|48| Trabalho & Educação | v.31 | n.3 | p.48-64 | set-dez | 2022
https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/
DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2022.41300

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From the female womb, the aurora of the perfect nation:
the woman contemplated in the eugenics ideal
BOARINI, Maria Lucia2
SOUZA, Simone Carlos de3

O objeto dessa exposição é o papel social das mulheres propagado pelo ideário da eugenia
no Brasil. Concentramos nossa análise no período de intensa publicação e propagação sobre
eugenia, a década de 1920. Nosso objetivo é aflorar discussão sobre como, por meio da história
à luz do materialismo histórico, as ideias não se distanciam da realidade concreta em que são
produzidas. No caminho percorrido, destacamos nuances que indicam um ideário em prol da
resolução de problemáticas no contexto histórico e social do qual é parte, sem deixar de ser
um recurso ideológico de reprodução social do capital. Concluímos que o papel das mulheres
defendido pela eugenia foi, simplificadamente, um traço geral da sociedade de classes. Presente
em nossos dias atuais nas ideias reacionárias, mulheres como pilares da família e salvaguardas
do futuro nacional, são tragédias reproduzidas no percurso histórico.
Palavras-chave: Eugenia. Papel Social. Mulher.

The subject of this exhibition is the social role of women propagated by the ideas of eugenics in
Brazil. We focus our analysis on the period of intense publication and propagation of eugenics, the
1920s. Our objective is to discuss how, through history, in the light of historical materialism, ideas
do not distance themselves from the concrete reality in which they are produced. Along the path, we
highlight nuances that indicate an ideology in favor of solving problems in the historical and social
context of which it is a part, without ceasing to be an ideological resource for the social reproduction
of capital. We conclude that the role of women defended by eugenics was, simply put, a general
feature of class society. Present in our present day in reactionary ideas, women as pillars of the
family and safeguards of the national future, are tragedies reproduced in the historical course.
Keywords: Eugenics. Social role. Woman.
1 Trata-se de artigo inédito, não sujeito ao Comitê de Ética em Pesquisa (COEP), inspirado em tese de
doutoramento publicada no ano de 2020, sem qualquer fonte de  nanciamento/fomento.
2 Doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Mestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Graduação em Psicologia pela Universidade de Mogi das Cruzes. Professora do Programa
de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: mlboarini@uol.com.br.
3 Doutora em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá, Mestre em Educação pela Universidade
Estadual de Maringá, Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Maringá. Está vinculada
ao GEPHE (Grupo de Estudos e Pesquisas Higiene Mental e Eugenia) e desenvolve pesquisa na Linha
de Formação Humana e Processos Educativos, tradando do tema da violência contra à mulher. E-mail:
sicarlos182@yahoo.com.br.
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
“Do ventre feminino a nação perfeita”, essa foi a principal bandeira do discurso da
eugenia no Brasil da década de 1920. Do ventre eugênico surgiria a nação do progresso.
Até onde se tem notícia, ainda não é ética, moral e cienticamente possível produzir
humanos fora do sistema biológico feminino. Portanto, é indiscutível o fato de que é
a partir do corpo biologicamente feminino que as gerações se reproduzem. Assim,
decisivamente, mulheres estão associadas à reprodução. O culto a essa característica
feminina revela-se muito antes do século XX. Foi no paleolítico o primeiro registro de
que a arqueologia moderna atribuiu o signicado do culto à fertilidade do feminino: a
pequena estátua da Vênus de Willendorf, estimada de 28.000 a 25.000 a.C. anos,
seria a primeira representação artística do feminino: proporções corpóreas volumosas
foram interpretadas como enaltecimento à reprodução e à fertilidade. Ainda que se
suponha uma interpretação da história pela via do moderno, a capacidade biológica de
reproduzir acompanha a simbologia e a ideologia do papel de mulheres na sociedade.
A associação da mulher à procriação da vida tem inuenciado os limites ideológicos
impostos à atuação feminina, inclusive, reside nele elementos que sustentam discursos
que ainda se encontram no rol de “justicativas” para a violência contra mulheres.
Latente, estima-se que no mundo todo, cerca de 736 milhões de mulheres (WORD
HEALTH ORGANIZATION, 2021) já foram submetidas a alguma categoria de
violência (física ou sexual). No Brasil, os números são devastadores: uma mulher
é vítima de estupro a cada 10 minutos; a cada dia, 3 mulheres são vítimas do
feminicídio; a cada 2 dias, uma travesti ou mulher trans perde sua vida; e a cada
hora, 30 mulheres são vítimas de agressão física (CRONÔMETRO DA VIOLÊNCIA,
2021). A maior parte dessa violência ocorre na residência das próprias mulheres,
pelas mãos de seus parceiros atuais ou anteriores (SOUZA, 2021).
O patriarcado estrutural permeia as relações interpessoais e instituições, mantendo
o corpo feminino sob constante ameaça: objeto/coisa/propriedade que pode
ser abusado, maltratado e eliminado pelo masculino. No ir e vir de avanços e
retrocessos, no enfrentamento das violências contra mulheres (SOUZA, 2021), se
faz permanentemente necessária a explicitação da contradição entre violências que
vitimizam mulheres e a jornada limitante de práticas e leis que versam sobre a sua
proteção e a eliminação de tal epidemia.4
Nesse ínterim, reetir sobre o papel de mulheres implicado socialmente é também
pensar a emergência de ir além das políticas públicas e questionar as estruturas
sociais nas quais estão enraizadas as práticas de violência. Por isso, nossa proposta
com essa exposição é, por meio do olhar histórico, observar o quanto os discursos e
práticas do passado, forjadas em circunstâncias sociais e históricas especícas, sob
novas roupagens, ainda sustentam as relações que cravam mulheres à submissão,
à exploração, ao controle e às violências.
O discurso e a propagação da eugenia enquanto ideia traz, em si, a ideologia da
transformação social, a partir da transformação das ideias, um movimento já experimentado
em outros períodos históricos. Como observa Sérgio Buarque de Holanda (2014, p.
192), “os movimentos aparentemente reformadores, no Brasil, partiram quase sempre
4 Ao usarmos o termo “epidemia”, fazemos referência ao controle da violência contra mulheres, via SINAN-
Sistema de Agravos de Noticação, controlado pela Saúde, departamentos de Epidemiologia.
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de cima para baixo: foram de inspiração intelectual, se assim se pode dizer, tanto quanto
sentimental.(...)”. E ainda ressalta, lembrando-nos que os “campeões das novas ideias
esqueceram-se, com frequência, de que as formas de vida nem sempre são expressões
do arbítrio pessoal, não se ‘fazem’ ou ‘desfazem’ por decreto” (HOLANDA, 2014, p.192).
Sabemos que não temos em resoluto a opção de construir isoladamente a nossa
própria história como a queremos, pois o livre arbítrio esbarra na “tradição de todas
as gerações passadas” e atua “como um pesadelo que comprime o cérebro dos
vivos”, conforme considerou Marx (2011, p. 25). Assim, ao olharmos para o discurso
de transformação social proposto pelo viés da eugenia que implica, de fato, um papel
especíco às mulheres, vamos tomar como base de análise o fato de que os papeis
sociais não são determinados pelas ideias, mas resultantes de múltiplas mediações
entre complexos, numa dada totalidade, e só podem ser apanhados, considerando
o trabalho como categoria fundante do ser social. Deste modo, propomos entender o
papel à luz do entendimento da práxis, como local onde são cunhados os complexos,
nos quais homens e mulheres reproduzem-se continuamente como seres sociais.
Vamos abstrair um momento particular da história, com vistas a compreender
uma totalidade, revisitando suas características singulares. Sabemos que o papel
social atribuído às mulheres no movimento da eugenia é parte de um complexo
multifacetado, onde variadas mediações se fazem presentes. Nos concentraremos
na exposição dos elementos especícos que nos permitem compreender como esse
movimento representou um discurso hegemônico do período do qual foi parte.
Em primeiro lugar, ao contextualizar a eugenia, seguiremos destacando passagens de
autores que a defendem como forma de evidenciar o discurso hegemônico sobre o papel
das mulheres para a sociedade e, na sequência, evidenciaremos que o papel denido
não se relaciona com a totalidade das mulheres, mas foi forjado ideologicamente para
um grupo especíco de mulheres. Por m, concluiremos nossa análise.

A eugenia, enquanto visão de mundo, pode ser compreendida como busca pela
perfeição. Seus princípios remontam a antiguidade clássica (BOARINI, 2019). Não
obstante, foi apenas no m do século XIX que ela adquiriu identidade sendo proposta
como uma ciência.
Após as primeiras publicações de artigos do cientista Francis Galton (1822-1911),
Hereditary talent and character (1865), Hereditary Genius: tlhe Judges of England
between 1660 and 1865 (1869) e Gregariousness in cattle and in men (1871), na
revista Macmillan’s Magazine, as práticas em prol da “perfeição da raça humana”
adquiriram o nome de “eugenia”. Para Galton (1865), a eugenia seria a ciência capaz
de inuenciar a criação de práticas para desenvolver melhoras nas qualidades inatas
da raça humana, atuando como verdadeira representante dos melhores espécimes
humanos das civilizações. O autor considerou que a regulação do casamento,
e com ele, a regulação da procriação, possibilitariam o controle da reprodução
biológica: impulsionar a reprodução dos melhores e coibir a reprodução daqueles
que continham fatores de “degeneração biológica”. Galton não estava isolado em
sua proposição. O lósofo inglês Herbert Spencer (1820-1903) propôs, a partir de
uma espécie de “darwinismo social” (DOUGLASS, 2021, p. 63), a seleção articial
como meio para o melhoramento da espécie.
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No Brasil, a eugenia se consolidou especialmente a partir da fundação da Sociedade
Eugênica em 1918, incentivada por Renato Ferraz Kehl, que uniu mais de 140 médicos
em defesa dos princípios da eugenia. O Editorial do Boletim de Eugenia (1932, p.1)
a dene como o “estudo dos fatores que, sob controle social, possam melhorar ou
prejudicar as qualidades raciais das gerações futuras, quer física, quer mentalmente”.
Nas palavras de John Edgar (1866-1944), professor da Universidade de St. Andrews, a
eugenia era “uma ciência em busca da verdade” para, a partir do “melhor material para
o processo civilizado da educação” (EDGAR, 1929, p.2) ou como observou Renato Kehl
(1937, p. 46), a eugenia era a “ciência da proteção e da seleção das sementes humanas”,
com a nalidade de defender as boas sementes e multiplicar as ‘boas linhagens’ ”.
Tanto a Sociedade Eugênica – em eventos e por meio de publicações - quanto
o Boletim de Eugenia, foram instrumentos de propagação do método eugênico
(estudo das questões de hereditariedade), da contínua propaganda para popularizar
os princípios eugênicos (que seriam alternativas para o enobrecimento da “raça” - QI
alto, classe econômica alta, caucasiano) e promoção do interesse popular para a
adoção das práticas de eugenia e higiene, contra a reprodução dos degenerados.
Para tal empreitada, consideraram necessário impedir a reprodução entre indivíduos
anormais (eugenia negativa), valorizar a nobreza de origem, promover uniões de
indivíduos eugenizados (eugenia positiva), manter scalização das mutações e
variações hereditárias e, progressivamente, melhorar as condições do meio social e
da educação (KEHL, 1930, p. 305). Por isso, a eugenia requeria um campo de atuação
prática, nominada por Kehl (1929b, p. 2) de “eugenismo”, a qual tinha o dever de colocar
em prática os princípios da eugenia, rumo a conquistar um “novo patriotismo”, onde o
elemento “raça” seria impulsionado com orgulho e cidadania. Para atender o propósito
da eugenia, ele propunha que o eugenismo provocaria desdobramentos na educação,
no saneamento, na higiene, no esporte e na legislação, via intervenção do Estado.
A regulamentação do casamento eugênico e propaganda contra os fatores sociais de
degeneração, bem como o incentivo a puericultura e a propagação do entendimento
da responsabilidade sob a propagação da espécie, foram fatores promovidos por
eugenistas, que também se colocavam como preocupados quanto ao aumento da
natalidade das classes inferiores, quando comparada à natalidade das classes altas,
evidenciando, o utilitarismo econômico presente no ideário.
Em toda parte e em todos os tempos, existe uma minoria selecionada, amparando uma
grande plêiade improdutiva e atrasada.
No Brasil é difícil calcular a percentagem correspondente a um e a outro lado, podendo-
se, entretanto, admitir que cada brasileiro útil carrega com o peso morto de vinte ou mais
parasitas, tendo em conta a nossa produção econômica, comparada com a de Cuba, por
exemplo, que com pouco mais de 3 milhões de habitantes exporta algumas vezes mais
do que o Brasil, que conta com cerca de 40 milhões de indivíduos.
E esses parasitas continuam a procriar desabaladamente, em contraste com a
diminuta progressão natal das classes verdadeiramente produtoras e úteis do país. (...)
Precisamos de gente, - mas gente boa, eugenicamente boa (KEHL, 1929c, p.1).
De acordo com Kehl (1929c, p. 1), a “diminuição paulatina do contingente dos fracos,
doentes e degenerados, - concorrendo, desse modo, para a constituição de uma
sociedade mais sã, mais moralizada”, uma humanidade “composta de indivíduos
fortes e belos, elementos de paz e de trabalho” era o trabalho a ser realizado. Devemos
considerar que o fundamento da eugenia se revela como uma prática ideológica em
prol do progresso, que atribui às problemáticas sociais um caráter biológico.
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Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil vivenciava um cenário de grandes
transformações sociais, culturais e econômicas. Multiplicavam-se ferrovias e houve a
ampliação de quilômetros de estradas de ferro, facilitando e estimulando o transporte.
A modernização dos instrumentos de produção propiciou mudanças em diferentes
setores como, por exemplo, no setor de navegação costeira, por meio dos barcos
a vapor, da fabricação do açúcar, do aperfeiçoamento do beneciamento de café.
Além disso, multiplicaram-se as indústrias e outros serviços, como as instituições
de crédito (SODRÉ, 2003). Também nesse período, houve o crescimento da
população urbana, a libertação dos escravos, a vinda de milhares de imigrantes que
engrossaram a la dos trabalhadores assalariados, oportunizando aos industriais,
o pagamento de baixos salários, tanto pela alta disponibilidade de trabalhadores,
quanto pelo baixo preparo para o trabalho (PRADO JUNIOR, 1981, p. 194).
Lembremos, contudo, que movimentos de urbanização e industrialização,
especialmente em cenário imperialista, foram molas propulsoras para o fortalecimento
de um Estado intervencionista (NETTO, 2017), ainda que essa intervenção possa
ser vista desde a ascensão do absolutismo:
(...) o ingresso do capitalismo no estágio imperialista assinala uma inexão em que a
totalidade concreta que é a sociedade burguesa ascende à sua maturidade histórica,
realizando as possibilidades de desenvolvimento que, objetivadas, tomam mais amplos e
complicados os sistemas de mediação que garantem a sua dinâmica (NETTO, 2017, p. 16).
Dito de outro modo, como complexo de uma totalidade, a realidade brasileira não se
faz alheia ao processo de crescente intervenção estatal na questão social. Mote de
campanha nas eleições de 1919, como demonstra Angela de Castro Gomes (2014), a
questão social e sua importância econômica e política propiciaram o desenvolvimento
da política e legislação social no Brasil das primeiras décadas do século XX. Com o
imperialismo e a organização de monopólios, controlar o mercado foi decisivo para a
ampliação dos lucros. Por isso, a questão social passa a ser percebida pela burguesia
como uma problemática que incide negativamente nos interesses mais legítimos da
sociedade: sua modernização, seu progresso e seu desenvolvimento.
Discursos de um Estado intervencionista, especialmente no tratamento das mazelas
sociais, passam a ser representados como hegemônicos na publicidade, no jornalismo,
na educação e em outros diferentes campos culturais e sociais. Contraditória à ideia
do clássico liberalismo econômico, a ação intervencionista do Estado para lidar com
a questão social passa a ser peça do tabuleiro da alta burguesia.
O que vemos na defesa do movimento da eugenia é uma alta burguesia que opera
ante a um panorama histórico incapaz de ocultar as contradições provocadas pela
reprodução social do capitalismo e que lança mão da análise dos fenômenos sociais,
a partir do conhecimento orgânico, individualizando e naturalizando os problemas
sociais. Nesse ínterim, faz revelar o “verdadeiro espírito positivo”: mais do que
um lema na bandeira nacional, é a base que fundamenta a produção intelectual,
cientíca e artística da época. “Ordem e progresso” fomentaram ideias para controlar
um contexto, considerado em total descontrole. O dogma comteano foi elevado ao
caráter de transformador da “raça humana”, cuja realidade social e política, deveria
ser forjada de forma incontestavelmente “determinada e útil” (COMTE, 1978, p. 131).
Foi erguida a âmula do progresso e germinaram as práticas ideológicas que, em
último m, operaram para reduzir o poder dos trabalhadores e o fortalecimento do
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poder entre os grandes industriais. A eugenia não estava alheia a este contexto
social e histórico: pelo contrário, nele se estruturou e se fortaleceu.
A Eugenia como movimento ideológico ancorado no entusiasmo e no otimismo
pelo progresso, em prol da modernização e da nacionalização (SOUZA, 2012),
fez parte do discurso hegemônico do período. À distância, revelam-se intenções
dirigidas exclusivamente a reduzir os impactos e consequências das contradições
sociais, como a pobreza, a prostituição e as doenças, tendo como m uma nação
próspera e sadia. Ao nos aproximarmos, identicamos ferramentas ideológicas
em defesa da reprodução social do capital: deliberadamente impulsionadoras do
poder social, econômico e político para os “melhores espécimes humanos” e, em
simultâneo, para a redução das contradições impeditivas do progresso, por meio da
redução, segregação e adestramento dos espécimes considerados geneticamente
comprometidos. De todo modo, o discurso eugênico representou “a voz” do tempo
histórico em que foram produzidos (FAGGION & SOUZA, 2019).
Com condições concretas para a sua propagação, como ideologia e como prática, por
meio da tentativa de dominar a reprodução biológica (BOARINI, 2019, p. 13) e educar
os costumes, a eugenia se fez em período de efervescência positivista, também
como base cientíca para a solução das problemáticas decorrentes do acirramento
das contradições sociais. Embora vislumbrasse o futuro, já nasceu predestinada à
manutenção das bases que sustentavam – e sustentam – o capitalismo.
Em resumo, a eugenia compreendia que a restrição da procriação da classe onde os
males sociais se proliferavam deveria ter a sua natalidade reduzida. Por outro lado,
a classe composta por indivíduos independentes e eugênicos, “que vivem por si,
trabalhando pela própria subsistência e de suas famílias” (E.R.,1930b, p. 1) deveria
ser fomentada. Para tanto, denir um lugar para as mulheres, a ser propagado por
meio da educação e da implementação de políticas públicas, era fundamental.

A condição de reprodutora colocou a mulher como elemento propulsor para o
fortalecimento da “raça” eugênica e responsável pela educação para a “cidadania” da
prole. Como considerou E.R. (1930a, p. 1) somente a “educação eugênica da mulher
brasileira” tornaria possível “a elevação física, psíquica e moral do nosso povo”.
Dentro do discurso eugênico, a mulher possuía todo o potencial para “parir” a nova
nação. Parafraseando Kehl (1932, p. 20), ao considerar a sua bússola genética, seria
possível que a sociedade dirigisse o “seu próprio destino”, trabalhando para que
“só nasçam indivíduos bons”, de tal modo que a educação eugênica aos casais foi
concebida como ato para a “responsabilidade que representa o ato da perpetuação
da espécie”. Anal: “Quem é bom já nasce feito”.
O papel da mulher especicamente concentrado nas mulheres consideradas eugênicas
– é dado por sua posição na reprodução social e convenientemente associado às suas
características siológicas: o exercício da maternidade na família predominou sobre
qualquer outro papel a ser ocupado pelas mulheres na ótica da eugenia: a reprodução
biológica eugênica e a educação com bases no eugenismo, colocaram as mulheres no
centro da pretendida transformação para o progresso social.
Advertimos que essa posição não era nova ou exclusiva ao Brasil (SOUZA, 2021).
A formação da família patriarcal, segundo “as normas clássicas do velho direito
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romano-canônico”, prevaleciam desde o Brasil Colônia, cuja autoridade máxima era
do “pater-famílias” (HOLANDA, 2014, p. 95). Nas comunidades do período colonial
e, também assim, depois da independência, bem como durante os chamados áureos
tempos do café, a organização social privada precedia o público, o que signica
que a família colonial foi a entidade que “fornecia a ideia mais normal do poder, da
respeitabilidade, da obediência e da coesão entre os homens (HOLANDA, 2014, p.
95)”. Esta prática e ideal prevalecia nas primeiras décadas do século XX. Por isso,
mulheres conectadas a um papel maternal e subordinado, ainda que ideologicamente
relevante, não constituía uma novidade histórica.
Para eugenistas, o papel das mulheres era “decisivo” para a progressiva melhoria da
espécie humana, seja por questões biológicas – que tornariam suas características
predominantes na reprodução – ou mesmo pela puericultura (do período de
desenvolvimento do feto até o término da amamentação), nas mulheres residia,
segundo Kehl (1929c), todo o potencial de regeneração da espécie. A sociedade
eugênica nasceria do rigor quanto às decisões que precediam o nascimento e
quanto à educação das futuras gerações.
Esse ideário não foi exclusivo à manifestação eugênica no Brasil, ele também se
congurou internacionalmente, como nos mostram os estudos de Elif Çağlı (2016)
na Turquia, Luciana Linares (2016; 2018) na Argentina e Ana Kolaric (2017) na
Espanha, para citar alguns exemplos. Nos EUA, o escritor eugenista Orison Sweet
Marden (1850-1924) desenvolveu conteúdo relevante ao fortalecimento do papel
ideal a ser executado por mulheres quanto a melhoria da “raça”. Para ele, mulheres
possuíam recursos natos para serem exímias mães e esposas, de tal modo que, era
seu “dever” e a sua “obra” contribuir para a “salvação da pátria”.
Do ventre feminino “nasceria” a nação perfeita. Por isso, as decisões que antecediam
a procriação determinavam o nascimento de um indivíduo eugênico ou disgênico.
A defesa de um “casamento eugênico” era uma lógica: unir em matrimônio homens
e mulheres atestados como eugênicos pelo exame pré-nupcial, ambos educados
pelos princípios da educação sexual para tomar decisões de procriação, tendo em
vista a responsabilidade com o futuro social, e, por m, cumpridores de seus deveres
sociais biologicamente dados.
Eugenistas deniram tanto o papel das mulheres como também o papel dos homens
na sociedade. Ambos seriam responsáveis por provocar o enlace eugênico, o qual
representava, segundo o médico da Clínica de Partos da Faculdade de Medicina de
São Paulo, Edgar Braga (1897-1985), muito mais do que uma instituição para ns
nanceiros ou românticos, tratava-se da procriação sadia (BRAGA, 1933, p. 2).
A mulher deveria preparar-se para exercer a “maternidade sã e consciente”, pois o
ato da procriação era uma responsabilidade não só com relação a si e sua prole, mas,
segundo Braga (1933, p. 2), um sentimento que deveria ser dirigido especialmente
“perante a sociedade”, ato de valorização da “evolução da espécie” e prova de que
a mãe age com a “certeza adquirida de que transmitirá ao lho a soma de energias
garantidoras de um futuro eugênico onde a saúde fará estalão” (BRAGA, 1933, p. 2).
A maternidade consciente consistia em, segundo o que coloca a escritora e jornalista
Sylvia Seram Thibau (1902-1936), estabelecer parâmetros morais com os quais a
mãe deveria agir para que a maternidade fosse muito além do que uma “fatalidade
da natureza”.
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Somente a mulher – mulher que o seja profundamente pela veemência dos instintos
fundamentais do sexo e que tenha ao mesmo tempo inteligência para se erguer muito acima
dessas forças obscuras, sentindo-as com intensidade e analisando-as com clarividência –
pode avaliar o alcance moral da maternidade consciente (THIBAU,1930, p.1).
Cumprir esse papel a esse modo era possível, segundo a autora, apenas quando a
mulher compreendia que a prole era uma forma de “completar a trajetória estético-
passional de seu destino, de realizar uma obra de arte viva”, cuja recompensa “única
está em ver o fruto de sua existência crescer, desabrochar, ser forte e belo”. Assim,
a maternidade só poderia ser “consciente” entre as mulheres eugênicas, ou seja,
“não se pode aceitar que busquem essa realização consciente senão aquelas que
se sentem dignas de criar seres sadios” (THIBAU, 1930, p. 1).
Com mesma intensidade, Edgar Braga (1933, p. 2), em razão da primeira Semana da
Eugenia, em julho de 1933, no seu quarto dia de transmissão pela Rádio Sociedade
Mayrinic Veiga da cidade do Rio de Janeiro, proferiu a palestra “A margem da
hygiene e da eugenia – maternidade Sã”. Braga trouxe à discussão a utilidade da
maternidade para o projeto eugênico. Comparando a mulher à “terra fértil” e à “boa
reprodução”, o médico raticou a perspectiva de que, por meio da maternidade, a
mulher praticava o culto à família ou a “perpetuidade de um culto obstinado e heroico”
da reprodução da vida. A maternidade sã, para ele, não se dava apenas após o
nascimento da criança, mas começaria com a higiene pré-conceptual, prosseguiria
ao longo da gestação, por meio da higiene e permaneceria nos períodos pós-natal
e neonatal. Por isso, defendia um programa completo de atendimento às gestantes
pobres, à exemplo que se fazia, segundo ele, na cidade de São Paulo, com a
criação de Centros de Saúde que ofertavam serviços especializados às gestantes,
com orientação para consciência sanitária e enfermarias de clínica obstétrica da
Faculdade e da Maternidade para apoio e socorro.
Tendo em vista essa perspectiva, a educação das mulheres tornou-se um dos
elementos centrais do eugenismo, relacionando-se com os preceitos de outra corrente
em movimento, a Higiene Mental.5 Segundo o médico psiquiatra Júlio Pires Porto-
Carrero6 (1887-1937), um dos principais entusiastas da higiene mental, também
considerado um dos pioneiros das ideias freudianas e da psicanálise no Rio de
Janeiro, a mulher era a principal propagadora dos princípios do higienismo, atuando
tanto para a prolaxia da prole, quanto para a promoção de um conjunto de ações
capazes de oferecer a adaptação ao mundo real – utilitário - e à felicidade da família.
5 A Higiene Mental foi um movimento cujo marco fundador é a fundação da Sociedade de Higiene Mental
de Connecticut, nos Estados Unidos, na data de 6 de maio de 1908. No Brasil, o movimento foi impulsionado
pela Liga Brasileira de Higiene Mental - LBHM, fundada em 1923, da qual se originou o “Movimento de Saúde
Mental”. A LBHM propunha a atuação entre os poderes públicos, nas suas diferentes esferas e Movimento
de Eugenia, com o m de aplicar na sociedade medidas e ideias sobre prolaxia mental, estudos sobre a
higiene do sistema nervoso, promoção da instalação de ambulatórios gratuitos para doentes mentais. O
objetivo dessa atuação era prevenir doenças nervosas e mentais, proteger no meio social aos egressos dos
manicômios e decientes mentais, promover a melhoria contínua no tratamento e assistência aos doentes
nervosos e mentais em asilos públicos (particulares ou fora deles), realizar um programa de Higiene Mental
e Eugenética no domínio das atividades individual, escolar, prossional e social.
6 Como médico, dedicou-se ao estudo das doenças venéreas e foi professor catedrático de Medicina
Legal da Universidade do Rio de Janeiro. Como um dos membros fundadores da Liga Brasileira de Higiene
Mental e Diretor do Instituto Brasileiro de Eugenia, participou ativamente na promoção e divulgação do
higienismo e eugenia no Brasil, especialmente sobre aspectos relacionados à educação. Publicou tanto no
“Boletim de Eugenia” quanto nos “Arquivos Brasileiros de Hygiene Mental”.
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Mulheres deveriam receber educação sexual apropriada para serem preparadas a
tomar decisões corretas, visando “preservar” as suas tendências “naturais” de ser
mãe, de cuidar da casa, educar os lhos e cuidar do marido (PORTO-CARRERO,
1930, p. 159). Perceba-se que essa educação defendida tem limites restritos à
procriação e a atuação da mulher no campo privado.
A educação sexual, para Porto-Carrero (1930), também tornava possível que a
mulher fosse educada para ser a esposa ideal, capaz de oferecer novamente ao
marido a vivência da mãe jovem que o amamentou, bem como todos os carinhos
e cuidados unicamente maternais. Ou então, aquela que é capaz de rejuvenescer
a mãe já idosa ou ressuscitar a mãe falecida. Assim, tal categoria de educação,
em especíco, seria útil para mudar o antigo hábito de manter jovens em confusa
e completa inocência, sem nenhuma orientação sobre sexualidade. Para ele,
a educação sexual organizada seria eciente para combater malefícios como as
doenças venéreas e a prostituição, promovendo higiene social. Isso seria possível
ante ao esforço conjunto de vários setores e instituições como os lares, as escolas, as
igrejas, a imprensa, as instituições públicas e particulares. Dessa forma, a educação
sexual seria útil para direcionar tanto mulheres como homens à “sublimação
adequada ao seu caráter sexual” (PORTO-CARRERO, 1930, p. 159). Então, as
mulheres receberiam orientações para exercerem prossões mais apropriadas a
sua natureza, como “cabeleireira, alfaiate, farmacêutica, burocráticas, professoras
primários, médicas pediatras”, enquanto os homens seriam educados para assumir,
de igual modo a atender sua “natureza”, as posições prossionais que “envolvem
maior impulso de agressão, as que compreendem o mando, as que incluem as
ideias de fecundação, desde o cultivo da terra até a propagação das ideias”.
A tarefa da educação sexual feminina, por meio da higiene física e mental era,
portanto, “prevenir a desexualização da mulher”, mantê-la como um ser dedicado à
reprodução, destinando-a aos papéis sociais apropriados que não a transgrediram
e que oportunizariam a prevenção do “desejo da prostituição e da promiscuidade”,
tornando a “maternidade função pouco penosa” (PORTO-CARRERO, 1930, p. 164).
Júlio Pires Porto-Carrero, ao tratar do papel da mulher, o fazia considerando
aproximações entre a higiene mental, a psicanálise e a educação. Ele propôs que
a educação feminina, dirigida em prol do progresso, deveria se fazer fundada na
preservação da “natureza feminina”. Ele não estava sozinho nesse ínterim. Havia
um entusiasmo pela educação na década de 1920, que teve como uma de suas
principais expressões o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova (1932). A educação
foi chamada para apoiar os múltiplos movimentos de intervenção social, pois em sua
expressão idealista, liberal e utilitária, seria ela a chave para fazer germinar nos
indivíduos, a partir de suas bases biológicas, características necessárias para a
verdadeira transformação social.
Concordando com Porto-Carrero, Edgar Braga (1931, p. 8) armou que a educação
sexual para as mulheres seria meio de “libertar” a sociedade “do tradicionalismo
religioso dos tabus prejudiciais à sua evolução cientíca”. Ao instruir a mulher,
por meio da educação sexual, seria possível “aperfeiçoar-lhe os instintos, guiá-la,
desenvolver nela, qualidades estáveis de que se beneciará a espécie” (BRAGA,
1931, p. 8). Para o autor, a mulher deveria ser educada tanto nas escolas quanto no
lar, “conada a mestras que tenham estudos especializados no assunto e idoneidade
moral comprovada”. Não obstante, considerou que, ao promover a educação da
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mulher, física e intelectualmente, o projeto eugenista promoveria também uma
educação para o “orgulho da raça e perfeição da espécie”. Ainda que não trate da
emancipação feminina e da educação para prossionalizar a mulher, o autor coloca
que a educação permitiria que a mulher deixasse “de ser escrava do homem”, dado
que, educada na razão eugênica, saberia escolher conscientemente o seu par.
Como podemos perceber, não se defende a “liberdade sexual” ou se propõe instruir
a mulher para que tenha uma “vida sexualmente saudável”, ao contrário do que
disse Ercília Cobra (2018), na considerada polêmica obra Virgindade anti-higiênica:
preconceitos e convenções hipócritas, publicado originalmente em 1924.
Ao defender a tese de que as mulheres que se encontravam em prostíbulos, que
inclusive eram, em grande parte, lhas de lavradores e pequenos comerciantes, ali
estavam por não serem acolhidas pela família quando julgadas por terem intercurso
antes do casamento, Ercília salientava que as mulheres tinham tanto direito quanto
os homens de se manterem honradas, mesmo quando realizassem sexo antes do
casamento pois, a “honra da mulher não pode estar no seu sexo” (2018, p. 6). Por
isso, a autora defendeu a educação feminina, considerando que a honra estaria em
um desenvolvimento educacional para o aprimoramento de ofícios, a m torná-las
conscientes, sendo educadas tal como se educavam os homens. Pode-se dizer,
então, que Ercília estava contra a corrente.
A educação sexual das mulheres se expressaria na escolha correta e eugênica
de seu par e, também, no entendimento e prática do exercício da maternidade sã
e consciente. Eugenistas, inclusive, conceberam a ideia de tornar obrigatória a
apresentação de exames pré-nupciais que validassem a ausência de degeneração
em ambos antes da contração do matrimônio. Edgar Braga (1931) fez apelo que se
abandonassem as concepções que impediam a obrigatoriedade do exame, dentre os
quais, o que ele chamou “improdutivo sentimentalismo”. Para o autor, o Brasil deveria
se enveredar à exemplo de outros países como a Turquia, Rússia, Áustria, Estados
Unidos, Canadá, Suécia, Alemanha, Iugoslávia, França, Suíça, que já tinham como
prática, cada qual ao seu modo, a obrigatoriedade do exame pré-nupcial.
Edgar Braga (1932a, p. 7) defendeu que os governos deveriam assumir o desao
de promover a obrigatoriedade do exame médico pré-nupcial, criar centros de
saúde no país, hospitais maternidades adequados e garantir que a mulher gestante
“operária ou empregada em repartições públicas e no comércio” tivesse o direito de
afastamento do trabalho por 4 meses antes, sem que deixasse de receber os salários
e mantendo a “conservação e a garantia do lugar que ocupava anteriormente nas
fábricas, escritórios, repartições públicas, etc”. Para o autor, o serviço público deveria
ser acionado para que mulheres tivessem apoio especializado para lidar com o que
ele chamou de “pontos cardinais na vida feminina” em prol da nação eugênica.
Todo esse “progresso” era destinado a encaixar mulheres no papel maternal, restringindo-
as ao privado. Propostas de caráter emancipatório político e civil são excluídas o
discurso eugenista corrente. A assídua tentativa de enquadramento das mulheres
em um padrão social foi expressão do patriarcado estrutural, nuance que expõe o
caráter ideológico presente na eugenia: as características biológicas das mulheres as
mantiveram no papel maternal. O desvio sobre o entendimento quanto aos papeis
sociais, especialmente advindo das mulheres, que cada vez mais “engrossavam” a fala
de igualdade e liberdade, não era proveniente do acirramento das lutas de classes em
ação – isso nem sequer foi cogitado – mas se dava, por uma total falta de conhecimento
que os papeis sociais eram denidos biologicamente (PORTO-CARRERO, 1930).
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Citando as mudanças radicais na transformação dos lares, em grandes cidades,
Porto-Carrero (1930, p. 158) considera que as facilidades ocasionadas pelo uso de
utensílios domésticos, o envio dos lhos para os jardins de infância e a disponibilidade
da contracepção foram arranjos que contribuíram para a ociosidade da mulher no lar.
Assim, as ditas facilidades, somadas a uma maior instrução, dava à esposa “asas”
com as quais acreditava poder voar. Nesse ínterim, o autor caracterizou a luta pela
emancipação, promovida pelas mulheres do período e a busca por maior igualdade
e liberdade sexual, primeiro, como uma ociosidade e depois, como um sintoma do
“complexo edipiano”. Acenando para Porto-Carrero, E.R. (1930, p. 1) propôs que o
“homem e a mulher são desiguais constitucionalmente em cada célula de seu corpo,
apesar de dependentes e organismos complementares”. Portanto, a educação seria
um meio de combater as falsas ideias sobre o valor e o papel da mulher e da família
para o desenvolvimento da sociedade.
É importante que se observe, para além da não associação das lutas femininas
como sendo sintomas da luta de classes, que tais discursos enfatizavam, para além
da necessidade de instruí-las na compreensão de que homens e mulheres tinham
papeis sociais distintos, segundo Porto-Carrero (1930, p. 160), as mulheres que
continuassem mantendo comportamentos inapropriados ou como ele considera
“sintomas” de “ânsia de agredir e dirigir”, deveriam ser tratadas como “doentes
histéricas” e adoecidas, ou seja, como sendo disgênicas.
Com “o desvio mais ou menos acentuado, das qualidades originais do indivíduo em
virtude da ação de fatores e circunstâncias involuntárias, especialmente de ordem
congênita e hereditária” (KEHL, 1930, p. 64), as mulheres estavam “degeneradas”
e para as quais foi reservado o controle social da reprodução: desencorajamento
à procriação, esterilização ou mesmo marginalização por meio do recolhimento e
institucionalização (MIRANDA, et al., 2009), tal como enfatizou Dantas (1930, p. 6),
se eram isolados os “indivíduos considerados perigosos para a sociedade” também
deveriam ser isolados “os indivíduos considerados perigosos para a raça”. O posto
de “nobre papel” de “germinadora do progresso das raças” não era reservado a
essas mulheres. A mulher que faria erigir o “novo e moderno mundo” era branca, de
classe média e alta, escolarizada: era a mulher “bem-nascida”.
Podemos considerar o papel das mulheres para a “empreitada” eugênica como
sendo uma representação do modelo familiar atravessado na história e sustentado
pelo capitalismo: a mulher da família patriarcal. Aquelas que não se enquadravam
nessa formação familiar onde “o bem-estar e o desenvolvimento de uns se vericam
às custas da dor e da repressão de outros”, deveriam ser colocadas à margem. Por
isso, nesse ideário não foram contempladas as famílias formadas por homens que
viviam à “margem de um trabalho regular” e as famílias formadas por mulheres que
eram as únicas provedoras (MALUF; MOTT, 1998), desconectando a ideologia das
condições concretas de outros tipos de famílias.
Nas primeiras décadas do século XX, muitas famílias, especialmente as de menor
poder aquisitivo, tinham como provedoras as mulheres como sendo, inclusive, as
únicas provedoras. Isso constituía uma formação familiar diferente da idealizada
pela elite brasileira e, portanto, era motivo de perseguição e controle, dados os
“riscos morais” que oferecia. Além disso, como destaca Soihet (2004, p. 305),
era de interesse do capital que existisse a “implantação dos moldes da família
burguesa entre os trabalhadores” pois, “com a supressão do escravismo, o custo
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de reprodução do trabalho era calculado considerando como certa a contribuição
invisível, não remunerada, do trabalho doméstico das mulheres”. Era prático o uso
dos aparelhos do Estado (Sistema Judiciário e Policial) para “disciplinar, controlar e
estabelecer normas para as mulheres dos segmentos populares” (SOIHET, 2004, p.
305). Mas não só, a cultura predominante também estabelecia as regras sobre as
quais as mulheres estavam sujeitas:
Às mulheres, quando conseguem casar e constituir família, incumbe zelar pela cozinha, pela
lavanderia, pela rouparia, todos os serviços, enm pequenos, mas mais exasperantes, de
uma casa. Serviços que uma boa governanta faz por módico preço. Serviços domésticos
muito bons para quem não possui outros préstimos. No meio operário é horrível o que
se vê. A mulher, além de ir à fábrica, tem que cuidar da casa e dos lhos. O marido, ao
chegar em casa acha a comida feita; come e vai sentar-se à fresca para fumar. Descansa,
e a mulher não. Mas na fábrica o ordenado da mulher é inferior ao do homem... Nas
fazendas o que se observa é de arrepiar. O serviço sendo muito mais pesado, causa
pasmo a contemplação de entes humanos cumprindo obrigações de bestas de carga.
Quem primeiro se levanta de madrugada, e quem se deita por último à noite é a mulher.
Mesmo grávida, trabalha até à véspera de ter o lho (COBRA, 2018, p. 13).
Essa passagem de Ercília Cobra ilustra o fato de que, além das mulheres
desprovidas de posses terem experiências distintas daquelas que conseguiam
acolher as propostas do ideário eugenista para se tornarem “rainha do lar”, ou
seja, as “formadoras das futuras gerações”, elas também viviam uma realidade
desequilibrada quanto ao papel masculino: ente submisso, mesmo quando ocupadas
de tarefas fora do lar, as mulheres deveriam se responsabilizar pelo trabalho não
remunerado do ambiente privado.
Vivendo sob a jurisdição da Lei 3.071 de 1º de janeiro de 1916, o Código Civil dos
Estados Unidos do Brasil (DECRETO n. 3.071, de 01 de janeiro de 1916), as mulheres
eram classicadas como inábeis para agir ante a vida civil. Por isso, deveriam ser
tuteladas primeiro pelo pai e depois pelo cônjuge. Nesse âmbito, mulheres de todas as
classes sociais deveriam ser subalternas aos homens. Mas as mulheres sem posses
não tinham, pelas condições de vida e mediações sociais, possibilidades de vivenciar
uma vida como “rainha do lar”. De igual modo, mulheres que não se submetessem a
esse papel social, mesmo que tendo posses, ou seja, mulheres que se direcionaram
para carreiras ditas masculinas ou que defenderam uma vida sexual livre, mulheres
que buscavam independência nanceira ou até aquelas que não aceitaram o “destino”
do casamento e da maternidade, não se enquadravam no idealismo eugênico.
O tratamento relegado às mulheres “degeneradas” e “disgênicas”, ou seja, destoantes
da “normalidade” proposta, era uma forma de processo educativo objetivado em
coerção e correção para a correta ideologia. Também era um modo de eliminação de
“anormalidades” utilizadas com o m de aplicar o ideário da feminilidade: a esposa
dedicada, a mulher sã e sadia, o caminho à formação da nação perfeita, da raça forte.

A eugenia foi um movimento direcionado ao “melhoramento humano”. As implicações
técnicas reverberaram nas ideias sobre a educação, o saneamento, a higiene, o
esporte e a legislação. O eugenismo, além de movimento intelectual, foi propagado
como um instrumento para resolver problemas sociais que estavam postos. As
soluções apresentadas estavam direcionadas a controlar o nascimento, por meio da
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promoção da “reprodução eugênica”, do impedimento da “reprodução disgênica” e
depois do nascimento, por meio da educação e contínua propagação de um ideário
direcionado ao utilitarismo econômico e social.
A ideia hegemônica no ideário da eugenia quanto a designação da mulher à
maternidade, ao cuidado do lar e do marido, estava arraigada aos preceitos do
patriarcado estrutural, em que o limite das mulheres era o lar (SOUZA, 2021). Deste
modo, não se tratou apenas de um ideário promotor de um papel especíco para
elas, mas de controle social de mulheres.
A condição natural de reprodutora biológica colocou a mulher no centro do ideário da
eugenia: dela nasceria a nação sadia e forte. À primeira vista, o destaque dado às
mulheres pode ser considerado progressista. Em exame mais aprofundado revelam-
se ideias reacionárias que se apresentam distantes dos discursos contra hegemônicos,
como é o caso de Ercília Nogueira Cobra (1891-sem registro de óbito), Bertha Lutz (1894-
1976), Maria Lacerda de Moura (1887-1945) e Patrícia Rehder Galvão (1910-1962).
Estas, de fato, promoveram lutas em prol da emancipação social e civil das mulheres.
Concluímos que o papel atribuído às mulheres pela eugenia não se dissociou do
discurso em voga e representou um desdobramento ideológico do patriarcado: a mulher
da década de 1920, propagada por um ideário de orientação positivista, reacionário
e utilitarista, não o poderia ser se não atravessada pelo ideário da família nuclear
monogâmica, germinada com o m da primitiva lei de herança imperante na organização
social gens e perpetuada pelas tradições, a Religião, o Estado e o Matrimônio.
O ideário da eugenia propagou formas de controle sobre as possibilidades do
desenvolvimento das mulheres na vida material, em suas múltiplas expressões: o
controle do uso do corpo feminino e de sua sexualidade, as formas e meios de
destinação da mulher ao trabalho “improdutivo” ou doméstico, os limites de atuação
na vida pública. Eugenistas não se descolaram da ideia de uma mulher que se faz
na família e para a família, cujo “destino” de parideira, pertence ao marido.
Expressão de uma visão de mundo burguesa, própria das consequências das
contradições da sociedade capitalista, a eugenia tentou provar que a transformação
social se daria a partir da transformação das ideias dos indivíduos.
Dessa forma, acenaram para o apaziguamento das contradições, deram passos
em falso e apontaram para óbvias necessidades de vida, elevando, no discurso, a
posição social da mulher erguendo a ela um pedestal e coroando-a como “salvadora
da pátria”, mas não alcançaram os alicerces que sustentavam e geravam as
contradições presentes naquela sociedade.
Olhar para essa passagem histórica nos faz reforçar a perspectiva de que isso
ocorre porque “a sociedade capitalista mascara essas relações humanas e as torna
indecifráveis: dissimula cada vez mais que o caráter de mercadoria do produto do
trabalho humano é apenas a expressão de certas relações entre os homens”. Ou
seja, ao excluir dos problemas humanos que “as relações humanas, que se mantêm
na parte dos casos, por intermédio dos objetos”, criam-se soluções que miram
apenas a aparência da realidade social (LUKÁCS, 1967, p. 28).
O movimento da eugenia pode ser considerado como um movimento dirigido à “seleção
natural social”, expressão de cunho liberal utilitarista, a qual traz consigo uma visão
de mundo. Para Stuart Mill (2001), avançadas são as civilizações que progridem na
riqueza e na prosperidade material, ao mesmo tempo em que conseguem ampliar
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sua capacidade de acumular e de aplicar o conhecimento que produz em prol da
progressiva segurança da pessoa, da propriedade e do coletivo. Uma sociedade
assim, não pode arcar com os prejuízos de pessoas não aptas, pois o enobrecimento
social traz consigo a responsabilidade de ter um contingente de pessoas capaz de
trabalhar, produzir e gerar riqueza, tornando imprescindível a segregação dos párias.
No discurso da Eugenia, indivíduos disgênicos nada ofertavam além de um décit
à sociedade. Para Kehl, seria “indispensável que um indivíduo capaz, ativo e bom,
renda a sociedade muito mais do que esta lhe pede, constituindo, por isso, um valor
econômico” (KEHL, 1930, p. 29). Medir o indivíduo pelo que consegue gerar em uma
sociedade é uma declaração de fundamentação liberal, utilitarista. Se um indivíduo
são é benéco, por outro lado, aquele que é “inválido de corpo e espírito, além de
ser um mal indivíduo, toma, pelo contrário, da comunidade mais do que ela rende,
representando, portanto, somente um valor negativo, um décit econômico” (idem).
Ao buscar o melhoramento da raça, os eugenistas apontaram para o controle da
procriação e da educação como meios, o que provocou a necessidade de colocar
o papel da mulher como tópico de intervenção social: ela deveria ser orientada
exercer seu “verdadeiro” papel: o da reprodução biológica. Contudo, com essa
centralidade denida, teceram-se e organizaram-se práticas para o controle social
da classe trabalhadora, tendo em vista o apaziguamento das contradições sociais
para a plena reprodução social do capital. A pobreza, percebida como um fator de
degeneração nessa perspectiva, por exemplo, dá luz à supercialidade da natureza
desses ideários: tal como a “Lei dos Pobres” de 1601 - que veio para dar conta do
que Leo Huberman (1981, p.148) chamou de a “Idade dos Mendigos”, quando a
Inglaterra do século XVI, contava com um contingente sem precedentes de uma
recém-criada classe trabalhadora livre e sem propriedades, uma massa de “mendigos
e vagabundos” e precisava ser tratada – o controle social para a reprodução dos
“melhores espécimes” e redução da procriação dos “espécimes degenerados”.
A ordem social de determinado período histórico, do ponto de vista materialista da
história, está relacionada, de um lado, ao desenvolvimento das forças produtivas,
e do outro, ao desenvolvimento da família, de tal modo que, sendo a sociedade
organizada em Estados, “o regime familiar está completamente submetido às relações
de propriedade e na qual têm livre curso as contradições de classe e a luta de classes”
(ENGELS, 1984, p. 3). O papel da mulher foi tecido sob múltiplas determinações e
atravessado por vários desdobramentos com rupturas, permanências e contradições.
“Fazer nascer” é ato biológico da mulher. “Fazer nascer uma nova nação” é algo
coletivo. E, enquanto estivermos discutindo qual é o “ideal de homem” e ou qual
é o “ideal de mulher”, estaremos arraigados à ordem liberal, atuando de forma
reacionária, tal como os eugenistas. A existência do movimento da eugenia e em
especial, da proposta para o papel social das mulheres daquele tempo, foi resultante
do movimento social e histórico onde “grupos e interesses opostos são operantes e
se esforçam a impô-los à sociedade como um todo como interesse geral” (LUKÁCS,
2018, p. 404-405), mostrando assim, que o papel da mulher desenhado pela eugenia
foi resultado, simplicadamente, de um traço geral da sociedade de classes.
Marx nos mostra que, ao olhar para grandes fatos e personagens da história, eles
aparecem duas vezes: “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”
(MARX, 2011, p. 25). Sem intenções à crítica singular à promoção das “novas
ideias” sobre o papel social das mulheres como “seres capazes de transformar
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a sociedade”, capazes de serem a “luz” aos caminhos obscuros, destacadas
sob as “novas” palavras de ordem quanto ao protagonismo e emancipação civil
e política das mulheres, nossas reexões são expostas no sentido de olharmos
para o presente e compreender que aquilo que parece novo e surge, às vezes das
melhores intenções, com ímpeto em “transformar a si mesmos e as coisas, em criar
algo nunca antes visto”, é senda conhecida ao se olhar para a história. Em tempos
de crise, mesmo sem deliberada intenção, na tentativa de uma medida totalmente
revolucionária, acabamos por conjurar o “espírito dos mortos”. Dizemos, com isso,
que o papel social das mulheres na atualidade, seja para o seu protagonismo ou
para a formação da família, traz consigo novos gurinos de ideias já propagadas por
eugenistas presentes na primeira década do século XX.

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