a realidade da cidade até então, visto que a categoria era composta por um contingente
pequeno, com pouca expressão em termos de organização.
[…] é assim a história do sindicato dos metalúrgicos: sempre foi um sindicato pequeno pela
história da metalurgia no município, basicamente a gente se baseava em empresa de
esquadrias, em serralherias. A gente tinha poucas metalúrgicas e as que tinham não tinham
expressão, eram pequenas que abasteciam: 15/20 trabalhadores. Então, não tinham
expressão e a expectativa? Eu posso te dizer assim, que não tinha também, porque era tudo
muito diferente. Eu te digo, como cidadão, como trabalhador que tive dentro do Polo Naval,
a gente não tinha expectativa, não tinha ciência que nós tínhamos o sindicato. A gente tinha
ciência que tinha uma pessoa aqui, mas assim nós estávamos preocupados em viver aquele
momento, porque a gente também não sabia nada. E viver tudo aquilo ali que para nós era
novidade! Então, eu acho que o sindicato lá em 2003, em meados de 2006, não tinha uma
relevância expressiva porque a empresa se instalando, se criando todo um movimento
dentro do município, que não se falava em sindicato naquela época (Dirigente sindical, Rio
Grande, 1.º de julho de 2016).
Mesmo com o movimento de contratação gerado pelo Polo Naval e o impulsionamento
das atividades e da categoria, paradoxalmente, conforme o relato do dirigente sindical e
trabalhador do Polo na época de sua instalação, não havia sequer noção da existência
de sindicato nesse período. Entretanto, havia um sindicato que representava os
trabalhadores, mas ele tinha pouca tradição e representatividade. Ou seja, legalmente
os trabalhadores eram representados pela figura do sindicato, que expressava, a priori,
“a condição de cada sindicato vir a ser efetivamente o veículo de identidade dos
trabalhadores”. Entretanto, esse sindicato não tinha representatividade de fato, que é “um
atributo institucional intrínseco ao sindicalismo, embora dependente de conquista”, que
“integra o constante processo de legitimação/aceitação do sindicato junto aos
trabalhadores desde o chão de fábrica, em diferentes níveis”. Havia sim uma
representação de direito, um sindicato, mas ela não era efetiva no que diz “respeito ao
trabalhador se sentir representado pelo sindicato, independentemente de sua filiação”,
como analisam Bridi, Araújo e Motim (2007, s/p).
Essa ausência de representatividade foi enfrentada pelos trabalhadores, e desde então
o sindicato começou a ser revitalizado e reorganizado. Em maio de 2011, os
trabalhadores depuseram o antigo presidente do sindicato em virtude de, entre outras
questões, ausência de representatividade e abandono da categoria, já que estava em
exercício desde 2002 e, portanto, acompanhou todo o movimento de instalação do Polo
Naval no município sem se ocupar com a reorganização da categoria.
Durante um breve período, dois representantes escolhidos por alguns trabalhadores
concluíram o mandato (Ver Anexo). Em 2012 houve o pleito eleitoral para a escolha da
nova diretoria, e o presidente do sindicato foi eleito com 90% de aceitação, sendo que o
número de filiados saltou de 40, em 2011, para 1.500, no ano de 2015. A partir de então,
os novos dirigentes precisaram reorganizar o sindicato:
Bom, primeiro eu me deparei com o problema de organizar o sindicato. Porque eu assumi
um sindicato, de uma categoria que já teria passado aí cerca de dez, quinze mil
trabalhadores e teve arrecadação disso tudo. E quando o ex-presidente some, entrega a
carta de demissão, após a pressão que a gente fez, a gente veio a descobrir que o sindicato
tinha dívidas (Dirigente sindical, Rio Grande, 4 de abril de 2016).
O mesmo dirigente sindical relata que o Polo vinha gerando uma arrecadação desde
2006, pelo menos, mas o sindicato, além de não representar de fato a categoria, tinha
uma série de dívidas: “o próprio alvará de funcionamento do sindicato estava vencido,