durante as décadas de [19]40, 50 e 60” (SGUISSARDI, 2009, p. 172).
Além de ser uma pirâmide – ou seja, o cume é para poucos –, está invertida em
relação à educação básica: desde os anos 2000, 88% dos estudantes da
educação básica estão nas escolas públicas, enquanto a maioria dos
graduandos das universidades federais, antes da implementação da política de
cotas, provinha de escolas privadas: 62,5% em 2003, 50% em 2009 e 35% em
2015 (FONAPRACE, 2018). Vale lembrar que a Lei nº 12.711/2012 estabeleceu
o ano de 2016 como prazo final para que as instituições de ensino superior
públicas dedicassem 50% de suas vagas a estudantes provenientes de escolas
públicas. Estes dados confirmam a relação entre o aumento da presença de
pretos e pardos nas universidades e a implementação da política de cotas.
E quanto à evasão dos cotistas, outro argumento defendido por grupos contrários
à implementação das cotas? Segundo o Gemaa (2020), a Universidade Estadual
do Rio de Janeiro acolheu, em duas décadas, 21.300 estudantes cotistas, dos
quais 26% desistiram antes do final do curso, número inferior aos 37% de
estudantes não cotistas que deixaram a graduação. A Universidade de Brasília
apresenta índices de evasão similares entre cotistas e não cotistas: 3,4% e 3,1%,
respectivamente. Como ler estes números? Um levantamento realizado pelo
Gemaa (2020) com 124 mil estudantes de 65 instituições federais de ensino
superior no país, abordando o tema “Raça, gênero e saúde mental”, afirma que
37% dos homens pretos e pardos e 36% das mulheres pretas e pardas
abandonaram a universidade devido a problemas financeiros, o que se explica
por outro dado: 58% destes estudantes declararam renda familiar per capita de
até 1,5 salário mínimo, faixa declarada por 36,5% dos estudantes brancos. Além
disso, muitos cotistas afirmaram ter que trabalhar para contribuir na renda
familiar, situação bem menos comum entre estudantes não cotistas (CARDOSO,
2020). Sobre a qualidade profissional dos estudantes e índices de
empregabilidade, os dados foram iguais: 75% para ambos, mas com diferenças
salariais entre cotistas e não cotistas, provavelmente devido à variedade de
territórios, áreas profissionais e empresas em que uns e outros passam a
trabalhar, após a graduação; ao suporte de renda, infraestrutura, bens culturais
e apoio familiar, entre outros, com que os não cotistas já contavam; e aos
distintos perfis sociais dos públicos, grupos e ambientes com os quais os
graduados vão interagir em suas áreas profissionais.
Portanto, ainda que facilitar o acesso de pretos e pardos ao ensino superior
contribua para mudar trajetórias individuais, esta política mostra-se insuficiente
para reverter o histórico de desigualdades sociais, exclusão e condições de vida
deste grupo. Apesar desta evidente limitação, são significativos os ganhos
obtidos a partir das políticas de afirmação, cujo objetivo central, segundo Aguiar
Villanueva (apud CHIROLEU, 2012, p. 14-15), “deve ser resolver problemas, isto
é, produzir situações reais diferentes (e, nesse sentido, superadoras) às
qualificadas como ‘problemáticas’”. Logo, tais políticas devem ser reconhecidas
“como um ‘constructo social’ e não como um fato que tem existência material e
objetiva” (idem). Alencastro (2010, p. 4) referenda: as políticas afirmativas, como
a política de cotas, não seguem “uma lógica indenizatória, destinada a garantir