Um Pedaço do Brasil

As Rodas de Samba como Espaços de Lazer – O Quintal do Divina Luz

Autores

  • Guilherme Velloso Alves Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Palavras-chave:

Lazer, Cultura, Sociabilidade, Espaço de Lazer, Roda de Samba, Samba

Resumo

Esse estudo tem como objetivo descrever e analisar como espaços de lazer as rodas de samba da cidade de Belo Horizonte, a partir da compreensão do contexto em que estão inseridas e dos comportamentos dos atores que as freqüentam. Para tanto, inicialmente foi feita uma revisão da literatura buscando revelar o percurso histórico traçado pelo gênero musical samba e por suas formas de manifestação, notadamente a roda de samba. Um pequeno histórico das rodas de samba da capital de Minas Gerais foi levantado para possibilitar o entendimento das transformações sofridas por essa prática de lazer e compreender algumas das circunstâncias que contribuíram e/ou contribuem para que as rodas de samba de hoje tenham determinados contornos, e não outros. A grande visibilidade que tem a roda de samba hoje em Belo Horizonte iniciou-se com as rodas da década de 1980. De lá pra cá veio se formando um circuito de samba, possibilitando o surgimento de vários artistas, grupos e casas de samba, estimulando a formação de um público consumidor de samba e a geração de redes de trabalho e sociabilidade ao redor dessa manifestação. Em seguida, adotou-se uma abordagem antropológica que, por meio de um estudo do tipo etnográfico, oportunizou a descrição e a análise das redes de sociabilidade construídas ao redor das rodas de samba, bem como das formas de uso e apropriação do espaço e do comportamento dos atores sociais ali presentes. Para entender a roda de samba como um espaço de lazer foi adotado o conceito de pedaço proposto por Magnani. Um desses pedaços foi analisado mais de perto, o que propiciou uma maior acuidade na percepção dos contornos de uma roda de samba. O pedaço destacado foi o Quintal do Divina Luz, onde acontece a Roda Viva, projeto que não só constitui-se em mais uma oferta de trabalho para os organizadores, mas também oportuniza o contato com um repertório singular, formado por músicas de sambistas que estão obliterados pelos meios de comunicação, bem como por composições autorais dos próprios músicos que tocam na roda e de outros compositores da cena belo-horizontina. O aspecto de quintal que ainda possui o referido pedaço é usado como um diferencial em relação a outras casas de samba de BH. Há, entretanto, uma tensão estabelecida entre a vontade de manter a aparência “tradicional” e todo o benefício de “imagem institucional” que esse aspecto rústico e caseiro do quintal pode trazer e, por outro lado, “modernizar” o espaço visando oferecer mais conforto ao público, uma melhor prestação de serviços e a própria manutenção do pedaço em funcionamento, o que passa por investimentos no isolamento acústico do Quintal do Divina Luz. A ambigüidade naquele pedaço vai além da remodelação espacial, revelando-se também na coexistência do profissionalismo e do amadorismo. Dessa forma, foi possível, a partir de um olhar mais detido sobre uma das formas de apresentação do samba, a roda de samba, levantar algumas relações entre lazer e samba, bem como gerar subsídios para o entendimento da conformação da cultura na contemporaneidade.

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Publicado

2010-12-20

Edição

Seção

Tome Ciência

Como Citar

Um Pedaço do Brasil: As Rodas de Samba como Espaços de Lazer – O Quintal do Divina Luz. (2010). LICERE - Revista Do Programa De Pós-graduação Interdisciplinar Em Estudos Do Lazer, 13(4). https://periodicos.ufmg.br/index.php/licere/article/view/794