Os desastres de uma escritura em chamas
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.36.56.63-77Palavras-chave:
Literatura contemporânea, Lobo Antunes, escritura em chamas.Resumo
Caminho como uma casa em chamas, de António Lobo Antunes, é um romance construído como um prédio de apartamentos, de onde emanam as narrativas que se sucedem no livro. Apesar da aparente organização formal, Antunes nos oferece um texto que se esquiva das noções tradicionais de trama romanesca. Os textos são independentes, ainda que dialoguem entre si pela proximidade dos enunciadores, e não se estruturam pela lógica conflito-clímax-desenlace. Este texto pretende mostrar como a narrativa contemporânea compõe suas tramas escriturais, sua escritura em chamas, que se faz de seus desastres, suas ruínas, suas perdas, numa ação negativa de eterna falta, de busca sem fim, de insuficiência da linguagem, de instabilidade do signo. O que chamamos experiência real, assim, é estruturada no romance com fraturas, envolta em chamas, e é aí, na paixão da arte, que a literatura impõe a indecidibilidade entre a ficção e a outra coisa que chamamos mundo. O suporte teórico deste ensaio inclui considerações de Maurice Blanchot, Giorgio Agamben, Jacques Derrida, Didi-Huberman, Emmanuel Levinas e Lélia Parreira Duarte.