Das indicações e precauções de uso medicinal de espécies botânicas nos escritos de Piso e Marcgrave (1648)

Autores

  • Ruana Carolina Cabral da Silva Ciências Biológicas, Centro de Biociências, Universidade Federal de Pernambuco https://orcid.org/0000-0003-0435-1871
  • Maria Franco Trindade Medeiros Museu Nacional da UFRJ

Palavras-chave:

Etnobotânica histórica, flora medicinal, espécies potenciais

Resumo

Historia Naturalis Brasiliae, de Piso e Marcgrave (1648), retrata o contexto em que os holandeses ocuparam o nordeste brasileiro, e descreve inter-relações estabelecidas entre pessoas e plantas àquela altura. Baseado nesta fonte sobre as pessoas e a biodiversidade brasileira, objetivou-se investigar os conhecimentos passados acerca de espécies medicinais nas quais os naturalistas apontaram sua indicação e, ao mesmo tempo, sua contraindicação, além de avaliar sua aplicação em publicações científicas contemporâneas, estabelecendo assim um diálogo passado-presente de informações acerca deste elenco. Para tanto, fez-se uma leitura e análise documental da Historia Naturalis Brasiliae, bem como, da revisão desta obra realizada por Pickel, em 2008, intitulada Flora do Nordeste do Brasil. Os dados coletados foram inseridos em banco de dados, através do qual se analisou qualiquantitativamente os itens. Identificaram-se 11 espécies medicinais, pertencentes a 11 gêneros e 7 famílias, nas quais apresentaram sua indicação e ao mesmo tempo contraindicação de uso. Constataram-se 23 indicações de uso, sendo “diurético” o que apresentou maior número de citações (17,4%). Com relação às contraindicações das espécies, foram citadas 10 ao total, ocorrendo uma predominância para as citações “abortivas” e “remédio perigoso” (20%, respectivamente). Dentre as 11 espécies citadas na obra, para cinco (Ananas sativus Schult. & Schult. f., Bromelia karatas L., Brunfelsia uniflora (Pohl) D. Don, Capsicum frutescens L. e Palicourea crocea (Sw.) Schult) foram encontrados dados de uso atual. Notou-se uma tendência geral de mudança de uso ao longo do tempo. Ao indicar tais mudanças ocorridas ao longo do tempo com relação ao uso destas espécies medicinais, a pesquisa visa contribuir para a ampliação dos estudos em etnobotânica histórica, botânica aplicada e afins.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Agra, M.F., França, P.F., Barbosa-Filho, J.M. (2007). Synopsis of the plants known as medicinal and poisonous in Northeast of Brazil. Revista Brasileira de Farmacognosia. 17 (1): 114–140.
Amorozo, M.C.M. (2007). Sistemas agrícolas tradicionais e a conservação da agrobiodiversidade. Disponível em: http://arquivos.ambiente.sp.gov.br/cea/2011/12/MariaA.pdf. Acesso em: 26 jan. 2007.
Anconatani, L.M., Scarpa, G.F. (2015). Etnobotánica histórica de las Misiones Franciscanas del este de Formosa I: Hallazgos documentales de fuentes primarias, análisis crítico y comparación con la obra “Erbe medicinali del Chaco” de Franzè (1925). Dominguezia. 31 (1): 49-61.
Baptistel, A.C., Coutinho, J. M.C.P., Lins neto, E.M.F., Monteiro, J.M. (2014). Plantas medicinais utilizadas na Comunidade Santo Antônio, Currais, Sul do Piauí: um enfoque etnobotânico. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. 16 (2): 406-425.
Costa, J.C. (2013). Estudo etnobotânico de plantas medicinais em comunidades rurais e urbanas do Seridó Paraibano, Nordeste do Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso. Patos: Universidade Federal de Campina Grande, 97 p.
Costa, O.A.A. (1993). Pharmacologic study of manaca (Brunfelsia hopeana). Revista da Associação Brasileira de Farmacêuticos. 14: 295-299.
Cotton, C.M. (1996). Ethnobotany: principles and applications. Chichester: John Wiley & Sons, 424 p.
Franco, E.A.P.A., Barros, R F.M. (2006). Uso e diversidade de plantas medicinais no Quilombo Olho D´água dos Pires, Esperantina. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. 8 (3): 78-88.
Françoso, M.C. (2009). De Olinda a Olanda: Johan Maurits van Nassau e a circulação de objetos e saberes no Atlântico holandês (século XVII). Campinas: São Paulo, 296 p.
Gesteira, H.M. O Recife Holandês: História Natural e Colonização Neerlandesa (1624-1654). (2004). Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência. 2 (1): 6-21.
Klanovicz, J. (2002). Uma Etnobotânica no México. Episteme. 15: 133-136.
Martins, M.B.G., Graf,R R., Cavalheiro, A.J., Rodrigues, S. D. (2009). Caracterização anatômica, química e antibacteriana de folhas de Brunfelsia uniflora (manacá) presentes na Mata Atlântica. Revista Brasileira de Farmacognosia. 19 (1): 106-114.
Matos, F.J.A. (1999). Plantas da medicina popular do Nordeste: propriedades atribuídas e confirmadas. Fortaleza: EDUFC, 104 p.
Medeiros, M.F.T. (2010). A interface entre a história, a etnobiologia e a etnoecologia. in: Medeiros, Maria Franco Trindade. (Org.) Aspectos Históricos na Pesquisa Etnobiológica. Recife: NUPEEA, p. 11-15.
Medeiros, M.F.T. (2007). Fontes documentais do século XIX: fundamentos para a pesquisa etnobotânica hodierna. in: Barbosa, Luiz Mauro; Santos Júnior, Nelson Augusto dos. (Org.). A botânica no Brasil: pesquisa, ensino e políticas públicas ambientais. São Paulo: Sociedade Botânica do Brasil, p. 565-568.
Medeiros, M.F.T. (2009). Etnobotânica Histórica: Princípios e Procedimentos. Recife: NUPEEA, 84 p.
Medeiros, M.F.T., Andreata, R. H. P., Valle, L.D.S. (2010). Identificação de termos oitocentistas relacionados às plantas medicinais usadas no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, Brasil. Acta Botânica Brasílica. 24 (3): 780–789.
Missouri Botanical Garden's VAST (VAScular Tropicos) Nomenclatural Database – W3 Tropicos. Disponível em: http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html. Acesso em: 20 dez. 2019.
Nobre, M.S.A & al. Plantas Medicinais Utilizadas pela População do Povoado Brejinho, São Jose da Tapera-AL. in: Encontro cientifico cultural, 2: 128-131, Alagoas. Santana de Ipanema: Uneal.
Oliveira, F.C.S., Barros, R. F. M., Moita Neto, J. M. (2010). Plantas medicinais utilizadas em comunidades rurais de Oeiras, semiárido piauiense. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. 12 (3): 282-301.
Pickel, B.J. (2008). Flora do Nordeste do Brasil segundo Piso e Marcgrave no século XVII. Recife: EDUFRPE, 315 p.
Piso, G., Marcgrave, G. (1648). Historia Naturalis Brasiliae: in qua non tantum plantæ et animalia, sed et indigenarum morbi, ingenia et mores describuntur et iconibus supra quinhentas illustrantur. Amsterdam: Elzevier, 300 p.
Ribeiro, D.A & al. (2014). Therapeutic potential and use of medicinal plants in na area of the Caatinga in the state of Ceará, northeastern Brazil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. 16 (4): 1-10.
Rodrigues, A.P., Andrade, L.H.C. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais utilizadas pela comunidade de Inhamã, Pernambuco, Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Plantas Medicinais. 16 (3): 721-730.
Silva, T.C & al. (2014). Historical ethnobotany: an overview of selected studies. Ethnobiology and Conservation. 3 (4): 1-12.
Souza, R.K.D., Medonça, A.C.A.M., Silva, M.A.P. (2013). Aspectos etnobotânicos, fitoquímicos e farmacológicos de espécies de Rubiaceae no Brasil. Revista Cubana de Plantas Medicinales. 18 (1): 140–156.
The International Plant Names Index – IPNI. Disponível em: http://www.ipni.org/ipni/plantnamesearchpage.do. Acesso em: 20 dez. 2019.

Downloads

Publicado

2021-04-22

Edição

Seção

Artigos