Trabalho & Educação | v.31 | n.1 | p.47-67 | jan-abr | 2022
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DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2022.39227
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
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1
MARQUES, Rodrigo Moreno
2
RESUMO
No trecho dos Grundrisse, conhecido como Fragmento sobre as quinas, Marx discute o papel do
conhecimento coletivo, que ele chama de intelecto geral, em processos de produção da grande
indústria, onde a automação industrial tende a expulsar do processo de trabalho o único agente capaz
de criar valor: o trabalhador. Nesse exercio de refleo, Marx imagina que essa contradão poderia
abalar as bases do modo de prodão capitalista e abrir uma janela para sua superão. O intelecto
geral de Marx é o ponto de partida do artigo, que tem como objetivos: (i) analisar a controversa hitese
acerca do intelecto geral que Marx registra nos Grundrisse; (ii) apresentar a origem da expressão
intelecto geral, que data do começo do culo XIX, cadas antes do seu registro nesse manuscrito; e
(iii) revelar como Marx supera aquela interpretão alguns anos depois, ao expor suas conclusões sobre
o papel da ciência e da técnica nos processos de produção capitalistas. Este artigo estabelece uma
interlocução com algumas reflees de Matteo Pasquinelli e Michael Heinrich, entre outros autores, em
confronto com os escritos que Marx nos legou.
Palavras-chave: Intelecto geral. Karl Marx. Marxismo. Economia Potica
ABSTRACT
In the excerpt from the Grundrisse known as Fragment on machines, Marx discusses the role of
collective knowledge, which he terms general intellect, within the production processes of large-scale
industry, where industrial automation tends to expel from the working process the only agent who can
create value: the worker. According to Marxs supposition, this contradiction could undermine the
foundations of the capitalist mode of production and bring the possibility of its overcoming. Marx's general
intellect is the starting point of the article, which aims: (i) to analyze the controversial hypothesis about
the general intellect that Marx exposes in the Grundrisse; (ii) to present the origin of the expression
general intellect, which dates from the beginning of the 19th century, decades before its registration in
this manuscript; and (iii) to reveal how Marx overcomes that interpretation a few years later, when he
presents his conclusions about the role of science and technology in capitalist production processes.
The article establishes an interlocution with some thoughts of Matteo Pasquinelli and Michael Heinrich,
among other authors, confronting them with Marxs writings.
Keywords: General Intellect. Karl Marx. Marxism. Political Economy.
1
O texto amplia discussão apresentada no III Congresso Internacional Marx em Maio, ocorrido em Lisboa (Portugal) em
maio de 2018, e no II Simpósio Nacional Educação, Marxismo e Socialismo, ocorrido na Faculdade de Educação (FaE)
da UFMG, em Belo Horizonte (MG), em setembro de 2018.
A pesquisa recebeu financiamento da CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior/Ministério da Educão e Cultura.
2
Doutor e Mestre em Ciência da Informação pela Escola de Ciência da Informação (ECI) da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG). Professor do Departamento de Teoria e Gestão da Informação, na ECI (UFMG), em Belo Horizonte
(MG). E-mail: rodrigomorenomarques@yahoo.com.br
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INTRODUÇÃO
Karl Marx, no excerto chamado Fragmento sobre as máquinas, pertencente aos
manuscritos conhecidos como os Grundrisse (MARX, 2011), levanta a possibilidade de
uma reconfiguração futura do universo do trabalho, quando ele não seria mais dominado
pela lei do valor, especialmente diante das atividades em que predomina o emprego do
conhecimento coletivo, que o autor designa intelecto geral.
3
Ao apresentar esse exercício
de refleo, Marx antevê que, com o desenvolvimento da grande instria e com o
avanço da automação industrial, a criação de riqueza iria depender menos do tempo de
trabalho empregado nos processos produtivos e passaria a depender mais da
capacidade dos trabalhadores, do avanço da ciência e da sua aplicação à prodão.
Diante dessa perspectiva, Marx argumenta que a produção baseada no valor de troca
desmoronaria, ou seja, o modo de produção capitalista iria ruir. Portanto, Marx vislumbra
um cenário em que o conhecimento e o avanço tecnológico adquirem um potencial
libertador que colocaria em xeque a dominação do capital.
Apesar de Marx jamais ter empregado novamente a expressão intelecto geral ou
desenvolvido esse exercício especulativo, essa passagem tem fomentado instigantes e
controversos debates na arena da Economia Política. Publicado pela primeira vez em
Moscou em 1939 e, depois, em Berlim em 1953, nos anos 1960 esse excerto sobre as
máquinas ganhou projeção a partir da sua divulgação pelo movimento italiano operaísta,
também conhecido como movimento autonomista. Desde então, esse fragmento tem
sido objeto de diferentes interpretações e debates calorosos (BOLAÑO, 2007;
PASQUINELLI, 2019; PRADO, 2014; VIRNO, 1990).
O intelecto geral de Marx será meu ponto de partida para a discussão apresentada nesse
artigo, cujos objetivos são: (i) analisar a controversa hipótese acerca do intelecto geral
que Marx registra nos Grundrisse; (ii) apresentar a origem da expressão intelecto geral,
que data do como do século XIX, décadas antes do seu registro nesse manuscrito; e
(iii) revelar como Marx supera aquela interpretação alguns anos depois, ao expor suas
conclusões sobre o papel da ciência e da técnica nos processos de produção capitalistas.
Este artigo está estruturado em seis seções. Após a introdução, apresento os Grundrisse
e discuto algumas passagens do Fragmento sobre as máquinas, que estão articuladas
com a não de intelecto geral.
A terceira são aborda a origem da não de intelecto geral. Conforme aponta
Pasquinelli (2019), a expressão tem sua origem no contexto do debate público que ficou
conhecido como Questão da Maquinaria, ocorrido na Inglaterra nas primeiras décadas
do século XIX. Naquela ocasião, diante da substituição massiva de trabalhadores por
máquinas industriais, surge a campanha Marcha do Intelecto, que defendia a expansão
da educação das massas para melhor qualificar os trabalhadores.
Na seção seguinte, evidencio como Marx, a partir do como da década de 1860, ao
analisar o papel do conhecimento e da tecnologia na produção capitalista, abandona
aquelas especulações sobre o intelecto geral em favor de uma interpretação mais realista
das contradições aí presentes. O conhecimento e a técnica deixam de ser apresentados
como instrumentos de emancipação da classe trabalhadora e assumem um caráter
alienado e estranhado.
3
No manuscrito, Marx registra o termo em inglês general intellect (2011, p. 589).
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Na sequência, o artigo apresenta o argumento de Michael Heinrich (2013), segundo o
qual a ideia de intelecto geral é adotada por Marx (2011) numa tentativa de decifrar o
chamado enigma de Quesnay. Se na ocasião da redação dos Grundrisse, Marx ainda
não dominava plenamente o complexo categorial necessário para elucidá-lo, alguns
anos depois ele apresentará sua resposta para aquele mistério. Nessa seção do artigo,
apresento uma série de evidências, extraídas de textos de Marx, que confirmam a
interpretação de Heinrich.
Por fim, abordo uma probletica aproximação que Pasquinelli (2019) estabelece entre
o trabalhador coletivo e o intelecto geral, aproximação essa que leva o filósofo italiano a
concluir que Marx teria abandonado a noção de intelecto geral e adotado a categoria
trabalhador coletivo por motivações políticas.
OS GRUNDRISSE E O INTELECTO GERAL
O manuscrito intitulado Esboços da Crítica da Economia Política (Grundrisse der Kritik
der politischen Ökonomie), conhecido como os Grundrisse, foi produzido por Marx nos
anos 1857 e 1858, quase dez anos antes da publicão do Livro I de O Capital. Nesse
manuscrito, o autor registra o alcance das suas pesquisas no campo da Economia
Política depois de transcorrida uma década e meia desde que ele iniciara seus estudos
econômicos com o objetivo de revelar a anatomia da sociedade civil (MARX, 2003, p.
4), ou seja, os fundamentos da sociedade burguesa moderna e o modo de produção
capitalista e suas correspondentes relações de produção e de circulação (MARX, 2013,
p. 78).
Nos anos que se sucederam à sua chegada a Londres como exilado em 1849, a vida
de Marx é marcada por articulações políticas e pelo trabalho de redação de artigos para
o periódico New York Daily Tribune. Se por um lado essa atividade profissional lhe
reduzia as severas dificuldades financeiras em que vivia na ocasião, por outro lado, essa
ocupação o impedia de aprofundar as pesquisas que ele havia iniciado em 1850 na
biblioteca do Museu Brinico. Em 1856, o recebimento de uma herança da mãe de
Jenny, esposa de Marx, trouxe para a família um momentâneo alívio econômico e
permitiu que Marx retomasse com afinco suas pesquisas, que vinham sendo
constantemente interrompidas desde o começo da década (BRIGGS, CALLOW, 2008;
MEHRING, 2014).
Ao final da redação desses manuscritos, Marx afirmou orgulhosamente, em carta a
Ferdinand Lassalle em 12 de novembro de 1858, que ali estava "o resultado de quinze
anos de pesquisas, ou seja, dos melhores anos da minha vida" (1983b, p. 354).
Os Grundrisse não foram redigidos com o propósito de publicação, mas para
esclarecimento do próprio autor. Trata-se de um conjunto de textos em que Marx registra
suas reflexões, ao mesmo tempo em que expõe os dilemas teóricos que enfrenta, busca
alternativas para superá-los e, nesse esforço, produz valiosos registros que revelam
como operava o seu método de investigação e como amadureciam suas ideias. Apesar
de as categorias empregadas nesse manuscrito não terem ainda o alcance e a
articulação que receberiam posteriormente em O Capital, esses textos são
importantíssimos, pois nos permitem reconstruir o percurso trilhado pelo autor durante a
constrão do seu arcabouço teórico (PAULA, 2010; ROSDOLSKY, 2001). Estamos
diante, portanto, de alguns cadernos de notas dolaboratório de Marx, segundo a feliz
expressão adotada por Bellofiori et al. (2013).
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Esse caráter investigativo e provisório dos Grundrisse diferencia esse texto de outras
obras de Marx que apresentam apurado cuidado estilístico e rigor com o aspecto
expositivo. Conforme argumenta Paula (2010, p. 7), ressalta-se o inacabamento dos
Grundrisse, seu caráter às vezes elíptico, às vezes cifrado, outras vezes ainda
exploratório, que demandaria reelaboração sistemática para ter plena eficácia
expositiva. Apesar dessas características e do fato de sua teoria do valor o estar
plenamente desenvolvida nesse texto, nota-se que alguns aspectos essenciais do
arcabouço teórico de Marx estão ali expostos de maneira reveladora e instigante. Esses
manuscritos podem ser considerados "textos únicos e insubstituíveis ao abordar, de
maneira inteiramente luminosa, questões cruciais, como as formas de produção pré-
capitalistas, como o significado histórico do avanço científico e tecnológico" (PAULA,
2010, p. 8).
Tendo em vista os objetivos do presente artigo, interessa-nos o trecho dos Grundrisse
conhecido como Fragmento sobre as máquinas (MARX, 2011, p. 587-589) em que o
autor adota o termo intelecto geral e faz algumas conjecturas sobre possíveis
desdobramentos do progresso tecnológico e da automação industrial que emergia com
a expansão da grande indústria.
Antes do referido fragmento de Marx, merecem destaque algumas reflexões do autor
sobre as metamorfoses dos meios de trabalho que, transformados cada vez mais pela
intensificação do uso da maquinaria, o vida a um aumato cujos membros
conscientes são os próprios trabalhadores:
Assimilado ao processo de produção do capital, o meio de trabalho passa por diversas
metamorfoses, das quais a última é a máquina ou, melhor dizendo, um sistema automático
da maquinaria [...] posto em movimento por um autômato, por uma força motriz que se
movimenta por si mesma; tal autômato consistindo em numerosos órgãos menicos e
intelectuais, de modo que os próprios trabalhadores são definidos somente como membros
conscientes dele (MARX, 2011, p. 580).
Nesse contexto, a atividade do trabalhador limita-se a supervisionar a ação do sistema
automático da maquinaria e evitar que ocorram falhas. Ou seja, a atividade do
trabalhador, como um supervisor da produção, limita-se a mediar o trabalho do sistema
de máquinas sobre as matérias-primas (MARX, 2011, p. 580-581).
Até a emergência da maquinaria, a produção baseava-se no instrumento tradicional de
trabalho, que era animado pela habilidade e virtuosidade do seu manipulador. A
ferramenta e o trabalho a ela associado deram lugar a um sistema no qual o trabalhador
é subjugado e dominado por um poder que lhe é estranho:
A atividade do trabalhador, limitada a uma mera abstração da atividade, é determinada e
regulada em todos os seus aspectos pelo movimento da maquinaria, e não o inverso. A
ciência, que força os membros inanimados da maquinaria a agirem adequadamente como
autômatos por sua construção, não existe na consciência do trabalhador, mas atua sobre
ele por meio da máquina como poder estranho, como poder da própria máquina (MARX,
2011, p. 581).
Marx descreve um sistema em que o trabalho está subsumido à maquinaria viva,
apresentando-a como um poderoso organismo que torna insignificantes o saber e a
atividade isolada do trabalhador. Assim, o saber e o conhecimento socialmente
construídos são absorvidos pelo capital fixo: A acumulação do saber e da habilidade,
das forças produtivas do cérebro social, é absorvida no capital em oposição ao trabalho,
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e aparece consequentemente como qualidade do capital, mais precisamente do capital
fixo (MARX, 2011, p. 582).
O autor expõe então um controverso exercício especulativo em que enfrenta uma
pergunta fundamental para a apreensão das especificidades históricas da sociedade civil
burguesa e do seu modo de produção: Qual o papel do conhecimento e da tecnologia
no modo de prodão capitalista?
Em seu exercício de reflexão, Marx (2011) afirma que, diante da crescente importância
da ciência e suas aplicações tecnológicas, a participação do trabalho humano na
produção é reduzida quantitativa e qualitativamente. Assim, o próprio capital expulsa do
processo de produção o único elemento capaz de criar valor, ou seja, o trabalho humano.
O capital produz uma contradição que opera no sentido da superação desse modo de
produção.
Na mesma medida em que o tempo de trabalho - o simples quantum de trabalho - é posto
pelo capital como único elemento determinante de valor, desaparecem o trabalho imediato
e sua quantidade como o prinpio determinante da produção [...] e é reduzido tanto
quantitativamente a uma propoão insignificante, quanto qualitativamente como um
momento ainda indispenvel, mas subalterno frente ao trabalho científico geral, à aplicação
tecnológica das ciências naturais, de um lado, bem como à força produtiva geral resultante
da articulação social na produção total [...]. O capital trabalha, assim, pela sua própria
dissolução como a força dominante da produção (MARX, 2011, p. 583).
Nesse trecho do manuscrito, Marx aborda a maquinaria inserida num processo de
controle do capital sobre o trabalhador, por meio do qual o trabalho humano é dominado
pelo trabalho da maquinaria. No entanto, algumas páginas depois, Marx passa a
examinar posveis desdobramentos que poderiam advir do desenvolvimento da grande
indústria. Ele divaga sobre os limites históricos da base cnica do capitalismo avançado
e vislumbra um cenário em que o conhecimento iria adquirir um potencial libertador que
colocaria em xeque a dominão do capital. Marx entrevê a possibilidade dessa
reviravolta revolucionária em um tempo futuro quando os processos produtivos
dependeriam fundamentalmente do conhecimento coletivo, que ele designa intelecto
geral.
Antes de apresentar esse exercício de refleo, o autor aponta a perspectiva de
apropriação pela classe trabalhadora do conhecimento científico empregado na
produção. Além disso, antevê que, com o desenvolvimento da grande indústria, a crião
de riqueza iria depender menos do tempo de trabalho empregado nos processos
produtivos, passando a depender mais da capacidade dos trabalhadores e do avanço
da ciência e sua aplicação à produção. Nos termos de Marx:
à medida que a grande indústria se desenvolve, a criação de riqueza efetiva passa a
depender menos do tempo de trabalho e do quantum de trabalho empregado que do poder
dos agentes postos em movimento durante o tempo de trabalho, poder que - sua poderosa
efetividade -, por sua vez, não tem nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que
custa sua produção, mas que depende, ao contrário, no nível geral da ciência e do progresso
da tecnologia, ou da aplicação dessa ciência à produção (MARX, 2011, p. 587-588).
Ao apresentar essas conjecturas, Marx prenuncia uma situão futura quando a
produção de valor deixaria de depender fundamentalmente da quantidade de tempo
trabalhado. Nesse contexto, afirma ele, a produção baseada no valor de troca
desmoronaria, ou seja, o capitalismo iria ruir:
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Nessa transformação, o que aparece como a grande coluna de sustentação da produção e
da riqueza não é nem o trabalho imediato que o pprio ser humano executa nem o tempo
que ele trabalha, mas a apropriação da sua própria força produtiva geral, sua compreeno
e seu domínio da natureza por sua existência como corpo social - em suma, o
desenvolvimento do indiduo social. O roubo de tempo de trabalho alheio, sobre o qual a
riqueza atual se baseia, aparece como fundamento miserável em comparação com esse
novo fundamento desenvolvido, criado por meio da própria grande indústria. Tão logo o
trabalho na sua forma imediata deixa de ser a grande fonte da riqueza, o tempo de trabalho
deixa, e tem de deixar, de ser a sua medida [...]. O trabalho excedente da massa deixa de
ser condição para o desenvolvimento da riqueza geral, assim como o não trabalho de uns
poucos deixa de ser condição do desenvolvimento das forças gerais do cérebro humano.
Com isso, desmorona a prodão baseada no valor de troca (MARX, 2011, p. 588).
Essa contradição, que opera no sentido de superar a dominação do capital, traz a
possibilidade do livre desenvolvimento das individualidades, pois a redução do tempo de
trabalho socialmente necessário a um mínimo não estaria mais voltada à amplião do
tempo de trabalho excedente, mas à "formação artística e científica etc. dos indivíduos
por meio do tempo liberado e dos meios criados para todos eles" (MARX, 2011, p. 588).
É o próprio capital, "contradição em processo" segundo Marx, que reduz o tempo de
trabalho a um mínimo e, simultaneamente, toma o tempo de trabalho como "única
medida e fonte da riqueza". Assim, o capital "diminui o tempo de trabalho na forma do
trabalho necesrio para aumentá-lo na forma do supérfluo; por isso, põe em medida
crescente o trabalho supérfluo como condição - questão de vida e morte - do necessário
(MARX, 2011, p. 589). Essas especulações ensejam a possibilidade de que o tempo
livre, o o tempo de mais trabalho, seja associado à riqueza:
Uma nação é verdadeiramente rica quando se trabalha 6 horas em lugar de 12 horas. A
riqueza não é o comando sobre o tempo de trabalho excedente (riqueza real), mas tempo
disponível para cada indiduo e toda a sociedade para além do usado na produção imediata
(MARX, 2011, p. 589).
Segundo essa perspectiva emancipatória, vislumbrada nesse exercício de reflexão
sobre o progresso da maquinaria e a aplicão do conhecimento aos processos de
produção, o aprimoramento tecnológico do capital fixo indicaria em que medida o
intelecto geral, isto é, o conhecimento socialmente construído, teria se tornado uma força
produtiva imediata e assumido o controle das condições do processo vital da sociedade.
A natureza não constrói máquinas nem locomotivas, ferrovias, telégrafos elétricos, máquinas
de fiar automáticas etc. Elas o produtos da indústria humana; material natural
transformado em órgãos do cérebro humano criados pela ação humana; força do saber
objetivada. O desenvolvimento do capital fixo indica até que ponto o saber social geral,
conhecimento, deveio foa produtiva imediata e, em conseqncia, até que ponto as
próprias condições do processo vital da sociedade ficaram sob o controle do general intellect
e foram reorganizadas em conformidade com ele. Até que ponto as forças produtivas da
sociedade são produzidas, não na forma do saber, mas como órgãos imediatos da práxis
social; do processo real da vida (MARX, 2011, p. 589, grifo nosso).
Em suma, nessas passagens dos Grundrisse, M