existentes ignorando as suas diferenças ontológicas em relação às demais construções
sociais, como a religião. Ao combater o “cientificismo” por meio da crítica à razão
iluminista/positivista, o pós-modernismo se aproxima ontologicamente do que pretendia
negar, o positivismo/neopositivismo, porquanto, ao postular a
inexistência/impossibilidade de um conhecimento verdadeiro/universal, reduz a realidade
ao nível do discurso e da crença, no caso do neopragmatismo.
Ao encaixar a ciência no nível do discurso e da crença, e afirmar que os discursos e
crenças são individuais, fruto das experiências vividas de cada sujeito, o pós-
modernismo irmanado ao neopragmatismo desautoriza e suplanta a ciência enquanto
instrumento fundamental de compreensão e transformação coletiva da realidade. É a
derrocada da ontologia, o fim da possibilidade de compreensão do ser, de sua
objetividade, que provocou “um caos nas imagens de mundo, visto que o único critério
de verdade que resta é o da utilidade no interior de um complexo de conhecimento
concreto e verificável na prática.” (LUKÁCS, 2013, pp. 718-19).
Além disso, nesta lógica que atribui a verdade às vivências individuais, interesses e
finalidades mais imediatas, o pós-modernismo reforça o individualismo/particularismo já
fortalecido pela própria ordem capitalista e intensificado no período neoliberal, sendo
extremamente útil para a sua reprodução. Imerso na ontologia neopositivista, o sujeito
não consegue ver em sua particularidade uma historicidade (o passado não importa, o
futuro não pode ser planejado, o que me resta é um presente totalmente marcado pela
contingência), o que se harmoniza com a perspectiva pós-moderna do fragmentário, que
culmina com a redução da “experiência a uma série de presentes puros e não
relacionados no tempo” (HARVEY, 2008, p. 57).
E o que resta aos sujeitos diante de uma vida de incertezas? Aproveitar o presente da
“melhor” maneira que lhe aprouver, em que vale tudo para garantir este “prestígio social”,
sobretudo buscando fugir da miséria de sua vida real. É uma mistura entre a
radicalização do carpe diem com o consumo de “prestígio social” que converte as
válvulas de escape, como fanatismo religioso ou até mesmo político, uso abusivo de
drogas lícitas e ilícitas, vida sexual compulsiva, autoexposição doentia em redes sociais,
em “estilo de vida”, uma tentativa de dar sentido a uma existência sem sentido e sem
razão.
A importância de um consumo de massa nesse campo cria um aparato ideológico muito
extenso, que domina os órgãos da opinião pública, cujo ponto central de motivação é o
consumo de prestígio, que toma forma como meio de criar uma “imagem”, como indução a
ela; ou seja, a pessoa se veste, fuma, viaja, tem relações sexuais não por causa dessas
coisas em si e por si, mas para aparentar no ambiente em que se vive a “imagem” de certo
tipo de pessoa que é apreciada enquanto tal. (LUKÁCS, 2013, pp. 716-17).
Ademais, o arcabouço ontológico do pós-modernismo só permite a realização de críticas
à realidade com um caráter extremamente parcial (mirar o todo não apenas deixa de ser
desejável, mas se gera uma aversão, o pós-modernismo às vezes é mais anticomunista
que os próprios liberais assumidos). Dessa forma, por mais que essas críticas pós-
modernas atinjam pontos socialmente relevantes, como a necessidade de superação
das problemáticas relativas à opressão de gênero, raça, sexualidade e afins, ao dar um
tratamento fragmentário, subjetivista, elas são facilmente acolhidas pelo capital e
convertidas em ferramenta de acumulação.
“A lógica fetichista do capital combina de forma dialética a privatização da vida cotidiana,
o culto à identidade micro e aos guetos, com a expansão totalizante e mundializada dos