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DOI: https://doi.org/10.35699/2238-037X.2019.9893

1
The impact of Program Science Without Borders on vocational training and
career in the perspective of the Scholarship holders from UFMG
GOMES, Catarina Barbosa Torres
2
RESUMO
Este texto aborda uma das dimensões exploradas em recente pesquisa de doutorado
3
sobre as
desigualdades de oportunidades educacionais como um femeno que se evidenciou no estudo do
perfil social e acadêmico dos estudantes da UFMG, contemplados pelo programa de mobilidade
internacional “Cncia sem Fronteiras”
4
, criado em 2011, pelo governo federal. A despeito do principal
objeto dessa pesquisa, os dados obtidos revelaram diversas expectativas dos entrevistados a respeito
dos possíveis impactos desse intercâmbio em sua formão profissional e carreira. Portanto, esse
trabalho tem o propósito de demonstrar as diferentes motivações subjacentes à opção pelo
intermbio, relacionadas a esse factível impacto. A refencia metodológica para essa questão de
pesquisa baseou-se na análise de conteúdo, por meio do estabelecimento de categorias que
orientaram o estudo qualitativo do discurso dos entrevistados. Constituíram-se como principais
categorias de análise motivadoras do intermbio para fins profissionais e de carreira: a inflncia
familiar, a oão pelo país e a universidade de destino
5
, o estabelecimento de networkings (capital
social), a aprendizagem de língua estrangeira para o aprimoramento profissional, o contato com
diferentes culturas e ainda a possibilidade da pós-graduão, tendo em vista a especialização para a
carreira de pesquisa e docência universitária. A conclusão é a de que o intercâmbio é uma
oportunidade ímpar que se estende para além dos benecios pedagicos e culturais previstos.
Palavras chave: Intercâmbio. Formação profissional. Carreira.
ABSTRACT
This text discusses one of the dimensions explored in recent doctoral research on inequalities in
educational opportunities as a phenomenon that was evidenced in the study of the social and
academic profile of UFMG students of the International Mobility Program "Science Without Borders",
established in 2011, by the federal government. Despite the main object of this research, the data
obtained revealed several expectations of the interviewees, regarding the possible impacts of the
mobility in their professional training and career. Therefore, this work has the purpose of demonstrate
the different motivations underlying the option for exchange related to this feasible impact. The
methodological reference for this research question was based on content analysis, through the
establishment of categories that guided the qualitative study of the interviewees ' discourse. The main
categories of analysis motivating the exchange for professional and career purposes: The family
influence, the choice of the country and the University of destination, the establishment of networkings
(social capital), the learning of foreign language for professional improvement, contact with different
cultures, and also the possibility of postgraduate studies with a view to the specialization. The
1
Este texto não foi publicado em nenhum encontro ou evento científico; (ii) passou pela avaliação do COEP e foi aprovado conforme
parecer Nº 576.154 relatado em 03/04/2014; (iii) não contou com financiamento; (iv) É fruto de pesquisa de doutorado realizado na
Faculdade de Educação (FaE/UFMG);
2
Doutora e Mestre em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG; Graduação em Filosofia pela UFOP; Professora do Ensino
Médio e Superior do CEFET/MG Uned. Araxá. Email: catbtorres@hotmail.com e catarina.gomes@araxá.cefetmg.br
3
Pesquisa orientada pela Pro. Drª. Maria Alice Nogueira com enfoque nas desigualdades de oportunidades ao acesso à
internacionalização da formação, defendida em outubro de 2016.
4
Doravante CsF
5
Países e Universidades conveniados ao Programa Ciência sem Fronteiras
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conclusion is that the exchange is a unique opportunity that extends beyond the anticipated
pedagogical and cultural benefits.
Keywords: Exchange. Vocational training. Career.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo fundamenta-se nos resultados obtidos no levantamento de dados para uma
recente pesquisa de doutorado realizada na Faculdade de Educação da UFMG na
linha de pesquisa Sociologia da Educação, cujo objetivo era investigar o fenômeno das
desigualdades sociais de acesso à mobilidade estudantil internacional ofertada pelo
Programa “Ciência sem Fronteiras, criado em 2011, pelo Governo Federal. Embora a
tese tenha investigado o acesso dos pesquisados à formação acadêmica internacional
como fenômeno intrínseco à obtenção, ainda precoce, de diversas oportunidades
educacionais, buscou-se conhecer e explorar a relação desses estudantes com o
intercâmbio em suas distintas dimensões como a formação profissional e a preparação
para a carreira, conteúdo deste trabalho.
A mobilidade acadêmica internacional no Brasil ampliou-se em larga escala em
decorrência do Programa Ciência sem Fronteiras. Contudo, a relação com a
formação profissional e com o desenvolvimento da carreira não tem sido objeto de
muitos estudos. Embora haja alguma literatura que enfoca o tema sob a perspectiva da
formação de capital humano, cabe evidenciar os possíveis impactos que esse amplo
Programa teria na carreira e profissão segundo a percepção de seus beneficiários.
O artigo está estruturado em três tópicos. No primeiro, elucida algumas de suas
dimensões conceituais quando enfoca a mobilidade acamica internacional como
fenômeno histórico. No segundo, apresenta-se a metodologia, seguida da análise dos
dados sob a ancoragem conceitual das categorias manifestadas no discurso do
pesquisado.
1.1 A MOBILIDADE INTERNACIONAL ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR:
FENÔMENO EM EXPANSÃO
Na segunda metade do século XX, com o desenvolvimento do processo de
globalização, os sistemas educacionais sofreram os impactos desse movimento que
abarca o fluxo mundial de bens, serviços, tecnologia, conhecimentos, pessoas, ideias,
costumes (Knight, 2004; 2012). A educação passa a ser uma das dimensões sociais
mais afetadas pela globalizão, constituindo-se em objeto de intervenções diretas e
indiretas de organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio
(OMC) que se ocupa, desde então, da regulamentão do comércio de serviços nessa
área.
Dentre as estratégias dos Estados nacionais para fazer face a esses novos parâmetros
mundiais, figuram investimentos na internacionalização do ensino superior que, nos
termos de Morosini (2006), resultam do esforço sistemático para que esse nível de
ensino responda aos desafios e requisitos de uma sociedade cuja economia e
mercado de trabalho são agora globalizados.
As sociólogas da educação, Darchy-Koerchlin & Van Zanten (2005) consideram que a
dimensão internacional dos sistemas de ensino e, em particular, dos sistemas de
ensino superior, desde a década de 1990, tem se desenvolvido na maioria dos pses
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e desempenhado um papel fundamental no advento da lógica do mercado por meio de
dois processos importantes: migração e internacionalização dos currículos. Assim, “a
mobilidade acadêmica [...] parece ter se tornado incontestavelmente um componente
da paisagem educacional na maior parte dos países do mundo, enfatizam Dervin e
Byram (2008, p. 9). Dados da Unesco, informam que o número de estudantes
universitários atualmente [em mobilidade] ultrapassa os 131milhões, ao passo que
eram 80 milhões há quinze anosiw (RUANO-BORBALAN, 2011, p.442).
Na vanguarda de uma política abrangente de internacionalizão do ensino superior, a
União Europeia instituiu, pela via do Tratado de Bolonha, uma reforma universitária
destinada à crião de um espaço de ensino superior europeu com equivalência em
todos os países da Comunidade propiciando e incentivando a circulão dos
estudantes europeus por todo o continente. Os dados estasticos da Organização para
Cooperão e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da (UNESCO) revelam a
cartografia do fenômeno da mobilidade, expondo no Atlas da Mobilidade Social a
distribuição de alunos internacionais no mundo. Com efeito, as estatísticas calculadas
por essas instituições mostram que os fluxos migratórios de estudantes incide a partir
dos países ditos do Sul (menos desenvolvidos) para os pses ditos do Norte
(desenvolvidos). Desse modo, os estudantes originários dos países da América Latina,
África e Ásia tendem a se dirigir para os Estados Unidos, Canadá e Europa Ocidental,
onde o estágio de desenvolvimento do conhecimento é considerado mais avaado e
cujas instituições universitárias desfrutam de maior reconhecimento e renome. A
principal destinação dos alunos móveis são os EUA, cuja participação global no
fenômeno é de 20%. O Reino Unido participa com 12% (em declínio) e França e
Alemanha com (8%), Austrália com (7%), China com (7%) e Canadá com (5%)
(ROBERTSON, 2011, p. 436).
1.2 A MOBILIDADE ESTUDANTIL NO BRASIL
No Brasil, a mobilidade acadêmica decorreu de uma políticablica do Estado
brasileiro, instaurada a partir dos anos 1950/60, após a crião das primeiras
universidades. A oferta de bolsas de estudo no exterior, em diferentes modalidades
(doutorado-sandche, pós-doutorado) era financiada, principalmente, pela Capes e
pelo CNPq, e consolidou-se ao enviar professores universirios para cursar a pós-
graduação fora do País. (NOGUEIRA, 2007).
Desde eno, a mobilidade internacional no Brasil se intensificou fortemente no
decurso dos últimos trinta anos, sendo que somente em 2003, dados da OCDE e da
UNESCO contabilizaram 16.465 estudantes brasileiros no exterior, a maioria, isto é,
56%, cursando um doutorado (cf. Ennafaa, 2004-2005, p. 324-325).
Contemporaneamente, o quadro da mobilidade acadêmica para o exterior no Brasil
ampliou-se, em razão da criação, em 2011, do Programa Ciência sem Fronteiras,
iniciativa de natureza política que situou a mobilidade estudantil no contexto da
internacionalizão no ensino superior em um patamar mais abrangente. A quantidade
de vagas e o financiamento do CsF representa o mais amplo investimento nessa área
no País, e responde a uma estratégia nacional de adequação às políticas ecomicas
globais, ao mercado mundial de bens e serviços e às exigências do mundo do trabalho.
Diante dessa nova contextualização dada à internacionalização da formação no Brasil
durante a vigência do CsF, torna-se oportuno focalizar o Programa a partir das
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perspectivas e expectativas daqueles que lograram se tornar um beneficiário de uma
bolsa do Programa.
1.3 O PROGRAMA CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS
O Programa consistiu em atividades de cooperação internacional e na concessão de
bolsas de estudos no exterior, operacionalizadas no âmbito da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e do Ministério da Educação
(MEC) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq). Trata-se de uma política de Estratégia Nacional de Ciência,
Tecnologia e Inovação (ENCTI) desenvolvida no período de 4 anos, respectivamente
entre 2012-2015. A meta inicial do Programa era a de distribuir 101 mil bolsas, para
estudantes universitários de diferentes níveis: graduação, pós-graduação e estágio
pós-doutoral. O maior número de bolsas foi reservado para a graduação, tendo sido
restritas às áreas de estudo consideradas prioritárias
6
, distribuídas entre as ciências
exatas, naturais e a tecnologia.
Alguns critérios foram relevantes para que as instituições de ensino pudessem se
conveniar ao Programa, como, por exemplo, que fossem vinculadas à Rede Federal de
Educação Superior e de Educação Profissional e Tecnológica ou pertencessem ao
sistema estadual de educação superior paulista, incluindo as instituições públicas e
privadas brasileiras com Índice Geral de Cursos (IGC) maior ou igual a quatro
7
.
Puderam ainda participar estudantes de instituições que tivessem IGC inferior a quatro,
mas Conceito Preliminar de Cursos de Graduação (CPC)
8
na área participante maior
ou igual a quatro. A Capes estabelecera que para participar do Programa, essas
instituições deveriam apresentar propostas para os editais abertos pelo MEC, arrolando
os cursos que pretendiam incluir. Após a avalião, as universidades com suas
propostas aprovadas receberam, para cada curso participante, um número de bolsas
com o fim de enviar os seus estudantes às universidades estrangeiras.
1.4 A UFMG NO CSF: BREVE SUMÁRIO
A UFMG, por meio de sua Diretoria de Relões Internacionais (DRI), promoveu ações
de divulgação do Programa CsF, prestando esclarecimentos sobre editais e instituições
conveniadas. Ressalta-se que, por se tratar de uma instituição experiente
9
na
promoção de intercâmbios, havia uma estrutura, uma logística interna que possibilitou
que a UFMG se destacasse dentre as Instituições de Ensino Superior públicas do
6
Áreas Prioritárias do Programa CsF: Engenharias e demais áreas tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra; Biologia, Ciências
biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação; Tecnologia Aeroespacial; Fármacos; Produção Agrícola Sustentável;
Petróleo, Gás e Carvão Mineral; Energias Renováveis; Tecnologia Mineral; Biotecnologia; Nanotecnologia e Novos Materiais; Tecnologias
de Prevenção e Mitigação de Desastres Naturais; Biodiversidade e Bioprospecção; Ciências do Mar; Indústria Criativa (objetiva a criação
de produtos e processos para desenvolvimento tecnológico e inovação); Novas Tecnologias de Engenharia Construtiva; Formação de
Tecnólogos.
7
O IGC é um indicador de qualidade que avalia as instituições de educação superior calculado pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais (INEP).
8
O CPC é um indicador de qualidade calculado pelo INEP, que avalia os cursos superiores.
9
Desde 1972, por meio dessa Diretoria, a UFMG gerencia convênios com universidades de diferentes países, incluindo a recepção de
estudantes estrangeiros, integrando conrcios de cooperação acadêmico-científico com países da Ásia, África, América Latina, Arica
do Norte, Austrália e Europa, mantendo a colaboração recíproca entre as áreas de novas tecnologias, ensino, pesquisa e extensão (DRI,
2015).
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Estado de Minas Gerais, ocupando o primeiro lugar no Estado e o segundo no País, no
envio de alunos
10
ao exterior, pelo CsF. A maior parte de estudantes era da
graduação,
11
e o restante
12
, da pós-graduação. Quanto às áreas prioritárias
predominantes destacaram-se as Engenharias e demais áreas tecnológicas, com o
maior número de beneficiários, seguida da área deBiologia, Ciências biomédicas e da
Saúde.
Os pses que ocuparam as primeiras posições como oão de destino dos bolsistas
da UFMG foram aqueles tradicionalmente procurados para essa finalidade, com
destaque para os EUA e o Reino Unido.
2. MOBILIDADE CIENTÍFICA PARA A FORMAÇÃO DE CAPITAL HUMANO
A formação de estudantes para a aquisição de saberes científicos fundamentais para o
desenvolvimento de pesquisas no campo da Ciência e Tecnologia (CT&I) tornou-se
uma particularidade do CsF frente a outros programas de mobilidade promovidos pelas
instituições de ensino superior no País. Dentre os objetivos do Programa que previa o
atendimento à qualificação de estudantes para atender a demanda da indústria
nacional, em tempos de incontestes avanços tecnológicos, cabe reconhecer sua
pretensão de formação de capital humano. Tal premissa, inerente à sociedade do
conhecimento, situa a educação como componente da produção, constituindo um dos
principais fatores que impactam o desenvolvimento econômico do mundo.
Para os países emergentes, a promão de programas de estudo no exterior
representa interesses pela aquisição de novos saberes, criados e patenteados em
países mais avançados, como defende Kim (1998). O objetivo desses programas é
levar o estudante a se aprofundar em sua área de estudo para compreender os
fenômenos em seu campo de atuão. A mobilidade estudantil, que ocorre do Sul para
o Norte, visa expor o estudante ao conhecimento produzido por instituições de ensino
superior que geralmente têm maior reconhecimento no campo científico, concordam
Kim, 1998;rüz, 2011; Banks & Bhandari, 2012. A exemplo de outros programas de
mobilidade, o CsF também está inserido nessa perspectiva do fluxo sul-norte.
A agenda do CsF, segundo o cientista político Eduardo Gomez (2012) e Spears (2014)
responde a um esforço por investimentos na educão da juventude e parece capaz
de avançar o capital intelectual do ps (general intellect) além de melhorar a
infraestrutura em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) relacionadas
à indústria. Um programa de mobilidade científica precisa ser visto como uma das
dimensões essenciais ao crescimento econômico, sobretudo, por estar atrelado à
dinâmica de desenvolvimento dos sistemas nacionais de aprendizado tecnológico
fundamentado na absorção de tecnologias dos países industrializados por meio do
processo de learning-by-doing
13
, acrescenta a pesquisadora Vânia Pereira (2015,
p.105).
A economia e a produção industrial dependem de investimentos em formação escolar
e acadêmica, com ênfase em ciência e tecnologia, afirmam Chiarini e Vieira (2012).
10
(N= 4098) = 9% dos matriculados naquele ano.
11
85% de 4098.
12
15% de 4098.
13
Aprender fazendo. (tradução livre)
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Nessa perspectiva reside o consenso de que a produção de conhecimento científico no
Brasil, apesar de bem qualificada, ainda encontra-se desvinculada das necessidades
do processo produtivo, ao contrário do que ocorre com os países em situão
econômica similar como a China, a Índia e a Coréia do Sul. Apesar da dimensão que a
tecnologia ocupa no mundo atual, e de sua influência nas economias mais
desenvolvidas, em nosso País, ela tem sido alijada do processo de produção do
conhecimento, refletindo certo distanciamento e desinteresse por parte do
empresariado que concebe a inovação como custo e não, como investimento
(PEREIRA, 2015).
3. METODOLOGIA
A metodologia descrita neste trabalho compreende o locus e o recorte da pesquisa,
delimitando seu contingente, suas características estruturais, além de explicitar seu
modus operandi.
3.1 TIPO DE ESTUDO E POPULAÇÃO DA PESQUISA
O presente estudo é qualitativo e resulta da análise de conteúdo de um conjunto de
depoimentos escritos. A população pesquisada consiste de um universo de 1538
estudantes dos cursos de graduação da UFMG, pertencentes a todas as áreas
prioritárias, os quais se beneficiaram de bolsa do Programa CsF no ano de 2013 (com
término do intercâmbio previsto para 2014), em resposta aos editais da CAPES e do
CNPq.
3.2 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS
O planejamento da pesquisa empírica implicou na definição de duas frentes de trabalho
para a coleta de dados. A primeira consistiu na coleta de dados secundários da
PROGRAD/COPEVE/UFMG
14
e do banco nacional de dados do CNPq, e a segunda,
na produção de dados primários, obtidos a partir da aplicação de um questionário
com questões fechadas e abertas a uma amostra extraída do universo acima
mencionado.
3.2.1 A COLETA DE DADOS SECUNDÁRIOS
A análise de dados secundários realizou-se por meio do acesso a um Data mart
nacional do CNPq,
15
o qual continha o cadastro de todos os alunos beneficiados com a
bolsa para participar Programa CsF, no período de 2012 a 2013, contendo uma
planilha com dados (nome, sexo, curso de origem, área prioritária, duração do
intercâmbio, país e instituição de destino etc.) dos estudantes da UFMG que
ingressaram no CsF no ano de 2013 (N=1538), e que se tornaram nosso universo
inicial de sujeitos. A partir dessa planilha, obtivemos junto à Diretoria de Relões
14
Comissão Permanente do Vestibular da UFMG, órgão vinculado à Pró-reitora de Graduação. Agradeço à Bréscia Franca Nonato,
pesquisadora que disponibilizou dos dados da COPEVE.
15
Agradeço a Alice Lopes, pela disponibilização da planilha do CNPq, bem como à DRI, pela disponibilização dos contatos dos
estudantes.
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Internacionais (DRI) da UFMG os endereços eletrônicos desses estudantes,
possibilitando assim, a posterior realização da coleta de dados primários.
3.2.2 A COLETA DOS DADOS PRIMÁRIOS
Os dados primários foram obtidos diretamente com os sujeitos da investigão, por
meio de um questionário com 26 questões fechadas e 34 questões abertas, aplicados
a uma amostra dessa população, por meio de “Amostragem Aleatória Simples.
Ressalta-se que o que define a amostragem simples são as características
homogêneas da população pesquisada. Ex: todos são estudantes da UFMG; são
estudantes que participaram de um mesmo programa de mobilidade; fazem parte do
mesmo recorte temporal. Desse modo, a amostra principal da pesquisa constituiu-se
de 508 estudantes que responderam os questionários fechados e abertos.
3.3 A ANÁLISE DE DADOS
A análise das questões abertas da pesquisa revelou um nível considerável de dados
sobre as expectativas dos intercambistas quanto ao impacto da internacionalização
acadêmica na formação profissional e na carreira. E, fundamenta-se, na conceituão
de Medri (2011) sobre as pesquisas qualitativas, definidas como aquelas que assumem
valores em categorias ou classes, e representam dados o numéricos que oferecem
um vasto espectro de aplicação nas ciências sociais. Além de denotarem
características individuais das unidades analisadas, o tratamento das variáveis
qualitativas permite estratificar as unidades para serem analisadas de acordo com
outras variáveis, possibilitando uma visão mais global do dado em relão todo.
Para a análise dos dados contidos nas questões abertas do questionário, adotaram-se
as técnicas da análise de conteúdo, conforme Laurence Bardin (1979) e Minayo (1998).
Para essas autoras, a análise de conteúdo na perspectiva categorial temática orienta a
descoberta dos núcleos de sentido que comem uma comunicação e sua presença
ou frequência pode ser significativa para o objetivo analítico perseguido, dando lugar à
análise interpretativa. Desse modo, opera-se por etapas, desmembrando o texto em
unidade e em categorias para reagrupamento analítico posterior, em dois momentos: o
inventário ou isolamento dos elementos e a classificação ou organizão das
mensagens a partir dos elementos repartidos. Para tais premissas qualitativas
trabalhou-se com o significado conceitual contido nos relatos escritos, destacando as
informões relevantes que pudessem acrescentar maior verossimilhança aos dados
explorados.
4. DISCUSSÕES DOS RESULTADOS
A análise dos dados qualitativos incidiu sobre um conjunto sistematizado de categorias
estabelecidas após a compilão dos dados. Observou-se e considerou-se categorias,
aquelas que se manifestaram sobre o tema formação profissional e desenvolvimento
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da carreira”: a) a opção pelo ps, b) a universidade de destino
16
,
c) o estabelecimento
de networkings (capital social), d) a aprendizagem de língua estrangeira para o
aprimoramento profissional, e) a influência familiar, f) a possibilidade da pós-graduação,
referindo-se à especialização para a carreira de pesquisa e docência universiria e, por
fim, g) o contato com diferentes culturas.
De acordo com a análise do extrato de respostas dos pesquisados, sistematizaram-se
as menções sobre o impacto dos estudos internacionais proporcionados pelo CsF na
profiso e carreira dos pesquisados. Além dessas categorias, observou-se que, a
maior parte dos entrevistados pontuou a perspectiva do crescimento pessoal, ao
acentuar a relevância do intercâmbio como um importante degrau para seu
desenvolvimento acadêmico e cultural, como se depreende dos depoimentos abaixo:
O intercâmbio acrescentou, não somente academicamente, como profissionalmente, mas
também me proporcionou um crescimento pessoal inimaginável. (Aluno do Curso de
Arquitetura e Urbanismo)
O CsF foi uma experiência única para mim e me ajudou a me desenvolver pessoal e
profissionalmente: passei em todas as matérias, escrevi um artigo bem bacana que foi
publicado em um congresso em Madri, participei de um projeto de desenvolvimento de
produto (IDPS), tirei o DELE
17
, conheci diversas culturas, me tornei mais patriota, passei a
querer, ainda mais, mudar e ajudar o país em que vivo, etc. (Aluna do Curso de Eng. de
Produção)
Novos aprendizados, uma nova experiência profissional, um novo idioma, uma nova
cultura, uma outra experiência de vida, muita história para contar, enfim, eu pensava que
intercâmbio era somente estudar em outro país. Sim, esse é o objetivo principal, mas com
ele existem muitos outros e com inúmeras ramificações. Sem dúvida posso dizer que volto
outra pessoa para o meu país, família e universidade. Enfim, o intercâmbio acrescentou
não somente academicamente, como profissionalmente, mas também me proporcionou
um crescimento pessoal sem igual. Retornaria uma outra pessoa. (Aluno do Curso de
Arquitetura e Urbanismo)
Fiz alguns amigos na faculdade que passaram por intermbio internacional. Todos me
falaram muito bem da experiência, então, depois de pesquisar e ouvir muitos relatos, decidi
fazer um intercâmbio visto que seria de extrema valia, tanto para o campo pessoal, quanto
profissional. (Aluno do Curso de Fisioterapia)
O CsF é um programa de importância sem igual, pois possibilita aos estudantes o
conhecimento de diferentes culturas e a vivência de novas experiências, além de contribuir
com a formação como profissional e possibilitar crescimento como pessoa. (Aluno do
Curso de Farmácia)
Sempre tive o desejo de conhecer e morar em outro país, e quando se está na faculdade
buscando por um espaço no mercado de trabalho, experiências como essa contam
muitíssimo para uma aprovação. Sendo assim, pude unir algo que sempre desejei fazer,
mas infelizmente, não tinha condições, com algo que faria a diferença na minha formação
e carreira. (Aluno do Curso de Eng. Aeroespacial)
O impacto desse processo de internacionalização da formação é, do mesmo modo,
frequentemente lembrado nos depoimentos como uma experiência extremamente
16
Países e Universidades conveniados ao Programa Ciência sem Fronteiras.
17
Diplomas de Espanhol como Língua Estrangeira (DELE)
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positiva e promissora para a carreira profissional, concebida em articulação com a
condição do desempenho pessoal e acadêmico:
Para mim, esta experiência foi super válida! Não apenas no meu crescimento como
profissional, mas também pessoal. (Aluno do Curso de Matemática).
Como toda a experiência, aprendi muito como também consegui definir novos parâmetros
na minha vida profissional. (Aluno do Curso de Fonoaudiologia).
Foi uma experiência engrandecedora tanto no sentido profissional, quanto pessoal. (Aluno
do Curso de Arquitetura e Urbanismo).
É uma grande oportunidade de troca de conhecimento, de vivência, de crescimento
pessoal, profissional. Essa experiência oferecida pelo CsF não tem preço. (Aluno do Curso
de Fisioterapia).
É notória, por sua vez, a percepção pragmática dessa experiência com relão à
perspectiva de futuro profissional, como se lê abaixo:
Irá me ajudar no futuro profissional porque é uma grande oportunidade de crescimento
pessoal e profissional. (Aluno do Curso de Design).
Saímos daqui pessoas completamente diferentes do que chegamos. Mudamos nossa
visão de mundo e alcançamos maior amadurecimento pessoal e profissional (Aluno do
Curso de Fonoaudiologia).
Sim. pode ser útil profissionalmente no futuro. (Aluno do Curso de Eng. da Produção).
A experiência mais enriquecedora que eu poderia ter, tanto profissionalmente, quanto
pessoalmente. (Aluno do Curso de Eng. Química).
Sim, considero uma oportunidade ímpar, penso que todos deveriam ter acesso. É um
crescimento em todos os âmbitos, pessoal, profissional, cultural e educacional. (Aluno do
Curso de Eng. da Automação).
Escolhi fazer intercâmbio porque vi essa oportunidade como uma chance de enriquecer
minha carreira profissional e meus conhecimentos. (Aluno do Curso de Estatística).
Sem dúvida é um programa que propicia uma incrível experiência, e se levada a sério,
consegue bons frutos para a carreira profissional. (Aluno do Curso de Matetica
Computacional).
Para se entender o papel da categoria País de destino na constituição das
motivações relacionadas à perspectiva profissional, é preciso atentar para o fato de que
a escolha de país de destino em um intermbio o é aleatória. Há, inclusive, um
ranqueamento entre os países que mais acolhem estudantes no mundo. Estudiosos do
fenômeno como Altbach e Engberg (2014), Ruano-Borbalan (2011), Darchy-Koerchlan
(2011), Ballatore (2007; 2008a) e Ballatore e Blöss (2007; 2008), Wagner (1998),
Knight (2005) e Filippetti (2007), Larsen e Vincent-Lancrin (2002), Erlich (2012)
discutem as dirões que tomam os fluxos estudantis internacionais, os quais refletem
as relações de dominão econômica e cultural entre países. Como referido
anteriormente, é comum aos países do Sul e alguns da Ásia enviarem seus estudantes
para pses economicamente desenvolvidos, vislumbrando uma formação que
compreende tanto a qualificação profissional e técnico-científica, quanto a proficiência
em idiomas, sobretudo, o inglês.
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No exame das expectativas que motivaram os pesquisados a se candidatarem a um
programa de mobilidade, observou-se que eles levam em considerão a relação entre
sua área de formão profissional e o ps de destino, demonstrando um
conhecimento do próprio campo de formação e pesquisa, como se pode ler nos
depoimentos abaixo:
A Alemanha foi uma escolha própria, pois tenho muita admiração pela história do país e sei
que atualmente é muito forte na minha área de formação profissional. Estudo aleo
desde o primeiro período da faculdade, pois sempre tive como objetivo fazer um
intercâmbio neste país. Minhas expectativas eram boas e foram atendidas. (Aluna do
Curso de Engenharia Elétrica).
Escolhi meu país de destino baseado em sua importância para minha área de estudos. Sei
que se importantíssimo para minha carreira (Aluno do Curso de Engenharia Menica).
Porque a Alemanha é um polo muito importante para a minha área de profissionalização.
Foi uma escolha ppria. A cultura daqui (Alemanha) é muito diferente, inclusive no que se
refere às relações interpessoais. (Aluno do Curso de Engenharia Química).
Escolhi os Estados Unidos porque quero direcionar minha carreira para um campo
espefico. Campo, esse, que os Estados Unidos é o melhor do mundo. (Aluno do Curso
de Engenharia da Produção).
O destino para a Ilia teve a ver com o objetivo de pesquisa. Berço da reforma psiquiátrica,
a Itália influenciou em grande parte a história da psiquiatria mineira. Neste sentido, estudar
hoje os serviços de lá, promoveria uma ampliação de nosso know-how.
18
(Aluna do Curso
de Psicologia).
Escolhi os EUA porque já tinha facilidade com a língua nativa do país. Além disso, o
investimento em pesquisa científica é enorme (minha área de interesse profissional). Tudo
o que eu sabia sobre o lugar é o que a gente vê em filmes. A maioria das coisas realmente
foi o esperado. (Aluna do Curso de Engenharia Química).
Escolhi o Reino Unido como reopção, porque adoro a cultura do país e pela localização
(Europa) e língua. Uma professora da UFMG me indicou a universidade. A universidade é
muito boa, acredito que será ótimo para minha vida profissional. (Aluna do Curso de
Engenharia da Produção).
As universidades de destino,
19
por sua vez, constitram-se em uma categoria de
análise estreitamente ligada à formação profissional e oportunidade de crescimento na
carreira. Os depoimentos dos pesquisados repercutiram o apreço à reputação dessas
instituições, muitas vezes, citando rankings internacionais e desenvolvimento técnico-
científico em áreas específicas.
Vale sinalizar que os rankings internacionais de classificação das instituições
universitárias são reconhecidos como um auxílio para quem pretende escolher uma
universidade estrangeira. Os estudantes pesquisados citaram a consulta nos rankings
de maior credibilidade internacional, tais como o Times Higher Education, o QS World
University e o Academic Ranking of World Universities, conhecido como índice de
18
Saber como (livre tradução)
19
É importante ressalvar que tanto o país de destino quanto a instituição de destino, nem sempre foram objeto de escolha, visto que
houve também um processo de direcionamento involuntário para instituições que atendiam a uma demanda maior de bolsas. Essa
relação dependeu de outros fatores como notas em exames de proficncia na língua estrangeira, índices de desempenho escolar, origem
acadêmica, entre outros relacionados às regras de convênio entre os países.
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Shanghai. De acordo com Santos (2015), há menos de uma década, os rankings
universitários mundiais alcançaram um poder que tem se tornado crescente,
influenciando políticas, processos avaliativos, decisões de investimento e
reestruturação institucional. No cerne da comparação global, por eles realizada, es o
desempenho em pesquisa (p. 6).
Eu fui para fazer pesquisa, as disciplinas que cursei eram na verdade seminários de
pesquisa. Como trabalhava como estagiária (não remunerada, apenas ganhando a bolsa
do CsF), o mais relevante mesmo foi a experiência em um outro laboratório, entender o
funcionamento da pesquisa fora do Brasil, trabalhar com variáveis fisiológicas e genéticas
além de neuropsicológicas (esta última de minha especialidade). Além disso, pude
participar de discuses teóricas com professores PhDs, o que foi bem diferente e me
ajudou a aprender bastante do método científico. Ajudei a criar um método de análise e
participei da escrita de um artigo e de pôsteres científicos. (Aluna do Curso de Psicologia)
Experiência pessoal e profissional, principalmente. Além disso, havia visitado a
universidade em que estou estudando, e sempre tive como objetivo estudar aqui, pelo
menos, por um tempo (mesmo antes de existir o CsF). (Aluno do Curso de Comunicação
Social)
Em vários relatos os estudantes esclareceram que buscaram conhecer previamente a
reputação das instituições universitárias a que se dirigiam, em fuão dos rankings:
[Eu] queria o curso de neurosciences por ser aluna de iniciação dos laboratórios de
neurociências da Faculdade de Medicina da UFMG (INCT
20
- Medicina Molecular). E
escolhi a University of Glasgow por ser top 50 das universidades europeias em alguns
rankings (Aluno do Curso de Medicina).
Eu fiz uma pesquisa para descobrir qual era o melhor curso de Engenharia de Produção
dentre as que estavam sendo ofertadas. Dei uma olhada na grade do curso de todas e em
rankings, e acabei optando pela University of Strathclyde/UK
21
. (Aluno do Curso de Eng.
de Produção).
Fiz questão de escolher uma universidade de mérito dentro da Inglaterra, levando em
consideração rankings nacionais e internacionais. (Aluno do Curso de Eng. Metalúrgica).
Pesquisei bastante sobre as opções disponíveis, bem como universidades disponíveis no
programa. (Aluno do Curso de Eng. Civil).
Levando em conta principalmente rankings das melhores universidades do mundo. (Aluno
do Curso de Engenharia Menica).
Dentre as universidades que permitem entrada no semestre que eu me inscrevi University
of Strathclyde/UK era a melhor em vários rankings mundiais. (Aluna do Curso de Eng.
Elétrica).
O que eu sabia sobre a universidade vinha de rankings e de um ex-bolsista do CsF. Pelos
rankings de respeito, a universidade [Universidade de Winsconsin] era excelente e
segundo o ex-bolsista, tanto a universidade quanto a cidade eram também excelentes.
(Aluno do Curso de Eng. de Automação).
Para ampliar meu conhecimento, experimentando metodologia e enfoque diferentes em
uma universidade de excelência. A experiência acrescenta uma perspectiva globalizada
20
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia.
21
Reino Unido.
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sobre a minha área de formação, concebendo uma vio crítica, realista e abrangente da
sociedade, que é um grande diferencial na carreira profissional. (Aluno do Curso de
Medicina).
Escolhi a Universidade de destino porque sabia que era uma ótima universidade, muito
forte na minha área, com muitas oportunidades, e também por causa de um profissional
que hoje em dia é considerado o melhor dos Estados Unidos na área em que eu quero
trabalhar. (Aluno do Curso de Sistemas de Informação).
No que concerne aos países e instituições, para além da escolha do destino, a
possibilidade de constituição de uma rede de contatos, abordada pelo campo
administrativo comonetworking, também foi lembrada pelos pesquisados. É inegável,
na análise dos depoimentos, a forte relação entre o intercâmbio e o interesse na
constituição de uma rede de relacionamentos para o estabelecimento de parcerias,
entre outras oportunidades, como a participação mais duradoura em projetos de
pesquisa, inclusive, estágios. Na literatura, essa categoria pode ser reconhecida como
uma forma de obteão de capital social, que segundo Bourdieu (1986), consiste em
um agregado de recursos, disponíveis ou potenciais, ligados à posse de uma rede de
relações duráveis, mais ou menos institucionalizada, de conhecimento e
reconhecimento mútuo (ou, em outras palavras, ao pertencimento a grupos); que dota
cada um dos membros com o apoio do capital coletivo (BOURDIEU, 1986), como se
percebe nos depoimentos seguintes:
Conheci pesquisadores e professores na minha área que me ofereceram diversas
oportunidades e estão interessados em criar parcerias com pesquisadores no Brasil. Como
pretendo seguir carreira acadêmica, esse tipo de contato é essencial e abre portas para o
desenvolvimento tanto pessoal como científico. (Aluno do Curso de Sistemas de
Informação).
Networking é indispensável para crescimento na vida profissional. (Aluno do Curso de
Eng. Química)
Ainda, conforme Bourdieu (1986), as redes de relões são produto de investimentos e
estratégias conscientes ou inconscientes, individuais ou coletivas, com a finalidade de
estabelecer ou reproduzir relações que sejam úteis a curto ou longo prazo, e a sua
reprodução exige esforços contínuos de sociabilidade.
Eu me esforcei bastante lá e, como disse, fiz esgio, o que eu acho que contribuiu
bastante para o meu desenvolvimento profissional e para o meu currículo (Aluno do Curso
de Biomedicina)
Uma oportunidade fantástica, eu diria. Em todos os âmbitos. Fiz um estágio de 900 horas
que me proporcionou melhorar o curculo aqui no Brasil e conseguir estágios melhores,
além de boas oportunidades de emprego. Além disso se conhece e convive com outras
culturas, o que nos engrandece muito como pessoa. (Aluna do Curso de Eng. Elétrica)
Conheci pessoas do meu curso e do meu país, além de professores da Hungria. Podem
ser muito importantes profissionalmente no futuro (Aluno do Curso de Eng. Metalúrgica)
Estabeleci muitos contatos, isto é fundamental para minha vida acadêmica e profissional.
(Aluno do Curso de Medicina)
Fiz vários amigos durante o intercâmbio. Isso é ótimo tanto pessoalmente quanto
profissionalmente (Aluna do Curso de Eng. Ambiental)
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Em primeiro lugar, citaria o contato com outras universidades, uma oportunidade de
desenvolver o nosso percurso e todo de pesquisa. Segundo uma relação sadia com os
maiores centros formadores de conhecimento, uma oportunidade de ampliar o contato e
assim acelerar o desenvolvimento de produtos e soluções. Terceiro, contato com outras
línguas. Último, experiência individual acadêmica, profissional e pessoal. (Aluna do Curso
de Eng. de Automação)
É possível ler nos depoimentos abaixo que os pesquisados referiram à amizade com
novos colegas e professores, citando a representatividade dessas relações tanto para a
perspectiva pessoal, quanto por ser um legado que pode influenciar no futuro
profissional, corroborando a literatura sociológica sobre o fenômeno da composição do
capital social como jogo estratégico para as relações profissionais.
Eu conheci pessoas de vários lugares do mundo e de muitos lugares diferentes no Brasil,
acho isso importante do ponto de vista profissional e de amizade também. (Aluna do Curso
de Farcia)
Fiz rios novos amigos que foram de grande importância no decorrer do intercâmbio, e
que podem ser no futuro de utilidade profissional também. (Aluna do Curso de Eng.
Elétrica)
Muito importante para a vida pessoal e profissional, porque abre novas oportunidades e me
permite conhecer pessoas novas. (Aluno do Curso de Eng. de Automação)
Com certeza, dos colegas e amigos aos professores e orientadores. Esse é, talvez, o
legado mais importante que terei, pois, uma boa rede de contatos (um bom Networking) é
de extrema importância para um profissional bem-sucedido. (Aluna do Curso de Eng.
Elétrica)
Sem dúvida nenhuma, foi a oportunidade de mudar minha vida, e tenho confiança pra
dizer que minha carreira profissional não seria a mesma sem essa experiência na
Austrália. Todo o aprendizado, networking, experiências proporcionadas pelo programa
fazem do CsF algo único com possibilidades que eu considero praticamente ilimitadas.
(Aluna do Curso de Eng. Elétrica)
Sim, diversos contatos, tanto no que concerne amigos quanto contatos profissionais no
que diz respeito ao estágio que pude fazer dentro da universidade. (Aluno do Curso de
Eng. Civil)
Minha rede de contatos nunca foi tão grande eo boa. Acredito que além das amizades
que fiz aqui, os meus professores serão ótimos contatos para minha carreira. (Aluna do
Curso de Eng. Ambiental)
Sim. Tenho um grande número de amigos aqui e contatos profissionais, o que é muito
importante para a minha carreira, pois sempre terei a assistência deles, assim como portas
abertas. (Aluna do Curso de Eng. Elétrica)
Outra perspectiva frequentemente relacionada à formação profissional e investimento
na carreira decorre da percepção de que a língua estrangeira, embora seja uma
condição fundamental para o intercâmbio, é, ao mesmo tempo, um objetivo da
mobilidade acadêmica, tendo em vista seu aprimoramento. Uma ampla maioria dos
estudantes pesquisados (cerca de três quartos) declararam grande capacidade em
leitura e compreensão da língua inglesa, porém afirmaram a necessidade de melhorar
a fluência e alcançar um bom nível de conhecimento no idioma dominante em seu
campo científico e profissional, como reflete abaixo a fala de uma estudante do Curso
de Engenharia de Automação
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Escolhi os EUA pela língua, sempre quis me tornar fluente em inglês, o que acho que será
fundamental para minha carreira. Não sabia muito sobre a universidade pois fui
direcionada para ela, mas estou gostando bastante.
Outros estudantes associaram o intercâmbio à escolha de um país que favorecesse a
obtenção de uma língua estrangeira que estivesse diretamente relacionada à formação
profissional e com as oportunidades na carreira. Essa relação entre a escolha do país e
ngua foi estudada no contexto do programa Erasmus
22
por BALLATORE (2008), a
qual concluiu que é flagrante o desequilíbrio na escolha dos países em fuão da
língua, o que faz da Grã-Bretanha o primeiro destinatário dos deslocamentos de
estudantes da União Europeia. Essa mesma estudiosa declara que há uma notável
hierarquia linguística no mundo com certa supremacia da utilidade do idioma Inglês
(BALLATORE, 2007, p. 75). Como exemplo, ela revela que, aos olhos dos
organizadores do programa Erasmus, a escolha, pelo candidato, por um ps
anglófono se reveste de alto valor, fazendo com que esses estudantes sejam os
primeiros a serem selecionados. Sem falar no fato de que a língua inglesa ganha cada
vez mais proeminência como língua da comunidade científica em razão de seu papel
na disseminação da ciência (ROBERTSON, 2012, p. 438).
A autora Laurie Endrizzi (2010), outra estudiosa do Programa Erasmus, considera que,
a principal motivação do candidato à esse Programa de mobilidade, reside na
oportunidade da experiência e prática de uma língua estrangeira. Ainda no que
concerne ao Erasmus, as pesquisas detectam que os estudantes contemplados
apresentam um nível elevado de competência em línguas estrangeiras e desejam
frutificar esse capital: em torno de 75% se declararam proficientes em três línguas e
32% em quatro ou mais (SOUTO-OTERO et al., 2006).
De maneira geral, a maior parte dos estudantes pesquisados reconhece o papel chave
que a obtenção de uma língua estrangeira desempenha nesse movimento migratório,
que em termos de uma competência inicial, esperada ou requerida está vinculada à
perspectiva da vida profissional. Os depoimentos abaixo corroboram os estudos
citados:
Eu escolhi a Irlanda, por se tratar de Inglês que é de fato muito importante para qualquer
profissional. (Aluna do Curso de Eng. Civil)
Trata-se de uma experiência incrível que permitiu com que eu me tornasse fluente no
inglês, algo essencial para a minha carreira profissional (Aluna do Curso de Eng. Elétrica)
Escolhi país de língua inglesa, pois é essencial para minha carreira.(Aluna do Curso de
Farcia)
Experiência pessoal, desenvolvimento nas habilidades linguísticas e profissional. (Aluna do
Curso de Eng. Civil)
Foi uma experiência incrível que permitiu com que eu me tornasse fluente no inglês, algo
essencial para a minha carreira profissional (Aluna do Curso de Eng. Civil)
As famílias também mostram-se como apoiadoras do intercâmbio. Repercutem-se nas
entrevistas, expressões que corroboram expectativas da família pela melhoria das
oportunidades relacionadas à profissão e carreira. Conforme Nogueira,as famílias que
22
Trata-se de um amplo programa de mobilidade acadêmica intitulado European Region Action Scheme for the Mobility of University
Students, (ERASMUS).
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mantêm, no lar, um clima favorável ao contato direto e continuado com os modos de
vida e costumes estrangeiros são mais aptas a produzir indivíduos predispostos a
aceitar e até mesmo a procurar experiências de alteridade cultural (NOGUEIRA,
2007, p. 24).
Meus pais esperam que, além de evoluir profissionalmente, eu aproveite pessoalmente
meu tempo aqui. (Aluna do Curso de Farcia)
A reação da minha falia foi muito boa, sabiam que era uma oportunidade única pra mim
a qual seria muito importante no futuro pessoal e profissional. (Aluna do Curso de
Enfermagem)
Minha falia acredita que essa oportunidade se ótima para meu futuro profissional.
(Aluna do Curso de Radiologia)
A família apesar de ser contra a experiência de morar do outro lado do mundo por um ano,
aceitou e apoiou que era um investimento na minha carreira profissional. (Aluna do
Curso de Engenharia Química)
Minha falia acredita que isso fa grande diferença na minha vida pessoal e profissional.
(Aluna do Curso de Fonoaudiologia)
A pergunta sobre o porquê da opção pelo intercâmbio, trouxe como perspectiva de
análise a categoria: oportunidade de crescimento acadêmico com vistas à Pós-
graduação, já que evidenciou a relação intrínseca entre a especialização acadêmica e
formação profissional nos depoimentos apresentados a seguir:
Sim. Porque é uma oportunidade de poder retornar e cursar uma pós-graduação, além do
contato profissional. (Aluno do Curso de Eng. Metalúrgica)
Sim, tanto socialmente quanto profissionalmente. Isso é muito importante tendo em vista
que gostaria de fazer pós-graduação no exterior para alavancar a minha carreira (Aluna do
Curso de Arquitetura e Urbanismo)
Boa chance de crescimento acadêmico e profissional (Aluno do Curso de Medicina)
Para crescimento pessoal e interpessoal, ao entender uma sociedade com cultura tão
distinta da cultura brasileira; e crescimento acadêmico-profissional, por estudar em uma
das maiores e melhores universidades japonesas. (Aluno do Curso de Eng. de
Automação)
Vários foram os motivos: experiência pessoal, cultural, acadêmica e profissional.
Oportunidade de melhorar um idioma estrangeiro, de ter contato com excelentes
universidades no exterior e até mesmo "networking" para o futuro (Mestrado, Doutorado).
(Aluna do Curso de Engenharia Civil)
Do mesmo modo, a carreira acadêmica também foi lembrada como facvel
desdobramento de uma pós-graduação almejada a partir das experiências do
intercâmbio, como se lê nos depoimentos abaixo:
Isso é de grande importância, por tenho um grande interesse em seguir carreira acadêmica
e pretendo fazer uma pós-graduação no exterior, possivelmente retornando ao local onde
fiz o estágio. (Aluna do Curso de Eng. Elétrica)
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Experiência em diversas áreas dentro da universidade. Participação em pesquisas e
monitoria. Acredito que essas o experiências riquíssimas a minha vida profissional,
que pretendo seguir carreira acadêmica. (Aluna do Curso de Eng. Mecânica)
Por fim, os estudantes elegeram as experiências culturais como aliadas da formão
profissional e da carreira. Citando o conhecimento e a vivência de uma cultura diferente
como contribuições para o desenvolvimento pessoal e cultural, os entrevistados
deixaram claro que essa era uma das dimensões do intermbio que sempre esteve
articulada à formão profissional e aprimoramento da carreira.
Foi muito proveitoso, conheci outra cultura, percebi o quanto os alees e colegas leste-
europeus o focados e dedicados. Tive um bom desempenho, me dediquei, estudei e fui
aprovada nas disciplinas que cursei com notas boas. Me formei em dezembro de 2013 e
estou empregada na empresa em que estagiei quando retornei do intercâmbio. Acredito
que o intercâmbio foi muito bom para meu desenvolvimento pessoal/acadêmico/
profissional. (Aluna do Curso de Eng. Civil)
Porque eu queria vivenciar uma cultura diferente, aprimorar o inglês, conhecer a realidade
das universidades do exterior, complementar minha formação profissional (Aluna do Curso
de Ciências Biológicas)
Intermbio contribui não só para o nosso desenvolvimento pessoal e cultural, mas
também para o nosso desenvolvimento profissional. (Aluno do Curso de Geologia)
Estudiosa do fenômeno da mobilidade estudantil, Murphy-Lejeune reconhece a
mobilidade intercultural ou (transnacional) como o confronto do indivíduo com um
mundo desconhecido, cujas regras de navegação ele não domina”, (2003, p.61). De
todo modo, trata-se de uma experiência de adaptação que expõe o indivíduo à
transição entre dois mundos diferentes, levando-o a passar pelo status deestrangeiro
temporário, mesmo que em seu próprio ps.
A partir desta experiência pude conhecer pessoas de diversos países assim como do meu
próprio país. Isto me enriqueceu tanto culturalmente quanto profissionalmente. (Aluno do
Curso de Geografia)
O intermbio também é uma oportunidade de conhecer novas pessoas e desenvolver
habilidades linguísticas e de vivência, proporcionando a compreeno de outras culturas e
a adaptação a novos ambientes. (Aluno do Curso de Eng. de Automação)
De acordo com Nogueira, a experiência de uma temporada de estudos fora do país
repercute na vida desses jovens de várias maneiras” (2011, p.148). Para essa
estudiosa do fenômeno, observa-se a influência da mobilidade acadêmica tanto no
domínio de línguas estrangeiras, provendo proficiência para futuros exames, inclusive,
os de admissão na universidade, quanto na influência nas definições de uma carreira
escolar. Ademais, admite-se a ampla possibilidade de maior aproveitamento da
formação quando os estudantes voltam ao ps, e gras à experiência que o
intercâmbio tende a proporcionar, principalmente aos matriculados no ensino superior,
reconhece-se uma visão redimensionada de seu curso, o que, inevitavelmente,
estende-se à perspectiva de sua formação profissional e carreira.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A questão da formação profissional e da carreira, quando analisada, sob o ângulo da
mobilidade acadêmica internacional dos estudantes da UFMG, que participaram do
CsF no ano de 2013, tal como tratado nesse artigo, evidenciou a correlão do
fenômeno da formação profissional e da carreira a outras variáveis presentes no
discurso dos pesquisados.
Dentro dos limites desse trabalho, ficou demonstrado que a realizão de estudos
internacionais é intrínseca à ampliação das perspectivas no campo profissional e da
carreira, bem como se atrela ao desenvolvimento pessoal. A internacionalização da
formação acadêmica foi entendida pelos pesquisados como uma oportunidade de
maior proficiência na língua estrangeira, sobretudo o inglês, que como língua universal,
atende às exigências globais profissionais. Do mesmo modo, revelou-se que as
motivações familiares constituem uma força motivadora, que reforça a perspectiva
pragmática do impacto dessa experiência no processo de profissionalização. Não
menos importante, o intercâmbio mostrou-se relevante para o estabelecimento de uma
rede de contatos vista como possibilidade futura de relações promissoras nos países e
universidades de destino. A dimensão cultural, por sua vez, foi lembrada pelos
entrevistados como um elemento fundamental no processo de mobilidade acadêmica,
considerando-se maior abertura de espírito para a convivência e entendimento das
relações interpessoais.
Nesse sentido, espera-se que o artigo tenha evidenciado que o impacto principal da
mobilidade acamica na vida dos intercambistas do CsF está profundamente
arraigado ao entendimento de que essa experiência é uma oportunidade de
crescimento pessoal, acadêmico e cultural em profunda articulão com a formão
profissional e dimensionamento da visão pessoal e da carreira. Ademais, cabe ressaltar
que, a partir da leitura dos depoimentos, as fronteiras científicas foram entendidas como
transpoveis, tendo em vista vínculos futuros que envolvem possibilidade de
especialização e de parcerias em pesquisas internacionais.
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