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DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2021.29236
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
MARCATTI, Amanda Aparecida. Formação e Educação na Agroecologia:
Entre Resistências e Subordinações. 2020. 198p. Tese de Doutorado em
Educação. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2020.
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FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO NA AGROECOLOGIA: ENTRE RESISTÊNCIAS E
SUBORDINAÇÕES
Learning and Education in Agroecology: Between Resistance and Subordination
MARCATTI, Amanda Aparecida
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RESUMO
No final da cada de 1950 foram introduzidas, nos países de clima subtropical da
América Latina, tecnologias de modernização da agricultura. Estas tecnologias agrícolas
conformaram um novo modelo de produção para o campo - a chamada Revolução
Verde. No caso brasileiro, a Revolução Verde foi introduzida na agricultura pelas mãos
do Estado. A Ditadura Militar pretendia tornar a agricultura nacional forte e competitiva,
transformando o país em um grande celeiro comercial. Desse modo, a industrialização
da agricultura foi considerada sinimo de soberania nacional, ainda que introduzida no
território de forma autoritária, violenta e desigual. A modernização conservadora da
agricultura, ao ter como alicerce o latifúndio intensificou a concentração da propriedade
privada da terra, acentuou a característica desigual e excludente da estrutura agrária
brasileira, o que posteriormente foi agravado com o salto econômico, tecnológico e
produtivo do Agronegócio. Como resposta ao progresso capitalista da agricultura e suas
mazelas socioambientais, surgiram, em meados da década de 1970, diversos
movimentos ecológicos de cunho contestatório ao pacote tecnológico da Revolução
Verde. Esses movimentos pretendiam, além de denunciar a destruição ambiental
causada pelos impactos da agricultura convencional, anunciar a possibilidade de uma
nova agricultura de base ecológica, através da consolidação de tecnologias alternativas
à Revolução Verde. A constituição da Agricultura Alternativa no Brasil influenciou muitos
profissionais, agricultores, estudantes e pesquisadores, abrindo caminhos, na década de
1990, para a gestação da agroecologia. Nesse cenário, a agroecologia vem ganhando
corpo no terririo latino-americano, como matriz produtiva e como movimento social que
busca, no cultivo da autonomia alimentar, a superão do agronegócio como paradigma
hegemônico, dispondo dos conhecimentos tradicionais dos camponeses, das pesquisas
científicas e das lutas sociais. Portanto, compreendemos que a práxis agroecológica nos
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Orientador: Dr. Hormindo Pereira de Souza Junior. Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal
de Minas Gerais. Mestre em Educação pela UFMG. Doutor em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Pós-doutorado em Filosofia Política e Educação pela Universidade Federal
Fluminense. Professor Associado da UFMG. Professor do Programa de Pós-Graduação Conhecimento e Inclusão Social
em Educação da FAE-UFMG. Desenvolve pesquisas no campo de confluência entre trabalho, política, formação e
emancipação humana. E-mail: hormindojunior@gmail.com
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Doutora e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMG, Graduada em Pedagogia
pela Universidade Federal de Minas Gerias. E-mail: amanda.apmarcatti@gmail.com
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possibilita um diálogo potente com as problemáticas sociais de nosso tempo. Como
superar a crise socioambiental gestada pela sociabilidade capitalista? Como reconstituir
os ecossistemas degradados pela ação predatória do latifúndio e do agronegócio em
séculos de exploração? Como produzir alimentos em uma escala compavel com as
necessidades humanas, a partir da agroecologia? Como romper com os mecanismos
de dependência interna se a economia nacional está assentada sob a exportão de
commodities? Ao levantarmos tais questões nos deparamos com problemas reais da
transição agroecológica e da transformação das relações sociais de trabalho e produção.
Desse modo, investigamos nesta pesquisa a práxis agroecológica a partir da análise das
categorias trabalho, formação e emancipão humana. Para tanto, entrevistamos quatro
agricultores agroecológicos, vinculados a diferentes organizações e movimentos
agroecológicos, somadas as observões de campo realizadas no IV Encontro Nacional
de Agroecologia, no X Congresso Brasileiro de Agroecologia e no Acampamento "Maria
da Conceição", vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Os resultados da pesquisa demonstram que a transição agroecológica não envolve
somente a modificação das técnicas de produção. Todo o processo de transformação
abarca a construção de caminhos formativos e educativos que envolvem a mudança e
assimilação do modelo produtivo do agronegócio para o agroecológico, sendo a
formação, a descolonização das práticas produtivas e do imaginário social um fazer
contínuo e necessário à essa transição. Assim, os problemas colocados para a transição
agroecológica perpassam também a dimensão da formação humana e a transformação
das relões sociais de produção. Consideramos que a solidificação da agroecologia
como novo paradigma agrícola está diretamente vinculado à possibilidade de suplantar
a falha metabólica oriunda da agricultura capitalista. Entretanto, em muitos casos a
agroecologia tem sido reduzida a produção e a consumo de alimentos ornicos,
tornando-se uma alternativa verde” ao mercado e as problemáticas ecológicas do
capitalismo. De outro modo, as vivências ao longo da pesquisa demonstraram que a
agroecologia não é um todo homogêneo, pelo contrário, a diversidade de perspectivas e
práticas agroecológicas marca simultaneamente as potencialidades e subordinações
desse paradigma. Por fim, concluímos que a agroecologia é um processo em
movimento, que envolve resistências, formações e reconexões entre a humanidade e a
natureza, podendo nos abastecer de novas rotas e caminhos societários.
Palavras-chave: Agroecologia. Trabalho. Formação. Emancipação.
ABSTRACT
In the late 1950s, modernizing agriculture technologies were introduced in Latin America's
subtropical climate countries. These technologies shaped a new production model for the
countryside - the so-called Green Revolution. In Brazil's case, the Green Revolution was
introduced into agriculture by the state. The Military Dictatorship intended to make national
agriculture strong and competitive, transforming the country into a "great commercial
granary. In this way, the industrialization of agriculture was considered synonymous with
national sovereignty, despite being introduced into the territory in an authoritarian, violent,
and unequal manner. The "conservative modernization" of agriculture, based on the
latifundium, intensified the concentration of private ownership of land, and accentuated
the unequal and excluding characteristics of the Brazilian traditional agrarian structure,
which were later aggravated by the economic, technological, and productive emergence
of agribusiness. As a response to the capitalist progress of agriculture and its social and
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environmental plagues, several ecological movements emerged in the mid-1970s,
contesting the technological package of the Green Revolution. These movements aimed
not only to denounce the environmental destruction caused by the impacts of
conventional agriculture, but also to announce the possibility of a new ecological-based
agriculture through the consolidation of technologies alternative to those of the Green
Revolution. The constitution of Alternative Agriculture in Brazil influenced many
professionals, farmers, students, and researchers, opening paths in the 1990s for the
emergence of agroecology. In this scenario, agroecology has been gaining strength in
Latin America, as a productive matrix and as a social movement itself that seeks, by
focusing on food autonomy, to overcome agribusiness as a hegemonic paradigm, making
use of the traditional knowledge of peasants, scientific research and social struggles.
Therefore, we understand that agroecological praxis allows us to have a powerful
dialogue with the social problems of our time. How can we overcome the socio-
environmental crisis caused by capitalist sociability? How to reconstitute ecosystems
degraded by the predatory action of latifundium and agribusiness in centuries of
exploitation? How to produce food on a scale compatible with human needs, following the
principles of agroecology? How can we break with the mechanisms of internal
dependence if the national economy is based on the export of commodities? By raising
such questions we deal with real problems of the agroecological transition and the
transformation of social relations of labor and production. In this way, in this thesis, I
investigate the agroecological praxis by analyzing the categories of labor, learning, and
human emancipation. To this end, on the one hand, I interviewed four agroecological
farmers, belonging to different agroecological organizations and movements; on the other
hand, I collected data from a series of field researches and direct observations, such as
in the occasion of my participation in the IV Encontro Nacional de Agroecologia and the
X Congresso Brasileiro de Agroecologia, and during my period of research in the "Maria
da Conceição" Camp, linked to the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST). The results of the research show that the agroecological transition not only
involves the modification of production techniques. The entire transformation process
encompasses the construction of formative and educational paths that involve the change
and assimilation of the productive model from agribusiness to agroecology; a process
where the learning and the decolonization of productive practices and the social imaginary
represent a unique and continuous moment of this transition. Thus, the problems posed
for the agro-ecological transition also exceed the dimension of human formation and the
transformation of social relations of production. We consider that the strengthening of
agroecology as a new agricultural paradigm is directly related to the possibility of
overcoming the metabolic rift that originated in capitalist agriculture. However, it is frequent
to reduce agroecology to organic food production and consumption, making it agreen
alternative" to the market and the ecological problems of capitalism. On the other hand,
the outcome of my research shows that agroecology is not a homogeneous whole; on
the contrary, the diversity of perspectives and agroecological practices mark both the
potentials in terms of resistance and the risks of subordination of this paradigm. In the
end, we conclude that agroecology is a process in motion, involving resistance,
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formations, and reconnections between humanity and nature, and can provide us with
new possibilities and societal paths.
Keywords: Agroecology. Labour. Learning. Emancipation.
Data da submissão: 28/01/2021.
Data da aprovação: 08/05/2021.