[Chamada para (in)submissões] Dossiê #5 - Desobediências (2º/2022)

03-08-2022

Recebimento de trabalhos no formato de artigos científicos, ensaios, textos literários e imagens que reflitam sobre a temática, com prazo prorrogado até o dia 30 de novembro de 2022.

Vivemos em uma época na qual as estruturas hierárquicas de poder político nos atravessam incessantemente. Em especial, estamos submetidas a um paradoxo teórico e material que se concretiza sob a forma da “democracia representativa”, assumida enquanto paradigma institucional máximo de realização política, mas que nada mais é do que um sistema deliberadamente escolhido com o objetivo de “afastar” do poder aquelas que não preenchem suas condições de uso e acesso. Nesse contexto, é inegável que os métodos tradicionais de controle e/ou resistência a poder político estratificado já não são suficientes para alterar o status quo ou para provocar mudanças concretas e efetivas em resposta às demandas da sociedade.

Contra esse poder político estratificado, surge, nas ruas, a desobediência política confeccionada pelos gestos comuns de pessoas ordinárias. Nas praças em que corpos desobedientes se aglutinam na formação do espaço político, os afetos do combate anunciam a possibilidade de um novo porvir, aquele, inegavelmente desutópico ao qual apenas os loucos conseguem se antecipar, presente entre a tendência constitutiva e o limite determinado.

A desobediência política é o dispositivo subversivo que desativa o que está posto e determinado. Ela rompe com o constituído, com as estruturas árquicas e nômicas que separam, dividem e excluem. Sendo ela mesma vulgar, ela está ao alcance de qualquer uma, bastando, para usá-la, abandonar a aquiescência. Interromper o tempo da produção, ocupar espaços intocáveis, dizer não ao comando que se impõe de cima: eis os gestos desobedientes que subvertem a ordem hierárquica e divisora sob a potência criativa do caos, do não saber e do lançar dos dados que é a aposta democrática, pois a desobediência política é aquela que desnuda o rei.

A desobediência política é a potência constituinte do agora e a práxis democrática do presente que excede os limites geográficos e desimaginativos do Estado-capital, fazendo-se, desfazendo-se e refazendo-se enquanto uma zona autônoma temporária em meio às certezas antidemocráticas da democracia liberal. Ela faz de seu fim seu começo e em seu começo está precisamente seu fim, uma vez que jamais reduzida à permanência: a desobediência política é movimento. Como há muito ensinou Elliot: “O que poderia ter sido é uma abstração que permanece, perpétua possibilidade, num mundo apenas de especulação. O que poderia ter sido e o que foi convergem para um só fim, que é sempre presente”. A desobediência política é, assim, revolução imanente do tempo-de-agora.

Nesse cenário, esta chamada da (Des)troços busca encontrar trabalhos que provoquem rupturas e fissuras a partir da aposta em uma proposta democrática que se recuse a aquiescer e a consentir com as estruturas hierárquicas de poder e que tenham em perspectiva a realização política por meio do êxodo e do abandono ao constituído.

Ressaltamos ainda que, para além desse dossiê temático, a revista (Des)troços recebe trabalhos em fluxo contínuo de caráter geral que se vinculem ao pensamento radical e à linha editorial do periódico, conforme descrito em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/about. As contribuições devem ser enviadas por meio do sistema OJS, respeitando-se as regras de submissão no caso de textos (https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistadestrocos/about/submissions) até o dia 30 de novembro de 2022. As exigências de titulação não se aplicam às autoras de imagens, cujas contribuições serão avaliadas unicamente pela comissão editorial. As contribuições sob a forma de textos serão avaliadas pelo comitê editorial e pelo sistema de double blind review. Uma vez aprovados, textos e imagens serão publicados no quinto número da revista, previsto para ser lançado em dezembro de 2022.