Trabalho & Educação | v.29 | n.3 | p.131-149 | set-dez | 2020
o desenvolvimento da sociedade, criando, por exemplo, os Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia (Lei 11.892/2008), que nascem voltados para uma
educação escolar comprometida com a construção democrática do bem comum: a
formação humana integral, omnilateral e cidadã, fundada no trabalho como princípio
educativo (PACHECO, 2010).
Termos e conceitos vinculados a um ensino técnico comprometido com a formação
humana integral e cidadã, tais como “emancipação”, “autonomia”, “trabalho como
princípio pedagógico”, “omnilateralidade”, “cidadania”, “politecnia”, entre tantos outros,
foram investigados, no decorrer da pesquisa, no interior da literatura especializada no
tema, recorrendo aos pensadores e pensadoras que ao longo da história os cunharam
e intencionaram comunicá-los, considerando as apropriações e transformações
realizadas pela comunidade discursiva que deles se vale.
A palavra foi investigada com o apoio da filosofia da linguagem, compreendendo-se que
a linguagem, como explica Almeida (2008), é instrumento e conhecimento da realidade,
atividade constitutiva e constituinte do ser humano e de seu pensar. Ou seja, a linguagem
é imprescindível das relações e ações humanas, fazendo parte de sua natureza e
moldando ativamente a comunicação, o pensamento, a compreensão, a interação entre
as pessoas. Conforme explica Fiorin (2004), a linguagem é, ao mesmo tempo, autônoma
em relação às formações sociais e determinada por fatores ideológicos. Esta afirmação
aparentemente contraditória, expressa a complexidade do fenômeno da linguagem que,
apresentando variadas dimensões e níveis, faz-se relativamente independente,
enquanto realidade material (organização de sons, palavras, frases), e essencialmente
social, enquanto constituída por injunções da realidade cultural, econômica e histórica.
Ainda com Fiorin (2004), o signo linguístico é formado por dois componentes: o conceito
e seu suporte. Ao conceito diz-se o conteúdo ou significado (inteligível), ao suporte
chama-se expressão ou significante (dizível). Um glossário integra significado, enquanto
discurso, e significante, enquanto texto. Considerando-se que a semântica discursiva
revela, na concretização contextualizada de seus elementos, a maneira de perceber e
agir no mundo de determinado grupo ou época, percebe-se que o discurso e o texto são
ambos arena de conflitos e palco de acordos. Conflitos e acordos são sociais. Discursos
e textos não podem exprimir neutralidade, não são naturais, mas marcadamente sociais,
atravessados pela necessidade integrada de comunicar a realidade, compreender o
mundo, viver a vida, relacionar-se, existir humanamente. Estes são pressupostos
básicos para a apresentação de um discurso que visa exprimir acordos conceituais da
EPT em forma de glossário.
O glossário foi estruturado com apoio da Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT),
uma teoria terminológica descritiva de base linguística que investiga os termos de
determinada área em suas situações de uso, para o caso desta pesquisa, nos textos
especializados. A TCT é uma referência teórica bastante recorrente na elaboração de
produtos
terminológicos por apresentar uma abordagem semasiológica, ou seja, ter
como objeto de partida para as suas análises as unidades terminológicas (significantes)
e não os conceitos (significados). Isto implica em partir das palavras em uso na área
Gostaríamos de ressaltar que optamos por utilizar o vocábulo “produto”, pois, além de ser palavra de uso corrente e
difundido no âmbito do Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica (ProfEPT), acreditamos que ele faz
presente a marca do trabalho por trás de toda e qualquer realização humana. Não cabe aqui confundir produto com
mercadoria, que é sua manifestação histórica, portanto transitória e fetichizada, que esconde as relações sociais que
embasam toda produção humana.