(Con)figurações femininas nos desvãos da ordem patriarcal
uma leitura feminista de A vida sonhada das boas esposas, de Possidónio Cachapa
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.41.65.127-143Palavras-chave:
feminino, figuração, feminismo, Possidónio CachapaResumo
Fundamentando a investigação no feminismo decolonial (LUGONES, 2020; VÈRGES, 2019), o propósito deste trabalho é empreender uma discussão acerca do modo como se apresentam personagens femininas e as relações de gênero no século XXI no romance português contemporâneo A vida sonhada das boas esposas (2019), de Possidónio Cachapa. As personagens femininas constituem o fio condutor de uma narrativa situada em um Portugal cosmopolita contemporâneo que, embora interligado pelas tecnologias das redes sociais, mantém resquícios de ditames que remetem aos ideais de família nuclear propagados pelo Estado Novo (1933-1974). Assim, discurso e poder patriarcal perpassam e são determinantes das relações sociais da narrativa, sobretudo as que envolvem a protagonista Madalena que, apenas após a morte do marido, percebe-se como sujeito e passa a experimentar a vida desse novo lugar, a partir do qual estabelece relacionamentos próprios e não mais circunscritos ao seu papel social de esposa. Considera-se o feminismo como pressuposto filosófico do romance uma vez que a narrativa aponta, por meio das figurações femininas, para modelos existenciais múltiplos. Trata-se, portanto, de uma inscrição de modelos existenciais diversos no lugar da tradicional identidade feminina única, fixa e presa aos papéis de gênero estabelecidos por uma ordem patriarcal que, não obstante, ainda apresenta vestígios de um pensamento colonial.
Downloads
Referências
BARRENTO, João. A chama e as cinzas: um quarto de século de literatura portuguesa (1974-2000). Lisboa: Bertrand, 2016.
CACHAPA, Possidónio. A vida sonhada das boas esposas. Lisboa: Companhia das Letras, 2019.
CASIMIRO, Cláudia. Tensões, tiranias e violência familiar: da invisibilidade à denúncia. In: ALMEIDA, Ana Nunes de (org.). História da vida privada em Portugal. Maia: Círculo de leitores, 2011.
DAVIS, Angela. A liberdade é uma luta constante. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2018.
LUGONES, Maria. Colonialidade e gênero. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Pensamento Feminista Hoje: Perspectivas Decoloniais. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2020. E-book.
REAL, Miguel. O romance português contemporâneo 1950-2010. Alfragide: Editorial Caminho, 2012.
REIS, Carlos. Pessoas de livro. Estudos sobre a personagem. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2018.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Tradução de Jamille Pinheiro Dias e Raquel Camargo. São Paulo: Ubu Editora, 2020.