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DESAFIOS DA EDUCAÇÃO NA ERA DA TECNOLOGIA
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Education's Challenges in the Era of Technology
HINO, Marcia Cassitas
2
RESUMO
A tecnologia tem mudado a forma como as pessoas vivem, locomovem-se, comem, estudam e se
comunicam. Pom, o uso da tecnologia no processo da educação ainda é controverso. Este artigo
promove uma reflexão sobre os aspectos do uso de tecnologia no processo de ensino e
aprendizagem sob a perspectiva da educação, do aluno, do professor e das próprias instituições de
ensino. Identificou-se o protagonismo do celular como ferramenta pedagógica, em decorrência de seu
baixo custo, facilidade de uso e acessibilidade, mas também por colocar o aluno em uma posição
mais ativa e responsável pela sua educação. Alunos, professores e instituição de ensino precisam se
recriar nesse contexto, uma vez que a tecnologia abre oportunidades de aprendizagem
individualizada, colaborativa e informal. O perfil multitarefa dos alunos facilita o uso de tecnologias em
sala de aula, uma vez que seja percebida sua relevância e utilidade no uso. Professores não foram
preparados para utilizar tecnologia em sala de aula e precisam desenvolver novas habilidades. As
instituições de ensino devem encorajar e suportar o desenvolvimento de habilidades tecnológicas
pelos professores para que estes possam liderar o processo de transformação.
Palavras-chave: Tecnologia. Educação. Protagonismo.
ABSTRACT
Technology has changed the way people live, get around, eat, study and communicate. However, the
use of technology in the education process is still controversial. This article promotes a reflection on the
aspects of the use of technology in the process of teaching and learning from the perspective of
education, the student, the teacher and the educational institutions themselves. The protagonism of the
cell phone identified as a pedagogical tool was due to its low cost, ease of use and accessibility, but
also to put the student in a more active position and responsible for their education. Students, teachers
and educational institutions need to recreate themselves in this context since technology opens up
opportunities for individualized, collaborative and informal learning. The multitasking profile of the
students facilitates the use of technologies in the classroom, once their relevance and usefulness in the
use are perceived. Teachers have not been prepared to use technology in the classroom and need to
develop new skills. Educational institutions should encourage and support the development of
technological skills by teachers so that they can lead the transformation process.
Keywords: Technology. Education. Protagonism.
1
O conteúdo deste artigo foi apresentado como palestra no Simpósio de Educação e Tecnologias, realizado em Belo Horizonte/MG, em
2018.
2
Doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Mestre em Administração de Empresas pela Pontifícia
Universidade Calica do PR e MBA em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Especialização em Administração pela FAE/PR,
Finanças pela FAE/PR, Engenharia da Informação pela PUC/PR e Didática do Ensino Superior pela PUC/PR. Atualmente realiza estágio
pós doutoral na Universidade Positivo e é professora na Fundação Getúlio Vargas. E-mail: <marciahino@uol.com.br>.
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1. INTRODUÇÃO
Estima-se que o mundo terá cerca de 8,5 bilhões de pessoas até o ano de 2030 (ONU,
2017), e que até 2050 dois terços da população do mundo serão urbanos (ONU, 2018).
Até 2020 o mundo terá um milhão de novos dispositivos online a cada hora
(GARTNER, 2015).
A tecnologia tem mudado a forma como vivemos, como nos locomovemos, como
comemos, como estudamos e como nos comunicamos. Para muitas pessoas,
principalmente em países em desenvolvimento, o uso de celular tem se tornado o
principal meio de acesso para todos os tipos de informação, expandindo seu papel
como facilitador da comunicação (JOHNSON et al., 2010). Existe uma expectativa da
população de poder trabalhar, estudar e aprender no lugar e momento que sejam de
sua melhor conveniência. Essa flexibilidade desafia-nos a buscar um balanceamento
das demandas de casa, trabalho, escola, família, dentre outras. Os dispositivos móveis,
tais como celulares e notebooks, são portáteis e possuem a capacidade de auxiliar-nos
na comunicação, com influência direta em atividades de comunicação, aprendizagem e
produtividade (JOHNSON et al., 2010).
Os métodos tradicionais de ensino, onde o professor prioriza a transmissão de
conhecimento, eram relevantes quando o acesso à informão era limitado. No mundo
atual, onde a tecnologia disponibiliza informação a qualquer hora e em qualquer lugar,
integrando o espaço escola com o espaço fora dela, faz-se necessário a forma de
ensino e aprendizagem em uma sociedade altamente conectada (MORAN, 2015; DE
ALMEIDA; VALENTE, 2012). A tecnologia posiciona-se como um facilitador essencial
no desenvolvimento de novas capacidades estratégicas em instituições de ensino
superior. Porém, se comparado a outros segmentos do mercado, o setor de educação
está atrasado na exploração da tecnologia a seu favor (LOWENDAHL et al., 2018).
A abundância de recursos e relacionamentos facilmente acessíveis pela Internet está
nos desafiando cada vez mais a revisitar nossos papéis de educadores na criação de
sentido, coaching e credenciamento (JOHNSON et al., 2010, p.3). A internet propicia a
construção de um conhecimento colaborativo, construído em conjunto entre
professores e alunos, em presea física ou virtual (MORAN, 2004). Segundo Araújo
(2005, p. 21), à medida que a Internet é trazida para a sala de aula, os alunos
constroem uma nova visão de mundo e de si mesmos.
É preciso refletir sobre os aspectos do uso de tecnologia no processo de ensino e
aprendizagem. Em relação às instituições de ensino, estarão elas preparadas para
mudanças originadas pela propagação de soluções tecnológicas já presentes em
nossas vidas? E os professores? Será que o perfil deles, como usuários de tecnologia,
acompanha seu papel de professor quando estão em sala de aula? E os alunos? Tão
ávidos por tecnologia, encontram no ambiente da educação espaço para explorar a
tecnologia como apoio ao processo de aprendizagem?
2. O USO DA TECNOLOGIA NA EDUCAÇÃO
Segundo estudo de Pedró (2016, p. 19),em todo o mundo, os esforços realizados nas
últimas décadas para transformar o ensino e a aprendizagem parecem não dar frutos,
porque continuamos tendo uma escola muito parecida com a que tínhamos vinte anos
atrás. Refletir sobre o uso de tecnologias no processo de ensino e aprendizagem
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configura um cenário de atualidade, considerando o alinhamento do espaço que a
tecnologia conquistou na vida pessoal e a sua inserção no contexto escolar. Brandão e
Vargas (2016, p. 9) argumentam que “o uso de tecnologias e dispositivos digitais para
ampliar o acesso à educação de qualidade é um fenômeno em franca expansão. A
portabilidade e a facilidade de conexão com a internet tornaram os celulares uma
referência de repositório de materiais de estudo e de experiência de aprendizado
(JOHNSON et al., 2010).
O uso da computação móvel em escolas e no processo de educação tem aumentado
e gerado diversas reações. A realidade que se mostra, por meio de matérias
jornalísticas, é difusa e controversa. Uma reportagem intitulada Professor usa
bloqueador de sinal de celular em sala de aula em SP
3
relata que, embora não exista
a proibição do uso de celular na faculdade, um professor, com o objetivo de evitar que
alunos se dispersassem em sala de aula, comprou um bloqueador de sinal para uso
em sala durante suas aulas. Kapa (2014) apresenta um relato sobre a polêmica do uso
de celulares em sala de aula, onde um professor foi processado por um aluno após ter
recolhido seu aparelho celular durante uma aula. O relato destaca a proibição do uso
de celulares em sala de aula para atividades queo sejam pedagógicas, suportadas
por normas do Conselho Municipal de Educação. Recentemente, a França proibiu o
uso de celulares nas escolas para alunos de até 16 anos. Essa medida já era uma
solicitação de professores e tinha como argumento a redução da distração dos alunos
com conteúdos da internet
4
. A proibição prevê exceções, como o uso para atividades
pedagógicas.
Uma visão positiva é apresentada em outros estudos. Bublitz (2010) apresenta a
possibilidade de uso de celular como ferramenta pedagógica na sala de aula. O celular,
que é visto como um dos responsáveis por desviar a atenção dos alunos em sala de
aula, passa a ser protagonista na educão. Um estudo em mais de 300 universidades
abrangendo diversos países identificou seu protagonismo como ferramenta
pedagógica, com um forte impacto na educação. O baixo custo, se comparado a um
laptop ou mesmo a um desktop, a facilidade de uso e a acessibilidade a uma variedade
de ferramentas e informações tornam o celular uma ferramenta popular,
independentemente da classe social, principalmente em pses em desenvolvimento
(JOHNSON et al., 2010).
A representante da América Latina no Prêmio Unesco de Educação 2017 ressalta que
os alunos desejam que a escola reflita a realidade da vida fora dela, ou seja, envolta
por tecnologia (MANIR, 2018; MORAN, 2004). Ela expõe a existência de unanimidade
quanto à contribuição da tecnologia para a educação, porém ressalta que se faz
necessário que a educão seja trabalhada sob quatro perspectivas: a clareza no
objetivo do uso da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem; a competência
de professores e gestores no uso de tecnologias em sala de aula; a qualidade do
conteúdo utilizado com o suporte da tecnologia; e a dependência de uma infraestrutura
tecnológica que suporte a demanda existente (MANIR, 2018).
O uso da tecnologia como ferramenta dentro de um modelo pedagógico, além de
contribuir para mitigar possíveis diferenças socioeconômicas entre alunos, tem a
capacidade de torná-los mais ativos e responsáveis por sua educação (CRUZ, 2017).
3
Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2013/10/professor-usa-bloqueador-de-sinal-de-celular-em-sala-de-aula-em-
sp.html>
4
Disponível em: <https://www.dw.com/pt-br/fran%C3%A7a-bane-celulares-das-escolas/a-44899031>
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No Brasil, na área urbana, 85% dos indivíduos possuem celular. Nas classes sociais A
e B esse percentual aumenta para 96% e 95% respectivamente e muda para 69%
entre as classes D e E (CETIC, 2017). Neste cerio é difícil ignorar a necessidade de
integração do celular no processo de educação, tornando o professor um usuário crítico
da sua utilizão e não simplesmente um mediador de uso (CRUZ, 2017). O uso de
tecnologia como ferramenta pedagógica pelo professor é considerado um dos cinco
principais fatores com alto impacto do desempenho de alunos (CHAIA et al., 2017).
Um estudo de Silva, Samá e Lunardi (2017) investigou a contribuição dos dispositivos
móveis no ambiente educacional no ensino superior na perspectiva de motivação e
benefícios. Os autores concluíram que a “inserção destes recursos tecnológicos ainda
é incipiente em sala de aula, sendo premente o investimento na formão constante
dos docentes com ênfase nos elementos cognitivos e pedagógicos, em detrimento da
restrição no enfoque tecnológico (Silva; SaMá; Lunardi, 2017, p. 1).
Segundo Carvalho e Guimarães (2016, p. 7):
[...] é importante destacar que os alunos são mais facilmente adaptados aos recursos
tecnológicos, os professores sentem uma maior dificuldade para se adaptar ao uso de
tecnologias, seja por falta de tempo, incentivo ou formação deficitária.
A tecnologia pode ser utilizada com diferentes abordagens, nas quais se destaca o uso
como ferramenta de acessibilidade, retenção, internacionalização e desescolarização.
A acessibilidade pode ser entendida sob duas perspectivas. O fácil acesso às
informações propicia aos alunos a oportunidade de desenvolverem seus estilos
próprios de busca e organização de informões na internet (ARAÚJO, 2005). A outra
perspectiva refere-se ao ensino a distância, onde a tecnologia permite chegar onde a
escola sica e presencial não consegue chegar. Em relação ao uso para retenção de
alunos, explora-se o uso de metodologias ativas, jogos e outros recursos que envolvem
o aluno no processo de ensino e evitam sua evasão desse processo, mesmo com os
alunos em sala de aula. A internacionalização explora o uso de tecnologia como
alternativa de expansão das fronteiras universitárias (BRANCO et al., 2018, p. 82) e o
uso como mecanismo de redução de custos elevados relacionados à mobilidade sica
internacional (idem). Por fim, o uso de tecnologia na educação fomenta a
desescolarização, valorizando as oportunidades de aprendizagem fora da escola, na
internet, em casa, ou em qualquer lugar.
A apropriação de tecnologia na educação faz-se por meio de três pilares: o pilar de
infraestrutura; o pilar técnico, que contempla a capacitação de docentes, discentes e
gestores; e o pilar político ou de estratégia, que é o responsável pelo alinhamento do
uso da tecnologia digital como ferramenta para suprir uma necessidade clara e
reconhecida, como forma de agregação de valor (BRANDAO; VARGAS, 2016).
Becker et al. (2018) apresentam que as tendências de aceleração do uso de tecnologia
no ensino superior para os próximos dois anos incluem a mensuração da
aprendizagem e o redesenho dos espaços de aprendizagem. Alguns desafios
dificultam a apropriação da tecnologia nesses ambientes, entre os quais se destacam:
a) como fazer uso de estratégias pedagógicas para conectar os estudantes a
problemas reais; b) como avançar o perfil tecnológico dos estudantes, proporcionando
um conhecimento profundo do ambiente digital; c) como a instituição, com o auxílio da
tecnologia, pode ser mais flexível, proporcionar o trabalho em equipes e em estruturas
matriciais, mantendo-se inovadora e atendendo às necessidades atuais; d) como
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avaar na igualdade digital, superando barreiras de falta de velocidade adequada de
internet, acesso desproporcional, baseado em status sócio econômico e gênero; e)
como lidar com a pressão política e ecomica em uma abordagem sustentável; e f) a
necessidade de se repensar o papel dos educadores, face à necessidade de
aprimoramento do perfil tecnológico para contemplar o domínio de ferramentas digitais
que auxiliem a aprendizagem.
É fundamental que as instituições de ensino se abram para o mundo e tragam o
mundo para dentro delas. Esse processo pode ser feito com o auxílio da tecnologia e
por meio de diferentes caminhos. O mais simples e com menor impacto é a
manutenção do currículo atual, com as diversas disciplinas, e a utilizão de
metodologias ativas, como forma de priorizar o envolvimento do aluno, tornando-o
protagonista no processo de aprendizagem. O mais complexo inclui a adoção de
modelos disruptivos e mais inovadores (MORAN, 2015). Qualquer que seja a opção, a
adoção de tecnologias na educação requer um alinhamento entre o aluno, o professor
e a instituição de ensino. A necessidade e a expectativa de cada ator não
necessariamente coincidem. A reestruturação do processo de ensino, requerido para
que a apropriação da tecnologia tenha sucesso e agregue valor, demanda
entendimento das necessidades e alinhamento entre as expectativas para que ocorra a
superação dos desafios encontrados entre os atores.
3. O ALUNO PROTAGONISTA
Os alunos possuem hoje um perfil multitarefa, com capacidade de executar diversas e
diferentes atividades ao mesmo tempo. Este perfil facilita o uso de tecnologias em sala
de aula, esteja ele integrado ou não ao processo de aprendizagem (HINO;
PRZEYBILOVICZ; COELHO, 2016).
Nesse cenário, o uso de metodologias que tornam o aluno ativo quanto à sua
aprendizagem ganham destaque. Segundo Moran (2015, p. 4), as metodologias ativas
são pontos de partida para avançar para processos mais avaados de reflexão, de
integração cognitiva, de generalização, de reelaboração de novas práticas. O uso de
tecnologia em salas de aula torna o ambiente de aprendizagem mais dinâmico, com os
alunos participando de forma mais atuante na construção de seu conhecimento
(RUPPENTHAL; SANTOS; PRATI, 2011).
O protagonismo do aluno em relação ao uso de metodologias ativas em sala de aula foi
objeto de estudo de Hino, Skora e Motta Filho (2018). Estudos dos autores apontam
para uma resistência dos alunos a serem protagonistas e liderarem a construção de
seu conhecimento. Existe uma dificuldade quanto à sua preparação para as aulas,
onde a leitura e o entendimento do material compartilhado de forma antecipada pelo
professor se tornam um desafio. É necessário que os alunos se organizem na gestão
do seu tempo para que considerem as atividades extraclasses e desenvolvam o hábito
de leitura e interpretação de textos. Deve ter-se o entendimento que a mudança da
dinâmica em sala de aula provocada pela utilizão de metodologias ativas se dá não
apenas para facilitar o processo de aprendizagem, mas para torná-lo mais profundo e
completo.
Na visão de Pedró (2016), a resistência de alunos em relação ao uso de tecnologia na
educação se dá em decorrência da falta de percepção de relevância e utilidade no seu
uso, da necessidade de esforço adicional do aluno no processo de aprendizagem, da
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demanda de qualidade e da percepção de falta de privacidade com o uso de
tecnologias. O fracasso no uso de tecnologias em processos de ensino pode ser
decorrente da falta de perceão de utilidade pelos alunos. A tecnologia deve estar
integrada a uma estragia e a um processo metodológico de ensino. O simples uso da
tecnologia não é entendido como algo que acrescente valor ao processo de ensino. A
inovação gerada pelo uso de tecnologia em sala de aula é percebida pelos alunos
como esforço adicional. A aceitação desse esforço está diretamente relacionada ao
entendimento de seu propósito. A resistência também se intensifica à medida que os
alunos amadurecem. Existe uma tenncia a se associar ensino de qualidade a
processos de aprendizagem já conhecidos e consolidados em sua memória, tornando
o processo mais conservador e aumentando a complexidade da mudaa. Por fim, a
perceão de falta de privacidade pode adquirir a forma de um espaço exclusivo que a
tecnologia lhes permite construir com seus pares para se relacionar com estes,
mantendo alheios os docentes (PEDRÓ, 2016, p. 23).
4. A APROPRIAÇÃO DA TECNOLOGIA PELO PROFESSOR
A predisposição do uso de tecnologia na via pessoal não é transferida de forma
imediata para o ambiente acadêmico. Educadores, em geral, são usrios habituais de
tecnologia em sua vida privada. Mas quais os desafios que enfrentam quando estão no
papel de educadores? Como se apropriam da tecnologia no contexto educacional?
O uso de tecnologia é uma tendência da educação (BRANDÃO, VARGAS, 2016),
porém os professores enfrentam diversos desafios em relão a essa abordagem
(BARRETO, 2004; CARVALHO; GUIMARAES, 2016). Ressalta-se a importância do
professor na inclusão de tecnologia em sala de aula (PEDRÓ, 2016), e discutem-se os
desafios enfrentados pelos professores no uso de tecnologia nas práticas de ensino e
aprendizagem. Os desafios podem ter como base o fato de os professores não terem
nascido na era digital e essa habilidade não ter sido incluída em suas formações
profissionais (LUTZ et al., 2016).
Na visão de Hino, Skora e Motta Filho (2018), sete aspectos da perspectiva do
professor merecem atenção. O primeiro aspecto refere-se à mudança de postura do
professor. Esse aspecto surge como um desafio à medida que o trabalho se torna mais
solitário e evidencia-se um volume de trabalho maior para o professor. Os professores
reconhecem que o uso de tecnologia em sala de aula é um caminho já consolidado e
que isso exige um modelo mental diferenciado, demandando mais criatividade na
preparação das aulas. Essas preocupões corroboram Moran (2004) no que tange ao
reconhecimento da necessidade de uma nova postura do professor na adequação de
novos métodos pedagógicos.
A integração da tecnologia no currículo e a maneira como as disciplinas se relacionam
caracterizam o segundo aspecto. Diversos estudos citam a mesma preocupação
(MORAN, 2004; MOMINÓ; SIGALÉS; MENESES, 2008). É preciso que a tecnologia
seja considerada sob uma perspectiva integradora entre as disciplinas, como uma
estratégia de ensino, evitando-se que seja adotada somente em algumas disciplinas
como resultado de características e habilidades de professores específicos. A
pluralidade metodológica entre disciplinas de um mesmo curso também foi abordada
em estudos de De Almeida Seixas et al. (2017).
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O terceiro aspecto diz respeito à preparação da aula pelos professores. Algumas
técnicas de uso de tecnologia em sala de aula requerem mais tempo em sala para o
desenvolvimento do assunto, uma vez que ocorre a construção do conhecimento junto
com os alunos. Esse comportamento exige do professor uma melhor gestão do tempo
para que o uso de tecnologia possa gerar o valor esperado no processo de ensino. O
material elaborado e/ou selecionado pelo professor como suporte ao aluno demanda
novas habilidades do professor, uma vez que passa a ser lido previamente à aula pelo
aluno sem o auxílio do professor para auxiliar na sua compreensão. Neste momento, o
aluno está sozinho para leitura e interpretação do conteúdo, e quanto melhor seu
entendimento nesta fase do processo, melhor será sua atuação na construção do
conhecimento no processo de constrão do aprendizado em sala de aula,
demandando menos tempo do professor.
O tempo de adequão do processo para que o aluno passe a ser protagonista, e as
metodologias ativas possam ser utilizadas em sala de aula, é o quarto aspecto de
ateão na perspectiva dos professores. A migração e adaptação do material demanda
uma reestruturação o só visual, mas de estrutura do conteúdo e de requisitos de
adaptação às novas técnicas empregadas em sala de aula. Esse desafio é também
evidenciado por Lutz et al. (2015, p. 2) ao afirmar que o processoexige estudo maior
por parte do docente, incluindo dedicação e tempo de planejamento das atividades.
A falta de capacitão em relação à integrão de tecnologias ativas no processo de
aprendizagem em sala de aula é o quinto aspecto identificado pelos professores. Parte
desta capacitação se deve à migrão de um processo com foco no conteúdo para um
processo com foco na aprendizagem. O processo de capacitação requer apoio e
preparação também pelas instituições de ensino e inclui itens como o domínio de
metodologias de ensino com o apoio de tecnologia, tais como metodologias ativas.
O domínio do uso da tecnologia apresenta-se como o sexto aspecto. A confiança em
suas áreas de domínio não ofusca a insegurança do uso de tecnologia em sala de
aula. Percebe-se a necessidade de ter-se um bom conhecimento técnico, pois as
tecnologias podem nem sempre funcionar conforme o planejado e o professor deve
saber lidar com tranquilidade nessas situações. Esse aspecto considera também o uso
de tecnologia por professores com mais idade, não necessariamente usuários high
tech em suas vidas pessoais, e qualquer outra limitação decorrente do domínio do uso
de tecnologia. Brano e Vargas (2016) confirmam essa perspectiva ao verificarem a
falta de domínio técnico como um fator impactante no uso de tecnologia como
ferramenta agregadora de valor para o processo de ensino.
Por fim, o sétimo aspecto diz respeito ao processo de mudança, a ruptura da cultura de
aula expositiva e a migração de um processo com foco no contdo para um processo
com foco na aprendizagem. A cultura tecnológica força uma transformação que atinge
os professores quanto à sua forma básica de ensino. A aula expositiva anteriormente
valorizada dá espaço para o uso de tecnologia que propicia o acesso à informação no
momento e lugar desejados. O professor precisa se reconstruir, quebrando alguns
paradigmas. O processo de mudança nem sempre é conhecido e quase nunca é
dominado pelo professor. Esse desafio é inevivel. Segundo Lima e Moita (2011), o
novo papel dos professores abrange a apresentão do conteúdo de maneira a
transformar o aluno de objeto a sujeito da aprendizagem. Porém, a formação dos
professores para que isso ocorra ainda é deficitária (CARVALHO; GUIMARAES, 2016).
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Sabe-se que o professor não está preparado para incluir a tecnologia na prática
pedagógica e que a infraestrutura tecnológica no Brasil não o favorece. Mesmo nesse
cenário, a qualidade do professor e sua prática pedagógica são os principais fatores na
inclusão da tecnologia no processo pedagógico (MANIR, 2018).
5. OS DESAFIOS DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO
As instituições de ensino, enquanto espaço de aprendizado, devem preparar alunos
para a vida real. Mais do que dominar conteúdos, os alunos devem ser capazes de
utilizar o que aprenderam, sendo capazes de resolver problemas no mundo real
(GIORDAN; Vecchi, 1996). Os princípios de educação regem na dirão de que os
alunos desenvolvam habilidade de aprendizagem para toda a vida (ARAÚJO, 2005, p.
22). A apropriação de tecnologia pelas escolas auxilia nesse desafio, tornando a aula
mais agradável e exercendo um papel importante de envolvimento do aluno nas
atividades de aprendizado. Para Ruppenthal, Santos e Prati (2011, p. 379):
Se no passado, a escola era o local para obter informações, hoje todos chegam à escola
com informações diversas, obtidas na TV, internet ou mesmo pelo dio. Diante disso,
percebe-se que a escola deve se preparar para trabalhar novas habilidades com os
estudantes, a fim de que estes tenham uma vio crítica em relação a essas informações,
bem como saber comparar, sintetizar essas informações ou então se posicionar com
argumentos diante de questões polêmicas.
Para as instituições de ensino, o uso de tecnologias por meio de metodologias de
ensino tem sido gradual, muito embora apresente desafios que incluem a
disponibilidade de infraestrutura de qualidade, a oferta de mais espaço em sala de aula,
os programas de adequação de perfil dos professores e a quebra de paradigmas
(HINO; SKORA; MOTTA FILHO, 2018; LUGO; RUIZ, 2016).
Em relação à infraestrutura de qualidade, considera-se a necessidade de instalação de
equipamentos, integrão de redes e disponibilização de redes sem fio. Esses
procedimentos podem passar despercebidos pelos usrios, mas é essencial para que
se implemente uma estratégia pedagógica com o uso de tecnologias. A conectividade,
estabilidade da rede, velocidade de conexão e a permissão de acesso a recursos são
fatores definidos pelas instituições que podem, indiretamente, limitar o aproveitamento
pedagógico suportado por tecnologias móveis (LUGO; RUIZ, 2016). Brandão e Vargas
(2016) ressaltam a infraestrutura como uma questão relevante no uso de tecnologias
em processos pedagógicos.
A necessidade de mais espo em sala de aula deve-se ao fato do contdo não ser
trabalhado apenas pelo professor. As salas de aulas devem compor-se em um espaço
investigativo, onde alunos têm interesse de explorar o desconhecido (ARAÚJO, 2005,
p. 22) e, com a ajuda da tecnologia, deixam de ser um espaço limitado e transformam-
se em um tempo e espaço contínuos de aprendizagem” (MORAN, 2000, p.141). A
qualidade de um ambiente tecnológico de ensino depende muito mais de como ele é
explorado didaticamente, do que de suas características técnicas (LUTZ et al., 2016, p.
3). Cabe às instituições de ensino desenvolver programas de adequação dos
professores a essa nova realidade, como forma de prover uma educação mais
inclusiva e de qualidade.
Um dos desafios das instituições de ensino, se não o maior, no que tange ao uso de
tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, é a necessidade de quebra de
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paradigmas. As instituições de ensino devem estar abertas a novos modelos
metodológicos para atender a demandas de uma geração que já nasceu digital
(COELHO et al., 2016). Embora os professores possam adaptar seu modelo
pedagógico às novas tecnologias, as instituições de ensino exercem papel essencial na
criação de uma comunidade de prática que dê suporte e encoraje a sua prática
(PHILLIPS, 2015) como forma de obter mais consistência e sucesso no seu uso. As
instituições de ensino devem encorajar e suportar o desenvolvimento de habilidades
tecnológicas pelos professores para que estes possam liderar a transformação, e evitar
que se tornem controlados por ela, como ocorreu com o processo de consumerização
na educação (SELWYN, 2014).
6. TECNOLOGIA COMO VALOR EDUCACIONAL
O uso de tecnologia no processo de ensino potencializa a diversidade de recursos
dispoveis para melhora do processo de aprendizagem (CARVALHO; GUIMARÃES,
2016). Martinho e Pombo (2009) apresentam que o uso de tecnologia viabiliza um
ambiente mais motivador de trabalho, potencializando a atenção dos alunos no
desenvolvimento de seus trabalhos.
A perspectiva de ampliação da sala de aula para outros locais, por meio das redes de
comunicação, é outro benecio do uso de aparelhos móveis no processo de educação
(BARAN, 2014). O uso da tecnologia móvel no processo de educação possibilita o
acesso connuo e universal à informação, tanto para professores quanto para os
alunos, abrindo oportunidades de aprendizagem individualizada, colaborativa e
informal, ultrapassando os limites de contexto de uma sala de aula (BARAN, 2014).
Segundo Carvalho e Guimarães (2016, p. 5):
O uso adequado de tecnologias estimula a capacidade de desenvolver estratégias de
buscas; transformam não só a maneira de comunicar, mas também a de trabalhar, de
decidir e de pensar; estimulam o desenvolvimento de habilidades sociais; a qualidade da
apresentação escrita das ideias, permitindo autonomia e a criatividade.
O uso de tecnologia no processo de educação pode tornar essa atividade mais
prazerosa para os alunos, em decorrência das diversas alternativas nas quais o
conteúdo pode ser trabalhado, podendo-se explorar os diversos sentidos dos alunos
(RUPPENTHAL; SANTOS; PRATI, 2011).
Araújo (2005, p. 20) destaca ainda que:
O valor da tecnologia na educação é derivado inteiramente da sua aplicação. Saber
direcionar o uso da Internet na sala de aula deve ser uma atividade de responsabilidade,
pois exige que o professor preze, dentro da perspectiva progressista, a construção do
conhecimento, de modo a contemplar o desenvolvimento de habilidades cognitivas que
instigam o aluno a refletir e compreender, conforme acessam, armazenam, manipulam e
analisam informações que sondam na Internet.
O principal valor do uso da tecnologia na educação é o fato de os alunos estarem
deixando de ser consumidores de conhecimento para se tornarem criadores do seu
próprio conhecimento (LITTLEJOHN; HUNTER, 2016; JOHNSON et al., 2015). A
tecnologia está presente na vida de todas as pessoas e tem propiciado novas formas
de aprendizado, encorajando a interão entre os alunos e atividades de aprendizado
autênticas (SELWYN, 2014; LITTLEJOHN; HUNTER, 2016).
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo teve por objetivo a reflexão sobre o uso de tecnologia nas práticas
educacionais. É inegável o movimento da tecnologia no segmento de educação.
Também são inegáveis os benefícios que ela pode trazer na promoção de uma
educação inclusiva e de qualidade. Contudo, ainda se visualizam desafios em diversas
esferas desse movimento.
As instituições de ensino são as responsáveis por catalisar esse movimento e
suportarem os professores no desenvolvimento de capacidades adequadas para lidar
com as mudanças originadas pelo uso de tecnologias no processo de ensino e
aprendizagem. Os professores possuem um papel fundamental nesse movimento,
uma vez que eles são os protagonistas da mudança e a exploração da tecnologia a
favor de um ensino com melhor qualidade depende deles. Além disso, não se deve
esquecer que foi o aluno quem trouxe a tecnologia para a sala de aula, como uma
tentativa de gerar aprendizado em um contexto de mundo real.
Um movimento complexo como esse ainda carece de esclarecimentos em diversas
dimensões. Que características da tecnologia podem ser exploradas no segmento da
educação? Como garantir que os professores desenvolvam habilidades técnicas para
lidar com as novas tecnologias na mesma velocidade que o ambiente tecnológico se
atualiza? Quais as habilidades necessárias que alunos devem ter para um processo de
aprendizagem onde eles são os protagonistas? Como as experiências podem
contribuir para acelerar e direcionar essa transformão nos alunos, professores e
instituições de ensino? Essas são apenas algumas questões que podem contribuir
para indicar oportunidades de pesquisa futura. A educação é um processo vivo e deve
sempre acompanhar as grandes mudanças da vida real.
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Data da submissão: 05/12/2018
Data da aprovação: 21/02/2019