brasileiros, é majoritariamente produzido pela agricultura familiar, como por exemplo, o
arroz, o feijão, a mandioca, entre outros. Esses alimentos, histórica e politicamente,
ocupam posição secundária nas políticas de desenvolvimento agrário.
Com o espaço rural marcado pelas desigualdades peculiares de seu contexto social,
cultural e econômico, o pequeno agricultor, por não dispor de condições financeiras para
contratar funcionários experientes, sente-se obrigado a se utilizar do trabalho infanto-
juvenil de seus filhos como fonte de renda. A utilização do trabalho de crianças e
adolescentes na agricultura é parte de uma construção cultural e histórica do meio rural
brasileiro, até como forma de ensinar um ofício aos filhos.
Assim, “O trabalho alienado é notadamente visível nas zonas rurais, ribeirinhas e
litorâneas de várias regiões do Brasil, também sendo bastante comum a participação de
crianças para atender a demanda do sistema capitalista vigente” (SILVA, 2018, p. 17). O
trabalho para crianças e adolescentes faz parte de uma realidade naturalizada, haja vista,
durante seu processo de inserção e interação com o meio social no qual está inserido, o
trabalho infanto-juvenil é legitimado sobre valores tradicionais.
Diante disso, esquece-se o significado de ser criança, que segundo Aurélio (2010), é um
ser humano de pouca idade. A criança é focalizada como um ser menor, alguém a ser
adestrado, a ser moralizado, a ser educado, o que justifica o trabalho infantil. Daí, e mais
adiante, a exploração inicia-se por meio da compressão salarial do trabalhador adulto
masculino e da exploração da mão de obra feminina, uma vez que a remuneração das
meninas caracterizava a dupla discriminação de sexo e idade. (Vasconcelos; Carvalho,
2021
Barros, Clemente e Brito (2016) ao falar sobre infância, na contemporaneidade, induz-se
que a criança passou a ser um dos alvos centrais dos meios de comunicação social,
persuadindo-as no sentido de querer coisas desnecessárias, mas integradas as ofertas
de mercado, relacionado ao efeito da propaganda indutora. Então, para consumir os
produtos da moda (moto, bonés de marca, tênis e etc.), muitas crianças trabalham, se
deixando levar pelo consumismo mercadológico contemporâneo, que vê nesses jovens
um novo nicho de mercado pujante no cenário global e em especial no Brasil.
Na medida em que as causas econômicas não é a prerrogativa determinante para a
exploração do trabalho infantil, faz-se necessário salientar que ele também é fruto da
cultura de aceitação existente, que justifica o trabalho infantil para as famílias pobres. No
Brasil rural esse tema está associado a formas tradicionais da agricultura familiar,
especialmente nas áreas de menor desenvolvimento das forças produtivas e exploração
da força de trabalho. Nas cidades grandes, por exemplo, é comum casos de crianças
que perambulam pelos lixões, vendem balas e quinquilharias nos faróis e exercem
atividades domésticas (especialmente as meninas).
Neste sentido, “O trabalho infantil é uma mazela que a sociedade está longe de erradicar.
Em todas as regiões do mundo, seja no meio rural seja nos centros urbanos, é comum
ver crianças e adolescentes trabalhando em diversos setores da economia”
(VASCONCELOS, 2009, p. 385). Essa forma de trabalho condenável existe porque o
sistema capitalista utiliza de todas as formas possíveis para a (re)produção do capital.
Mediante este contexto, faz-se necessário distinguir trabalho infantil de trabalho ou auxílio
doméstico em casa. Segundo Costa e Cassol (2008), a tarefa doméstica não afeta a
condição peculiar de desenvolvimento da criança e do adolescente, não muda sua rotina,
não afeta seus estudos, lazer e integridade física. Já a exploração do trabalho infantil se