Trabalho & Educação | v.28 | n.1 | p.83-95 | jan-abr | 2019
(1932); a Universidade de Porto Alegre (1934); a Universidade de São Paulo (1934); e
a Universidade do Distrito Federal (1935) (SGUISSARDI; SILVAJÚNIOR, 2001).
Levando-se em conta o exposto, não é de se estranhar que o Brasil, até 2003,
apresentasse uma taxa de escolaridade bruta no ensino superior muito baixa, somente
superando, na América do Sul, o Paraguai (CARVALHO, 2011). Contudo, nos últimos
quarenta anos, sobretudo, o País alcançou um alto nível de expansão do número de
matrículas no ensino superior, pois no âmbito da rede púbica de ensino ele cresceu
vinte vezes e na rede privada de ensino o aumento foi ainda maior, atingindo o patamar
de cinquenta e nove vezes (CUNHA, 2004). Em 2002, a rede particular de ensino
aumentou muito, atingindo 70% das matrículas no ensino superior e, assim, nesse ano,
o Brasil já possuía um dos maiores índices de privatização, em relação aos outros
países da América Latina e da Europa (OLIVEIRA, 2009).
Nesse contexto, a iniciativa privada no campo do ensino superior no País, no que se
refere às matrículas, no primeiro decênio deste século, já era três vezes maior do que o
apresentado pelos países integrantes da Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) (CARVALHO, 2013). Pode-se afirmar que a mercantilização do nível de
ensino em pauta ocorre de modo muito visível a partir da derrocada do socialismo real,
que acarretou a diminuição do poder do Estado, e da hegemonia do neoliberalismo e
da globalização, que impactaram os setores produtivo e societário; e, de modo
acirrado, a educação, que vem lançando mão de soluções neoconservadoras e
ultraliberais oriundas da área da economia (OLIVEIRA; PASCHOALINO; ROCHA
2011). E, dessa forma, a educação, passa de valor de uso para valor de troca,
deixando de ser direito do cidadão e dever do Estado, conforme dispõe a Constituição
Federal de 1988, transformando-se em mercadoria, para atender às demandas do
mercado.
Obviamente, essa mercantilização da educação vem ocorrendo em nível internacional,
sobretudo, nos Estados Unidos, que a iniciou e que tem acirrado esse processo de
cunho capitalista. Em termos comparativos, as instituições/empresas educacionais se
diferenciam, de forma significativa, das instituições sem fins lucrativos, pois as primeiras
ministram uma educação para obter dinheiro e as segundas recebem dinheiro para
ministrar uma educação com maior responsabilidade e compromisso
social. Esclarecendo melhor, as instituições mercantis se direcionam para os negócios,
negando a perspectiva da oferta de um ensino consistente e de qualidade, privilegiando
o emprego da educação a distância, que as faz auferir maior nível de
lucratividade. Além disso, essas instituições tanto se dedicam à venda de materiais
instrucionais, livros, apostilas e softwares, quanto à prática de consultorias
empresariais.
Acresce, ainda, que nessas instituições de ensino superior se prioriza a execução de
tarefas prescritas, de menor complexidade, de ciclo curto e pragmático que se
distanciam muito de uma educação de qualidade, ofertada, sobretudo, pelas
universidades e instituições públicas e pelas confessionais privadas. A abertura da
educação superior, como amplo e lucrativo campo de exploração, visando garantir
lucratividade aos grandes grupos de empresários, é corroborada pela Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) (1999) e, também, por
Mancebo (2004), ao enfatizar que a expansão mercantil se concretiza, sobretudo, nos
países periféricos e nos Estados Unidos, sendo sustentada por uma ideologia que
justifica esse processo e anula o princípio do direito à educação superior pública.