Trabalho & Educação | v.28 | n.2 | p.245-255 | maio-ago | 2019
formação para o trabalho passa a significar formação profissional, e, assim, a
emergência das profissões modernas se constitui em atendimento à divisão técnica e
social do trabalho que se mostram no cenário do capital classificadas de acordo com as
classes a que se destinam: operários, técnicos, engenheiros, cientistas e assim por
diante.
Enguita (1993) argumenta que o ensino, no interior da sociedade capitalista, tem
cumprido o papel de qualificar a força de trabalho necessária ao atendimento das
demandas da produção. Nesse sentido, o autor defende que a educação se
caracteriza no plano simbólico e concreto, como um processo privilegiado para a
inculcação da cultura à qualificação para o trabalho.
Ao analisar o papel da escola, na sociedade moderna, Saviani (2008) apresenta
indícios de que essa escola, baseada nas relações formais (contratuais), vai trazer
consigo a exigência de generalização e massificação, pois “[...] a produção centrada na
cidade e na indústria implica que o conhecimento, a ciência que é uma potência
espiritual, converta-se através da indústria, em potência material” (p. 155, 156).
Nesse sentido, o modelo de escola requerida pela sociedade capitalista exige que a
qualificação do trabalhador esteja voltada para a produção e reprodução do capital e
para o regime fabril de trabalho. O que remete, simultaneamente, à existência de
práticas educativas que ajudam a legitimar o estatuto do trabalho considerado
qualificado (RAMOS, 2011).
A qualificação é compreendida como uma construção social dinâmica, isto é, tomada
como um constructo, que é síntese, das dimensões: conceitual, social e experimental
eivada de “[...] múltiplas dimensões, que caracterizam esse conceito e que ordenam
práticas e procedimentos concretos no plano das relações sociais de produção,
construindo códigos de sociabilidade associados à cultura do trabalho” (RAMOS, 2011,
p. 54 - 61).
O trabalho qualificado para o capital, ora é o trabalho “[…] parcelizado, fragmentado e
repetitivo […] operacionalizado por uma força de trabalho pouco qualificada ou sem
nenhuma qualificação […]” (NOGUEIRA, 2009, p. 76). Ora é o trabalho exercido por
meio do domínio técnico, seja de maquinário, seja das novas tecnologias, bem como, o
preparo para situações de imprevisibilidade, requisitos para o exercício da polivalência,
que se caracteriza como um perfil de trabalho que exige pessoas mais qualificadas,
todavia, uma qualificação afinada às demandas do capital.
Assim, o “diploma escolar” (estatuto formal) é frequentemente almejado e perseguido
pelos aspirantes aos postos de trabalho como uma interface entre formação, emprego
e remuneração. Embora a certificação não seja o único e principal pressuposto de
qualificação, como assevera Ramos (2011), essa certificação irá “formalmente”
garantir, em tese, o nível de domínio e conceitos de conhecimentos exigidos pelo
mercado de trabalho, bem como, o status almejado.
A exploração de fontes de mão de obra qualificada, abundante e barata, cuja “[...]
transmissão de know-how, proporcionam um ambiente de produção que gera
economia de custo. Tal situação incentivou certas companhias de origem americana ou
britânica a deslocarem sua produção [...]” (CHESNAIS, 1996, p. 203).
No movimento do capital, em busca de países de capitalismo menos desenvolvido,
com pouca ou inexistente ação sindical, e mão-de-obra inexperiente e barata, instala-se
no Estado do Amazonas, a Zona Franca, Polo Industrial de Manaus (PIM), entre 1957