“Eu Trabalho no meu Tempo Livre”
Lazer e Cotidiano sob a Uberização – Quando o Trabalho Toma Conta da Vida
DOI :
https://doi.org/10.35699/2447-6218.2024.52258Mots-clés :
Lazer, Tempo livre, Uso do tempo, Trabalho, UberizaçãoRésumé
O objetivo desta pesquisa consistiu em compreender os efeitos do processo de uberização sobre as dimensões do tempo livre e do lazer de motoristas e entregadores que trabalham por meio de plataformas digitais. De maneira específica, buscou-se: (a) analisar os usos do tempo desses trabalhadores, sobretudo os tempos destinados ao trabalho, ao tempo livre e ao lazer; (b) caracterizar como se configura o tempo livre dos trabalhadores em questão; (c) identificar as práticas e vivências de lazer desenvolvidas no cotidiano desses trabalhadores. O estudo se configurou como uma pesquisa de abordagem qualitativa, que investigou os efeitos da uberização do trabalho sobre o tempo livre e o lazer como parte de uma totalidade, permeada por disputas e contradições, síntese de múltiplas relações e determinações. Do ponto de vista operacional, além do processo de debate e reflexão a partir dos dados da realidade brasileira e da literatura acadêmica pertinente à temática, o estudo valeu-se da extração de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, da aplicação de diários de uso do tempo e da realização de entrevistas semiestruturadas, seguido da análise categorial temática dos elementos apreendidos e sistematizados durante o trabalho de campo. À medida em que o processo de uberização caminha a passos largos e escancara os movimentos mais amplos do capitalismo em escala global, um recorte de pesquisa com foco no tempo livre e no lazer de trabalhadores uberizados pode contribuir para a apreensão das características da vida cotidiana, do uso do tempo e do acesso (ou sua falta) ao lazer dessa parcela cada vez mais crescente da classe trabalhadora. A partir do desenvolvimento do estudo, depreende-se que a uberização, por conta de suas características precárias e flexíveis, cria as condições para o superdimensionamento do trabalho e para a precarização das demais esferas da vida. Além das longas e extenuantes jornadas, foi identificado que os motoristas e entregadores uberizados têm pouco ou quase nada de tempo destinado aos demais tempos sociais fora da atividade laborativa, tendo, portanto, o cotidiano tomado pelo tempo de trabalho. Nesse sentido, foi constatado que os trabalhadores uberizados tendem a não conseguir planejar seu tempo livre. Quando, após exauridos pela dinâmica laboral, conseguem escapar para alguma atividade de lazer, o período de retorno é marcado por ainda mais trabalho. Ademais, vale salientar que, no diminuto tempo de lazer que lhes resta, foi notada a prevalência de vivências precárias e fragmentadas, em que se sobressai o lazer em sua forma mercadoria.
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