Trabalho & Educação | v.31 | n.1 | p.7-11 | jan-abr | 2022
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https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
O presente número da Revista Trabalho&Educação v.31, n.1 (2022), vem a público em
um momento de profundo acirramento da crise capitalista em âmbito internacional e
nacional.
O mundo acompanha atônito o retorno da Guerra na Europa. Esta, que se inicia
formalmente em 24 de fevereiro de 2022, possui raízes hisricas seculares e vem sendo
preparada ao longo de décadas. A Guerra tamm possui razões mais atuais em torno
do golpe de Estado na Ucrânia, ainda em 2014, como uma investida dos países da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e da União Europeia (EU) na
expansão em direção ao leste europeu, colocando em xeque os acordos firmados com
o fim da União Soviética, na década de 1990. A Guerra é resultado de um deslocamento
do imperialismo estadunidense em direção à Europa do Leste, o que acirra a disputa de
mercados com o imperialismo conduzido pela China e Rússia, ou seja, é uma Guerra
interimperialista a qual a Classe Operária e os trabalhadores pobres devem ser
contrários.
A complexidade do conflito não nos permite aprofundar sobre o tema neste editorial, no
entanto, este evidencia a urgência da nossa quadra histórica, uma vez que vem à tona:
a luta por uma nova divisão do mundo, tendo-se em vista a disputa por recursos naturais
e energéticos e, consequentemente, por seus mercados e, ainda, o assombro da real
possibilidade da extinção da vida humana na terra, como consequência da utilização do
arsenal atômico desenvolvido pelas grandes potências imperialistas em uma eventual III
Guerra Mundial. A Guerra interimperialista nos coloca diante da possibilidade da
barbárie, demonstrando a capacidade destruidora da dinâmica do capital posta em
movimento na dinâmica histórica do capitalismo. Urge a luta contra essa dimica como
forma de barrar a barbárie humana.
Faz-se importante bradar que esta Guerra tem caráter eminentemente interimperialista
e, portanto, não interessa à classe operária e aos trabalhadores pobres de qualquer um
dos pses envolvidos no conflito. O presente confronto nos chama a atenção para a
necessidade de se extirpar, seja em âmbito internacional e nacional, as influências de
natureza fascista e seguir em dirão às possibilidades de superão do sistema
capitalista, sem a qual, a classe operária e os trabalhadores pobres continuarão sendo
explorados e vilipendiados pelo capital.
No Brasil, a crise que se instala a nível internacional se mostra ainda mais perversa. O
número de desempregados explode. O aumento de preços é generalizado e vem
assolando o poder de compra dos brasileiros. Apesar da influência do cenário
internacional na economia doméstica, a realidade é que as próprias políticas de governo,
totalmente voltadas para a satisfão dos interesses da burguesia nacional e
internacional, tem contribuído sobremaneira para tal cenário.
A corrida pelo garimpo selvagem na Amazônia, tutelado pelo Estado e conduzido pelo
governo brasileiro, vem intensificando o genocício da populão indígena. A educão
pública brasileira, cada vez mais à mercê dos interesses capitalistas, vem sendo
depredada pelas reformas mais recentes. A Reforma do Ensino Médio, iniciada com o
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governo da Presidente Dilma, desenvolvida no governo Temer e implementada pelo
governo Bolsonaro, tenderá a aguçar as desigualdades educacionais entre as classes e
privará os jovens brasileiros de uma consciência de classe cada vez mais necessária.
No que se refere ao campo do emprego, a modernização da legislação trabalhista, vem
desarticulando os movimentos sindicais e colocando os trabalhadores, em particular os
trabalhadores pobres, em desvantagens crescentes frente aos interesses da burguesia
capitalista. Estas são apenas algumas palavras acerca da realidade brasileira atual.
No Brasil, 2022 é tamm o ano das eleições nacionais. No momento, estamos diante
de uma encruzilhada: o aprofundamento do autoritarismo populista de extema direita à
moda brasileira, nas mãos de Bolsonaro, ou a alternativa de centro e centro direita,
estando à frente Lula, para manutenção da democracia burguesa de contdo populista,
tendo em vista garantir o projeto das classes dominantes para o Brasil. À Classe operária
e aos trabalhadores pobres impõe a afirmação da luta pela alternância real de poder no
Estado e no governo, tendo em vista a superação da dinâmica capitalista de miséria e
exclusão de toda ordem. Nos resta uma única certeza, a revolução não será conquistada
por meio do voto! Pregarrevolução passiva é, no mínimo, assédio moral para com os
trabalhadores pobres do nosso País.
Diante deste cerio, regado a sangue e disputa por poder, as discussões que colocam
no centro o trabalho e a educação continuam cada vez mais necessárias e pertinentes.
Atinentes ao importante dever a ser cumprido por meio da publicação científica,
apresentamos este número da Revista Trabalho&Educão à leitura atenta e crítica
das(os) leitoras(es) que nos lêem.
O artigo que abre este número é uma contribuição dos pesquisadores indianos Sumathi
SRINIVASALU, e Manjubarkavi SELLADURAI, do Department of Anthropology,
University of Madras: 
case study of a traditional community and their alternative occupational-based
. Nesse artigo, as autoras tratam das divies ocupacionais e das
mudaas nas atividades dos trabalhadores na Índia. Procuram mostrar que, no caso
indiano, essas mudaas devem ser compreendidas em termos socioculturais e não
apenas socioeconômicos. É uma contribuição para a compreensão das mudanças
contemporâneas e do movimento social nas ocupações tradicionais na Índia.
Na sequência, o artigo de Carlos Alberto VASCONCELOS, Diana Mendonça de
CARVALHO e Wagner Sena dos SANTOS discorre sobre o
agricultura familiar de perímetros irrigados de Itabaiana/SE e reflexos na
. Conforme apontado pelos autores a história do trabalho infantil acompanha
a trajetória do nosso ps desde os tempos de Colônia, pois crianças descendentes de
escravos negros e índios eram obrigadas a aumentar a mão de obra nas fazendas, na
agricultura. O desenrolar de um processo histórico de formação e estruturação do
espaço agrário brasileiro, ocorrendo de forma desigual entre as regiões do país,
possibilitou a formação de uma estrutura bimodal em que se torna posvel a existência
de agricultores empresariais, que se utilizam massivamente de insumos para incremento
da produtividade agrícola, em consonância com o pequeno agricultor que por não dispor
de condições financeiras para contratar funcionários experientes, sente-se obrigado a se
utilizar do trabalho infanto-juvenil de seus filhos como fonte de renda. Os autores
chamam a atenção para a urgência da erradicação do trabalho infantil na
contemporaneidade e defendem: é preciso que a sociedade, as empresas e o governo
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promovam uma inclusão social motivada não pelas necessidades das crianças, mas,
sim, pelos seus direitos.
No artigo ,
Rodrigo Moreno MARQUES apresenta uma importante contribuição acerca do papel do
conhecimento coletivo, tratado por Marx enquanto intelecto geral nos Grundrisse, no
trecho conhecido como Fragmento sobre as máquinas. Neste fragmento, o autor adota
o termo intelecto geral e faz algumas conjecturas sobre possíveis desdobramentos do
progresso tecnológico e da automação industrial que emergia com a expansão da
grande indústria, sugerindo que esta contradição poderia abrir uma janela para a
superação do modo de produção capitalista. Tendo como ponto de partida o intelecto
geral, MARQUES tem como objetivos analisar a hitese de Marx apresentada nos
Grundrisse; discorrer sobre a origem da expressão intelecto geral no século XIX; e
ainda, revelar a superação de Marx em anos posteriores, ao expor suas conclusões
sobre o papel da ciência e da técnica nos processos de produção capitalistas. Neste
sentido, este artigo pretende discorrer sobre a superação da hipótese inicial apresentada
por Marx nos Grundrisse, em que o papel do conhecimento e da tecnologia deixam de
ser encarados como instrumentos de emancipação da classe trabalhadora e assumem
um caráter alienado e estranhado.
O texto de Tcheice Laís ZWIRTES, Camila LOPES e Jacinta Sidegum RENNER,
-19: qualidade de vida no trabalho de técnicos de enfermagem em uma
, nos brinda com uma importante discussão sobre os
impactos da pandemia da Covid-19 na qualidade de vida no trabalho, sob o ponto de
vista dos técnicos de enfermagem que atuam em ambulatórios. A pesquisa foi realizada
em duas Unidades Básicas de Saúde e uma Unidade de Pronto Atendimentos de uma
cidade da Encosta da Serra no Rio Grande do Sul nos meses de junho e setembro de
2020. O artigo nos revela as contradições existentes na realizão do trabalho dos
técnicos de enfermagem diante do novo contexto engendrado pela pandemia da Covid-
19, a qual ao mesmo tempo que valorizou a atividade exercida pela categoria, também
intensificou o estresse e preocupação constante com a possibilidade de serem
potenciais transmissores do vírus.
Maria Edilene Araújo SILVA e Antonia Solange Pinheiro XEXEZ, em seu artigo sobre
precarização do trabalho dos licenciados em educação física: informalidade e o
, averigua se a precarização do trabalho na
Educação Física tende a distanciar os professores dos setores relacionados ao terreno
pedagógico escolar. Com suporte nas transformações ocorridas na Educação Física e
no mundo do trabalho, em que se percebem mudanças no status docente, na relação
entre sociedade e Educação Física, bem como é notória uma precarização do trabalho
em todos os setores deste locus do saber parcialmente ordenado. As autoras nos
informam que nos achados, percebeu-se, de maneira geral, que os licenciados estão
buscando setores laborais fora do contexto escolar por motivos associados a melhores
salários e afinidade com a área da saúde-fitness. Constatou-se que os professores, em
sua maioria, tendem a escolher a escola como local de trabalho, unicamente por fatores
ligados à estabilidade financeira.
Marlon Freitas de CAMPOS, e Moacir Fernando VIEGAS, em seu artigo 
  ,
discutem o prazer e o sofrimento no trabalho, destacando, em especial, as estratégias
de defesa e de enfrentamento desenvolvidas pelas professoras para atenuar o
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sofrimento. Segundo os autores, tendo como base estudo realizado com docentes da
rede pública estadual que trabalham em uma cidade de porte médio da região sul do
estado do Rio Grande do Sul, o artigo se justifica pela necessidade de ampliação e
aprofundamento de pesquisas que busquem compreender os mecanismos mobilizados
pelos trabalhadores para suportar e enfrentar os efeitos degradantes do trabalho em sua
saúde mental. Apoiado na teoria da Psicodinâmica do Trabalho e na perspectiva
histórico-crítica da educação, o estudo centrou-se nos mecanismos mentais ou
comportamentais, conscientes ou inconscientes, que, frente às características do
trabalho produtoras de sofrimento, denotam a participação ativa dos sujeitos na defesa
da preservação de sua saúde mental e sua luta contra a descompensação psíquica.
Já o artigo 
de 1980 a 20 de Larissa Prato SANTOS e Maria Luiza Gava SCHMIDT, apresenta
os resultados de pesquisa bibliográfica em bases de dados científicas sobre a
abordagem ergológica no Brasil no período entre 1980 e 2018. Segundo apresentam as
autoras, a ergologia, abordagem que surge na Fraa na década de 1980 em
decorrência das transformações no mundo do trabalho, traz em seu bojo um novo olhar
para a compreensão das relações entre trabalho e da atividade humana”. A partir dos
resultados desta pesquisa SANTOS e SCHMIDT corroboram a existência da inserção
da abordagem ergológica entre os pesquisadores brasileiros como um método de
ampla utilização pelos centros e grupos de pesquisa de diferentes instituições e capaz
de fazer emergir importantes questões em torno das relações entre subjetividade e
atividades de trabalho.
Em 
 , Normelena Diniz de OLIVEIRA; Edson Antunes
QUARESMA JUNIOR e Bruna Mendes OLIVEIRA apresentam um estudo que tem
como foco central compreender de que forma o ensino de empreendedorismo está
sendo abordado nos cursos técnicos concomitantes e subsequentes ofertados
presencialmente por um instituto federal da Região Sudeste do Brasil. A discussão sobre
este tema se torna pertinente uma vez que a educação profissional e tecnológica é
tensionada a ultrapassar um treinamento operacional e economicista, na direção de
saberes práticos fundamentados em conhecimento científico e tecnológico e em
competências gerais mais consistentes, abarcadoras tamm dos elementos humano,
social e ecológico. A partir de uma abordagem descritiva, com base em análise
documental dos projetos pedagógicos dos cursos técnicos analisados, os autores
evidenciam o descolamento entre a necessidade do tratamento de questões sociais,
humanas e ambientais frente à prevalência do viés empresarial e financeiro nestes
cursos.
O artigo 
 de autoria de Jacques André GRINGS, Naira KAIESKI e Carlos
Fernando JUNG, traz à luz importantes reflexões em torno dos fatores preponderantes
que norteiam as escolhas profissionais dos concluintes do Ensino Médio (EM). Conforme
apresentam GRINGS, KAIESKI e JUNG, dado que uma das atribuições da escola é
formar o aluno para a vida adulta, compreender os fatores que são determinantes para
a tomada de decisão profissional se torna uma tarefa de grande importância no âmbito
escolar. Neste sentido, os autores buscaram compreender o quepensam os Gestores
Escolares a respeito da escolha profissional dos concluintes do EM da região do
Paranhana, RS. Seria a família e a condição socioeconômica fatores decisivos para as
escolhas profissionais, ou falaria mais alto a realização pessoal e as perspectivas de
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atuação no mercado de trabalho? Estaria o entendimento dos gestores educacionais
alinhados à perspectiva dos alunos e com a literatura alusiva ao tema? Poderia a escola
facilitar o processo de escolha profissional, assumindo o papel de protagonismo e
referencial para os jovens, auxiliando-os a fazerem suas escolhas de maneira consciente
e responsável?
Por fim, mas igualmente relevantes, em nossa seção de RESUMOS convidamos as(os)
leitoras(es) a conhecerem algumas pesquisas de doutorado e mestrado, realizadas no
campo do trabalho e educação, publicadas na atualidade.
Abrindo esta seção, Mislene Aparecida Gonçalves ROSA em sua tese de doutorado
,
propôs responder a seguinte pergunta: "em que medida os saberes constituídos pelas
mulheres no âmbito do trabalho reprodutivo, são mobilizados nas relações de trabalho
produtivo apontando aspectos da dinâmica entre estes, por meio da análise das
competências evidenciadas em situações de trabalho”.
Em seguida, tem-se o resumo da dissertão de mestrado de Maria Fernanda Lopes de
FREITAS, intitulada  
atividades docentes durante a pandemia covid-19 através da clín,
a qual possibilitou demonstrar a ocorrência de adaptões e substituições na
organização do trabalho após a suspensão das aulas presenciais, de maneira a
transformar a atividade docente durante o ensino remoto pandêmico”.
Em e vida e aspirações profissionais de jovens egressas do curso pro-
técnico do CEFET-, Glória Cristina Pereira Gomides GOMES objetivou
compreender se e como tais projetos são influenciados pela divisão do trabalho entre
os sexos e seus desdobramentos, as motivações e os desafios enfrentados pelas
estudantes e suas expectativas em relão ao mundo do trabalho.
Finalmente, a pesquisa de mestrado 
institucionalismo: processo decisório de uma universidade minei de Fernanda
Costa SILVA, consistiu em compreender os fatores que influenciaram o processo
decisório de uma universidade mineira na implementação da Lei de Cotas.
Após este breve aperitivo dos textos publicados neste número, desejamos a todas(os)
as(os) leitoras(es) uma boa leitura!
Hormindo Pereira de Souza Júnior
1
Uyara de Salles Gomide
2
1
Professor Titular de Política e Gestão da Educação Faculdade de Educação da UFMG.
https://orcid.org/0000-0001-9411-6802 .
2
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Educão: Conhecimento e Inclusão Social pela
Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), Mestra em Economia pela Universidade Federal do
Ceará (CAEN/UFC), Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Viçosa (DEE/UFV).
Pesquisadora do Observatório Nacional do Sistema Prisional (ONASP/UFMG). https://orcid.org/0000-0002-
7918-9031.