Trabalho & Educação | v.28 | n.2 | p.113-130| maio-ago | 2019
sua criação, o festival se ampliou para cidades como Campinas, em São Paulo; Belém,
no Pará; e Salvador, na Bahia.
Nessa etapa de ampliação, a meta era tornar o músico mineiro conhecido no circuito
nacional. Foi assim com vários artistas, como o rapper Flavio Renegado e Rodrigo
Borges. Ambos convidaram Lenine, respectivamente em Salvador e Belo Horizonte.
Celso Moretti, cantor pioneiro do Reggae em Minas Gerais, teve como convidado o
baiano Edson Gomes em Belém do Pará e Salvador. Foi uma década de muita evolução
no campo do trabalho do músico em Belo Horizonte, na qual o Conexão Vivo teve seu
apogeu. Porém, no ano de 2012, a empresa anunciou o fim do Festival.
O músico, compositor e ativista cultural Makely Ka, um dos artistas que esteve presente
no festival desde seu início, tanto como artista quanto como curador, reportou-nos, em
uma entrevista, uma análise sobre o que foi o Conexão Vivo para o trabalhador da
música e o legado para a cidade de Belo Horizonte:
eu pude estar presente em quase todos os festivais e, sim, posso confirmar que foi
importante para nosso cenário musical; e também de poder levar a nossa música para
outros lugares. Porém, ao passar dos anos, pude perceber que a marca do festival era o
que sobressaía. Embora fosse um festival mesclado de novos talentos com os mais
consagrados, percebia que era a empresa VIVO quem ganhava mais com o evento. O
nome da VIVO meio que cobria a essência do nosso produto; por mais que gravamos CDs
e até DVDs, era notável que o festival não conseguia alavancar a carreira dos músicos. De
qualquer forma foi interessante todo fomento, mas não consegui ver o Conexão Vivo de
música propagar carreiras musicais (MAKELY KA, 2016).
O festival como condição de divulgação da música mineira, se constituiu em um espaço
importante de socialização dos novos talentos, assim como as formas de como poderia
e deveria ser o trabalho neste importante espaço de trabalho música em Belo Horizonte.
Neste festival, também se debatia como seria o próximo ano do festival, se seria
aprovado na lei de incentivo ou não. O processo de todo o festival se dava externamente,
sob dependência política: só ocorreria o festival via lei, e os músicos se tornaram reféns
das leis de incentivo à cultura, assim como o próprio Festival Conexão Vivo.
Para além desse contexto musical na cidade, havia ainda aqueles artistas que
despontavam com maior visibilidade, artistas mais jovens, como Pedro Moraes, Rodrigo
Borges e Aline Calixto, dentre outros, mas que, ainda hoje, não atingiram seu trabalho
em nível nacional como desejado. Um desses artistas, o cantor, compositor e jornalista
Rodrigo Borges, que há mais de duas décadas está profissionalmente na música, revela-
nos a complexidade sobre o trabalho do músico em se colocar no mercado. Ele aponta
para a versatilidade profissional que o artista tem que ter, mesmo quando vindo de uma
família de músicos. O primeiro fato, no seu caso, é que
Mesmo com o privilégio de ter um maestro em casa, meu pai Marilton Borges [e] meu próprio
tio Lô Borges, eu não fui criado para ser músico. A música foi uma opção natural consciente
das dificuldades; consciente que é uma missão, porque dentro de casa eu tive basicamente
os dois exemplos: os dois de sacrifício, os dois de entrega e luta. Meu pai sempre foi o que
a gente chama de operário da música, um cara extremamente criativo, extremamente
competente no que ele faz, genial, e que encarou a música como oficio, no sentido de tocar
todo dia, de encarar aquilo como profissão, de se preparar, de cumprir horário. Jornadas de
trabalho diário no que tange [a] estudos da preparação durante o dia e o labor, né, o trabalho
à noite, né. Então eu tive esse exemplo da ralação, né, então a gente não tem amplos
direitos: você toca anos numa casa, mas você toca três vezes por semana, isso não
caracteriza vinculo. Então, é... a remuneração é mais baixa, [a] maior parte dos músicos
agora tem trabalhado para mudar isso, mas não somos tão politizados como o pessoal do