Trabalho & Educação | v.28 | n.1 | p.97-113 | jan-abr | 2019
progressiva (DEWEY, 1979). Sobre o método de projetos, Berbel menciona o trabalho
de Bordenave e Pereira, sendo que para esses autores a elaboração de um projeto
passa por distintas fases:
1ª – a intenção – curiosidade e desejo de resolver uma situação concreta, já que o projeto
nasce de situações vividas; 2ª – a preparação – estudo e busca dos meios necessários
para a solução, pois não bastam os conhecimentos já possuídos; 3ª – execução –
aplicação dos meios de trabalho escolhidos, em que cada aluno busca em uma fonte as
informações necessárias ao grupo; 4ª – apreciação – avaliação do trabalho realizado, em
relação aos objetivos finais. Afinal, a literatura, as informações do professor e os dados da
realidade confirmam as hipóteses do projeto? Que outros subprojetos podem surgir do
mesmo? (BORDENAVE; PEREIRA, 1982 apud BERBEL, 2011, p. 31)
No final dos anos 1990 a proposta de projeto como estratégia pedagógica foi
novamente incentivada, principalmente por pesquisadores espanhóis (HERNÁNDEZ,
1998), (HERNÁNDEZ; VENTURA, 1998). No Brasil, os Parâmetros Curriculares
Nacionais, elaborados pelo Ministério da Educação (BRASIL, 1997), sugerem a
integração de disciplinas no trabalho com projetos que o aluno deve realizar e não mais
em conteúdos previamente sequenciados e repassados pelos professores.
O desenvolvimento de projetos apresenta diversos aspectos positivos, permitindo a
criação de situações educacionais que possibilitam trabalhar a compreensão de um
determinado conceito a partir do que o aluno está realizando. No entanto, é importante
notar que essa compreensão não emerge naturalmente do processo de realizar algo
com sucesso. Os estudos conduzidos por Piaget sobre o fazer e o compreender
(PIAGET, 1978) indicam que a compreensão de conceitos envolvidos nas tarefas
realizadas está diretamente relacionada com o grau de interação que o aprendiz tem
com estes conceitos. O fato de o aprendiz estar desenvolvendo um projeto não
significa que ele está construindo conhecimento ou compreendendo o que está
fazendo. Como observou Piaget, desenvolver o projeto e atingir resultados satisfatórios
não garante a assimilação dos conceitos envolvidos no projeto. A solução para uma
educação que prioriza a compreensão conceitual é a interação com objetos e a
realização de projetos ou de atividades que sejam estimulantes para que o aprendiz
possa estar envolvido com o que faz. Essas atividades devem ser ricas em
oportunidades para permitir ao aluno explorá-las e possibilitar aberturas para o
professor interagir e desafiar o aluno e, com isso, incrementar a qualidade da interação
com o que está sendo feito e com o que está sendo usado em termos de conceitos. O
professor, além de desafiar o aluno tem também o papel de formalizar esses conceitos
de acordo com alguma notação, mesmo convencional.
Além dessas características, o desenvolvimento de projetos integrando o uso das TDIC
pode estimular o interesse dos alunos e, com isso, possibilitar o seu engajamento no
processo de aprendizagem; pode também propiciar diversas facilidades para o
professor poder auxiliar o processo de construção de conhecimento. Por exemplo, o
professor poder trabalhar diferentes tipos de conhecimentos que estão imbricados na
realização de projetos, e que podem ser categorizados em quatro eixos: conceitos
sobre desenvolvimento de projetos, os conceitos disciplinares envolvidos no projeto, os
conceitos sobre as TDIC e as estratégias de como aprender.
No eixo “desenvolvimento de projetos” podem ser trabalhados diversos assuntos, por
exemplo, a escolha do tema do projeto. Aqui são os valores, a ética e mesmo a atitude
cidadã que determinam o impacto que o projeto pode ter na comunidade ou mesmo no
meio social em que o aluno atua. Outro tópico que pode ser tratado ainda nesse eixo