promoção cultural e profissional, o fomento de bibliotecas educativas e casas de cultura
e, ainda, o desenvolvimento de uma ação supletiva no ensino básico. No entanto, a
atividade desta entidade, junto dos adultos, durante o período final do regime do Estado
Novo, não foi significativa.
f) Os dois anos que se estendem entre a revolução de Abril de 1974 e a aprovação da
Constituição do país, em Abril de 1976, período habitualmente designado por Processo
Revolucionário em Curso (PREC), constitui uma época de particular intensidade de
transformação política e social, na qual “a contribuição da educação para a
democratização social” adquire uma forte centralidade nos discursos dos agentes
educativos, conduzindo a uma definição da educação que contribuía simultaneamente
para “ a formação da democracia” e “a legitimação do exercício da democracia no próprio
espaço educativo” (CORREIA, 1999, p. 83). Derrubada uma longa ditadura,
reconquistadas as liberdades políticas, o direito a falar e a escrever livremente, as
«massas populares» vão transformar as ruas e praças das cidades, as fábricas e as
escolas em locais de exercício de cidadania e reivindicação, com que o poder político
não podia deixar de contar. Uma onda de energia transformadora, de entusiasmo, de
vontade de participação percorreu Portugal, levando a mudanças em todos as áreas da
sociedade. A educação não fugiu à regra. No campo da alfabetização e da educação
básica dos adultos, reanimam-se movimentos e estruturas. A taxa de analfabetismo
ronda ainda os 25% entre a população com mais de quinze anos. Multiplicar-se-iam
então, um pouco por todo o país, iniciativas visando a alfabetização dos adultos, num
movimento que envolveria coletividades e associações populares, sindicatos, comissões
de trabalhadores, comissões de moradores, ou a criação de associações de educação
popular, para melhor responder às necessidades educativas dos adultos. Entre esta
disseminação de iniciativas, pode-se referir, pela sua especificidade, duas delas: as
campanhas de alfabetização promovidas pelos estudantes no verão de 1974, em zonas
rurais do norte e centro do país e algumas ilhas dos Açores e que, apesar da sua curta
duração e de se terem caracterizado por um certo romantismo revolucionário, algo
ingénuo, exprimem simbolicamente a vontade de transformação social que animou
muitos setores sociais da época e, sobretudo, teve o mérito de, logo no início do processo
de democratização, ajudar a recolocar novamente o tema da alfabetização num terreno
de maior visibilidade institucional e política; a ação da Direção-Geral de Educação
Permanente, entre Outubro de 1975 e Julho de 1976, que colocou em marcha um
programa de educação de adultos, numa perspectiva de educação permanente,
articulando apoios públicos com a ação autónoma de estruturas populares dedicadas à
alfabetização/educação de adultos, configurando a primeira tentativa de constituição de
uma rede de atores no campo da educação de adultos, constituindo um marco
fundamental no percurso deste setor em Portugal. Como referem investigadores da
educação que se têm debruçado sobre este período, predomina, neste movimento, uma
«lógica da educação popular» (LIMA, 2005; LIMA e GUIMARÃES, 2018; ARAÚJO,
2014), entendida já não como um «derramamento» da educação, a partir das pessoas
instruídas, em direção ao povo, mas como uma construção autónoma do próprio povo.
Um outro autor (CANÁRIO, 2007, p.11) considerá-lo-á, mesmo, o “período de ouro” da
educação e formação de adultos em Portugal.
g) A primeira metade da década de oitenta do século XX, já algo «arrefecidos» os
entusiasmos revolucionários, com o país em plena institucionalização da sua democracia
política de tipo ocidental, imerso no esforço de construção de um «Estado-Providência»
que garantisse os direitos sociais adquiridos pela revolução e consagrados na