os órgãos institucionais destes países a advogarem a necessidade de mudanças e
renovação na educação rumo à qualidade de ensino.
Nesse sentido, o Relatório Delors, formulado pela Comissão Internacional da UNESCO
tem sido a base que fundamenta os Parâmetros Curriculares Nacionais, de acordo com
os quatro pilares do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
viver e aprender a ser.
Diante dessas propostas, o papel do professor fica reduzido a “auxiliar do aluno” no
processo ensino-aprendizagem, passando-se a valorizar mais os aspectos secundários
em que a forma é mais importante que o conteúdo (SAVIANI, 2011). Ademais, essa
perspectiva do “aprender a aprender”, não parece ser uma novidade no cenário
brasileiro, considerando sua semelhança com as ideias pedagógicas da Escola Nova.
O lema “aprender a aprender”, tão difundido na atualidade, remete ao núcleo das ideias
pedagógicas escolanovistas. Com efeito, deslocando o eixo do processo educativo do
aspecto lógico para o psicológico; dos conteúdos para os métodos; do professor para o
aluno; do esforço para o interesse; da disciplina para a espontaneidade, configurou-se numa
teoria pedagógica em que o mais importante não é ensinar e nem aprender algo, isto é,
assimilar determinados conhecimentos. O importante é aprender a aprender, isto é,
aprender a estudar, a buscar conhecimentos, a lidar com situações novas. E o papel do
professor deixa de ser o daquele que ensina para ser o de auxiliar do aluno em seu próprio
processo de aprendizagem (SAVIANI, 2011, p. 431).
Apesar de todos os elogios à função dos educadores como reserva de autoridade e de
diálogo, o Relatório Delors (1998) parece intencionalmente desfocar o papel do professor
no processo ensino-aprendizagem, fortalecendo concepções de mundo com base em
políticas neoliberais. Assim, referindo-se aos alunos e à educação básica, o relatório diz
textualmente que “é desejável que a escola lhe transmita ainda mais o gosto e prazer de
aprender, a capacidade de ainda mais aprender a aprender, a curiosidade intelectual.
Podemos até imaginar uma sociedade em que cada um seja, alternadamente, professor
e aluno” (DELORS, 1998, p. 18). O conhecimento, desse modo, se dilui na forma do
“aprender a aprender” e se perde na falta de profundidade, ou ainda, a forma do
“aprender a aprender” torna-se o conteúdo a ser alcançado.
Esse modelo proposto, conforme a análise crítica de Maia Filho e Jimenez (2013, p. 132),
propõe-se a “resgatar não só os conteúdos, as informações e as habilidades do processo
de ensino e aprendizagem, mas também os valores, as emoções e os desejos do sujeito,
embora teoricamente atraente, demonstra ser muito menos factível e crítico”. Essas
propostas de reformas educacionais não se traduzem em mudanças qualitativas que
prezem pela criticidade, autonomia e independência dos alunos, mas somente buscam
adequar a mão-de-obra especializada às novas exigências do mercado de trabalho.
De fato, ao contrário da visão de Paracelso em que “a aprendizagem é a nossa vida”,
essas teorias que invocam indistintamente por reformas, mudanças e inovações
tecnológicas na educação (FARIAS, 2006), não levam em conta a realidade social
específica do aluno e, muito menos, o contexto de cada país ou região, cumprindo
geralmente o papel ideológico de disseminar exclusivamente a lógica do mercado.
Na verdade, os conceitos de mudança, inovação e reforma, tão comuns nas falas de
especialistas em educação, não são sinônimos, pois estes termos são polissêmicos e
complexos, característica que favorece seu uso de modo indistinto nos discursos
educacionais, o que é problemático, adverte Farias (2006). A busca da especificidade de
cada um desses conceitos “ao mesmo tempo em que revela sua teia de interações,