Trabalho & Educação | v.28 | n.1 | p.199-217 | jan-abr | 2019
de ser mais do que uma relação de consumo, mas tem de se proteger a posição
jurídica dos estudantes, e daí toda a atenção que é dada na política interna de
qualidade à relação contratual com cada estudante em concreto (CAETANO e LORI,
2015) (LORI e CAETANO, 2011).
COMO ORIENTAR E CALIBRAR A MUDANÇA INSTITUCIONAL
A realidade do ensino superior mudou muito nas últimas décadas e mudará mais
ainda, no sentido de que com maior intensidade, nos próximos anos (AZEVEDO, 2013)
(CAEIRO e CAETANO, 2016) (CAETANO, ROCIO e LORI, 2016) (DIAS, 2017), só
não sabemos como. Importa porém que dirigentes políticos e académicos, professores,
pesquisadores e outros interessados se preparem para o futuro com a informação, o
conhecimento e a sabedoria necessários, porque disso dependerá o sucesso das suas
ações. Quando na Europa se comemoram os 50 anos do maio de 68, que tão grandes
implicações teve na transformação dos sistemas de ensino superior e ciência
europeus, colocando a ênfase na centralidade do estudante nos processos educativos
e favorecendo a autonomia universitária (DIAS, 2017) (CAEIRO e CAETANO, 2018),
vale a pena tentar perceber o que se passou desde então e onde se está, porque só
assim se pode saber para onde se quer ir e se se tem (atendendo ao contexto)
capacidade para tal. Este exercício é importante também para percebermos o lugar do
ensino superior a distância como regime formativo plenamente reconhecido, não só
legal mas socialmente, o que não aconteceu até agora mas vai acontecer, atendendo à
dinâmica existente.
Não sabemos qual vai ser o contexto tecnológico e pedagógico dos processos de
ensino e aprendizagem no futuro, mas sabemos – e daí termo-nos referido também à
importância da sabedoria – que as pessoas e a sua solidariedade deverão continuar no
centro dos processos educativos, para que a sociedade seja justa. Estamos a repetir
uma ideia da ex-ministra da Educação e Ciência de Portugal, assim como ex-vice-
Reitora da Universidade de Coimbra e deputada, Margarida Mano, que, como
académica, tem investigação de relevo nas áreas da gestão estratégica e da qualidade
no Ensino Superior.
Dir-se-á que este é um posicionamento ideológico, não apenas
científico. É verdade, mas que corresponde a uma evolução civilizacional reconhecida
pela maioria das constituições democráticas, governos e organizações internacionais
na área do ensino superior e ciência. É como facto político e social que nos interessa,
não como constructo ideológico.
Um dos grandes objetivos das reformas iniciadas na Europa em finais da década de
1960 foi a criação de sistemas universitários inovadores e inclusivos. Inovadores, por
serem capazes de mudar processos e fazer diferentemente e melhor do que se fizera
no passado, com maior eficácia. Inclusivos, por terem como destinatários mais
pessoas, que não apenas uma minoria possidente, tornando-se assim mais justos e
equitativos. Este foi o caldo de cultura ideal para a criação de novas universidades
É autora e coautora, entre outras, das seguintes obras: Redes internacionais de ensino superior em língua portuguesa e especialização
inteligente. In: Cabrito, Belmiro; Castro, Alda; Cerdeira, Luísa; Chaves, Vera Jacob (orgs.) (2014); Os desafios da expansão da educação
em países de língua portuguesa: financiamento e internacionalização. Lisboa: EDUCA, 2014. pp. 67-80; Pedrosa, J., Santos, H., Mano,
M., & Gaspar, T. (2014). Governança da educação superior em Portugal – contextos e experiências recentes. Revista FORGES/Fórum
da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa. Vol. 1 (n.º 1), 2014. pp. 87-107. Pedrosa, J. (coord), Santos,
H., Mano, M., & Gaspar, T. (2013). Novo modelo de Governança e Gestão das Instituições de Ensino Superior em Portugal. Análise dos
Usos do modelo em Instituições Públicas. Lisboa: CNE. Mano, M., & Marques, M.C. (2012). Novos modelos de governo na Universidade
Pública em Portugal e competitividade. Revista de Administração Pública, 46(3), 721-736. – ISSN 0034-7612.