O Caminho Velho das Minas: a descrição de Antonil, os mapas coevos e a cartografia moderna

Autores

  • André Rezende Guimarães

Palavras-chave:

Antonil, Caminho Velho, Minas Gerais, Século XVIII

Resumo

O uso de fontes cartográficas em estudos de História tem ganhado popularidade entre as pesquisas sobre o Brasil. Essa tendência ganhou maior força durante os últimos dez anos, embora, de forma geral, não seja algo recente na historiografia. No entanto, a falta de conceitos definidos, ferramentas analíticas e metodologia específica dentro da historiografia para tratar das idiossincrasias da produção cartográfica de sociedades passadas ou, mesmo, presentes faz com que tal tipo de fonte não seja aproveitado em seu verdadeiro potencial. Diferenciar mapas e cartas de ilustrações e iconografia — outro tipo de fonte cada vez mais popular no campo da História — e reconhecer seu papel como ferramenta que ajuda a entender o espaço, permitindo seus usuários a viajar por ele, explorá-lo, registrá-lo e planejá-lo, é fundamental no uso de tais fontes. Para tanto, é preciso se familiarizar com o uso dessas ferramentas, reconhecendo suas relações intrínsecas com medidas, direções e tempo, que são elementos físicos. Com isso, é preciso, também, desenvolver o hábito de observar o espaço real sobre o qual os mapas e cartas discorrem e de fazer referências a cartas produzidas com técnicas modernas, que têm fidelidade bem maior do que aquelas de períodos históricos anteriores. Para exemplificar a importância desses temas, essa comunicação buscará analisar a descrição do chamado Caminho Velho das Minas, feita pelo religioso Antonil na virada dos séculos xvii e xviii, e as suas relações com o espaço físico real — com o auxílio de cartas modernas — e com o modo como o espaço era percebido em cartas e mapas coevos. Várias interpretações foram feitas sobre essa descrição, a mais conhecida delas, hoje em dia, sendo a de Andrée Mansuy Diniz Silva (2001), associando-a ao seu contexto histórico, mas nunca ao espaço físico ao qual se refere. É possível que um estudo que correlacione as descrições, mapas e cartas coevos com o espaço físico que buscam retratar poderá trazer novas interpretações, questionar e ampliar as já existentes ou, mesmo, mudar a percepção que se tem das Minas daquela época.

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Publicado

2011-06-01