dos homens, a doutrina kautskyana desemboca necessariamente no quietismo. Na
interpretação de Waldenberg (1982), Kautsky combinou o determinismo voluntarista no
modo de conceber os fatos com um fatalismo quietista, com um automatismo
economicista, pondo o evolucionismo no lugar da dialética, excluindo o elemento
voluntarista e reduzindo o marxismo à teoria do desenvolvimento regulado e natural da
sociedade capitalista. Sobre as desfigurações teóricas provocadas no marxismo por
elementos estranhos à sua essência, que em uma fase bem precisa da repercussão
ideológica das lutas de classe, e, sobretudo durante o período da Segunda Internacional,
dos anos da sua fundação até a Primeira Guerra Mundial, foram se insinuando e se
fixando no interior da doutrina, Oldrini (1999) afirma que foram decorrentes
principalmente da circunstância de que, não tendo Marx e Engels conseguido, por
motivos independentes da sua vontade, levar a termo a construção de um sistema
filosófico do marxismo, os marxistas que vieram depois deles encontraram-se muito
frequentemente deslocados e indefesos em relação aos adversários. E sem um sistema
doutrinário para opor às suas críticas, acabaram aprofundando a aridez daquele
ecletismo incoerente, segundo o qual seria preciso completar, de fora, as doutrinas
econômicas de Marx, por exemplo, com Mach no plano físico, com Kant no plano ético
e com as teorias positivistas da arte no plano estético. Esse determinismo de ordem
filosófica – continua Oldrini (1999) - que se prolonga muito além da Segunda
Internacional, até alcançar também boa parte do desenvolvimento do marxismo soviético
no período stalinista, converte-se depois, na opinião do autor, por sua vez, no plano
político, em uma espécie de fatalismo. Da lei marxiana do crescimento inevitável das
contradições do capitalismo deduz-se imediatamente a consequência que, no ato em
que as contradições amadurecem e explodem, a derrocada do capitalismo ocorre por si
mesma. Para Oldrini (1999), o empenho na luta ideológica, o pathos revolucionário
cedem lugar à resignação, por trás da qual está de espreita o oportunismo: como ficará
claro, segundo o autor, com a postura filobelicista assumida por quase todos os partidos
socialdemocratas europeus por ocasião da eclosão da Primeira Guerra Mundial (apoio
às burguesias nacionais, votações de créditos de guerra, e assim por diante).
Para Oldrini (1999), Gramsci combate desde cedo essas tendências economicistas,
fatalistas, incrustadas no marxismo e no movimento socialista, esforçando-se por
derrubar seus alicerces. O ponto de partida da sua ação e da sua reflexão, assim como
de sua inserção na história do pensamento socialista, continua o autor, deve ser buscado
no seu repúdio nítido e resoluto, presente desde o princípio, em relação ao marxismo
evolucionista e fatalista da Segunda Internacional.
À luz do exposto readquirem todo o seu justo significado as críticas de Gramsci e Lukács às
simplificações vulgarizadoras do marxismo realizadas com a Segunda Internacional, que se
estenderam até Bukharin e para além dele (materialismo mecanicista, sociologismo vulgar,
doutrina da previsão, sobrevalorização e mal-entendimento do papel da técnica das relações
de trabalho). São bem conhecidas e demasiado comentadas, as páginas de Gramsci sobre
Bukharin. Contrariamente às simplificações filosóficas bukharianas, redutivas com relação à
incidência da esfera da superestrutura, os Cadernos do Cárcere fazem valer uma dialética
muito mais articulada entre estrutura e superestrutura, onde encontra lugar e um lugar em
primeiro plano também a ação exercida pelas forças humanas, todavia sem aquela ênfase
idealista do momento da subjetividade que Gramsci denuncia e rejeita no jovem Lukács,
sem diminuir o reconhecimento da prioridade, em última instância decisiva, das leis
econômicas objetivas que operam no nível da estrutura (OLDRINI, 1999, p.73).
Em direção ao que argumenta Oldrini (1999), o historiador italiano Leonardo Rapone
(2014) afirma que, desde cedo, em contraposição à influência determinista/mecanicista