Duas traduções oitocentistas do “Canto de Proteu”, Geórgicas IV, 453-527

Autores

Palavras-chave:

tradução, Geórgicas, comparação, Odorico Mendes

Resumo

Neste artigo, recorremos, sobretudo, às formulações teóricas de Antoine Berman (2007) a fim de analisar as traduções de Geórgicas IV, 453-527, de Virgílio, por Manuel Odorico Mendes (1858) e António Feliciano de Castilho (1867). Nessa passagem, também conhecida como “Canto de Proteu”, uma divindade conta a Aristeu o motivo de suas abelhas terem morrido: isso se devia a um castigo das almas de Orfeu e Eurídice, a quem Aristeu prejudicara seriamente. O método escolhido para as análises primeiro envolveu a delimitação de conceitos – tais como as ideias de “tradução etnocêntrica” e “tradução ética” – sobre a arte de traduzir, essencialmente a partir da obra de Berman. Depois, a leitura comparativa e por amostragem das versões de Geórgicas IV, 453-527 pelo tradutor brasileiro e pelo português. Os resultados obtidos apontam fortemente para a adoção de procedimentos de latinização da língua portuguesa por Odorico, enquanto Castilho preferiu seguir um padrão expressivo mais próximo do comum no vernáculo. Concluímos, assim, de acordo com a terminologia de Berman, que o tradutor brasileiro adotou parâmetros mais acordados com a ideia de uma “tradução ética” – ou capaz de evocar, sem servilismo, a Letra do original – que seu correlato lusitano.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Matheus Trevizam, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil

latim

Referências

ARISTÓTELES; HORÁCIO; LONGINO. A Poética Clássica. Trad. Jaime Bruna. São Paulo: Cultrix, 2005.

BERMAN, A. A Tradução e a Letra: ou o albergue do longínquo. Trad. Marie Hélène Catherine Torres et alii. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.

CAMPOS, H. de. Metalinguagem e outras metas. São Paulo: Perspectiva, 2006.

CASTILHO PAIS, C. António Feliciano de Castilho, tradutor do Fausto. Lisboa: 2013 (inédito).

CICÉRON. L’orateur; Du meilleur genre d’orateurs. Texte établi et trad. par Albert Yon. Paris: Les Belles Lettres, 1964.

FRANCISCO, R. Estrangeirização e domesticação: indo além de mais uma dicotomia. Scientia Traductionis, Florianópolis, n.16, p. 91-100, 2014.

GOLDSTEIN, N. Versos, sons, ritmos. São Paulo: Ática, 1986.

HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

LEE, M. O. Virgil as Orpheus: a study of the Georgics. Albany: State University of New York Press, 1996.

MOISÉS, M. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2011.

NOBRE, R. Castilho e os Clássicos: tradução e bom gosto. eClassica, Lisboa, n. 1, p. 88-96, 2015.

OLIVEIRA, J. Q. de. Homero brasileiro: Odorico Mendes traduz a épica Clássica. Nuntius Antquus, Belo Horizonte, vol. 7, n. 2, p. 7-21, jul.-dez. 2011.

O’NOLAN, K. The Proteus Legend. Hermes, Stuttgart, 88. Bd., H. 2, p. 129-138, May 1960.

PIUCCO, N. Anne Dacier, a tradutora francesa dos clássicos gregos e latinos. Via Litterae, Anápolis, vol. 3, n. 1, p. 111-124, jan./jun. 2011.

RACINE, J. Théâtre I: La Thébaïde; Aléxandre; Andromaque; Les Plaideurs; Britannicus; Bérénice. Paris: Éditions Flammarion, 1976.

RODRIGUES, F. Epýllion: um gênero em questão. Letras Clássicas, São Paulo, n. 5, p. 215-236, 2001.

SCHLEIERMACHER, F. E. D. Sobre os diferentes métodos de traduzir. Princípios, Natal, vol. 14, n. 21, p. 233-265, jan./jun. 2007 [1833].

SERBAT, G. Les sctructures du Latin. Paris: Éditions A. & J. Picard, 1975.

VASCONCELLOS, P. S. de. Contribuição à reapreciação crítica da Eneida de Odorico Mendes. Phaos, Campinas, vol. 1, p. 171-186, 2001.

VENUTI, L. The translator’s invisibility: a history of translation. London/New York: Routledge, 1995.

Verbete “António Feliciano de Castilho” em Projecto Vercial <http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/castilho.htm> Acesso em 10/12/2022.

VIRGÍLIO. Geórgicas. Trad. Manuel Odorico Mendes, organização de Paulo Sérgio de Vasconcellos. Cotia: Ateliê Editorial, 2019.

VIRGÍLIO. Geórgicas; Eneida. Trad. António Feliciano de Castilho e Manuel Odorico Mendes. Rio de Janeiro/São Paulo/Porto Alegre: W. M. Jackson, 1970.

ZAHARIA, O.-A. De interpretatione recta: Early Modern Theories of Translation. American, British & Canadian Studies, Sibiu (Romania), vol. 23, n. 1, p. 5-24, 2014.

Downloads

Publicado

2023-06-29

Como Citar

Trevizam, M. (2023). Duas traduções oitocentistas do “Canto de Proteu”, Geórgicas IV, 453-527. Nuntius Antiquus, 18(2), 1–22. Recuperado de https://periodicos.ufmg.br/index.php/nuntius_antiquus/article/view/42200