O Preço da Emoção: As Transformações no Custo do Lazer Futebolístico no Estádio Mineirão entre 1994 e 2018
Palavras-chave:
Economia do Entretenimento, Torcer, Preço do Ingresso, EstádiosResumo
O futebol e, mais especificadamente, o torcer em estádios faz parte do imaginário social brasileiro como um lazer tipicamente popular. As discussões, a partir da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo de 2014, entorno das transformações que envolveram essa prática pautaram-se dentre as diversas questões na dimensão econômica. O encarecimento no preço do ingresso, centralidade do debate, mostrou-se como principal razão para uma percepção, compartilhada nos meios de comunicação, de elitização e consequente exclusão no torcer em estádios. Diante disso, a presente pesquisa buscou compreender as transformações econômicas ocorridas no custo do lazer futebolístico no estádio Mineirão entre 1994 e 2018. Para tanto, traçou-se o comportamento no preço dos ingressos durante o período correlacionando com variáveis econômicas representativas, inflação e porcentagem do salário mínimo. Além disso, registrou-se a taxa de ocupação do estádio durante todo período, no intuito de refletir sobre a demanda observada. A fonte utilizada para consulta às informações tabuladas em um banco de dados foram as fichas técnicas conhecidas como Borderôs. Esses documentos estavam disponíveis no site oficial do Estádio Mineirão. A metodologia utilizada para análise dos registros no banco de dados foi a estatística descritiva. Além das análises do cenário geral agregado e casos específicos como o período da Copa do Mundo de 2014 e o campeonato brasileiro de 1999, apresentou-se um conjunto de gráficos para cada campeonato, quais sejam: Brasileirão; Campeonato Mineiro; Copa do Brasil; Libertadores; Copa Sul-Americana. Os dados tratados foram capazes de mostrar graficamente a evoluções dos preços dos ingressos de maneira que foi possível identificar padrões e inferir sobre fenômenos internos e externos que influenciam o torcer em estádios. A escolha das variáveis representativas cumpriram a função de dimensionar os resultados econômicos para o debate público e acadêmico. Algumas constatações foram identificadas como mais relevantes na explicação das transformações. A primeira delas é a baixa correlação com a inflação observada, permitindo inferir que o preço dos ingressos é pouco influenciado pelo comportamento geral dos preços do mercado. Porém, do ponto de vista da renda média do torcedor, observa-se que as mudanças macroeconômicas, como o aumento real do salário do mínimo, contribuem para dimensionar o custo de oportunidade envolvido na decisão de ir ao estádio. Constatou-se que com a reinauguração do Mineirão para Copa do Mundo os preços dos ingressos, que antes apresentavam uma relativa estabilidade entres os diferentes momentos da competição, começaram a funcionar com variações de curto prazo. Os preços tornaram-se dinâmicos, de acordo com a expectativa de público do jogo ou da competição. A proporção percentual nos aumentos em jogos, ou competições de maior apelo, observados a partir de 2013, promoveram uma elitização e consequente exclusão no acesso a certos tipos de emoção. Em contrapartida, no cenário agregado, com exceção do triênio 2013-2015, essa percepção é relativizada, na medida em que os preços apresentaram uma equivalência se compararmos o início e o fim da série. A média mais observada da taxa de ocupação não atingiu 30% da capacidade do estádio. Apenas nos anos de 2013, 2014 e 2018 essa média aproxima-se dos 50%. Diante disso, a pesquisa propôs uma reflexão mais aprofundada, do ponto de vista econômico, na formação de preços dos ingressos, entendendo o potencial do resgate do estádio como um espaço de diversidade econômica que retome uma maior centralidade na formação do torcedor, a fim de promover opções de lazer no ambiente público, eliminando ao máximo suas barreiras econômicas, e oferecendo possibilidades de acesso a certos tipos de emoção a um número cada vez maior de torcedores.