Relações Étnico-Raciais e Lazer

Autores

  • Adriano Gonçalves da Silva Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG)
  • Elisângela Chaves Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
  • Khellen Cristina Pires Correia Soares Instituto Federal do Tocantins (IFTO)
  • Lucilene Alencar das Dores Instituto Federal de São Paulo (IFSP) - Campus Campo do Jordão
  • Marie Luce Tavares Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) - Campus Ouro Branco

Resumo

O século XXI trouxe desafiantes questões para novas agendas de estudos, pesquisas e protagonismos acadêmicos no campo das Ciências Sociais e Humanas, que afetaram e afetam diretamente perspectivas de problematização e análises no campo dos Estudos do Lazer. Dentre esses desafios está posto para as sociedades contemporâneas o enfrentamento à história e condição social de racismo e de sentidos e atualizações em torno das relações étnico-raciais. No Brasil, o processo de colonização, a diáspora africana, a experiências da escravidão e suas violentas consequências constituem um cenário de emergência histórica.

Ao visibilizar os Estudos do Lazer e as discussões sobre as relações étnico-raciais, os textos buscamos ressaltar as histórias e culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas, e provocar o comprometimento com uma agenda de produção de luta e resistência desses povos. Um movimento epistemológico e político que busca amplificar vozes oriundas da dominação e subalternização que determina formas de pensar, sentir, ensinar, aprender, resistir e re-existir em um mundo cuja polifonia precisa vir à tona. A exclusão étnica-racial das condições dignas de vida é ainda mais acentuada quando levamos em consideração que são anos de luta e resistência em prol da vida, estabelecendo batalhas cotidianas por respeito e valorização que ocupam as diversas cenas, dentre elas, a acadêmico-científica. 

Esta edição da Revista Licere enseja gerar espaço de acolhimento e divulgação da produção de conhecimento acerca das relações étnico-raciais no campo dos Estudos do Lazer comprometida com a promoção da equidade racial. A ideia da indução desta chamada está centrada na possibilidade de promover um espaço de reflexão e debates sobre as questões étnico-raciais e o lazer como problemá­ticas contemporâneas de impacto sociocultural, político, educacional, artístico e científico.

No Brasil, a expressão étnico-racial ressalta que as tensas relações raciais estabelecidas no país vão para além das diferenças na cor da pele e traços fenotípicos, mas correspondem também às matrizes culturais baseadas na ancestralidade africana, afro-brasileira e indígena que diferem em visão de mundo, valores e princípios do ocidente. A pluridiversidade da formação do povo brasileiro que traz heterogeneidade cultural, étnica e racial, se concretiza como referência nacional em nossa história, sociedade e costumes, provocando desdobramentos em nosso cotidiano.

As produções sobre lazer e as relações com a negritude e os povos indígenas a partir de perspectivas multi e interdisciplinares carecem de destaque e circularidade na produção acadêmico- científica brasileira.

A proposição desta edição foi trazer a público, uma gama de informações que tanto valorize os grupos estudados, quanto estimule novas pesquisas e reflexões sobre esse contexto bastante diversificado, abrindo espaço para as vozes violentamente silenciadas nos processos de colonização, invasão e diáspora que constituem nossas relações étnico-raciais. Esperamos, também, que este seja um movimento para além das produções, que chegue também às pessoas, às pesquisadoras e pesquisadores negras(os) e indígenas, que militam e desenvolvem trabalhos em defesa da equidade e igualdade de oportunidades acadêmico-científicas.

Nesse sentido, o trabalho aqui proposto é uma ação que corrobora com a reflexão de Patricia Hill Collins (2018) ao reconhecer que as “escolhas epistemológicas sobre quem é digno de crédito, no que acreditar e por que algo é verdadeiro não são questões acadêmicas neutras. Pelo contrário, essas questões dizem respeito à problemática fundamental de como são determinadas as versões da verdade que irão prevalecer” (p. 154).

Considerando as especificidades da temática, essa edição teve um prazo de envio de trabalhos alargado para permitir a ampliação de submissões. Ao final desse percurso foram 13 artigos aprovados para compor essa edição, sob diferentes perspectivas metodológicas e atravessamentos das questões étnico-raciais e do lazer em distintos contextos temporais e espaciais.

Alguns desses estudos, a partir de um olhar etnográfico, apresentam uma leitura do lazer e dos corpos na cultura indígena e nas manifestações culturais de matriz afro diaspórica brasileira. Outros, buscam denunciar a discriminação racial, o racismo científico e estrutural presentes na vivência do lazer, rompendo silêncios sobre as barreiras para o acesso ao lazer impostas às pessoas negras, sobretudo, às mulheres. Um outro grupo de artigos estão direcionados à proposição de resistências, considerando a escola ou o museu como espaço de educação antirracista, o cinema como estratégia de enfretamento do racismo/sexismo, a dança como mecanismo de empoderamento e construção do conhecimento estético-corpóreo, e o afrofuturismo como alternativa para a construção de outros currículos de lazer.

Acreditamos que os dados de submissão de artigos desta edição anunciam a resistência e re-existência de pesquisadoras e pesquisadores que lutam em prol da produção de conhecimento que problematiza a colonialidade. Contudo, reconhecemos a importância de fomentar a resistência ao episteminicídio que se apresenta como forma de invisibilizar as produções acadêmico-científica sobre as relações étnicos-raciais, reforçando o apagamento cultural em prol da construção de uma história única.

Certamente, após essa primeira chamada em prol das relações étnico raciais e os Estudos do Lazer, poderemos vislumbrar e identificar avanços, demandas e diálogos que as autoras e os autores desta edição nos possibilitam com a divulgação da ciência brasileira.  

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Publicado

2022-01-03

Como Citar

Silva, A. G. da, Chaves, E., Soares, K. C. P. C., Dores, L. A. das, & Tavares, M. L. (2022). Relações Étnico-Raciais e Lazer. LICERE - Revista Do Programa De Pós-graduação Interdisciplinar Em Estudos Do Lazer, 24(4). Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/37660

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