Trabalho & Educação | v.28 | n.1 | p.29-41 | jan-abr | 2019
exemplo, G.u.K., p. 315), tem uma repercussão orientadora sobre o próprio processo. Essa
repercussão só é possível na práxis, só no presente (por essa razão, utilizo a palavra
“instante” para destacar com precisão esse caráter presente e prático). Depois que a ação
foi levada a cabo, o fator subjetivo volta a integrar-se à série dos fatores objetivos.
(LUKÁCS, 2015, p. 42).
E concluindo, o autor acrescenta:
Portanto, o “instante” de modo algum pode ser separado do “processo”, o sujeito de modo
algum se contrapõe ao objeto de forma rígida e incomunicável. O método dialético não
significa nem uma unidade indiferenciada nem uma separação rígida dos fatores. Muito
pelo contrário, significa a ininterrupta autonomização dos fatores e a ininterrupta anulação
dessa autonomia. Expus diversas vezes em meu livro como se dá concretamente essa
interação dialética dos fatores do processo em virtude da renovada anulação dessa
autonomia. Nesse ponto, o que interessa é entender que essa autonomia (dialética, e que,
por isso, sempre volta a ser dialeticamente superada) do fator subjetivo no atual estágio do
processo histórico, no período da revolução proletária, constitui uma característica decisiva
da situação global. (LUKÁCS, 2015, p. 43).
O caráter dialético das relações entre o fator subjetivo e o fator objetivo é ressaltado de
maneira evidente nessas elaborações. No entanto, postas à luz de suas elaborações
posteriores, o apelo à dialética, à resolução por meio a consideração da determinação
recíproca dos dois momentos, tendo o fator subjetivo papel relevante naprópria
conversão em objetividade social, não revolve a questão de fundo presente nesse
problema em particular. Além do mais, afirmar a “ininterrupta autonomização dos
fatores e a ininterrupta superação desta autonomia” coloca seus postulados, como o
próprio autor reconhece 40 anos depois, bem próximos à ideia hegeliana do sujeito-
objeto idêntico. Chama a atenção, nesse mesmo sentido, a afirmação do jovem autor,
segundo a qual “o proletariado foi o primeiro, e até agora é o único, sujeito a que se
aplicou esse entendimento” (LUKÁCS, 2015, p. 39), destacando o papel histórico
decisivo da classe do proletariado de lançar as bases de uma nova sociedade sem
classes e, desse modo, superar a alienação, no sentido de reapropriar-se das próprias
alienações, encerrando a “pré-história” da humanidade.
Todo o esforço gasto em seu texto contra seus críticos ancora-se na defesa em
demonstrar que suas elaborações da época não se reduzem a um subjetivismo
extremo, algo como a afirmação de “que ‘só’ a consciência de classe do proletariado
seria a força motriz da revolução” (LUKÁCS, 2015, p. 47). Porém o que chama a
atenção em sua autocrítica são os apontamentos que acusam problemas bem
próximos a esses, onde o próprio Lukács destaca que esses escritos estão marcados
pela influência do subjetivismo e do idealismo de talhe hegeliano. Muito embora, cabe
advertir, não haja nenhuma semelhança nas refutações que o autor dirige a si mesmo
com os argumentos de Rudas e Deborin combatidos no texto em questão.
Em síntese, se nas formulações anteriores os aspectos da relação dialética entre o
fator subjetivo e o objetivo não são negligenciados, no entanto não se poderia dizer que
o tratamento que fora conferido à questão permitisse resolver e explicitar a natureza
efetiva das mediações que intercorrem nessa dupla polaridade da atividade social
humana. A emersão dos fatores subjetivos a partir das condições objetivas da
realidade social permaneceu irretocada em sua essência, deixando em aberto a
compreensão dos efetivos laços entre as duas dimensões.
O problema do fator subjetivo retorna com peso significativo nas considerações de
Lukács em sua última obra Para a ontologia do ser social. No entanto, o tratamento