Alice e o enigma do desejo do outro
“O que ele quer de mim?” – e, assim, ela se livra do desejo de desejar
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.41.66.15-33Palavras-chave:
Alice in Thunderland, Teolinda Gersão, ressentimento, desejo, intertextualidade, ficção portuguesa contemporâneaResumo
Teolinda Gersão, em “Alice in Thunderland”, conto inserido na coletânea Alice e outras mulheres (2020), ao revisitar de forma singular a ficção de Lewis Caroll, liberta a personagem do livro que a aprisionara. A Alice atual, inscrita no signo da temporalidade, recupera a sua identidade civil – Alice Liddell – e, ao adquirir uma voz própria, torna-se capaz de desvendar “as zonas de sombra e os mistérios das relações humanas”. Alice rompe o silêncio a que fora submetida e desvenda o enigma do próprio desejo e do desejo do Outro. Ao denunciar o abuso sofrido, durante a sua infância, conseguirá superar os resquícios do ressentimento e atravessar para o outro lado do espelho. O artigo pretende discutir tais questões a partir da leitura de ensaios e/ou obras da autoria de Maria Rita Kehl, Eugène Henriquez, Marilena Chauí e Roland Barthes entre outros.
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