Tempo revisto, tempo reescrito

as metaficções historiográficas

Autores

  • Anne Greice Soares La Regina Universidade Federal do Sul da Bahia

DOI:

https://doi.org/10.17851/2238-3824.26.1.145-161

Palavras-chave:

metaficção historiográfica, metabiografia, poéticas pós-modernistas, Les Annales, micro-história

Resumo

O presente artigo, trabalho de pesquisa bibliográfica com viés qualitativo, empreende um recorte histórico das discussões em torno da metaficção historiográfica e da metabiografia num período que compreende o final do século XX. Esta investigação busca demonstrar o modo pelo qual estas narrativas se configuraram como respostas da arte e da cultura a fenômenos complexos, determinados pela crise do regime modernista de historicidade que encontrou ressonância também nas concepções pós-modernistas que, por sua vez, retomaram as discussões acerca das contradições do próprio modernismo e recuperaram o debate acerca da dicotomia entre altas artes e cultura de massa. A conjuntura pós-modernista se afigura ainda hoje também como espaço no qual se instauram debates sobre questões que emergem de uma sociedade fortemente marcada pelo capitalismo global e pelas tecnologias da comunicação que, produzindo uma sobrecarga de informações, gera a necessidade premente de frear este desgaste do tempo, organizar e apreender o passado, de onde surgem os discursos sobre a memória e todas as interpretações do tempo. Este apelo à releitura acaba por produzir uma poética da [re]criação que se alimenta dos resíduos culturais do passado. Como lastros teóricos das análises propostas sobre a metaficção, privilegia-se, sobretudo, o pensamento de Linda Hutcheon sobre as poéticas pós-modernistas em conjunção com o conceito de historiofagia de Walter Moser, bem como com as transformações no pensamento historiográfico promovido por Les Annales e desenvolvido pelo micro-história.

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Publicado

2024-08-04

Como Citar

La Regina, A. G. S. (2024). Tempo revisto, tempo reescrito: as metaficções historiográficas. Caligrama: Revista De Estudos Românicos, 26(1), 145–161. https://doi.org/10.17851/2238-3824.26.1.145-161