O estoico e a morte
DOI:
https://doi.org/10.17851/2359-0076.41.66.185-199Palavras-chave:
Fernando Pessoa, A educação do estoico, morteResumo
Na obra A educação do estoico, de Fernando Pessoa (2001), observa-se no personagem suicida a desolação pelo malogro. O relato promove um efeito de espelhamento entre criador e criatura que, de certa forma, configuram uma estética que recusa a vida e vislumbra a morte. Toma-se a acepção de Eduardo Lourenço (1981), segundo a qual a morte nega a natureza fantástica da realidade e equilibra-se no ponto em que se revogam a verdade e a fantasia. O barão de Teive demonstra a impotência da não realização relacionada à obra inacabada e à vida amorosa, que também não se realizou, e anuncia o próprio extermínio como solução. A desesperança também se percebe implicitamente na crítica à sociedade em que vive. A par da ideia de Jorge de Sena (1974) quando afirma que Fernando Pessoa corteja a morte durante muitos anos, este estudo avança na investigação de possibilidades externas subjacentes à representação da morte na obra do barão de Teive. O percurso de leitura e análise tenta identificar elos entre esta produção escrita, associando-a a outras obras e à vida do poeta, pressupondo que a estética da morte reflete sombras de um estado psíquico de tristeza e desterro. Os malogros históricos são dispositivos especulares potenciais de motivação da configuração desse personagem, que se exprime na vacuidade e na extinção do ser. A desintegração do elemento vital, que integra a palavra ao horizonte poético, parece ser o instrumento de expressão do degredo. O espelhamento do Barão de Teive se reconstrói na esteira de Richard Zenith (2001), uma vez que este o define como o personagem mais representativo do poeta e intelectual Fernando Pessoa.
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