Trabalho &Educação | v.28 | n.2 | p.131-143 | maio-ago | 2019
pares. Nessa relação vão construindo experiência em diversos campos do saber, como
por exemplo, da produção, da organização como coletivo de pescadores, são posturas
que se articula com o posicionamento de Vásquez (2011, p. 228), quando afirma:
O homem vence a resistência das matérias e forças naturais e cria um mundo de objetos
úteis que satisfazem determinadas necessidades. Mas, como o homem é um ser social,
esse processo só se realiza em determinadas condições sociais, isto é, no marco de certas
relações que os homens contraem como agentes da produção nesse processo e (sic) que
Marx chama apropriadamente de relações de produção.
A práxis produtiva dos pescadores aqui analisados se materializa no movimento das
relações de produção, compreendida essa como um conjunto de práticas construídas
nas relações socioeconômicas, políticas e formativas. Como por exemplo, as
experiências de trabalhar com diversas tecnologias de pesca, suas tradições religiosas,
seus costumes, suas organizações políticas em torno de uma entidade como coletivo
de pescadores. Nesse movimento os pescadores vão construindo no contexto de sua
realidade concepção de sociedade, de mundo e de homem.
[...] o processo da pesca como elemento de identidade desse trabalhador implica um
conhecimento sobre a totalidade do ofício realizado. O pescador, nesse sentido, não é o
sujeito que domina parcialmente as ações de seu trabalho, como em linhas de montagem
fordistas, mas aquele que demonstra conhecimentos sobre a natureza e sobre as
tecnologias por ele criadas no interior de suas experiências de pesca e de suas
necessidades laborativas, desenvolvendo uma práxis produtiva [...] (RODRIGUES, 2012,
p. 142, grifos nossos).
O domínio da profissão de pescador inicia desde a infância, no seio ainda da família,
uma aprendizagem herdada de geração para geração. Quando ainda criança o
pescador acompanha seus familiares no desenvolvimento da atividade, realizando
pequenas ações como coordenar a canoa, ajudar na captura dos peixes das redes e
outros instrumentos, com essas ações os pescadores vão se apropriando das
atividades da pesca, como frisa o Informante (4).
Eu acho que foi dos quinze anos já ia com o meu pai pilotar, remar, jogar rede, de lá não
teve mais pai, da pesca eu sei de tudo, sei fazer malhadeira, matapi, tarrafa, um material
de pesca que eu não sei fazer, se pedirem para mim fazer, é a rede de lanciar camarão,
ela é difícil para gente fazer duas cabeças, mas que outros matarias de pesca, sei fazer,
pari, por exemplo, para camboar na beira do rio, tudo isso a gente faz (PESCADOR, 4).
Os pescadores constroem sua práxis produtiva no cotidiano de sua realidade, uma
misturara de trabalho, costume e tradições, que compõem as relações de produção.
Nesse processo, acumula um conjunto de saberes necessários para dar contar de
situar no contexto de sua existência, um processo dialético que vai se dando com a
natureza, consigo mesmo e com seus pares.
O pescador é, então, o sujeito que, por meio de sua práxis produtiva, conhece o processo
da pesca, implicando conhecimentos sobre marés, tipos de peixes e também sobre
métodos e técnicas de pesca; possui seus instrumentos de pesca e sabe utilizá-los, como
rede, caniço, malhadeira, o que demonstra um conhecimento especializado sobre o ofício
que desenvolve. O pescador é desse modo, um sujeito que adquire conhecimentos no
cotidiano de sua prática profissional (RODRIGUES, 2012, p. 143).
Esse conhecimento do pescador, sobre o cotidiano de sua realidade, relatado por
Rodrigues, se articula com os escritos de Marx e Engels (2009, p.123-24) na oitava