Trabalho & Educação | v.30 | n.1 | p.7-10 | jan-abr | 2021
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EDITORIAL: A TRAGÉDIA CONTINUA!
No momento em que preparamos o novo número de Trabalho & Educação (v. 30, n.
1, 2021) atingimos a marca mundial dos cerca de 3 milhões de vítimas fatais da atual
calamidade de saúde que se abateu sobre a humanidade e, no caso brasileiro, tem
sido ampliada por políticas de Estado genocidas. São vítimas fatais decorrentes da
manipulação predatória da nossa dimensão orgânica, motivada pela lógica
incontrolável do capital no interior do capitalismo que, cada vez mais, expõe a sua
racionalidade destrutiva. É bom lembrar que nem todos perdem com essa tragédia
em curso. O Chief Executive Officer (CEO) do conglomerado educacional Ânima em
recente entrevista para o InfoMoney informa que a pandemia de coronavírus separou
o joio do trigo no setor educacional no Brasil. Segundo ele, quem já tinha se
preparado com o modelo híbrido que envolve parte das aulas presenciais e parte
online, encontrou menos dificuldade em meio à disseminação da covid-19.
Segundo o CEO, o grupo empresarial Ânima, conseguiu ampliar o número de alunos
em 2020 para mais de 145.000 ao todo, com redução da evasão e avanço de 20,4%
da receita líquida na comparação com 2019, para R$ 1,42 bilhão. O aumento do
tíquete médio com a nova vertical de medicina (cursos mais caros e com duração
maior) também beneficiou a Ânima, que segue vendo este segmento como
altamente promissor para o grupo.
As mortes decorrentes da covid-19 estão aumentando em todo o planeta,
especialmente no Brasil e na Índia. Autoridades de saúde revelam o surgimento de
variantes mais infecciosas detectadas primeiramente no Reino Unido e na África do
Sul. A mundialização da manipulação predatória da nossa dimensão orgânica,
proporcionada pela lógica incontrolável de uma relação social que permite a
apropriação privada da riqueza socialmente produzida, invade o mundo todo.
Em nossos dois últimos editoriais chamamos a atenção para dois fatores
fundamentais a serem considerados nesse momento: 1) Do ponto de vista estrutural
o ano de 2020 se encerrou sob a sombra da transcorrência de uma das mais graves
pandemias da história moderna. Como conteúdo e sentido quase nunca discerníveis
ao grande público, a COVID19 desnudou antes de tudo a falência relativa de um
modo de produção que não tem por pressuposição o atendimento dos carecimentos
humanamente vivenciados, nem é vincado por princípio na lógica de
aperfeiçoamento da própria produção e, por fim, que somente tem com o
conhecimento e a cientificidade uma relação puramente pragmática e subsumida à
determinação da reprodução do mais-valor em suas modalidades formais. 2) Do
ponto de vista conjuntural é importante destacar o momento atual em que passa a
democracia no mundo. É necessário questionar o que de fato é a democracia e,
especialmente, procurar apresentar qual a democracia serve ao campo do trabalho,
isso porque a democracia que serve ao campo do capital tem se mostrado
completamente falida como caminho para uma vida digna e humanamente feliz. A
democracia burguesa, nunca como antes, evidencia de maneira cabal seus limites e
sua incapacidade enquanto forma de governo imparcial e universal. Fica evidente
que esta é uma forma de governo inóspita e completamente parcial, socialmente
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partidária e sordidamente intencionada em garantir a ordem sócio-histórica de
afirmação do capital e do capitalismo. Portanto, voltada para garantir uma ordem
sócio-histórica violenta, de exploração, de preconceitos e discriminações, de
opressões de todo tipo. No mundo e no Brasil essa forma de governo tem produzido
a desumanidade. Produz o autoritarismo, a corrupção, favorece o crime organizado,
dissemina o crime e a violência para todos os poros da sociedade. O crime
organizado, formador de milícias se incrusta no poder, toma corpo na organizão
do Estado e se traveste de “bom Senhor.É nojento, cheira mal e é sofisticadamente
violento.
Esse novo número de Trabalho & Educação (v. 30, n. 1, 2021) traz contribuições que
certamente nos revelarão elementos fundamentais para compreensão dessa
dinâmica em suas especificidades.
Abre essa edição o artigo do professor da Faculdade de Direito da UFMG, SARTORI,
Vitor Bartoletti, Notas sobre a função do estado no Livro I de O Capital.
SARTORI, tendo como pano de fundo a teorização sobre a determinação
ontonegativa da politicidade de José Chasin, realiza uma análise imanente do livro I
de O capital para tratar das determinões gerais da política. Procura mostrar como
que o papel ativo do Estado e do Direito tem grande importância na obra de Karl
Marx. Com isso nos possibilita refletir sobre o complexo da política na atualidade.
Em seguida, temos a contribuição sobre As reformas educacionais e as políticas
de formação docente no Brasil: o caminho para sua mercantilizão de
AMARAL, George; NOVAES, Henrique e SANTOS, Deribaldo. Este artigo apresenta
os principais fundamentos estruturais e ideo-políticos que atuam sob a formação
docente no Brasil, cujas implicões resultam no processo de sua mercantilização.
A pesquisa bibliográfica e documental realizada nos possibilita estabelecer
discussões sobre a relação entre as diretrizes do Movimento de Educação para
Todos (EPT) e as reformas educacionais brasileiras, destacando seus
desdobramentos nas políticas de formação de professores.
SILVA, Osni Oliveira Noberto da; MIRANDA, Theresinha Guimarães; BORDAS,
Miguel Angel Garcia nos apresentam em seu Valorização do trabalho dos
professores de atendimento educacional especializado no município de
Jacobina-Bahia, resultados de uma ampla pesquisa, voltada para a valorizão do
trabalho realizado pelo Atendimento Educacional Especializado pelos diversos
atores que permeiam o ambiente escolar, a partir da ótica dos pprios professores.
As professoras CUNHA, Natália Valadares e CUNHA, Daisy Moreira, contribuem,
nessa edição, apresentando Políticas de avaliação e reconhecimento de saberes
na Inglaterra: o qualification and credit framework. Analisam o Qualification and
Credit Framework, enquanto dispositivo voltado para o reconhecimento e certificação
de saberes construídos na/pela experiência de trabalho no âmbito da Inglaterra.
Já o professor SOUZA, Herbert Glauco de. Nos apresenta Antonio Gramsci entre
as duas internacionais: educação e formação política. Busca revelar as
principais influências intelectuais e políticas que incidiram sobre a personalidade do
Jovem Gramsci, e que de certa maneira permaneceram e foram reformuladas no
Gramsci da maturidade no cárcere fascista. Conceitos como Revolução Passiva,
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Hegemonia, Guerra de Movimento e Guerra de Posição, dentre outros, emergem
nesse confronto com o ambiente profícuo em que Gramsci estava inserido.
CORREIA, Jonilson Costa; LEITE, Ângela Roberta Lucas; SOARES, Patcia Natália
dos Santos contribuem nos apresentando as Políticas de qualificação para os
trabalhadores de turismo no Maranhão: um estudo sobre o programa mais
qualificação.
Em A formação integral no ensino médio (des)integrado no Brasil: a
indissociável relação entre trabalho e educação, os autores MORAIS, Raquel
Pereira de; COLAÇO, Soraia; SEGUNDO, Maria das Dores Mendes e GOMES,
Valdemarin Coelho nos inquirem: Educar por meio de uma proposta integral de
educação ou privilegiar a lógica empresarial? A partir dessa questão norteadora,
procuram avaliar a última proposta do Ensino Médio Integrado brasileiro, ao tomar
como base os documentos oficiais elaborados pelo Ministério da educação - MEC, a
partir de 2007.
COSTA, Karina e GREGÓRIO, Sandra Regina, no Relato de uma vivência na
escola família agrícola nova esperaa do município de Taiobeiras/MG,
buscam observar e vivenciar a rotina dos funcionários e jovens que estudam na
Escola Família Agrícola Nova Esperança e entender a importância da mesma para
suas vidas e para a região. É uma pesquisa de cunho qualitativo, que utiliza o método
da observação participante, bem como análise documental e conversas informais
com os sujeitos da pesquisa.
FERREIRA, Andréa de Assis; PEREIRA, Érika Abreu e COSTA, Lorena Andrade.
Refletem sobre a Tutoria na educação a distância contextos de atuação nas
redes públicas e privadas. Discutem o contexto de atuação dos tutores nos cursos
superiores em Educação a Distância (EaD), desde a implementação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que regulamentou a EaD no
cenário brasileiro.
LEITE, Valter de Jesus; BORGES, Liliam Faria Porto e FAUSTINO, Rongela Celia,
no artigo Trabalho e educação na perspectiva dos organismos multilaterais
evidenciam os interesses dos organismos multilaterais na interface trabalho e
educação por trás da retórica de combate e eliminação da pobreza.
Finalmente, a professora OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales, fecha a seção artigos
dessa edição, nos levando a refletir sobre Inovação educacional e recursos
didáticos no trabalho docente. Discute-se inovação educacional, evidenciando-se
a importância do seu tratamento na atualidade. Defende-se que o trabalho na
educação implica caráter teleológico e é com esse reconhecimento que se pode
tratar as inovações na área. Nesse sentido, tem-se por objetivo contribuir para a
compreensão do caráter inovador ou não de recursos didáticos no trabalho docente.
Conclui-se que os recursos didáticos assumem caráter inovador ou não ao se
aproximarem mais ou menos daquelas finalidades, considerando-se os limites dessa
condição, no interior das contradições societárias.
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Finalmente, publicamos nesse número, dois resumos de pesquisas. 1) Formação e
educação na agroecologia: entre resistências e subordinações, resultados da tese
de doutoramento de Amanda Aparecida Marcatti. 2) Os gestos profissionais do
docente da Educação Profissional cnica de Nível Médio, resultados da dissertação
de mestrado de Elizabeth Maria Pinto.
Boa leitura!
Hormindo Pereira de Souza Junior
1
Rodrigo Moreno Marques
2
Antônio José Lopes Alves
3
1
Bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais. Mestre em
Educação pela UFMG. Doutor em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo. Pós-Doutorado em Filosofia Política e Educação pela Universidade Federal Fluminense.
Professor Associado da UFMG. Professor do Programa de Pós-Graduação Conhecimento e Inclusão Social
em Educação da FAE-UFMG. Coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas Marx, Trabalho e Educação
(GEPMTE) da FAE-UFMG. Editor da Revista Trabalho & Educação. Desenvolve pesquisas no campo de
confluência entre trabalho, política, formação e emancipação humana.
2
Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informação (ECI) da UFMG. Pós-
Doutorado na University of London (Reino Unido) e na Faculdade de Educação da UFMG. Professor da ECI
(UFMG), onde é membro do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação. Integra o Comitê
Editorial da Revista Trabalho & Educação e o GEPMTE (Grupo de Estudos e Pesquisas Marx, Trabalho e
Educação) da FAE-UFMG.
3
Doutor e Mestre em Filosofia, respectivamente, pela UNICAMP e pela UFMG, Membro dos Grupos de
Pesquisa Marxologia: Filosofia e Estudos Confluentes e Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação
(CNPq), Membro titular do Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG e da Comissão de Ética Pública da
UFMG. Integra o Comitê Editorial da Revista Trabalho & Educação e é Professor do Colégio Técnico e do
Mestrado Profissional em Educação e Doncia (PROMESTRE), ambos da UFMG.