A Implementação dos Programas de Contraturno Escolar e as Representações de Lazer e Esporte
Palavras-chave:
Programa de Contraturno Escolar, Implementação, Discurso, Representação Social, Esporte, LazerResumo
Os programas de contraturno escolar desenvolvidos na rede municipal de ensino da cidade de Belo Horizonte, mais especificamente, os Programas Escola Integrada e Segundo Tempo interagem com a dinâmica da escola e, por vezes, provocam justaposição na concretização de suas ações. O objetivo deste estudo foi investigar a implementação esses programas e as representações de esporte e lazer no contexto da prática, por meio de pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A observação foi utilizada como estratégia de coleta de dados e os instrumentos utilizados foram os registros do caderno de campo e as entrevistas com os sujeitos da comunidade escolar (estudantes, gestores, professores, monitores, estagiários universitários e pais). A pesquisa baseou-se no ciclo de política para refletir as práticas políticas e sociais desenroladas na dinâmica da escola. Os campos da análise de discurso e da representação social foram percorridos para o tratamento dos dados produzidos pelos sujeitos da pesquisa. Por meio do aporte teórico metodológico foram definidas as categorias de gênero de discurso, formação discursiva e percurso, cujos conceitos de cena de enunciação, interdiscurso, pequenas frases e fórmulas contribuíram para a análise. Ancorada nesse referencial há o entendimento de que a análise dos programas de contraturno, sua implementação e representações de lazer e esporte não deve considerar os programas em si mesmos, ou seja, na atividade executada. É necessário compreender os argumentos, formações discursivas e os acordos que se concretizam em um discurso que dá suporte às conclusões perceptíveis nas falas dos sujeitos. Nesse sentido, o entendimento dos implementadores dos programas de contraturno escolar orienta para a noção de proteção social e cuidado aos estudantes participantes, e de certa forma, às suas famílias. Ao considerar que os programas de contraturno escolar têm um papel prioritário de „tirar da rua‟ as crianças e adolescentes moradores do bairro, os implementadores trazem para o universo da escola uma demanda social que não soluciona sozinha. A escola passa a assumir para si uma demanda que é de cunho de tantas outras políticas públicas. E, com isso, provoca lacunas e insatisfações no que diz respeito aos resultados quese espera dela. O processo de implementação deu pistas de uma construção de discurso de lazer e esporte com o propósito de prescrever e informar aos estudantes sobre as experiências, em outras palavras, os sujeitos da ação produzem o enunciado de saber/fazer e os estudantes apoiam-se no dever/fazer. Esse modo de organização do discurso é produto de restrições discursivas que se apresentam, principalmente, por meio do lugar que os sujeitos ocupam (educador/estudante, educador professor/educador monitor). O ideário que o esporte é saúde, afasta das drogas, combate à violência, é competição, é lazer permeia as práticas discursivas da escola. O imaginário consensuado dessa prática social pouco avança para sua concretude na realidade social. Os discursos do lazer percebidos na prática escolar me permitem significá-lo como instrumento de indução de uma conduta disciplinada esperada e solidificada no contexto da produção de sua representação, bem como diversão ou entretenimento necessários à cena „carente‟ no qual os programas de contraturno se inserem. Nesse sentido, este estudo contribui para as possibilidades de abertura de interpretações dos diversos sujeitos que participam da comunidade escolar oportunizando a autoria das vozes e protagonismo coletivo no caminho da construção de “encontros potentes”.