possibilita um diálogo potente com as problemáticas sociais de nosso tempo. Como
superar a crise socioambiental gestada pela sociabilidade capitalista? Como reconstituir
os ecossistemas degradados pela ação predatória do latifúndio e do agronegócio em
séculos de exploração? Como produzir alimentos em uma escala compatível com as
necessidades humanas, a partir da agroecologia? Como romper com os mecanismos
de dependência interna se a economia nacional está assentada sob a exportação de
commodities? Ao levantarmos tais questões nos deparamos com problemas reais da
transição agroecológica e da transformação das relações sociais de trabalho e produção.
Desse modo, investigamos nesta pesquisa a práxis agroecológica a partir da análise das
categorias trabalho, formação e emancipação humana. Para tanto, entrevistamos quatro
agricultores agroecológicos, vinculados a diferentes organizações e movimentos
agroecológicos, somadas as observações de campo realizadas no IV Encontro Nacional
de Agroecologia, no X Congresso Brasileiro de Agroecologia e no Acampamento "Maria
da Conceição", vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Os resultados da pesquisa demonstram que a transição agroecológica não envolve
somente a modificação das técnicas de produção. Todo o processo de transformação
abarca a construção de caminhos formativos e educativos que envolvem a mudança e
assimilação do modelo produtivo do agronegócio para o agroecológico, sendo a
formação, a descolonização das práticas produtivas e do imaginário social um fazer
contínuo e necessário à essa transição. Assim, os problemas colocados para a transição
agroecológica perpassam também a dimensão da formação humana e a transformação
das relações sociais de produção. Consideramos que a solidificação da agroecologia
como novo paradigma agrícola está diretamente vinculado à possibilidade de suplantar
a falha metabólica oriunda da agricultura capitalista. Entretanto, em muitos casos a
agroecologia tem sido reduzida a produção e a consumo de alimentos orgânicos,
tornando-se uma “alternativa verde” ao mercado e as problemáticas ecológicas do
capitalismo. De outro modo, as vivências ao longo da pesquisa demonstraram que a
agroecologia não é um todo homogêneo, pelo contrário, a diversidade de perspectivas e
práticas agroecológicas marca simultaneamente as potencialidades e subordinações
desse paradigma. Por fim, concluímos que a agroecologia é um processo em
movimento, que envolve resistências, formações e reconexões entre a humanidade e a
natureza, podendo nos abastecer de novas rotas e caminhos societários.
Palavras-chave: Agroecologia. Trabalho. Formação. Emancipação.
ABSTRACT
In the late 1950s, modernizing agriculture technologies were introduced in Latin America's
subtropical climate countries. These technologies shaped a new production model for the
countryside - the so-called Green Revolution. In Brazil's case, the Green Revolution was
introduced into agriculture by the state. The Military Dictatorship intended to make national
agriculture strong and competitive, transforming the country into a "great commercial
granary”. In this way, the industrialization of agriculture was considered synonymous with
national sovereignty, despite being introduced into the territory in an authoritarian, violent,
and unequal manner. The "conservative modernization" of agriculture, based on the
latifundium, intensified the concentration of private ownership of land, and accentuated
the unequal and excluding characteristics of the Brazilian traditional agrarian structure,
which were later aggravated by the economic, technological, and productive emergence
of agribusiness. As a response to the capitalist progress of agriculture and its social and