Significado intransitivo nas obras musicais
Abstract
Se é verdade que "não é difícil mostrar que os mesmos problemas se colocam em todos os domínios da arte", como quer o filósofo Arthur C. Danto, quanto a sua proposta de uma ontologia da obra de arte (Danto, 2005, p. 205), então é preciso entender o que seria, no campo da música, um conteúdo semântico, o aboutness de uma obra musical. Pois não parece trivial dizer sobre o que uma obra de música diz respeito. Dizer sobre o que faria dela uma representação. Há no autor a sugestão preliminar de que obras de arte muitas vezes representariam um nada representar. Que, cada uma a seu modo, diriam ser sobre nada, possuindo esse conteúdo - 'ser sobre nada' - como seu assunto. Mas seria isso suficiente? Peter Kivy (1997, capítulo 2), enfatiza o papel inquietante da música de concerto nesse sentido e tenta mostrar o quão insatisfatórias são abordagens que procuram compatibilizar a “música absoluta” e o neo-representacionalismo de Danto. Indica três abordagens: (i) aquela que postula um conteúdo emotivo, a resolver essa demanda por conteúdo significativo; (ii) a que indica que as músicas seriam sobre mundos ficcionais; (iii) as que implicam que a música absoluta seria sobre si mesma. O artigo segue o posicionamento de Kivy e o contrasta com duas outras posições possíveis quanto à significação musical. (1) A ideia de significação por exemplificação, de Nelson Goodman, onde há, alem da referência a um predicado, uma denotação da coisa por esse mesmo predicado (1976, capítulo 2). Entre os exemplos de Goodman, está o de uma dança que exemplifica os movimentos que a constituem. Claramente, dar-se-ia algo similar com inúmeras obras musicais. Essa ideia é expandida por Monroe Beardsley e aplicada especificamente ao contexto musical (1981). (2) O tratamento por Richard Wollheim da falácia da construção reflexiva, referida ao Wittgenstein de O Livro Castanho e segundo a qual pedimos erroneamente um tratamento transitivo para um uso gramatical intransitivo de uma expressão. Em “Art and its objects” (pontos 41, 48), Wollheim atenta para o caso envolvendo atitudes estéticas. Dentre estes, há aqueles que incluem expressões sobre como “significativa” uma música pode ser. Ambas essas alternativas envolvem um certo esvaziamento do conteúdo da significação. Cabe considerar se este esvaziamento não é um impedimento para a inclusão consistente da música no âmbito da arte, segundo a ontologia formulada por Danto.
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