A morte estampada nas capas de jornais: uma análise semiótica do Massacre de Realengo
DOI:
https://doi.org/10.17851/2237-2083.25.4.2257-2291Keywords:
Realengo’s Massacre, discursive semiotics, journalism, sensationalism.Abstract
Resumo: A cobertura jornalística de fatos de forte apelo emocional, como mortes trágicas e/ou violentas, suscita uma importante reflexão acerca dos limites entre o que se considera um modo de noticiar moderado ou sensacionalista. O estabelecimento de categorizações duras entre os dois perfis editoriais pode ser frágil. A fim de verificar essa hipótese, este trabalho analisa como doze jornais impressos brasileiros repercutiram o caso conhecido como “Massacre de Realengo” nas capas do dia seguinte ao fato. No episódio, doze estudantes de uma escola municipal da cidade do Rio de Janeiro foram assassinados por um ex-aluno, que se matou em seguida. A análise semiótica permitiu a identificação de marcas textuais e apelos estéticos característicos do jornalismo dito sensacionalista em todos os veículos examinados. Além disso, possibilitou observar a proximidade de O Globo ao polo mais apelativo de um continuum traçado com as capas, em uma gradação qualitativa de efeitos de sentido. O posicionamento do veículo, reconhecido no mercado por adotar um perfil de maior sobriedade, configurou uma quebra de expectativa. Os resultados mostraram que as fronteiras nítidas entre os estilos enunciativos moderado e sensacionalista se desfazem na dimensão pragmática e complexa da práxis jornalística.
Palavras-chave: Massacre de Realengo; semiótica francesa; jornalismo; sensacionalismo.
Abstract: The press coverage of facts with strong emotional appeal, such as tragic and/or violent deaths, raises an important discussion about the limits between what is considered a moderated or a sensationalist mode of reporting. The establishment of clear-cut boundaries between both editorial profiles can be fragile. In order to verify this hypothesis, this article analyses twelve different approaches of Brazilian newspaper front pages depicting the case known as the “Realengo’s Massacre” in the next day of the fact. In the episode, twelve schoolchildren of a municipal school in the city of Rio de Janeiro were murdered by an ex-student who ended up shooting himself. The semiotic analysis here presented allowed the identification of text marks and aesthetic appeals of the journalism called sensationalist in all examined newspaper covers. It was surprising to observe the proximity of O Globo − a mainstream well established newspaper in Brazil − to the most appellative pole of the continuum traced with all front pages, in a qualitative gradation of meaning effects. This position set up an expectation break, since the newspaper is recognized by its somehow moderate profile. The results showed that the clear-cut boundaries between moderated and sensationalist enunciation styles fall apart in the pragmatic and complex dimension of the journalistic praxis.
Keywords: Realengo’s Massacre; discursive semiotics; journalism; sensationalism.