Assim, a EC, inicialmente, associada à ideia de “o que é meu, é seu” ou “mi casa, su
casa”, anuncia o intuito de fazer frente às grandes corporações, já que, por intermédio
das tecnologias da informação, as pessoas poderiam formar redes virtuosas de
compartilhamento mútuo de informações, bens e serviços, sem necessitar da mediação
das grandes corporações.
Nesse contexto, a EC despontou associada a um movimento social amplo, uma causa
nobre. Contudo, longe de significar uma ruptura ou alternativa à economia de mercado,
liderada pelas grandes corporações, na prática, ela representa a expansão do livre
mercado para novas áreas de nossa vida, segundo o entendimento de Slee (2017, p.
60), bem como já apontado por Marx (2011, p. 112), quando aludiu que “no mundo
moderno, as relações pessoais emergem como simples emanações das relações de
produção e troca.”
As duas grandes notáveis da EC são as empresas-plataforma Airbnb (aluguéis de
temporada) e Uber (do ramo dos transportes). Essa última é apontada, inclusive, como
sinônimo de EC ou ela própria. Tão expressiva é sua associação com a modalidade, que
de seu nome derivou o substantivo uberização, para denominar a forma de relação de
trabalho decorrente dessa modalidade econômica, que foi transposta para outras
esferas, como a contratação de docentes e o setor de entregas na alimentação.
As duas empresas-plataforma se apresentam publicamente de formas distintas:
enquanto a Airbnb aparece como um pequeno negócio, pautado na sustentabilidade e
na esteira das cidades inteligentes, em que o dinheiro retorna, em tese, para benefícios
da própria comunidade; a Uber – que em alemão quer dizer superioridade, estar por
cima, pauta-se na ideia de ter um motorista particular. Todavia, embora se apresentem
com feições distintas, se igualam no modo de agir nas cidades, impondo, a qualquer
custo, sua presença, principalmente ao poder público, e usando de todo e qualquer meio
para remover possíveis obstáculos do caminho que venham a atravancar suas
presenças nos negócios. Cabe frisar que erodir cidades não se constitui em problema
para essas empresas/plataformas.
No entanto, tal modalidade – mediada pelas tecnologias – não cumpriu a promessa de
assumir uma face solidária. Segundo Slee (2017), o que de fato vem ocorrendo é a
apropriação corporativa da energia coletiva por meio de investimentos bilionários, que
fez com que, para a classe trabalhadora mais empobrecida, a EC se assemelha mais a
uma “Economia de Bico”, sobretudo no Brasil, onde o desemprego atinge 11,9%,
assolando 12,6 milhões de pessoas e a informalidade, na esteira da uberização, atingiu
o maior percentual histórico, 41%, segundo divulgação do IBGE , sendo que em 11
estados da federação, o índice de informalidade ultrapassa o percentual de 50% . Dito
de outro modo, o que era apresentado inicialmente pelos seus idealizadores como um
movimento social em direção a uma forma diferenciada de economia e sociedade mais
solidária, se revelou, na prática, como um tipo nefasto de negócio que vem intensificando
a precarização das condições de trabalho ao impor à classe trabalhadora menores
ganhos e total ausência de direitos trabalhistas.
Dessa forma, a EC, que foi Gestada no Vale do Silício, local que abriga gigantescos
investimentos, fracassou socialmente porque se constituiu em um movimento
exponencial em favor da desregulação nos mais variados setores da vida, maximamente
no trabalho, em que as trabalhadoras e os trabalhadores não são juridicamente levados
em consideração nas relações de trabalho com essas empresas-plataforma, que se
anunciam como meras intermediárias entre consumo e prestação de serviços, o que as