VOLUME 14

2024

ISSN: 2237-5864


Atribuição CC BY 4.0 Internacional

Acesso Livre

DOI: https://doi.org/10.35699/2237-5864.2024.47944

SEÇÃO: ARTIGOS

Portfólio acadêmico: um método de reflexão acerca da prática médica em um momento pandêmico

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Portafolio académico: un método para reflexionar sobre la práctica médica en tiempos de pandemia

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Academic portfolio: a method for reflecting on medical practice at a time of pandemic

João Pedro Souza Medeiros 1 , Narciso DiLorenzo Machado Dias 2 , Danúsia Cardoso Lago 3 , Joana Trengrouse Laignier de Souza 4 , Fernanda Khouri Barreto 5

RESUMO

O Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA) foi inaugurado em 2016, alicerçado em um Projeto Político Pedagógico com o intuito de formar médicos generalistas, humanistas, críticos e reflexivos. Nesse sentido, destaca-se o portfólio acadêmico como um instrumento avaliativo para o docente, uma vez que este possibilita a reflexão do discente no momento da sua construção. Este relato de experiência objetiva discorrer acerca do uso do portfólio on-line como ferramenta valiosa no processo de ensino-aprendizagem durante a graduação em Medicina no contexto da pandemia. Elaborou-se este relato de experiência a partir de seis registros de portfólios redigidos durante a seção prática do componente curricular intitulado Idosos: Aspectos Clínicos, Fisiopatológicos e Terapêuticos de Agravos Prevalentes. Nesse componente, foram conduzidas consultas clínicas com enfoque na saúde da pessoa idosa, bem como visitas domiciliares, nas quais se aplicou a Avaliação Geriátrica Ampla (AGA). Por se tratar de um semestre inserido no contexto pandêmico, devido à covid-19, a percepção de saúde foi bastante discutida, uma vez que os problemas não se restringiam aos aspectos físicos, mas também aos mentais, principalmente no tocante à população idosa, diante do cenário de transformação das relações interpessoais. Destarte, o médico, durante a formação acadêmica, tende a trabalhar intensamente o conhecimento teórico e prático, todavia, não é usual a inclusão do conhecimento biopsicossocial nessa proposta. Inobstante, com a pandemia da covid-19, essa necessidade agravou-se e, com o auxílio do portfólio acadêmico, foi possível refletir acerca do perfil profissional dos médicos que estamos construindo para o futuro.

Palavras-chave: educação médica; medicina; pandemia; covid-19.

RESUMEN

El Instituto de Salud Multidisciplinario de la Universidad Federal de Bahía (IMS-UFBA), inaugurado en 2016 a partir de un Proyecto Político Pedagógico, tiene como objetivo la formación de médicos generalistas, humanistas, críticos y reflexivos. En este contexto, el portafolio académico surge como una herramienta de evaluación docente y propicia la reflexión de los estudiantes durante su construcción. Este informe de experiencia tiene como propósito discutir el uso del portafolio en línea como herramienta valiosa en el proceso de enseñanza-aprendizaje durante los estudios de pregrado de Medicina en el contexto de la pandemia. Este informe de experiencia se basó en seis registros elaborados en la etapa práctica de la asignatura El Anciano: Aspectos Clínicos, Fisiopatológicos y Terapéuticos de las Enfermedades Prevalentes, que abarcó consultas clínicas centradas en la salud de las personas mayores y visitas domiciliarias con la aplicación de la Evaluación Geriátrica Integral (EGI). Dado el contexto pandémico del covid-19, la percepción de la salud se discutió ampliamente, ya que los problemas rebasaban el aspecto físico e incluían el bienestar mental, especialmente en la tercera edad. Además, aunque la formación médica suele abordar contenidos teóricos y prácticos, la inclusión de los aspectos biopsicosociales no siempre es común. Sin embargo, la pandemia resaltó esta necesidad y, mediante el portafolio académico, fue posible reflexionar sobre el perfil profesional de los médicos en formación, adaptándolos a las demandas actuales y futuras.

Palabras clave: educación médica; medicina; pandemia; covid-19.

ABSTRACT

The Multidisciplinary Institute of Health of the Federal University of Bahia (IMS-UFBA) was inaugurated in 2016, based on a Political Pedagogical Project that aims to form generalist, humanist, critical and reflective doctors. In this context, the academic portfolio stands out as a means of serving as an assessment tool for professors, as well as enabling students to reflect on their achievements. This experience report aims to discuss the use of online portfolios as a valuable tool in the teaching-learning process during the undergraduate in Medicine in the context of the pandemic. The report in question was based on six portfolios written during the practical section of the curricular component entitled Elderly: Clinical, Pathophysiological and Therapeutic Aspects of Prevalent Diseases. This component included clinical consultations focusing on the health of the elderly, as well as home visits, in which the Comprehensive Geriatric Assessment (CGA) was applied. As this was a semester set in the context of the covid-19 pandemic, the perception of health was much discussed, since the problems were not restricted to physical aspects, but also mental ones, especially regarding the elderly population, in such a scenario of broken interpersonal relationships. Furthermore, during their academic training, doctors tend to work intensively on theoretical and practical knowledge, although it is not usual to include biopsychosocial awareness in this proposal. However, with the covid-19 pandemic, this necessity has worsened and, with the help of the academic portfolio, it has been possible to reflect on the professional profile of the doctors we are preparing for the future.

Keywords: medical education; medicine; pandemic; covid-19.

INTRODUÇÃO

No ano de 2013, a partir da demanda populacional por mais médicos nos municípios brasileiros, uma nova política pública de saúde foi sancionada, guiada pelo Programa Mais Médicos. Essa proposta teve o intuito de aumentar o contingente médico e otimizar a distribuição dele para áreas mais precárias (Brasil, 2015b). Com isso, deu-se início à criação de novos polos de ensino superior, em municípios que antes não contavam com essa estrutura de ensino. Nesse cenário, em 2016 foi inaugurado o curso de Medicina do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA), no campus Anísio Teixeira, em Vitória da Conquista, Bahia (Brasil, 2015a).

Com uma proposta inovadora, o Projeto Político Pedagógico (PPP) do curso de Medicina do IMS (Universidade Federal da Bahia, 2015) foi estruturado e pautado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, e na Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Medicina. Os princípios desse PPP contemplam metodologias modernas, centradas no estudante, que visam romper o distanciamento entre o conhecimento teórico e o conhecimento prático. Dessa forma, busca-se inserir o estudante no processo de construção do próprio conhecimento, gerando, assim, aproximação entre a academia e a sociedade.

Nessa perspectiva, as metodologias centradas no estudante, conhecidas também como metodologias ativas, detêm o intuito de deslocar o discente do papel de espectador para o de protagonista na construção, discussão e disseminação do conhecimento, otimizando a absorção do conteúdo (Batista; Cunha, 2021). Consoante à teoria da pirâmide de aprendizagem, ao ler ou escrever sobre determinado assunto, a taxa de aprendizagem gira em torno de 10 a 20%, contudo, ao discutir e ensinar o mesmo assunto, a taxa de aprendizagem se eleva para 70 a 90% (Pereira, 2020).

Tendo isso em vista, percebe-se que as metodologias ativas — tais como estudos de casos, salas de aula invertidas, rotação por estações, Team-Based Learning (TBL) e portfólio — são capazes de gerar discussão e estimular a reflexão crítica nos alunos, colaborando para o processo de construção e consolidação do conhecimento. Ademais, no contexto do ensino médico, exalta-se a compatibilidade de tais metodologias com a realidade do perfil desses profissionais, os quais devem desenvolver o raciocínio crítico, a autonomia e a capacidade de solucionar as demandas dos pacientes embasados na sua experiência clínica e teórica (Paiva et al. , 2017).

Considerando esses aspectos, o curso de Medicina do IMS-UFBA instituiu o portfólio como um mecanismo transversal de avaliação, sendo utilizado em todos os componentes curriculares do curso (Universidade Federal da Bahia, 2015). O portfólio on-line é um sistema disponibilizado pelo IMS-UFBA, no qual o discente pode escrever nos seguintes gêneros textuais: diário de bordo, postagem livre, relato de experiência, resenha de artigos ou resumo crítico, os quais são passíveis de serem dirigidos aos preceptores que, portanto, estão aptos a emitir pareceres acerca da produção realizada pelo discente.

Na escolha pelo diário de bordo, os discentes devem observar criticamente a realidade, problematizá-la e buscar soluções; na postagem livre, o estudante pode descrever e refletir sobre o seu percurso acadêmico, construindo textos livres, embasados nas aprendizagens e em experiências adquiridas nas atividades práticas e teóricas, a partir do seu ponto de vista; no relato de experiência, o aluno tem a oportunidade de sistematizar as várias experiências vividas durante a formação, trazendo o saber da experiência enquanto ferramenta de ressignificação da prática; na resenha de artigos, os acadêmicos são incentivados, de maneira individual ou coletiva, a realizarem leituras de artigos trabalhados em componentes daquele semestre, seguidas de discussões e da redação de uma resenha, na qual contenha um posicionamento crítico no tocante à obra em análise; e, por fim, no resumo crítico, busca-se reconhecer os conceitos fundamentais de determinado tema e contextualizar tais conceitos por meio de exemplos reais e casos clínicos (Universidade Federal da Bahia, 2023).

Nesse contexto, o portfólio funciona como uma ferramenta de acompanhamento processual do aprendizado, não só por parte do docente, mas também do estudante, uma vez que ele tem em mãos a totalidade do percurso trilhado na graduação, servindo, portanto, como uma estratégia de autoavaliação. Além do mais, com o auxílio e a instrução do docente, o qual será o orientador nesse processo, o portfólio configura-se como uma ferramenta de reflexão (Medeiros et al ., 2020) .

Sendo assim, essa ferramenta on-line do curso de Medicina do IMS possibilita ao estudante um meio de ponderar acerca do próprio aprendizado, fomentando a sua capacidade de síntese e de fixação ao transmitir o conhecimento adquirido em sala de aula e no campo de prática. Ademais, concomitantemente, confere ao acadêmico a liberdade de incluir nos registros aquilo que julga contributivo ao seu processo de aquisição do conhecimento, privilegiando a originalidade e a autoria do processo (Universidade Federal da Bahia, 2015; Antiqueira et al., 2023; Acar; Tuncdogan, 2018; Sales; Leal, 2018).

Durante esse exercício, o discente tende a melhorar, de igual modo, a sua capacidade de escrita e de metacognição (Martins et al ., 2018; Cervantes, 2017) . Além disso, é importante destacar que essa proposta se apresenta como um meio não apenas benéfico para o discente, mas também para o docente, o qual, a partir do portfólio, detém um método avaliativo longitudinal e individual dos alunos durante o processo de formação acadêmica. Isso, em conjunto, o permite avaliar a própria conduta como preceptor, bem como realizar uma autoavaliação da sua prática docente no ensino superior.

A proposta de utilização do portfólio como ferramenta de ensino-aprendizagem tornou-se ainda mais relevante no biênio 2020-2021, durante a pandemia do Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2), agente etiológico da covid-19, em que diversas atividades consideradas não essenciais foram suspensas pelo governo federal. Entre as atividades presenciais suspensas estavam as aulas das universidades, mantendo apenas algumas práticas clínicas para os estudantes de Medicina, como cita o artigo 1º, parágrafo terceiro, da portaria nº 343, de 17 de março de 2020

Nesse novo cenário de redescobrimento, por parte dos discentes e docentes, quanto aos novos meios de ensino, o portfólio on-line destacou-se como um instrumento aliado da prática clínica, capaz de conferir ao aluno um momento de reflexão acerca do cuidado ofertado ao paciente. Ainda, possibilita uma análise retro e prospectiva, orienta o aluno na percepção de fragilidades a serem corrigidas e sobre os aspectos positivos, os quais devem ser preservados no exercício da medicina.

Em suma, o presente artigo trata-se de um relato de experiência sobre o processo de construção do portfólio on-line como ferramenta de ensino-aprendizagem aplicada à prática médica durante a pandemia da covid-19. Destarte, objetiva-se discorrer acerca da experiência obtida na prática clínica dos discentes durante a pandemia e expor as contribuições e benefícios dessa metodologia à graduação em Medicina.

METODOLOGIA

O presente trabalho foi elaborado por discentes de Medicina do 6º semestre, do Instituto Multidisciplinar em Saúde da Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA), campus Anísio Teixeira, Vitória da Conquista, Bahia, e desenvolvido de agosto a dezembro do ano de 2021. Este relato de experiência foi construído a partir da participação dos discentes no componente curricular intitulado Idosos: Aspectos Clínicos, Fisiopatológicos e Terapêuticos de Agravos Prevalentes, o qual é ofertado durante o 6º semestre desse curso.

Nesse componente, aborda-se o exercício da clínica médica voltada à saúde da pessoa idosa ao abranger anamnese, exame físico, raciocínio clínico, conduta diagnóstica e terapêutica, por meio de aulas teóricas e aulas práticas em unidades de saúde. As práticas de clínica médica com enfoque na saúde da pessoa idosa foram realizadas em três unidades de saúde da família (Unidade i, Unidade ii e Unidade iii), todas situadas no município de Vitória da Conquista, Bahia. Os atendimentos foram organizados de modo que as três unidades de saúde tivessem atendimento semanal.

Devido à pandemia da covid-19, o componente curricular foi estruturado de forma especial, com o intuito de evitar aglomerações nos serviços de saúde. Os 44 alunos matriculados no componente foram divididos em duas turmas práticas: P1 e P2. Reforça-se que possuir o esquema vacinal completo contra o SARS-CoV-2 foi considerado obrigatório para acessar às aulas práticas presenciais. Portanto, os 24 alunos que já haviam recebido a segunda dose da vacina compuseram a primeira turma prática (P1). Esses 24 alunos foram divididos em seis subgrupos (G1 ao G6) de quatro pessoas cada, enquanto os 20 discentes da segunda turma prática (P2) foram subdivididos em cinco subgrupos (G7 ao G11) compostos por quatro pessoas cada (Figura 1).

Figura 1 – Divisão dos alunos em duas turmas: P1 e P2.

Fonte: elaborada pelos autores, 2023.

A modalidade prática do componente estruturou-se de forma que ambos os grupos de alunos realizassem a prática médica por um período de seis semanas. Cada subgrupo (G1 ao G11) foi segmentado em duas duplas (D1 e D2), uma dupla se responsabilizou por acompanhar o atendimento clínico das consultas individuais, estipuladas pelas Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) responsáveis pelas microáreas do bairro, e a dupla remanescente se encarregou de realizar as visitas domiciliares para aplicar a AGA, exceto na Unidade iii, onde foram realizadas apenas as consultas geriátricas por ambas as duplas. Desse modo, ao retornar à unidade de saúde pela qual já passara, a dupla que realizava a consulta individual trocava com a dupla da visita domiciliar, de modo que todos os integrantes dos subgrupos pudessem realizar tanto a consulta quanto a visita domiciliar.

Portanto, ao longo do semestre, cada grupo de quatro alunos realizava o atendimento em todas as unidades de saúde. Ainda, ao fim de cada prática, o docente responsável promovia uma discussão sobre o caso clínico do paciente acompanhado pela dupla que permaneceu na unidade de saúde, contando com todos os quatro alunos do subgrupo em conjunto, a fim de abordar os aspectos clínicos, tal como a conduta diagnóstica e terapêutica (Quadro 1).



Quadro 1 – Esquema demonstrativo da logística de organização dos grupos de alunos para os atendimentos nas unidades de saúde.

Semana

(G1)

Unidade de Saúde

Tarefa da Dupla

01

Unidade ii

D1: Visita Domiciliar

D2: Consulta na Unidade

02

Unidade ii

D1: Consulta na Unidade

D2: Visita Domiciliar

03

Unidade iii

D1 e D2: Consulta na Unidade

04

Unidade ii

D1: Visita Domiciliar

D2: Consulta na Unidade

05

Unidade i

D1: Consulta na Unidade

D2: Visita Domiciliar

06

Unidade ii

D1: Visita Domiciliar

D2: Consulta na Unidade

Fonte: elaborado pelos autores, 2023.

Outrossim, ao final de cada prática de clínica médica, os alunos deviam repassar as suas percepções acerca da vivência no processo de aprendizagem na prática clínica de saúde da pessoa idosa para o Sistema de Portfólio on-line . Destarte, neste componente, foram confeccionados seis registros no portfólio, um ao fim de cada aula prática, no formato de “diário de bordo”, em que os alunos discorriam sobre a prática de clínica médica. No final, eles foram compilados e analisados para a elaboração deste relato de experiência.

A escolha pelo diário de bordo deve-se ao fato de ele ser considerado uma ferramenta para a reflexão crítica sobre os aspectos teóricos em articulação com a contextualização da realidade vivenciada. Os critérios contidos no Sistema de Portfólio on-line do IMS-UFBA (Universidade Federal Da Bahia, 2023), para a elaboração de um diário de bordo, permitem aos docentes e discentes uma leitura crítica da realidade, conforme a descrição dos critérios no Quadro 2.



Quadro 2 – Critérios para a elaboração do diário de bordo.

Observar Criticamente a Realidade

Problematizar a Realidade

Buscar Soluções

O(a) aluno(a) é capaz de observar situações do cotidiano e correlacioná-las à prática da medicina?

O(a) aluno(a) tenta explicar as situações observadas, baseando-se em sua experiência de vida e em sua bagagem acadêmica?

O(a) aluno(a) procura soluções para as situações observadas e as expõe de forma clara?

O(a) aluno(a) contextualiza as situações observadas correlacionando-as aos conceitos teóricos estudados?

O(a) aluno(a) faz apontamentos que evidenciam a importância da inserção em cenários de prática para o seu aprendizado?

O(a) aluno(a) demonstra aprendizado frente às situações vivenciadas e expressa as possibilidades de aplicação prática das soluções aventadas?

Adaptado de: Sistema de Portfólio on-line do IMS-UFBA (Universidade Federal da Bahia, 2023).

Fonte: Elaborado pelos autores, 2023.

Com base nesses critérios, os discentes foram incentivados a elaborar os diários de bordo, bem como a postá-los e discuti-los durante as aulas teóricas, no intuito de ressignificar a prática e refletir acerca do próprio desempenho.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

As reflexões sobre a prática médica foram tecidas a partir do atendimento em unidades de saúde, dividindo-se entre consultas ambulatoriais e visitas domiciliares, ambas voltadas à saúde da pessoa idosa. Ao longo do semestre, foram realizadas seis práticas de clínica médica, sendo quatro delas consultas ambulatoriais e duas visitas domiciliares.

Nas consultas ambulatoriais era realizada a anamnese, na qual se abordava a queixa principal do paciente e o interrogatório sintomatológico, o qual compreende uma revisão completa de cada sistema biológico, além do exame físico. Ao final da consulta, eram elencados os principais problemas identificados na anamnese e no exame físico e, a partir disso, o aluno listava os possíveis diagnósticos. Logo, a partir desse momento, o discente lançava mão da melhor conduta terapêutica para os diagnósticos listados.

Já nas visitas domiciliares, o aluno tinha a oportunidade de trabalhar a AGA, que é uma avaliação multidimensional e interdisciplinar da pessoa idosa. A sua elaboração é embasada em instrumentos avaliativos, como testes, escalas e índices, os quais facilitam a identificação das principais deficiências e carências do idoso, propiciando, assim, o planejamento de estratégias de cuidado a curto, médio e longo prazo, priorizando a qualidade de vida do paciente geriátrico (Freitas, 2016).

Em vista disso, durante as visitas domiciliares, o roteiro excedia o padrão anamnese e exame físico, possibilitando ao aluno, a partir das respostas do paciente, visualizar o indivíduo sob uma óptica biopsicossocial e não apenas no contexto da doença. Tendo isso em vista, a conduta considerava os problemas (físicos, psicológicos, sociais, financeiros etc.), o diagnóstico, as metas a serem alcançadas e, principalmente, as diferentes intervenções a serem propostas para o determinado caso.

Ao final de cada prática clínica, o grupo se reunia com o professor a fim de repassar o caso na presença de todos, isto é, tanto os alunos responsáveis pelas consultas ambulatoriais quanto os que realizaram as visitas domiciliares. Logo, a totalidade do grupo discutia os casos, possíveis diagnósticos, condutas e terapêuticas possíveis. Dessa forma, com a vivência prática de cada grupo, além da presença e da experiência clínica do preceptor, o qual determinava a melhor conduta a ser tomada em benefício de cada paciente. A aprendizagem ocorria de modo natural, inserindo o estudante no centro do processo e o conferindo maior senso de autonomia e responsabilidade.

Ademais, mediante o fim de cada atendimento em uma unidade de saúde, cabia aos alunos postar no sistema portfólio on-line, conforme as normas do componente e as orientações do preceptor, um “diário de bordo” acerca da prática clínica do dia, relatando as experiências vividas. Outrossim, considerando a transição do “mundo on-line para o presencial, o portfólio atuou como uma “ponte”, mediando a transição entre as aulas on-line e o ensino presencial, o que tornou a mudança mais amena.

Em análise, é perceptível que o retorno das atividades acadêmicas presenciais, especialmente na modalidade prática, voltadas ao atendimento popular, não se revelou benéfico apenas para o discente, uma vez que o acadêmico de Medicina é moldado, em sua maioria, pelo exercício da aplicabilidade de seus conhecimentos teóricos, mas também benéfico para a população assistida, visto o contexto e a escassez de médicos durante a pandemia da covid-19. Nessa perspectiva, pelo fato de a atuação acontecer no sistema público de saúde, no qual os pacientes muitas vezes enfrentam dificuldades em agendar consultas com especialistas, a presença de uma professora médica geriatra trouxe maior resolutividade às queixas da parcela idosa da população. Em complemento, o contato com o discente, conduzindo a consulta de forma “diferente” do médico já formado e com anos de experiência, possibilitou, ainda, um momento de diálogo, como se expõe no primeiro diário:

Particularmente, a emoção de estar voltando para a prática depois de um ano e meio parado foi como a primeira prática que eu tive na faculdade. Um misto de emoção de voltar a conversar com um paciente, com um toque de medo de esquecer de como conduzir e realizar as etapas corretas (Medeiros; J. P. S., 2021. Diário de Bordo 01).

A construção do portfólio possibilitou a reflexão acerca da conduta médica que nós, enquanto alunos e futuros profissionais, ofertamos aos pacientes, extrapolando as ações robotizadas realizadas de forma inconsciente, os vícios adquiridos e as condutas reproduzidas das páginas de livros, as quais, em inúmeros casos, não consideram a realidade e a individualidade do paciente. Logo, o ato de construir o portfólio possibilitou a análise crítica e reflexiva da nossa conduta com os pacientes.

A necessidade de escrever o diário de bordo após cada atendimento ofereceu-nos a oportunidade de ponderar acerca do processo. Além disso, permitia-nos, de fato, reconhecer as nossas fragilidades individuais, bem como as nossas vitórias — uma vez que no processo de repetição é possível corrigir erros, mas no processo de reflexão é possível compreender os erros e alcançar melhores resultados, o que é bem representado no segundo registro de um dos autores:

A minha segunda consulta foi repleta de desafios, mais desafios do que eu esperava, principalmente em relação ao exame físico. Começou muito bem, já não tinha o mesmo nervosismo da primeira consulta, a anamnese fluiu melhor, as perguntas já estavam mais na ponta da língua. Todavia, quando chegou no exame físico, não foi tão bom (Medeiros; J. P. S., 2021. Diário de Bordo 02).

Ainda nessa perspectiva, o tema “pandemia” foi amplamente discutido e abordado nos portfólios, ao passo que esse novo cenário modificou as percepções dos discentes, dos docentes e dos próprios pacientes no tocante ao pensar e ofertar saúde, especialmente nesse momento em que as doenças não estavam advindo somente do corpo, mas também da mente. Assim, as principais queixas passaram a relacionar-se à solidão, e o exame físico, aliado a anamnese, assumiu o papel do contato físico interpessoal, o qual se restringiu devido à pandemia.

Portanto, notou-se que, durante o cenário pandêmico, a população idosa permaneceu em maior risco por se tratar de um grupo vulnerável às complicações geradas pela infecção. Em concomitância, passou a sofrer indiretamente com o isolamento social, o que, somado à quebra da rotina e a ruptura das relações interpessoais, propiciou que o número de doenças psíquicas aumentasse nessa população (Oliveira et al. , 2021).

Outra importante reflexão, oriunda da escrita do portfólio, contemplou o modelo de profissional que o estudante aspirava ser no início do curso, o profissional que ele estava se tornando e o profissional que almejava ser no futuro. Posto isso, seis anos tendem a passar rapidamente quando os discentes entram no “piloto automático”. Isto é, quando o aluno tende a estudar a teoria e a decorar as páginas de livros, a fim de somente reproduzir o conteúdo, negligenciando o componente humano da medicina — humanidade essa que é o diferencial na prática clínica, visto que fortalece a relação médico-paciente ao permitir que, por meio de uma análise biopsicossocial de abordagem empática, a complexidade da realidade do paciente seja considerada pelo profissional.

Finalmente, é notável que o portfólio possibilitou pausar esse “piloto automático” e promoveu a reflexão não apenas sobre a construção dos acadêmicos de Medicina, mas também da desaceleração que a pandemia introduziu na vida naturalmente acelerada do estudante:

Enfim, a última prática: Melhor que a primeira, pela evolução pessoal, que depois de um ano e meio parado sem realizar uma anamnese e um exame físico, pude tirar toda aquela ferrugem e evoluir nesses quesitos, contudo, triste por ter acabado de forma tão rápida (Medeiros; J. P. S., 2021. Diário de Bordo 06).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A prática clínica é de suma importância para a construção do profissional médico, tanto no que se refere à aplicação do conhecimento teórico quanto à desenvoltura necessária ao atendimento que ele prestará aos pacientes. Todavia, por muitas vezes o acadêmico de Medicina demonstra maior empenho em desenvolver os conhecimentos técnico-científicos do que os aspectos biopsicossociais do paciente, negligenciando outras esferas que repercutem na saúde do indivíduo — tanto física quanto mental.

Não obstante, com a pandemia da covid-19 e a necessidade do distanciamento social, distinguiu-se a importância de compreender o componente humano do paciente e não apenas o taxar com um diagnóstico, mas sim visualizar os diversos determinantes de saúde que impactam na vida de um ser humano. Nesse sentido, o uso de metodologias ativas, como as discussões de caso e o próprio portfólio acadêmico, foram essenciais para proporcionar ao estudante de Medicina um momento de integrar a reflexão acerca dos fatores que culminam na saúde do indivíduo. Portanto, o uso de novas metodologias no processo de ensino-aprendizagem apresenta-se como uma importante ferramenta na elaboração de estratégias que buscam alinhar o conhecimento acadêmico ao conhecimento humanístico.

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João Pedro Souza Medeiros

Acadêmico do curso de graduação em Medicina do Instituto Multidisciplinar em Saúde, da Universidade Federal da Bahia (IMS-UFBA).

jpsouzamedeiros53@gmail.com

Narciso DiLorenzo Machado Dias

Acadêmico do curso de graduação em Medicina do IMS-UFBA e escritor independente.

narciso.dilorenzo@ufba.br

Danúsia Cardoso Lago

Doutora em Educação Especial, pedagoga e professora do curso de graduação em Medicina do IMS-UFBA.

danusia.mtc@gmail.com

Joana Trengrouse Laignier de Souza

Doutoranda em Memória e Linguagem na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Mestre em Saúde da Família, médica geriatra e professora do curso de graduação em Medicina do IMS-UFBA.

joanatrengrouse@gmail.com

Fernanda Khouri Barreto

Doutora em Ciências, biomédica e professora do curso de graduação em Medicina do IMS-UFBA.

fernanda.khouri@hotmail.com

Como citar este documento – ABNT

MEDEIROS, João Pedro Souza; DIAS, Narciso DiLorenzo Machado; LAGO, Danúsia Cardoso; SOUZA, Joana Trengrouse Laignier de; BARRETO, Fernanda Khouri. Portfólio acadêmico: um método de reflexão acerca da prática médica em um momento pandêmico. Revista Docência do Ensino Superior , Belo Horizonte, v. 14, e047944, p. 1-15, 2024. DOI: https://doi.org/10.35699/2237-5864.2024.47944.




1 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA, Brasil.

ORCID ID: https://orcid.org/0009-0008-0558-7679. E-mail: jpsouzamedeiros53@gmail.com

2 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA, Brasil.

ORCID ID: https://orcid.org/0009-0001-1380-6930. E-mail: narciso.dilorenzo@ufba.br

3 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA, Brasil.

ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-7652-7613. E-mail: danusia.mtc@gmail.com

4 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA, Brasil.

ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-5793-6043. E-mail: joanatrengrouse@gmail.com

5 Universidade Federal da Bahia (UFBA), Vitória da Conquista, BA, Brasil.

ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-0088-9036. E-mail: fernanda.khouri@hotmail.com


Recebido em: 17/09/2023 Aprovado em: 24/05/2024 Publicado em: 27/08/2024

Rev. Docência Ens. Sup., Belo Horizonte, v. 14, e047944, 2024 7