O rizoma pós-moderno e a escrita heteronímica no Livro do Desassossego
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.36.55.29-47Palavras-chave:
pós-moderno, rizoma, diferença, devir, multiplicidade, virtual, singularidade.Resumo
Este breve ensaio focaliza dois tópicos e visa uma leitura deleuziana do Livro do desassossego. Em primeiro lugar, do ponto de vista da sua composição estrutural, o Livro é um rizoma pós-moderno, composto de fragmentos que se conectam entre si, diferenciando-se. Esta composição fragmentária exprime, por sua vez, uma outra cisão ontológica na personalidade plural e descentrada de Fernando Pessoa, gerada pelo movimento da Diferença interna. Esta abordagem pós-moderna da obra-prima pessoana resulta do génio intempestivo pessoano que soube assimilar certa tradição do século XIX, soube ousar experimentar novas possibilidades, no âmbito do modernismo de Orfeu, e abrir as novas clareiras de um tempo a vir, que configuram a nossa contemporaneidade do século XXI. Nesta dimensão intempestiva desse porvir pós-moderno, interessa-nos realçar certos sinais e sintomas, como a nossa leitura do drama em almas interactivas, a partir do movimento dessa diferença ontológica, pura intensidade diferenciante. Daí o jogo ideal das diferenças, no pensamento e na criação, desse drama estático e rizoma heteronímico. Trata-se de um jogo ontológico em que, havendo lugar para o acaso, o aleatório e o devir-outros, se opera a cisão fractal da subjectividade. Neste jogo ideal das diferenças, que configuram a dramaturgia heteronímica, as multiplicidades virtuais (afectos, visões ou perceptos) atualizam-se na consciência fluida da singularidade-Bernardo Soares e inscrevem-se no plano da expressão.