabalho, bem como as medidas de
saúde no trabalho e os serviços sociais necessários (BRASIL, 2019).
Verifica-se que, no presente caso, apenas a compensão financeira estava sendo
atendida pela empresa. Além disso, as próprias condições de trabalho, durante o dia e à
noite, deixaram claro que a empresa não prezava por medidas que tornassem o
ambiente mais seguro ou saudável. Como a empresa adota turnos semi-contínuos, é
questionável se seria necessário haver turnos noturnos, pois os processos de produção
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não exigem continuidade. A implantação do trabalho noturno aparentemente visa
apenas o aumento da produtividade e lucratividade da empresa, sem considerar os
efeitos do trabalho noturno na saúde e na qualidade de vida dos trabalhadores.
Recomenda-se que as avaliações em segurança e saúde do trabalho incluam análises
de sono, sonolência e fadiga e de outros fatores relacionados à organização do trabalho.
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Data da submissão: 24/08/2020
Data da aprovação: 11/06/2021