Um olhar sobre a ficção animalista de João Guimarães Rosa: devires e metamorfoses / The Animal Fiction of João Guimarães Rosa at a Glance: Becomings and Metamorphoses
DOI:
https://doi.org/10.17851/2238-3824.25.2.99-115Palavras-chave:
animal, humano, interação, compartilhamento, devir, metamorfose, human, interaction, sharing, becomings, metamorphosis.Resumo
Resumo: Nas últimas décadas, a inscrição do animal na literatura tem assumindo novos contornos e complexidades, assistindo-se à emergência de uma zooliteratura fundada numa apreensão inédita da animalidade e no trespassamento das fronteiras entre o humano e o não humano. Cada vez mais, os escritores têm multiplicado as tentativas de encenar, por procuração ficcional, novas formas de interação com o animal, seja pela via do compartilhamento de sentidos e afetos, seja pela dos devires e metamorfoses. Neste contexto, a ficção animalista do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, um dos maiores animalistas do século XX, constitui um paradigma modelar da figuração literária do animal, visto e escrito, não como simples constructo teórico-ficcional, mas antes como sujeito dotado de uma subjetividade própria e capaz de um olhar interrogante e judicativo sobre o Homem. É o que se tentará demonstrar, neste trabalho, através da leitura crítica de três dos seus contos: “O burrinho pedrês” e “Conversa de bois”, de Sagarana (1946), e “Meu tio o Iauaretê”, de Estas estórias (1969).
Palavras-chave: animal; humano; interação; compartilhamento; devir; metamorfose.
Abstract: Over the last decades, animal presence in literature has taken on new forms and disclosed new complexities, giving rise toa zooliterature founded upon a renewed insight into animality and the trespassing of the frontiers separating humans and non-humans. Writers have progressively multiplied attempts to enact, through fiction, new forms of interaction with the animal, either through sharing of meaning and affection, or through becoming and metamorphosis. In this context, the Brazilian writer João Guimarães Rosa’s animal fiction, one of the most remarkable 20th century animalist fiction writers, offers a perfect paradigm of the literary figuration of the animal, both seen and written, considered not as a mere theoretical and fictional artifact, but rather as a subject invested with its own ontology and capable of interrogating and judging human behavior. This is the argument we will seek to demonstrate in this article through the critical reading of three of Rosa’s short stories: “O burrinho pedrês” and “Conversa de bois”, included in Sagarana (1946), and “Meu tio o Iauaretê”, from Estas estórias (1969).
Keywords: animal; human; interaction; sharing; becomings; metamorphosis.