Moralização em cena

sententiae em Rudens, de Plauto

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Palavras-chave:

Plauto, moralização, sententiae, Rudens, metateatro

Resumo

Este artigo discute a função das sententiae, um expediente retórico e moral, presentes na comédia Rudens de Plauto (III-II a. C.). A análise das sententiae contidas no prólogo e em diálogos entre mulheres e escravos permitiu ponderar sobre diferentes interpretações de classicistas modernos (DINTER, 2016; HUNTER, 1989; MOORE, 1998) no que se refere à possibilidade de essas passagens aparentemente admoestadoras serem fonte para uma compreensão efetivamente moralista das comédias plautinas. A leitura que este trabalho propõe é primordialmente contextual, isto é, não avalia as sententiae de forma isolada, mas aponta, sobretudo, para a necessidade de se considerar o contexto intratextual e extratextual da peça, estabelecendo correlações entre sententiae proferidas por personagens com outras passagens com que podem guardar conexões, e observando qual a contribuição das sententiae para o espetáculo dos jogos cênicos (ludi scaenici). Por isso, o estudo assume o texto da comédia em tela sob a perspectiva dos estudos teatrais não-aristotélicos de Florence Dupont (2017), nos quais a autora defende a comédia romana antiga como exemplo de um teatro no qual a performance é irremediavelmente ritualística, pois integra os jogos cênicos; estando a serviço não da mimesis, mas de um ludismo (ludus). As conclusões indicam que as sententiae são parte de uma técnica teatral cômica, sendo proferidas principalmente em cenas de engano, de disputa discursiva entre personagens e em cenas em que se renuncia indiretamente à moral dissimulada pelos personagens mais moralistas da peça, a saber: a divindade Arcturo (Arcturus) e o velho Dêmones (Daemones). Tal renúncia demonstra, portanto, que as sententiae não seriam, afinal, recurso de moralização em Rudens.

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Publicado

2021-09-17

Como Citar

Ramos, R. F. (2021). Moralização em cena: sententiae em Rudens, de Plauto. Nuntius Antiquus, 17(1). Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/29296

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Artigos