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DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2021.32566
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
CONSERVADORISMO E IRRACIONALISMO: O BOLSONARISMO
ENQUANTO REAÇÃO DO CAPITAL À SUA CRISE ESTRUTURAL
Conservatism and irrationalism: bolsonarism as a reaction of capital to its
structural crisis
CASTRO, Matheus Rufino
1
RESUMO
Este estudo almeja analisar ontologicamente o fenômeno do bolsonarismo, buscando compreen-lo
em seus elementos mais determinantes. Com base na noção de ontologia (LUCS, 2013),
entendemos que o Modo de Produção Capitalista se encontra em um processo de crise estrutural,
iniciado em 2008, que atinge todo o seu quadro de controle sociometalico. A ampliação da
precarização da vida da classe trabalhadora que agrava o quadro de pauperização material e espiritual
da sociedade impele os sujeitos a uma condão permanente de insatisfão. Entretanto, ao passo que
esta revolta é bastante difusa, refoada por sua captura pela racionalidade neoliberal, o idrio
conservador-irracionalista, como é o bolsonarismo, emerge como uma ntese posvel, ainda que
contraditória, da revolta dos sujeitos para com a sua vida e se consolida como uma reação do capital
para retomar a direção intelecto-moral da sociedade, assim como, e, principalmente, da fomentar a
acumulação de capital emveis ainda maiores. Outrossim, a absorção do idrio de grande parte da
classe trabalhadora e de suas organizações pelo capital a partir da ontologias-moderna restringe o
campo das possibilidades de sua práxis política. Torna-se, então, decisivo para o futuro da humanidade,
resgatar a ontologia para o campo da luta de classes de modo a apresentar um novo projeto societário
estruturante capaz de disputar oscorações e mentes da classe trabalhadora”.
Palavras-chave: Ontologia. Bolsonarismo. Crise.
ABSTRACT
This study aims to analyze ontologically the “bolsonarismphenomenon, in order to understand it at this
most determinants elements. Based on the notion of ontology (LUKÁCS, 2013), we understand that the
Capitalism Production Mode is passing by a process of structural crisis that started at 2008 and reaches
its control sociometabolic horizon. The rise of labor class degradation increases the situation of material
and spiritual society pauperization and excite the individuals to a condition of permanent dissatisfaction.
However, as this revolt is quite spontaneous, reinforced by this capture per the neoliberal rationality, the
liberal-conservative thought, such as the “bolsonarism, emerges as a possible synthesis, even if
contradictory, of this people dissatisfaction with their life and is consolidated as capital reaction in order
to recapture the intellectual and moral direction of the society, even as ensure capital accumulation in an
expanded way. Furthermore, the arrest of working-class consciousness and their organizations by the
capital through the postmodern ontology limits the policy praxis field of possibilities. Rescue the ontology
for the space of class struggle became crucial for the future of the humanity, with the end of introducing
a new structural society project able to dispute working class “hearts and minds”.
Keywords: Ontology. Bolsonarism. Crisis.
1
Doutor em Educação pela UERJ, Mestre em Educação pela UFF, Graduação em Licenciatura em
Educação Física pela UFRJ. Professor de Educação sica do Colégio Pedro II Campus Duque de Caxias
e coordenador do Núcleo de Estudos em Educação e Realidade Brasileira.
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INTRODUÇÃO
Podemos dizer que a pandemia escancarou um processo que, se não estava claro para
muitas pessoas, já era sentido em seu estado de latência, prestes a eclodir. A crise do
capitalismo, a insuficiência sistêmica em prover uma condição digna de vida para o
conjunto da população mundial se agravou sobremaneira neste período em que as
contradições inerentes ao Modo de Produção Capitalista (MPC) se intensificam e são
levadas às últimas consequências: explosão dos índices de desemprego; pauperização
extrema de grande parte da população; falta de acesso a serviços essenciais, entre
outras coisas.
Contudo, o caso brasileiro, em um capitalismo dependente, é ainda mais dramático e
expõe com maior clareza as debilidades sistêmicas, consubstanciadas na incapacidade
de cumprir com o mínimo prometido pelo capitalismo: uma ordem social com algum grau
de liberdades democráticas. Não bastasse sofrer com as mazelas de uma inserção
periférica/dependente na ordem capitalista mundial, o Brasil atualmente se depara com
a reação mais aguda do capital à sua crise: uma frente liberal-conservadora, para alguns;
neofascista, para outros, personificadas pela figura do presidente Jair Bolsonaro.
Dessa maneira, mesmo os esforços esperados por uma ordem que diz ter algum grau
de anteparo na ciência, na racionalidade (MÉSZÁROS, 2012), e que ocorrem em outros
países capitalistas para a contenção da pandemia do coronavírus são obstruídos quando
não inviabilizados pelo presidente e seu bloco no governo. O boicote deliberado ao uso
descaras, e, sobretudo à política de vacinação como forma de mitigar os impactos
do COVID-19 na economia é expressão-síntese destes fatores que caracterizam o
fenômeno bolsonarista: conservadorismo extremado, com o apelo a concepções
religiosas transcendentalistas; irracionalismo e negação dos parcos avaos das
ciências; radicalização e agitação de suas bases a partir de teorias da conspirão (além
das chamadas fake news).
Entretanto, apontar os aspectos mais fenonicos do Bolsonarismo, ou até mesmo
desta frente (ultra)liberal-conservadora, ou neofascista, que amplia seu raio de ação pelo
mundo e teve como maior expoente o ex-presidente estadunidense Donald Trump, não
é o suficiente para construir uma práxis política capaz de derrotar esta forma de reão
do capital à atual crise estrutural. Ir além do aspecto fenonico e chegar à essência do
acontecimento/forma social é fundamental, pois por um lado a essência apareceu
ontologicamente como momento predominante na interação e, por outro, a relação
igualmente ontológica entre ambas é concretizada no fato de que o fenômeno tem de
brotar necessariamente do ser da essência (LUCS, 2013, p. 385).
Para alcançarmos a devida compreensão da essência, é imperioso lançarmos mão da
ciência que estes grupos conservadores buscam negar com tanto afinco.Na realidade
social, os limites entre essência e fenômeno muitas vezes se tornam fluidos, que as
diferenças realmente existentes só podem ser constatadas como alguma precisão a
posteriori, com o auxílio de análises conceituais, científicas” (LUKÁCS, 2013, p. 492).
Destarte, é a ontologia marxiana que nos servirá como base cienfica para compreensão
da atual conjuntura e de uma de suas principais expressões: o irracionalismo que
embasa o conservadorismo em voga.
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Dito isso, este estudo será estruturado a partir dos seguintes pontos: compreender a
relação entre conservadorismo e capitalismo de modo a fazer a devida crítica de um
suposto progressismo inerente ao capital; trar um panorama do atual esgio do
capitalismo abordando a questão da crise e sua racionalidade, sobretudo o cerne de sua
ontologia; construir uma análise mais espefica do pensamento de extrema-direita na
realidade, em especial do fenômeno bolsonarista em suas bases ontológicas.
CAPITALISMO E CONSERVADORISMO: UMA RELAÇÃO MAIS PRÓXIMA DO QUE SE
COSTUMA PENSAR
Ao contrário do que se costuma transmitir para o conjunto das pessoas, o capitalismo
não pôde chegar ao seu atual estágio de desenvolvimento sem a utilização de muita
violência, assim como o pode se manter sem lançar o de um conjunto de todos
extremamente rbaros, de satisfazer até a mais sádica das pessoas. Em geral, a
historiografia aponta como marco zero do capitalismo enquanto Modo de Produção
dominante a Revolução Francesa, que, como vemos o nome, é uma revolão, marcada
por uma ruptura, em geral violenta, com o intuito de promover uma tomada de poder
para a construção de uma nova estrutura societária.
Este processo revolucionário ocorre após longo período de crise do Modo de Produção
anterior, o Feudalismo, que, chega ao esgotamento junto com suas estruturas de poder,
destacando-se o Estado absolutista, e a cosmovisão que o alicerçava, pautada
sobretudo pela ótica religiosa-transcendental, que justificava/legitimava uma estrutura
social baseada em estamentos. Na Idade Média, a renúncia da ciência à formação de
uma imagem do mundo era parte de uma composição social e ideológica entre a Igreja
(instituição fundamental na obtenção da coesão social) e a aristocracia (estamento
dominante no período).
Nos marcos da transição do Feudalismo para a dominância do Capitalismo, foi
necessário haver uma classe que conseguisse sintetizar esta necessidade de mudança
para com a ordem de coisas em vigor. Assim, a burguesia torna-se a classe social
revolucionária em contraposição à nobreza, e, para tanto, necessita de uma concepção
de mundo para se confrontar com a conceão dominante, e assim atrair as demais
classes para esta ação revolucionária. A ciência e a razão são invocadas como bases
para uma nova concepção de mundo centrada no ser humano combatendo o
determinismo religioso que justificava uma ordem social aristocrática, assumindo um
caráter que se pode denominar de progressista, constituindo o que Mészáros (2012, p.
462) denomina de Ideologia iluminista-liberal.
A ideologia burguesa tinha como principal viés almejar uma libertação da humanidade
por meio da Razão, uma razão universal que construiria uma nova ordem social capaz
de promover progressos sociais. A solão positivo-emancipatória dos problemas
identificados era otimisticamente prevista sobre esses fundamentos, tanto em termos do
conhecimento alcançável como do aperfeiçoamento moral possível das partes e, com
elas, do todo (MÉSZÁROS, 2012, p. 462, grifos do original).
Com isso, as demais classes sociais (trabalhadores, a pequena burguesia, camponeses)
aderem ao projeto burgs, a partir de seus interesses particulares, e atuam neste
processo revolucionário. Contudo, após a revolução burguesa, começa a ficar evidente
que o que estava em jogo era a constituição de uma nova estrutura societária ainda
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pautada pela exploração destes outros grupos, tendo a burguesia como a classe
dominante, ainda que houvesse avanços sociais relevantes. Para frear a continuidade
do ímpeto da classe trabalhadora que desejava se manter no processo revolucionário,
foi necessário para a burguesia estabelecer um conjunto de acordos e concessões para
com a anterior classe dominante, a nobreza, junto com a instituição social responsável
pela coesão social naquele período, a Igreja.
A burguesia, então, passa gradativamente de classe revolucionária para uma classe
reacionária que deveria construir novos mecanismos de dominação e contrapeso aos
imperativos revolucionários da classe trabalhadora assim como conter a insatisfão das
demais classes, já que o progresso prometido das condições de vida, não poderia ser
alcançado por todos. Era necessário negar, na prática, à vasta maioria dos indivíduos a
possibilidade de alcançar um tal status, com o objetivo de manter um sistema de
dominação em que o capital por uma questão de necessidade objetiva tinha de lhes
atribuir uma posição subordinada (MÉSZÁROS, 2012, p. 464, grifos do original). Para
tanto, a concepção de mundo calcada na ciência, de ordem progressista na ruptura para
com o Feudalismo, teve que abrir espaço e estabelecer concessões com antigas
concepções transcendentalistas, em especial a religião.
Como resultado, foi produzida uma nova ontologia que pudesse ser livremente
manipulada pelos sujeitos a partir dos interesses dominantes, estabelecida a partir da
homogeneização da realidade por meio dos conhecimentos parciais no âmbito das
ciências da natureza. Como resultado, surge a possibilidade de haver um retorno da
religião como forma de explicação da realidade, embora não como o principal elemento
da justificão da ordem social a partir de sua dominação pela burguesia. Esta nova
ontologia se contenta com um acordo espiritual-científico no sentido de que não há mais
uma oposição autenticamente excludente entre a mais avançada ciência natural
moderna (em contraste com a dos séculos XVII-XIX) e a posição religiosa diante do
mundo (LUKÁCS, 2018, p. 51).
Nestes marcos, ao abdicar da perspectiva revolucionária, torna-se necessário para a
burguesia e para a sustentação/justificão da materialidade da nova ordem social em
vigor uma nova concepção de mundo que conseguisse articular no âmbito moral e ético-
político uma perspectiva conservadora, que buscasse impedir a veiculação de ideias
radicais de transformação social, com uma ideia de desenvolvimento científico desde
que este se circunscrevesse ao aumento da produtividade material e legitimão da
ordem societária capitalista. A ontologia religiosa permitiu por muito tempo a coexistência
de uma dupla-verdade, a mundana e a divina, desde que a ontologia desta última
prevalecesse mesmo com a investigação científica (LUKÁCS, 2018).
Disto resultou que a ideologia liberal-iluminista passou por uma série de ajustes para
que pudesse corresponder aos imperativos do capitalismo em consolidação, com uma
nova base teórico-política de cunho cientificista, na verdade, enredando gradativamente
para concepções pseudocientíficas, cujo objetivo foi construir uma estabilidade social a
partir das necessidades da burguesia. Este processo faz com que se derive da ideologia
iluminista, a concepção científico-filosófica do positivismo, que já nasce como uma forma
compreender a sociedade extremamente conservadora.
O positivismo impulsionou o sistema de ideias conservador, ao mesmo tempo em que o
modificou, pois estabeleceu sua reconciliação com a sociedade capitalista consolidada e sua
institucionalidade. Realinhou o foco das disputas políticas dos conservantistas, de posições
antiburguesas para posições antiproletárias e, por derivação, contrarrevolucionárias. A
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Sociologia como disciplina e ciência espefica passa a vocalizar certas aspirações
conservadoras clássicas, principalmente aquelas em defesa das instituições estabelecidas.
Opera essa vocalização por meio de "métodos científicos" que esvaziam a produção de
conhecimento sobre a sociedade de suas mediações ecomicas e políticas. Esse fôlego
renovado que valores conservadores centrais recebem das "ciências sociais" é repleto de
consequências históricas(SOUZA, 2015, p. 203).
A concepção cienfico-filosófica que passa a predominar naquele momento - o
positivismo - tem como principal desdobramento: a determinação da manipulação como
o método científico por excelência e fim de toda atividade. Desta maneira, o saber
científico, independente do sistema utilizado, se converte em mecanismo de
manipulação, ao mesmo tempo que há a imposição de uma impossibilidade de
apreensão do ser-em-si, isto é, não é possível compreender a realidade de modo
científico, mas apenas manipular os seus aspectos fenomênicos (perceptíveis aos
sentidos físicos) do modo mais pragmático o possível para satisfazer interesses
imediatos.
Esta teoria do conhecimento, eno, se estabelece em articulação com um intenso
subjetivismo, já que o cririo de realidade/verdade passa a ser o atendimento a esses
interesses mais imediatos, particulares (LUKÁCS, 2018). Esta concepção científica
passa a ser ajustável a qualquer concepção de mundo, sobretudo a religiosa-
transcendentalista e se converte em arma ideológica na medida para a burguesia,
assumindo um caráter extremamente conservador. Logo, irracionalismo/idealismo
subjetivista e conservadorismo caminham juntos como as duas faces da moeda do
capitalismo, embasando as concepções de mundo que o justificam e legitimam.
Consequentemente, torna-se determinante para a reprodão da ordem capitalista a
existência de uma cosmovisão de cunho conservador, quando não reacionário, pois, nos
tempos de crise, com a agudização das contradições do próprio capitalismo, a
insatisfão da classe trabalhadora se amplifica e é necessário estabelecer novas formas
de obtenção do consenso social, para além é claro do uso da repressão aberta e violenta.
A conquista ideológica da classe trabalhadora só pode, então, passar pela limitação do
alcance da razão e da ciência como formas de compreender o mundo (restringindo o
alcance e papel social da ciência propriamente dita), isto é, introduzir elementos
irracionalistas, mesmo no espectro científico; enquanto, em um nível moral, no campo
da ética, é fundamental a assunção de um horizonte conservador, de forma a manter os
sujeitos não apenas em uma situação passiva, mas de adeo ativa à ordem capitalista.
A CRISE DO CAPITALISMO E A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ONTOLOGIA OU
COMENDO UMA COMIDA REQUENTADA COM NOVOS TALHERES
Talvez uma das palavras mais popularizadas nestes últimos anos seja crise”,
independente da abordagem que se fa da mesma. Em geral, a dia hegemônica,
junto com os partidos da ordem, seus intelectuais, think tanks, promovem a crise como
algo meramente circunstancial, nunca sistêmico, em geral como culpa/responsabilidade
de medidas antiliberais, cujos problemas seriam resolvidos a partir do receituário liberal:
privatizações, redão do Estado, retirada de direitos trabalhistas e sociais, uma
subordinação social total aos ditames do mercado. Outro elemento vem ganhando
espaço nestas concepções de crise do capital é a abordagem moralista da crise: em que
o liberalismo seria do bem, a solução de todos os problemas da humanidade, enquanto
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o comunismo/socialismo ou qualquer outra perspectiva que se afaste do liberalismo seria
malvada, ou então corrupta e culpa pela crise.
Entretanto, em nossa análise ontológica do capitalismo, observamos que as crises não
são momentos excepcionais seus, mas uma regra, ou melhor, uma condição para que
o mesmo possa sanar os momentos de agudização de suas contradições.
Os processos de acumulação de capital desenvolvem as contradições do capitalismo a um
ponto tal que as crises o a forma que esse mesmo modo de produção encontra para, ao
mesmo tempo, manifestar o momento de irrupção dessas contradições e o
restabelecimento da unidade entre a produção e a aproprião do valor (CARCANHOLO,
2010, p. 01).
As crises do capitalismo são divididas em dois tipos fundamentais: as crises conjunturais,
que são circunstanciais e ocorrem com muita frequência em virtude de ser o capitalismo
um Modo de Produção incontrolável, cuja preocupação central é ampliar o processo de
acumulão mesmo que em detrimento das necessidades humanas. Estas crises
afetam partes do sistema do capital, mas não abalam a sua estrutura, pois esta é flexível
o suficiente para se reorganizar e superá-las com alguma celeridade.
Temos também as crises estruturais ou orgânicas, que abalam concretamente as
estruturas do MPC, em todo seu processo de controle sociometalico (MÉSZÁROS,
2012). Este tipo de crise representa uma ameaça concreta ao controle do capital, pois,
atinge toda a sua estrutura, desde o centro do processo de acumulação e irradia para o
nível do conjunto das instituições, do macrocosmo estatal ao microcosmo familiar, por
exemplo, engendrando uma crise de direção/comando dessa sociedade. Acreditamos
que atual a fase do capitalismo seja a de uma crise estrutural/sistêmica.
Dessa maneira, para identificarmos a essência das formas atuais do capitalismo em crise
estrutural, é importante conhecermos suas determinações mais gerais. A atual fase do
capitalismo, o neoliberalismo, tem como principal marca a necessidade de acelerar em
um grau nunca antes visto o processo produção/rotação/acumulação de capital.
Para tanto, houve a promoção de um conjunto de fatores que simultaneamente dão o
tom da nova forma de se produzir a vida como resposta à crise do que se deliberou
chamar defase fordista” de acumulação de capital: reestruturação produtiva com uma
permanente revolução tecnológica e com novas formas de organização/gerenciamento
do trabalho de modo acelerar indefinidamente a circulação de capital (a uberizão, por
exemplo); desregulamentação total dos mercados financeiros; apropriação quase que
total do fundo público dos Estados pelo capital, em especial por mecanismos da dívida
pública; privatização total dos serviços do Estado, com exceção das forças de segurança
e do poder judiciário que devem garantir o controle dos conflitos entre a burguesia e
classe trabalhadora, além dos conflitos intraburgueses; retirada máxima dos direitos
trabalhistas de modo a reduzir ao mínimo possível o custo da força de trabalho e ampliar
as taxas de lucro; aumento do papel repressor do Estado, com a redução dos
mecanismos de participação popular e gestão democrática, e ampliação do poder bélico
de seus agentes de repressão.
Cumpre um papel determinante neste processo a constituição de uma nova
racionalidade, capaz de fazer o sujeito não apenas se acomodar diante dessa ordem de
coisas, como ser um participante ativo na reprodução da mesma. [...] a política neoliberal
deve mudar o próprio homem. E essas políticas devem chegar ao ponto de mudar a
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própria maneira como o homem concebe sua vida e seu destino (DARDOT & LAVAL,
2016, p. 91, grifos do original).
Em mundo de tantas incertezas, de total precariedade das condições de trabalho, das
relações introduzidas pelas necessidades de acumulação ampliada de capital, é
fundamental incutir nos sujeitos a noção de que essa condição permanente de mudança
e ausência de estabilidade são boas e fazem parte da vida. Consequentemente, há o
crescimento da relevância de conceitos como empregabilidade”, polivalência”,
flexibilidade”, etc., dentre outros termos deste corolário que busca promover no sujeito
exatamente esta incapacidade de pensar para além do presente, uma vida baseada no
presentismo, sem planos e sem futuro, apenas na adaptação aos imperativos irracionais
do capital.
Generaliza-se o medo do desemprego e com ele a necessidade de adaptação diante
dos problemas da sociedade, pois, a prioridade é garantir a própria sobrevivência,
afastando os sujeitos de quaisquer perspectivas mais amplas e significativas de ação e
inserção social.
Foi esse contexto de medo social que facilitou a implantação da neogestão nas empresas.
Nesse sentido, a naturalização do risco no discurso neoliberal e a exposição cada vez mais
direta dos assalariados às flutuações do mercado, pela diminuição das proteções e das
solidariedades coletivas,o apenas duas faces de uma mesma moeda. Transferindo os
riscos para os assalariados, produzindo o aumento da sensação de risco, as empresas
puderam exigir deles disponibilidade e comprometimento muito maiores (DARDOT &
LAVAL, 2016, p. 329).
Se encontra no cerne deste o processo o que Lukács (2013) denominou de predomínio
da manipulão na produção e reprodução sociais. Como já foi visto, isto significa a
existência de um tratamento dos aspectos da realidade descolados de seu contexto, de
seus nexos sociais, permitindo toda sorte de interpretações e de utilizações, de modo a
fortalecer os interesses e fins mais particularistas e imediatos em detrimento das ações
e perspectivas sociais mais amplas, coletivas, assim como dos preceitos da
solidariedade, em especial da classe trabalhadora.
A absolutização da lógica de mercado como sentido para a vida, que se amplia ao passo
que as necessidades de acumulação de capital tamm aumentam, promove a
subsunção do sujeito ao papel social de consumidor como outro elemento fundante
desta nova racionalidade. A subsunção da vida ao consumo ocorre a partir da lógica da
soberania do consumidor em relação ao mercado, e gera na pessoa a sensão de um
falso poder de pautar a produção social. Porém, quando esta ilusão se choca com a
realidade concreta, o sujeito se vê cada vez mais fragilizado e impotente diante do poder
totalizante do capital. Absorvido pela lógica do consumo, o sujeito tende a conceber que
o seu prestígio social, assim como a própria perceão de si (autoestima), depende de
sua atuação consumidor, ou seja, é definido por aquilo que ele se torna capaz de
ter/consumir em detrimento de suas relações reais, de modo que as suas relações, as
demais pessoas, se tornam apenas meios para cumprir seus objetivos mais imediatos e
particularistas (CASTRO, 2020; LUKÁCS, 2013).
Com isso, o individualismo/particularismo se fortalece enquanto tendência no âmbito da
práxis, com todas as consequências ético-políticas que isso acarreta, em especial o
enfraquecimento de todos os valores e princípios relativos à coletividade e à generidade
humana. Contudo, este fortalecimento do particularismo, não significa o fortalecimento
do sujeito diante da realidade, muito pelo contrário, significa estar cada vez mais à
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fragilizado e impotente diante de uma realidade que o oprime a cada dia mais, diante da
ausência de possibilidades de uma resposta coletiva socialmente significativa (SENNET,
2009).
Este sujeito cada vez mais egoísta, cujos vínculos sociais se encontram cada vez mais
limitados e enfraquecidos, tendo que garantir a sua sobrevivência (estar sob pena de
ruína como Lukács nos diz) se encontra crescentemente suscetível às concepções de
mundo mais pragmáticas, voltadas para a resolução individual e imediata de seus
problemas. Além disso, suas próprias perspectivas, esperanças e sonhos são
rebaixados e adaptados às possibilidades ofertadas por este sistema empobrecedor, de
modo que suas escolhas e prioridades tenham uma base de caráter cada vez mais
imediatista, engendrando um círculo vicioso de pragmatismo e utilitarismo, que o torna
mais egoísta e menos sensível às questões sociais mais amplas (CASTRO, 2020).
Ademais, a lógica concorrencial própria do capital se intensificou de tal modo que se torna
quase que uma questão de sobrevivência, quando não material, mas simbólica-
emocional (prestígio social sob forte pressão da opinião pública), tornar-se
extremamente competitivo e enxergar no outro ser humano não apenas um concorrente,
mas um inimigo, o que também passa a ser aplicado no âmbito da política é a
radicalização do dito farinha pouca, meu pirão primeiro, já que a farinha torna-se
insuficiente para as aspirações e imposições do capital. Agora, com a pouca farinha
que tenho, eu não apenas faço o meu pirão e não divido com ninguém, como eu tento
pegar a farinha de outra pessoa, nem que eu tenha que recorrer aos meios mais
bárbaros para isso.
Entretanto, esta vida desumanizada em termos de desenvolvimento de suas
potencialidades também engendra uma sensação absurda de sofrimento e de ausência
de sentido, que é uma construção social e só pode existir na relação indivíduo-sociedade,
a partir das relações sociais que se estabelece (LUKÁCS, 2013). É nesse contexto que
o irracionalismo-transcendentalista ganha um grande impacto na vida dos sujeitos, pois,
aproveita-se dessa vulnerabilidade, da miséria material e espiritual (im)posta pelo
capitalismo, e oferta um lo comunitário para sujeitos extremamente carentes, oferece
uma promessa de salvação, quando não contribui materialmente para a vida das
pessoas despossuídas, destacamos o caso óbvio das igrejas neopentecostais.
Esta ampliação da religiosidade irracionalista ganha força não apenas pelas
determinações de caráter econômico, mas se fortalece ao passo que o caldo de cultura
pós-moderno se torna hegenico e promove a perda de espaço da ciência como
fundamento de construção de uma nova concepção de mundo (a possibilidade de
construir uma nova sociedade, mais justa e melhor a partir da razão). O movimento pós-
moderno se origina com a busca por uma nova sensibilidade humana em detrimento da
razão fria da ciência que viria, segundo esta lógica, a embasar tanto capitalismo como
socialismo e provocar desastres como as duas grandes guerras mundiais, ambos
considerados como projetos da modernidade”, vista como a crea no progresso linear,
nas verdades absolutas, no planejamento racional de ordens sociais ideais, e com a
padronização do conhecimento e da produção (HARVEY, 2008, p. 19).
O pós-modernismo inicia como um movimento que almeja atuar no campo da cultura, a
partir dos valores da diferença”, e ontologicamente se alicerça na contraposição aos
discursos universais (totalizantes/homogeneizadores) (HARVEY, 2008). Ontológica e
epistemologicamente, ocorre uma aproximação com neopragmatismo norteamericano
(DUAYER, 2012), colocando ciência e filosofia no quadro das narrativas socialmente
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existentes ignorando as suas diferenças ontológicas em relação às demais constrões
sociais, como a religião. Ao combater o cientificismo por meio da crítica à razão
iluminista/positivista, o s-modernismo se aproxima ontologicamente do que pretendia
negar, o positivismo/neopositivismo, porquanto, ao postular a
inexisncia/impossibilidade de um conhecimento verdadeiro/universal, reduz a realidade
ao nível do discurso e da crença, no caso do neopragmatismo.
Ao encaixar a ciência no nível do discurso e da crença, e afirmar que os discursos e
crenças são individuais, fruto das experiências vividas de cada sujeito, o pós-
modernismo irmanado ao neopragmatismo desautoriza e suplanta a ciência enquanto
instrumento fundamental de compreensão e transformação coletiva da realidade. É a
derrocada da ontologia, o fim da possibilidade de compreensão do ser, de sua
objetividade, que provocouum caos nas imagens de mundo, visto que o único critério
de verdade que resta é o da utilidade no interior de um complexo de conhecimento
concreto e verificável na prática. (LUKÁCS, 2013, pp. 718-19).
Além disso, nesta lógica que atribui a verdade às vivências individuais, interesses e
finalidades mais imediatas, o pós-modernismo reforça o individualismo/particularismo já
fortalecido pela própria ordem capitalista e intensificado no período neoliberal, sendo
extremamente útil para a sua reprodução. Imerso na ontologia neopositivista, o sujeito
não consegue ver em sua particularidade uma historicidade (o passado não importa, o
futuro não pode ser planejado, o que me resta é um presente totalmente marcado pela
contingência), o que se harmoniza com a perspectiva pós-moderna do fragmentário, que
culmina com a redução da experiência a uma série de presentes puros e não
relacionados no tempo (HARVEY, 2008, p. 57).
E o que resta aos sujeitos diante de uma vida de incertezas? Aproveitar o presente da
melhor maneira que lhe aprouver, em que vale tudo para garantir este prestígio social,
sobretudo buscando fugir da miséria de sua vida real. É uma mistura entre a
radicalização do carpe diem com o consumo de prestígio social que converte as
válvulas de escape, como fanatismo religioso ou até mesmo político, uso abusivo de
drogas lícitas e ilícitas, vida sexual compulsiva, autoexposição doentia em redes sociais,
em estilo de vida, uma tentativa de dar sentido a uma existência sem sentido e sem
razão.
A importância de um consumo de massa nesse campo cria um aparato ideológico muito
extenso, que domina os órgãos da opinião pública, cujo ponto central de motivação é o
consumo de prestígio, que toma forma como meio de criar uma imagem, como indução a
ela; ou seja, a pessoa se veste, fuma, viaja, tem relações sexuais não por causa dessas
coisas em si e por si, mas para aparentar no ambiente em que se vive aimagem de certo
tipo de pessoa que é apreciada enquanto tal. (LUKÁCS, 2013, pp. 716-17).
Ademais, o arcabouço ontológico do pós-modernismo só permite a realização de críticas
à realidade com um caráter extremamente parcial (mirar o todo não apenas deixa de ser
desejável, mas se gera uma aversão, o pós-modernismo às vezes é mais anticomunista
que os próprios liberais assumidos). Dessa forma, por mais que essas críticas pós-
modernas atinjam pontos socialmente relevantes, como a necessidade de superação
das probleticas relativas à opressão de gênero, raça, sexualidade e afins, ao dar um
tratamento fragmentário, subjetivista, elas são facilmente acolhidas pelo capital e
convertidas em ferramenta de acumulão.
A lógica fetichista do capital combina de forma dialética a privatização da vida cotidiana,
o culto à identidade micro e aos guetos, com a expansão totalizante e mundializada dos
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mercados globais, isto é, a postura pós-moderna com a lógica do capitalismo neoliberal
e mundializado” (CARCANHOLO; BARUCO, 2009, p. 140). Podemos destacar a crião
de novos nichos de mercado, de modo que o esvaziamento de questões importantes
como a representatividade, implica que não se busque fazer com que o processo de
superão da opressão ocorra de modo estrutural/concreto, atingindo a raiz do
problema, mas sempre buscando individualizar as problemáticas e suas soluções, como
a questão do empoderamento”.
Dessa forma, a lógica pós-moderna de pensamento é muito menos transformadora do
que parece, sendo, na verdade, no nível social mais amplo, extremamente
conservadora, pois, o que propagada em termos práticos é a adaptação dos sujeitos à
ordem socieria em vigor. Os sujeitos devem reduzir seu escopo de inserção e atuação,
da classe para os pequenos coletivos, quando não atuarem individualmente, para fazer
o necessário (independente do custo social disso) que os possibilite ascender
socialmente e ter acesso a mais experiências mediadas pelo consumo. Isto faz com que
a emancipação humana seja deslocada do debate para uma ascensão social
individual, cuja marca seria ter acesso a bens de consumo e o consequente prestígio
social.
As questões sociais como os direitos e as desigualdades saem de cena para o culto à
proatividade, ao empreendedorismo; assim, a negação pós-moderna e o
recrudescimento do conservadorismo e o neoconservadorismo da ordem neoliberal, o
que inclui a extrema-direita, possuem uma relação bem estreita.
Uma retórica que justifica a falta de moradias, o desemprego, o empobrecimento crescente,
a perda de poder etc. apelando a valores supostamente tradicionais de autoconfiança e
capacidade de empreender também vai saudar com a mesma liberdade a passagem da
ética para a estética como sistema de valores dominantes (HARVEY, 2008, p. 301).
Dessa maneira, a classe trabalhadora sofre um duplo ataque no processo da formação
de sua consciência: por um lado, há uma série de imperativos objetivos, decorrentes das
novas formas de organizão/gestão do trabalho, que a colocam em uma posição
extremamente defensiva, quase que vivendo com base em seu instinto de sobrevivência,
tornando-a mais refratária à qualquer perspectiva de inserção social, incentivando ao
máximo o seu particularismo e a objetificação das demais pessoas, obstruindo a
formação de mecanismos e espos de solidariedade de classe; por outro, diante da
negação da ciência como mecanismo fundamental de compreensão da realidade, pelo
seu rebaixamento ontológico, e o reforço a uma existência cada vez mais voltada para o
imediatismo, para o utilitarismo, a ausência de sentido de sua vida só pode ser suprida
por uma lógica transcendental salvacionista, que, a impele a uma condição de ou
resignão apática ou até uma adesão entusiasmada para com a atual ordem de coisa,
e aqueles que se revoltam se tornam alvos de grande rejeição social, aversão pública.
Um mundo absurdamente sem possibilidades, sem futuro, tão sem futuro que erodiu quase
por completo a própria teodiceia do crescimento do capital e seus ideólogos. Daí a
compreensível associação que tal predomínio estabelece entre ceticismo, conformismo e
hiperindividualismo. O sistema de crenças, ao representar um mundo social sem sentido
social, exacerba tais atitudes e, retroativamente, reforça subjetivamente, pelas atitudes
pessoais que alimenta, o cater crescentemente antissocial dessa forma de organização
da vida social (DUAYER, 2012, p. 24).
Com isso, as correntes autointituladas progressistas do que hoje seria uma esquerda
liberal de corte pós-moderno se ancoram nesses preceitos e atuam de acordo com os
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parâmetros do que seria um moralismo do bem, por não ser moralmente conservador.
Por que eu digo isso? A negação da ciência como forma de compreender a realidade, e
sua equiparação no âmbito do discurso e da crença a qualquer outra formulão, valor,
vivência, só pode tratar das questões das opreses (que o pós-modernismo diz buscar
combater) no nível da moralidade. Quando estes setores estabelecem embates sobre
essas opressões com os círculos conservadores, o debate escapa totalmente ao escopo
científico da análise para um viés moralista. As discussões se resumem a um duelo do
bem (progressismo) contra o mal (conservador), incorrendo em uma ética abstrata, que,
muitas vezes, tem afastado a classe trabalhadora das discussões e sonegado as suas
possibilidades de formação e emancipão, além de não resultar em processos
concretos de melhoria de vida dos grupos subalternizados.
Indo além, se os parâmetros, valores, princípios devem ser pautados exclusivamente
pelas vivências e perspectivas individuais, até mesmo o debate moral, ético-político,
deixa de fazer qualquer sentido, pois, o que é bom, o que é do bem” é fruto da
perspectiva individual de cada sujeito e não da perspectiva social. Assim, a esquerda
liberal ou pós-moderna tenta ganhar do adversário no seu próprio jogo, utilizando
basicamente as mesmas armas, e não entende o motivo de amargar tantas perdas. Ao
deslocar estas questões de sua base material concreta com o seu devido tratamento
científico, o que resta à estes segmentos da militância é aguardar por algum grau de boa-
fé dos sujeitos e rebaixar as suas possibilidades de conquistas, adiando indefinidamente
qualquer horizonte realmente emancipador.
Sendo assim, torna-se natural que, mesmo diante de uma crise histórica, sem
precedentes na humanidade, pelo menos desde o século XX, em vez de ser a
esquerda a grande mobilizadora das massas a partir de um novo projeto de sociedade
que consiga canalizar os desejos e esperaas das pessoas, seja a extrema-direita com
seu projeto elitista e discriminação quem o faça, por ser esta quem hoje consegue atacar
(pelo menos no campo discursivo) muitas das questões concretas que afligem os
sujeitos.
“DEUS ACIMA DE TUDO, BRASIL ACIMA DE TODOS”: UMA ANÁLISE DA
IRRACIONALIDADE CONSERVADORA
Como o que fora exposto é fruto de uma crise sistêmica do capitalismo, o avanço da
irracionalidade conservadora possui abrangência escala mundial, embora seja mediada
por questões outras de cunho local, a destacar a correlação de forças decorrente da luta
de classes. Contudo, o (re)aparecimento da extrema-direita na cena pública é um fato
dado ao redor do mundo, fortalecido decisivamente a partir da crise estrutural iniciada
em 2008
2
. Os discursos que se sintetizam e personificam nos representantes de
extrema-direita, vinculados a partidos ou não, são sempre modalizados de acordo com
a correlação de forças e com a inserção do país na ordem capitalista mundial. O
elemento comum nessa extrema-direita com ampla inserção mundial é assumir um
discurso nacionalista, antiglobalismo, e xenofóbico (contra imigrantes de países mais
pobres, diga-se de passagem). Além disso, é também um componente comum o
discurso moralista, com grande apelo religioso, salvacionista e anticomunista (SILVA et
alii, 2014).
2
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/29/internacional/1456765910_208412.html.
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Nos últimos anos, o grande expoente dessa extrema-direita foi Donald Trump, ex-
presidente dos EUA, que combinava um discurso machista, racista, e homofóbico,
angariando a simpatia de grupos supremacistas como a Ku Klux Kan (KKK), de quem
não recusou apoio. com um discurso de intervenção na economia, promoção de
empregos. Entretanto, Trump combinou este discurso moralmente reacionário com um
discurso de apoio à geração de empregos e crescimento econômico, além do
protecionismo da economia nacional, embora não voltado para o fortalecimento do
Estado, e sim da burguesia nacional norte-americana.
O neoliberalismo, ideológica e economicamente, pode ser considerado pai e mãe da
ascensão do neoconservadorismo. Só é possível realizar ataques aos direitos e à vida
das pessoas desta magnitude por meio de mecanismos de fortalecimento da repressão
e do autoritarismo. Além disso
a combinação de determinações econômicas, políticas e ideológicas que favorecem a
hegemonia do Estado neoliberal cooperam para o encolhimento do espaço público e
alargamento do espaço privado, contribuindo para a despolitização e para o fortalecimento
tanto da transcendência divina quanto da autoridade política (SILVA et alii, 2014, p. 422).
Dessa maneira, em um momento de crise estrutural do capitalismo, não é difícil entender
o porquê de a burguesia apoiar de maneira tão apaixonada caricaturas de cunho
conservador-irracionalista. No caso brasileiro, Jair Bolsonaro atuou como um lacaio de
Trump
3
, fazendo um discurso igualmente preconceituoso e extremamente reacionário,
mas, adequado à condição de dependência da economia brasileira. Bolsonaro
encampou um discurso ultraliberal a partir de seu Ministro da Economia Paulo Guedes,
e como primeira medida estruturante promoveu uma Reforma da Previdência que
basicamente inviabiliza o recebimento de proventos e pensões, sobretudo pela
população mais pobre, além de manter toda a estrutura de desmonte do Estado e do
sistema de proteção brasileira promovida por Michel Temer.
Além disso, o afastamento das pessoas dos processos decisórios promovido a partir dos
mecanismos de gestão, construído paulatinamente na fase neoliberal do capitalismo,
impele os sujeitos a um enclausuramento de suas vidas, despolitizando-os, afastamento
de si das deciesblicas em prol da participação dos especialistas. Neste cenário,
torna-se muito fácil promover uma entrega incondicional de poder para os
representantes, em especial quando este representante ainda consegue canalizar e
sintetizar em si, personificando tanto a revolta antissistêmica como a esperança
irracional-transcendente de cunho religioso, como o Messias.
Por atuarem como verdadeiros partidos da ordem do capital, a grande mídia, com
destaque para uma certa rede global, teve papel determinante para a ascensão
bolsonarista, seja por potencializar sua voz/falas, seja pelo processo de propaganda
neoliberal, e criminalização da esquerda.
A mídia patronal e alguns agentes independentes” cumprem um papel funcional à
reprodução de visões que alimentam o campo ideológico da extrema-direita. O poder de
comunicação a fala fácil, direta, pouco aprofundada, parcial e saturada de
sensacionalismo explorador das mazelas cotidianas tem grande receptividade num
contexto social despolitizado e cindido entre os projetos e aspirações individuais e genéricas.
A mensagem da extrema-direita, embora faça referência a um nós, procura identificar na
3
https://www.osul.com.br/bolsonaro-bate-continencia-a-bandeira-dos-estados-unidos-e-erra-o-
proprio-bordao/
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mazela comum da barbárie contemporânea aquilo que remete à profundidade do eu, aquilo
que permite a identificação imediata entre os anseios, angústias, incertezas e medos
produzidos pela realidade comum de todos, aqueles que são intimamente experimentados
por cada um (SILVA et alii, 2014, p. 442).
Para garantir o processo de reprodução ampliada do capital, garantida pela pauta
econômica de Paulo Guedes, os grandes conglomerados midiáticos relativizaram todos
os arroubos e absurdos de Bolsonaro, pois, o que importa de fato para o capital é a
acumulão ampliada.
Bolsonaro, então, radicaliza o processo de liberalizão da economia a partir de um
discurso de liberdade e estímulo para o empreendedor, o verdadeiro gerador de
riquezas segundo ele, e que a classe trabalhadora deveria escolher entre ter emprego
ou ter direitos
4
. O endosso à lógica do empreendedorismo como uma espécie de
proatividade social faz parte desta racionalidade neoliberal, como já vimos, e amplifica o
seu discurso ao passo que os índices de desemprego aumentam. Como Dardot e Laval
(2016) nos apontam é uma lógica que se aproveita de sujeitos extremamente fragilizados
e sem opção que, diante de sua situação de completo desalento, devem se submeter a
quaisquer tipos de riscos para garantir sua sobrevivência.
Nesse sentido, há uma reafirmação da racionalidade neoliberal quando se delibera por
culpabilizar o próprio trabalhador, e seus parcos direitos, pela crise sistêmica do
capitalismo e a ampliação do desemprego estrutural. Aproveitando-se da redução do
campo de ações concretas dos indivíduos em decorrência da crise, a burguesia na figura
de Bolsonaro contribui para que o trabalhador aceite trabalhar em condições cada vez
mais precáriassob pena de ruína (LUKÁCS, 2013).
Dessa maneira, cada vez mais a subjetividade da classe trabalhadora que deve buscar
a sua sobrevivência vai se amoldando/ajustando aos imperativos de acumulação da
ordem do capital, o que implica naturalizar até onde for possível estes novos imperativos.
À medida que os sujeitos internalizam esses valores, torna-se cada vez mais difícil
promover uma organização da classe trabalhadora e a sua mobilização para os
embates, embora também a precarizão de sua vida possa atingir limites concretos de
sua sobrevivência ao ponto que a sua revolta a incite para a mobilização e ação de crítica
social é o espo da contradição social do capitalismo.
É fundamental apontarmos aqui também o aspecto do moralismo determinante para a
ascensão da extrema-direita ao poder. O neoliberalismo é um sistema moralista, e o pós-
modernismo reforça este aspecto pela ontologia antirrazão. Ao apontar o Estado e os
serviços públicos como fonte de ineficiência, e, ainda mais, de corrupção, a moralidade
está sempre em pauta, sendo vista como a causa e a solução dos problemas
ocasionados pelo capital. O tema da luta contra a corruão o é específico da
extrema-direita, mas tem sido demagogicamente manipulado, com certo sucesso, por
setores conservadores, na Europa e, sobretudo, no Brasil (LÖWY, 2015, p. 662).
No embate dentro da moralidade, ou melhor, do moralismo, a ontologia transcendental-
irracionalista assume larga vantagem. Bolsonaro se utiliza de forma ostensiva do aparato
religioso e em especial nos círculos mais conservadores do cristianismo tem grande
4
https://www.infomoney.com.br/politica/bolsonaro-diz-no-jn-que-trabalhador-tera-de-escolher-entre-
direitos-e-emprego/
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parte de seus apoiadores. Como já vimos, a transcenncia religiosa é pilar fundamental
do pensamento conservador a partir do moralismo.
Eleito a partir da moralidade conservadora com um discurso conspiratório, repleto de
mentiras como o famigerado kit gay, e mamadeiras de forma fálica, referindo a si
mesmo como um enviado de Deus, utilizando-se até mesmo da alcunha religiosa de
Messias, Bolsonaro consegue sintetizar em torno de sua figura uma série de
insatisfões sistêmicas, que, por serem difusas e espontâneas, são facilmente
canalizadas contra a esquerda, o sindicalismo e demais movimentos da classe
trabalhadora. A intolerância com as minorias sexuais, em particular os homossexuais. É
um tema agitado, com certo sucesso, por setores religiosos, com referência católica
(Opus Dei, Civitas etc.) na França e evangélica neopentecostal no Brasil (LÖWY, 2015,
p. 663). Com isso, o presidente em exercio teve palanque dentro de um conjunto de
igrejas, convertidas em comícios e espaços de propaganda eleitoral para si, o que
obviamente tem grande peso nas escolhas dos fiéis, por mais irregular que isto fosse
5
.
Neste aspecto, o irracionalismo é um elemento fundamental, pois, mediante a coesão
religiosa, sobretudo, junto com a própria desvalorização sistêmica acerca da ciência, por
meio de sua equiparação a qualquer sorte de discursos/narrativas/crenças, as pessoas
ficam cada vez mais permeáveis a toda sorte de mentiras e ataques à ciência. Por mais
incríveis que sejam estas mentiras, como o caso das mamadeiras, o terraplanismo e as
campanhas antivacinação
6
mais recentemente, cujo impacto estamos sentindo na pele
nesta conjuntura pandêmica, o conjunto coeso de histórias e teorias da conspiração faz
sentido para essas pessoas.
O negacionismo se torna elemento fundamental de mobilização e radicalização do
bolsonarismo junto a suas bases e se fortalece como vimos a partir de um caldo de
cultura que articula uma realidade objetiva que não faz qualquer sentido, miserável em
todos os níveis, a uma ontologia que se destaca por negar o sentido da realidade, ou até
mesmo a existência de uma realidade. Assim, figuras de difícil qualificação como Osmar
Terra, se tornam protagonistas do debate política e conselheiros de primeira ordem
7
,
inclusive cogitado algumas vezes para assumir o Ministério mais importante para o
combate à pandemia, o da Saúde.
E como a ciência não se distingue das demais formas de crença, o que garante a
verdade/validade de uma informão/conhecimento é a sua eficácia prática no caráter
mais imediato, dentro do escopo transcendentalista do irracionalismo-conservador faz
certo sentido tomar como verdadeiras essas informações, já que o seu grau de influência
na reprodução prática de sua vida material é quase nulo. Logo, como não significa uma
obstrução à reprodão de sua vida material imediata, e permite a sensação de coesão
e pertencimento social em uma sociedade cada vez mais particularista e desprovida de
sentido, ingressar nestesrculos bolsonaristas é um espaço/canal de pertencimento a
uma causa. E ainda quando implique em uma ameaça à própria vida dos sujeitos, à sua
integridade, o pertencimento, a sensação de lutar por uma causa, muitas vezes pela
5
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/08/bolsonaro-vai-a-igreja-como-candidato-e-pode-ser-
enquadrado-por-propaganda-irregular.shtml
6
https://istoe.com.br/bolsonaro-sobre-vacina-de-pfizer-se-voce-virar-um-jacare-e-problema-de-voce/
7
https://catracalivre.com.br/cidadania/quem-e-osmar-terra-cotado-como-novo-ministro-da-saude-de-
jair-bolsonaro/
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própria divindade na figura do Messias, se constitui em uma base psíquico-afetiva que
justifica o risco e lhe dá uma validade/legitimidade.
Dessa maneira, por mais contraditórias que sejam as declarões de Bolsonaro, a base
psíquico-afetiva que une os Bolsonaristas é muito maior que a questão racional, envolve
um conjunto de afetos e desejos latentes, marcados sobretudo por sua revolta difusa
para com a ordem societária, cujo desejo é constante mobilizado por campanhas
mentirosas nas redes sociais e convocação às lutas pelo seu líder.
Isto faz com que a superação do bolsonarismo como forma de conceão de mundo e
de práxis política não possa ocorrer pela defesa das instituições decrépitas de um
capitalismo em crise estrutural, como advoga a esquerda institucionalizada, totalmente
cooptada aos valores da ordem em vigor e cujo objetivo se limite a administrar o
capitalismo, e não romper com este. Se o bolsonarismo é justamente a síntese da revolta
difusa da população, estabelecida como forma de reação do capital a esta crise, defender
estas instituições é manter e aprofundar a crise do capitalismo, e incorrer no
fortalecimento daquilo que se pretendia negar.
Outrossim, não é possível, após anos de deslegitimação das ciências, de consolidação
de um caldo de cultura relativista, do ataque à ontologia, a partir sobretudo da lógica pós-
moderna, vir agora fazer um apelo de caráter salvacionista em relação à ciência, sem
que se faça a devida luta de caráter antagônico, nos marcos de uma nova ontologia. O
debate fragmentário pós-moderno não é suficiente para romper com a ontologia que
justifica absurdos, como o engajamento religioso antivacina
8
, é necessário atacar na raiz
o aquilo que permite a consolidação destas concepções de mundo, isto é, travar o
confronto no âmbito da ontologia
Consequentemente, é pior ainda o papel cumprido pela esquerda pós-moderna, muitas
vezes institucionalizada, que aposta no apelo moralista, ou em nomear de fascistas os
sujeitos da classe trabalhadora que ainda se encontram num estágio de pouco avanço
de sua consciência e, por isso, reproduzem certas práticas/preceitos opressores. O
moralismo do bem busca estabelecer um contraponto ao bolsonarismo a partir de suas
próprias armas, alijando a cientificidade e a ontologia, só que, como não oferta uma
alternativa de concepção de mundo, e o liberal-conservadorismo possui uma conceão
extremamente coesa, estabelece-se uma luta em patamares ainda mais desiguais,
marcada pela impossibilidade trazer o conjunto da classe trabalhadora para a ação
emancipatória.
ÚLTIMAS REFLEXÕES
Gostaria de dedicar estas reflexões a um brilhante mestre, uma inspiração, o Professor
Mario Duayer, falecido em decorrência da COVID-19, a quem tive o prazer de conviver
durante uma disciplina no mestrado e que a partir daí nunca cessou minha admiração
por sua obstinada luta em prol do resgate da ontologia marxiana como instrumento sine
qua non de enfrentamento e superação da ordem capitalista.
É justamente a partir da retomada da ontologia maxiana que é posvel, em primeiro
lugar, partindo da concepção de práxis, reconhecer corretamente a realidade, em seus
determinantes objetivos e subjetivos, com sua historicidade, possibilitando a ação política
8
https://apublica.org/2020/06/poderes-impuros/
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consequente capaz de transformá-la. Esta ação política de transformação da ordem
social, de enriquecimento das relações reais, de superão da reificação e objetificão
dos demais seres humanos, só pode ocorrer a partir da consolidação de uma nova
ontologia que supere o particularismo, embora isso não signifique desconhecer as
particularidades.
A crítica ontológica radical é o que permite ir além do campo da aparência, do fragmento
para exercer uma atuação no cerne dos problemas. Defenderas instituições que são,
na verdade, umas das causas dos problemas que vivenciamos e nos afligem, é mais
uma das ilusões da adesão ideológica à ordem burguesa, e, mesmo que contribua para
a derrota do bolsonarismo hoje, não significa o seu fim, já que, ele, como o nazismo
também foi, é uma forma de reação do capital às suas crises. Como nos diz Brecht,a
cadela do fascismo está sempre no cio, e isso ocorre porque, enquanto não superarmos
o capital em todas as suas formas, as reões de retomada do controle sociometabólico
de uma sociedade fundada em uma estrutura irracional deverá ser também fundada no
irracionalismo e no conservadorismo. A derrota definitiva do fascismo só poderá ocorrer
com a derrota definitiva do capital.
Sendo assim, é fundamental, então, para os militantes que desejam a transformação
efetiva da realidade partir de uma nova ontologia, de uma nova concepção de mundo,
que possa ser apresentada como algo que possa conferir sentido à vida das pessoas.
Enquanto a militância se subsumir ao nível prático mais imediato, atacar os aspectos
parciais/fragmentários da realidade, sem que haja uma conceão de mundo, um todo
que dê sentido e que se contraponha a um sistema crise, que revolta as pessoas (se não
revoltasse, Bolsonaro não seria eleito com um discurso antissistema), o debate
continuará a ser perdido.
REFERÊNCIAS
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Data da submissão: 18/03/2021
Data da aprovação: 09/12/2021