Trabalho & Educação | v.28 | n.1 | p.169-185 | jan-abr | 2019
ambientes que abarcam diferentes ferramentas, que podem ser utilizadas pelos
agentes envolvidos, tais como e-mail, fórum, chat e lista de discussão.
Especialmente a partir do surgimento e do desenvolvimento da internet, o ensino a
distância vem se concretizando nas instituições de ensino superior (IES) em todo o
mundo, ainda que com diferentes modelos pedagógicos, institucionais e tecnológicos.
Todavia, o desenvolvimento cada vez mais acelerado das TDIC tende a influenciar
também o ritmo de mudança, adaptabilidade e utilização nas instituições de ensino, e
não só da educação superior
.
Por outro lado, Neves e Fidalgo (2008) fazem alusão às estratégias utilizadas pelas IES
para precarização do trabalho docente, decorrentes da utilização das novas tecnologias
tanto para promover a dispersão da mão-de-obra, como consequente aumento da
carga de trabalho docente que se mantém empregado. Assim, os autores resgatam os
pressupostos de mais-valia
, apregoados por Karl Marx, ao afirmarem que “o trabalho
docente na EaD, que tem suas atividades mediadas pelas tecnologias digitais, tem sido
tomado num contexto de exploração [...] pelo capital no âmbito educacional” (NEVES;
FIDALGO, 2008, p. 4).
Ao que parece, a hora/aula perpetrada pela parede de tijolos agora se realiza em uma
tela de computador ou de um dispositivo móvel. Na EoL, o professor não cumpre mais
apenas a jornada marcada por horas-aula em um determinado horário em um local
específico, mas a extrapola, seja por ter que cumprir com os prazos estipulados pelas
IES, muitas vezes de 48 ou 72 horas de resposta ao aluno, seja no excesso de tempo
despendido para correção, comentários e postagem das atividades avaliativas, sem
contar o enorme tempo despendido no atendimento aos estudantes, em um modelo de
atendimento que acaba se tornando individualizado. Como em substituição ao
parâmetro hora-aula, que regula o horário de trabalho e é referência para o pagamento
pelo serviço prestado, não se estabeleceu um novo parâmetro, “hora/bit”, e a
exploração do trabalho docente se amplia. Karl Marx talvez concordasse com o fato de
que, agora, a mais valia se revela de forma „exacerbada‟ na EaD, desnudando em um
novo formato de apropriação dos auferes, uma vez que se pagam menos horas para
um „operário da educação‟ que trabalha muito além das horas contratadas, o que não
se traduz em e nem tampouco assegura a qualidade dos serviços prestados.
Durante mais de oito décadas de história da EaD no Brasil, os investimentos nessa
modalidade de ensino, quase em sua totalidade, foram concebidos por iniciativa
pública, havendo pouca ou nenhuma iniciativa por parte das IES privadas, cenário que
se desponta de forma invertida a partir do início do século XXI (MUGNOL, 2009). A
partir do ano de 2005, momento em que se inicia um crescimento vertiginoso das IES
privadas, favorecido especialmente pela elevação considerável do número de novos
contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES)
, é que se dá também o início
do processo, ainda que embrionário, de difusão do ensino em EaD por meio das IES
A possibilidade da oferta de EaD no ensino médio, trazida pela Reforma do Ensino Médio posta pela Lei 13.415/2017b, de alguma forma
assusta educadores e vem sendo mote para acaloradas discussões, especialmente no momento em que se discute a proposta da BNCC
para este segmento da educação básica.
A mais valia absoluta, postulada por Karl Marx, é aquela na qual os capitalistas utilizam uma quantidade de horas excedentes ao
necessário para pagar ao trabalhador um salário pelo uso da força de trabalho cotidiano, utilizando e se apropriando de todo o trabalho,
mantendo o salário constante.(MARX, 1985, p. 60-62).
Em 2010 foram celebrados 78 mil novos contratos; em 2014 o número atingiu surpreendentes 733 mil, fazendo com que o Programa se
transformasse em fonte garantida de renda para as IES privadas. De um total de beneficiados em torno de 200 mil entre 2002 e 2010,
chegou-se a algo em torno de 2 milhões por volta de 2014. Com um rombo potencial identificado, pelo aumento do número de calotes, o
número de novos contratos começa a sofrer uma queda em 2015.